A Fuga

A Fuga

A Srta. Sweetspell saiu do quarto e começou a percorrer os corredores silenciosos do castelo. Ansiosa, vasculhou todos os aposentos próximos, tentando desesperadamente encontrar sua pequena irmã. Wynnie estava com sorte e conseguiu localizá-la rapidamente. Com urgência, a fugitiva tentou acordá-la, apesar disso, Wendy exausta, não despertou e em seus sonhos, a garotinha recusou-se insistentemente a acompanhá-la.

— Não vou a lugar nenhum... vestidos... muitos vestidos, de todas as cores. — Murmurou sonolenta de forma incompressível.

A jovem ficou surpresa com aquela resposta absurda e com aquela atitude inesperada, porém achou melhor não mais insistir. Desconfiou que sua irmãzinha, inocentemente, havia sido seduzida por todos os luxos e pelo conforto que o nobre vampiro era capaz de oferecer.

Wynnie resolveu seguir sozinha. Desceu as escadas e chegou ao saguão, onde apenas mais uma porta a separava da liberdade, porém estava trancada. Lá fora desabava um temporal, mas ela estava determinada, não ficaria ali nem mais um segundo.

— Preciso sair daqui... chegando ao vilarejo, pedirei ajuda ao Sr. Carter, depois darei um jeito de retornar com ele e seus subordinados para resgatar Wendy. — Decidiu por fim.

Começou a olhar em volta, procurando algo para tentar abrir as grades. Na sala de jantar, a mesa ainda estava posta para um banquete que não foi servido. Wynnie aproveitou que a louça não foi guardada, pegou uma faca do jogo de talheres e a usou para girar a fechadura. Apesar de ter se cortado, obteve sucesso.

A donzela rasgou um pedaço de seu vestido para fazer um curativo improvisado e acabou deixando a faca cair. Assustada e com medo de ser surpreendida por seu raptor, tratou de sair dali o mais rápido que pode.

O som metálico do objeto caindo despertou a audição aguçada do vampiro que dormia em sua cripta. Albert acordou sobressaltado saindo apresado de seu caixão, se dirigindo até o saguão para verificar o que havia acontecido. Encontrou a faca que Wynnie usou para arrombar a porta no chão, manchada de sangue. O nobre sentiu o cheiro da jovem no talher e entendeu que ela havia partido. O Duque teve sua sede atiçada pelo aroma ferroso do sangue, institivamente, lambeu a faca e fechou os olhos. Com isso, pode localizar onde sua amada estava. Sem mais perder tempo, o nobre se transformou em um gigantesco lobo branco e foi procurá-la a fim de trazê-la de volta. Temia que ela estivesse machucada ou correndo algum perigo... todavia, mais do que tudo, Albert temia perdê-la.

Wynnie não fugiu pela estrada principal, preferiu ir pelo pântano que ficava a Noroeste, para tentar evitar que Albert a seguisse. Entretanto, era em vão, visto que o Senhor do Castelo havia provado seu sangue, estava conectado a ela e sabia exatamente onde a jovem estava.

Com a chuva torrencial o trajeto estava ainda mais difícil e traiçoeiro. A bela continuou a correr, incansável. Na fuga, rasgou mais um pedaço do vestido em um galho seco, dando ainda mais pistas para o vampiro localizá-la. Não distante do retalho rasgado do vestido, acabou escorregando no lamaçal, caindo em um buraco que estava prestes a desmoronar.

Após alguns minutos o Sr. Drummond finalmente a encontra e se aflige ao vê-la em perigo. Ainda transformado em lobo, sem hesitar, ele pula em direção ao barranco logo abaixo dela, pedindo que a jovem se solte e monte nele.

— Srta. Sweetspell... não tenha receio, se confiar em mim e galgar meu dorso, nos tirarei daqui. — Decretou heroicamente.

Wynnie assustou-se ao perceber que aquele enorme lobo era o Senhor do Castelo, porém não havia tempo para hesitar ou ter medo, sendo assim, acabou por fazer o que ele pedia. Juntos, pularam para fora da ribanceira instantes antes dela desmoronar por completo, soterrando totalmente o local de onde ele a resgatou. Com a bela em suas costas, segurando com firmeza os longos pelos brancos, Albert velozmente retornou ao castelo. Ao chegarem no hall de entrada, ela se afastou e o lobo se sacudiu para secar-se, recuperando sua forma humana em seguida.

— Por que foi embora? — Indagou objetivo.

— Não sei o que espera de mim Senhor... e isso me assusta... — Respondeu cautelosa.

