Surge Albertus

Surge Albertus

Enquanto retornavam a lua surgiu e Albert iniciou sua transição. Tessália, sua falecida esposa, em um ato de desespero e possessividade, havia o amaldiçoado com dupla personalidade.

Em agonia o nobre gritou, tentou lutar contra a maldição para ter tempo de chegar ao castelo, foi acometido por dores alucinantes que pareciam destroçá-lo. Finalmente, sem forças, foi vencido. Seus tranquilos olhos azuis tornaram-se vermelho-sangue e seu cabelo loiro escureceu até ficar negro como as penas de um corvo, já não era mais Albert... era Albertus, nome maldito cujo Tessália, a bruxa Herege, o batizou.

Chamou o cocheiro e ordenou tranquilamente:

— Olivier... dê meia volta... tenho assuntos inacabados na aldeia...

— Tem certeza Milorde? — Indagou surpreso.

— Não me desafie rapaz! — Respondeu sombrio.

O empregado com medo, resolveu obedecer a seu senhor e retornar à aldeia. Albertus esperou o homem deixar a taberna, pois já não tinha pressa... enquanto esperava pensava em como acabaria com a raça daquele bêbado miserável, já não estava mais com os óculos nem com a cartola... queria que aquele homem desprezível visse o rosto de quem poria fim em sua existência inútil. Finalmente o sujeito deixou o estabelecimento. Albertus o seguiu até um beco escuro, o alcançou, o segurou no ombro e com uma força brutal o girou e bateu as costas dele contra a parede de pedra.

— Ei! Está louco? — Disse o homem surpreso.

— Você que está louco se pensa que sairá impune ao que fez aquela moça na taberna da pousada... a humilhou para se divertir e profanar seu corpo!

— É por isso que está zangado? — Desdenhou o homem gargalhando.

— Está tendo um caso com aquela vagabunda maltrapilha? Desculpe... eu não sabia. — Prosseguiu.

Albertus pegou o homem pelo colarinho