— Não espero nada... mas esperei por você por mais de 140 anos! Por favor, não tente mais fugir, me sentirei culpado se algo ruim te acontecer, perdê-la mais uma vez, seria insuportável. — Confessou sem tentar esconder seus reais sentimentos ou sua lendária história de amor de vidas passadas.

A jovem não compreendeu do que o vampiro estava falando, apenas resignou-se mais uma vez, a suplicar que a deixasse ir:

— Então, eu lhe imploro Senhor.... Me leve de volta à minha casa no vilarejo. Não quero que me toque e não quero ficar aqui.

— Não a trouxe aqui por capricho. Acredite... eu a amo mais do que tudo Wynnie! Admita... você não era feliz morando com sua tia, tenho certeza disso! Aceite que pode ser feliz comigo... a única coisa que te peço, é que me dê uma chance, minha Rainha. — O nobre ficou frustrado com a expressiva rejeição de sua adorada, mas em nenhum momento demostrou sua tristeza.

— Você mal me conhece... — Respondeu desviando o olhar.

— Está enganada... eu a conheço melhor do que ninguém e quero uma oportunidade de te provar isso.... O que eu posso fazer para que me aceite minha bela? Juro que farei qualquer coisa que me pedir... — Argumentou de forma envolvente.

Comovida, Wynnie encheu seus olhos de lágrimas, recuando

sem conseguir dizer uma única palavra. Diante de seu silencio Albert prosseguiu com suas suplicas:

— Posso lhe dar tempo, privacidade, minha eterna dedicação

e esperar... esperarei para sempre se for preciso, mas não posso prometer não mais tocá-la minha donzela... isso não seria verdade, pois tudo o que quero, tudo que almejo... é tocá-la!

Sonhar com o instante em que finalmente permitirá que eu a beije, imaginar que a terei em meus braços e que será minha... essa doce esperança é o que me dá forças e me mantém vivo.

Quando se deu conta de suas palavras, Albert trocou de assunto, tentando inutilmente não parecer obsessivo:

— Agora, vamos cuidar de seu ferimento e providenciar outro vestido. Que ideia... fugir descalça durante esse temporal... é um verdadeiro milagre não ter se ferido com gravidade. Além disso, não posso deixar minha dama com a mão machucada e trajando farrapos sujos encharcados pela chuva.

Wynnie apesar de sentir-se cativa e contrariada, não pode deixar de perceber toda a atenção e todo o carinho que o vampiro constantemente dedicava a ela. De forma repentina, o Duque a pegou no colo e a conduziu ao quarto de hospedes.

— Deseja tomar outro banho minha bela? Está um pouco tarde, provavelmente Ioana já deve estar dormindo... mas eu mesmo posso providenciar tudo. — Propôs ele benévolo, afável.

— Não precisa se incomodar Senhor... vou apenas me secar e trocar de roupa. — Alegou ela tímida, de forma humilde.

— Como queira... — Respondeu subserviente.

Respeitosamente, o Sr. Drummond virou de costas para Wynnie vestir o traje que ainda estava sobre a cama. A moça, de forma recatada, tirou seu vestido surrado e o estendeu para secar. Usando a toalha de seu banho, ela se enxugou e se trocou atrás do biombo. A jovem tentava inutilmente disfarçar, entretanto, estava congelando de frio.

O nobre colocou a poltrona próxima do leito, pedindo que ela se acomodasse, ajoelhou-se aos seus pés e com o auxílio de uma pequena bacia começou a lavá-los. Wynnie ficou muito constrangida e de forma instintiva suplicou que ele não deveria prosseguir com todos aqueles cuidados.

— Senhor... por favor, levante-se... eu posso fazer isso sozinha. — Implorou consternada.

— De forma alguma... cuidarei de você todos os dias pelo resto da minha vida, assim poderei venerar cada parte do seu corpo, por toda a eternidade. Você é tão linda Srta. Wynnie... não te desejar seria uma grande hipocrisia. — Decretou decidido.

— Senhor... não mereço tamanha dedicação... — Protestou.

— Albert... minha Rainha... eu me chamo Albert. — Afirmou ele tentando, sem êxito, estreitar os laços.

Depois de cuidar dos pés de sua adorada o Duque sentou na cama. Com cuidado, desamarrou o curativo improvisado e com um pano úmido limpou o corte causado pela faca durante a fuga.

Novamente o aroma do sangue entorpece seus sentidos fazendo seus caninos despontarem instintivamente, ela recua assustada, ele, extremamente constrangido, leva a mão a boca cobrindo-a.

— Perdão... o seu cheiro me deixa embriagado.

Wynnie não pôde deixar de notar as unhas do vampiro mais compridas bem como as orelhas levemente pontudas. Albert furou o próprio dedo em uma das presas e tocou com seu sangue o corte fazendo-o cicatrizar instantaneamente. A moça, desconcertada, fez uma expressão de surpresa, a qual ele responde bem-humorado:

— Sangue de vampiro tem propriedades curativas...

Depois de um silencio quase interminável, Albert resolveu abrir o coração dizendo:

— Não posso permitir que tente fugir de novo, minha bela. Por isso, ficarei aqui com você essa noite.

O Duque aproximou-se dela, tocando em seus cabelos ainda húmidos, acomodando uma mecha encaracolada atrás de sua orelha. Por fim, acariciou seus lábios, de forma envolvente, inclinando-se na intenção de beijá-la. Porém, a donzela afastou o rosto, recusando-o mais uma vez.

— Me dê uma oportunidade de te provar meus sentimentos,

minha doce Wynnie... — Implorou ele pesaroso.

A jovem levantou da poltrona abruptamente. Apreensiva e com as mãos tremulas, distanciou-se dele com receio. Mais uma vez, encheu seus olhos de lágrimas e soluçando respondeu:

— Tenho medo de você... do jeito que me olha, parece que vai me devorar. Por favor Senhor... eu imploro... não me machuque.

Ele, sem esconder sua tristeza, tornou a se aproximar. Wynnie, temerosa, virou de costas tentando sair do quarto, ele a abraçou por traz com devoção declarando seu amor em súplica, impedindo que ela saísse dos aposentos.

— Eu a quero tanto minha bela... jamais lhe faria mal algum. Como pode pensar que eu a machucaria? Se tudo que desejo é fazê-la feliz? — Questionou ele, sussurrando em seu ouvido, envolvendo a cintura da moça de forma intensa, passional.

Ao abraçá-la, Albert sentiu o corpo de sua hospede estremecer, sua pele estava extremamente fria. O nobre preferiu acreditar que era uma reação provocada por seu medo, devido a sua proximidade e devido aos seus afagos ousados. Por que Wynnie o repudiava tanto? Quanto tempo ainda levaria até ela aceitá-lo? Teve dúvida que algum dia conseguiria conquistá-la.

Com impetuosidade, o Senhor do Castelo decidiu fazer uma última tentativa de beijá-la. Desta vez, a Srta. Sweetspell foi pega de surpresa e não se afastou, só teve tempo de virar o rosto e Albert beijou sua face. Involuntariamente, ela foi envolvida pelo clima de romance que o nobre criou, deixando-se levar por aquela criatura misteriosa e sombria. Em seu íntimo, desejava entregar-se a ele, sem sombra de dúvida, mas sabia que seria seduzida a percorrer um caminho sem volta. O Duque era um homem viciante, envolvente, intoxicante.

Não ser repelido fez o vampiro querer mais... ele a tocou na nuca, gemendo de contentamento envolvendo-a em seus braços, pressionando-a contra a parede, deslizando os lábios até seu pescoço, beijando-o sensualmente com ardor. Queria amá-la intensamente, queria preenchê-la com o seu ser.

— O que estou fazendo? — Pensou a jovem, sem entender por que baixou a guarda, deixando-o se aproximar.

Quando se deu conta que não conseguiria mais resistir ao atrativo toque do nobre, Wynnie interrompeu as caricias dele repentinamente. Albert ao contrário de sua amada não tinha dúvidas quanto aos seus desejos... tinha certeza que sua busca havia chegado ao fim e sua longa espera havia terminado. Ele a

queria mais do que tudo.

O vampiro mais uma vez a pegou no colo e a conduziu para a cama. Os batimentos cardíacos dela aceleraram, ele a deitou, acariciou seu rosto e pescoço cobrindo-a de afeto, tocou sua boca, sentindo seu cheiro maravilhoso e desconcertante.

— Não tenha medo. — Pediu ele, como quem faz uma prece, enquanto tirava as botas e deitava ao seu lado.

A garota se contraiu tensa, ele percebeu seu desconforto e com pesar abortou sua tentativa de conquistá-la. Notavelmente decepcionado o nobre faz um desabafo:

— Por que insiste em me torturar com suas recusas? Por que simplesmente não consegue aceitar que eu a amo? Talvez não da forma tradicional que você sonhou ser amada... um amor calmo, suave como uma brisa.... No entanto, Srta. Sweetspell, infelizmente, meu amor é devastador como um tornado. Mas posso lhe garantir... não há sentimento maior que o meu por você e nem nunca haverá! — Declarou o Duque com forte convicção enquanto acariciava seu rosto de forma passional e ao mesmo tempo delicada, fazendo-a ruborizar.

A jovem estava com medo e tremia de frio, apesar disso, não ousou dizer. Não queria pedir nada ao vampiro, pois acreditava que já devia muitos favores a ele. Entretanto, estava gelada e não conseguiria esconder esse fardo por muito mais tempo.

— Senhor... estou com muito frio... — Disse ela hesitante com os lábios trêmulos quando o frio se tornou insuportável.

— Wynnie.... Por que não me disse antes? Infelizmente, minha adorada, meu corpo não é capaz de produzir calor e eu não posso aquecê-la, mas não escolhi esse quarto para acomodá-la ao acaso. Este é o maior e melhor aposento do castelo, tudo aqui foi planejado para seu bem-estar e sua comodidade. Eu acenderei a lareira. — Garantiu, por fim prestativo.

O calor do fogo tornou o quarto aquecido e aconchegante, o som da madeira estalando formava um dueto perfeito com o barulho da chuva que ainda caia, ela parou de tremer, ele voltou para cama, sorrindo satisfeito.

— Está melhor, minha Rainha? Perdoe-me... eu deveria ter percebido. — Disse o Duque tentando deixá-la confortável.

Wynnie não conseguiu responder, ela ainda chorava, porém agora, seu pranto rolava calmo e silencioso.

— Não chore mais... não lhe forçarei a nada. Confie em mim, por favor. Eu te amo tanto... e apenas por um breve instante, gostaria de acreditar que você me ama também... permita que eu durma a seu lado hoje, isso me faria o homem mais feliz do mundo. Apenas fique comigo... Wynnie. — Lamentou o nobre afetuoso secando suas lágrimas para consolá-la.

Ela surpreendentemente não conseguiu rejeitá-lo sem entender o porquê. Sem dizer uma única palavra, Wynnie virou- se de costas permitindo que ele a abraçasse. Albert em silêncio, sentindo-se confiante, sorrindo sem esconder que estava realizado, segurou a mão esquerda da donzela que repousava próxima a seu rosto, entrelaçando-a na sua com notável apego.

O Duque lentamente a abraçou pousando a mão direita sobre o abdômen da amada, encaixou seu corpo ao dela e teve certeza que ela foi feita pra ele. Ofertou-lhe um beijo casto em seu ombro e rapidamente dormiu. Com o coração leve, Albert desfrutou do melhor sono de sua vida sentindo o aroma de lavanda dos longos cabelos loiros de Wynnie.

As longas mechas douradas do nobre emolduravam suas feições perfeitas. A expressão serena de seu rosto adormecido era angelical como a de um querubim esculpido em mármore. Em contra partida, ela, inquieta, não descansou um segundo sequer. Pensava em como se livraria daquela situação inesperada, daquele misterioso homem, diabolicamente atraente e sedutor que incansavelmente a cortejava. Ao mesmo tempo, pensava se realmente queria se desvencilhar daquele corpo atlético que gentilmente a tocava e daqueles braços fortes que a envolviam de forma protetora.... Deveria por fim acreditar cegamente em suas palavras doces? Não estava habituada a ser tratada com tanto carinho e respeito.

O calor da lareira aqueceu a pele gélida do Senhor do Castelo, tornando-o ainda mais irresistível, fazendo com que seus braços viris ficassem ainda mais acolhedores. Em segredo Wynnie se sentiu protegida e em um interminável conflito de sentimentos, com todas as forças de seu coração, ela o desejou.

— O que está acontecendo comigo? Será possível que eu esteja me apaixonando por ele? Mesmo se tratando de um ser das trevas que se alimenta de sangue? Mesmo tendo ele me hipnotizado e me levado de casa sem meu consentimento?

Sem mencionar o fato de que o Sr. Drummond está mantendo-me aqui contra minha vontade... como se eu fosse sua prisioneira. Além disso é inegável que ele só conseguiu me trazer ao castelo aproveitando-se da ingenuidade de Wendy! — Pensou de forma contraditória, com o coração cheio de dúvidas.

Entretanto, quando o sol estava quase raiando, exausta a donzela finalmente adormeceu, vencida pelo sono.

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Comments

Simone Souza

Simone Souza

já está sentindo o amor da vida passada ❤️❤️

2024-05-06

2

Wynnie Drummond

Wynnie Drummond

Em seu íntimo, Wynnie deseja aceitar todo o amor que o vampiro deseja lhe oferecer.

2024-01-18

1

Diva

Diva

Se deixando levar pelo que nunca teve.

2023-09-08

1

Ver todos

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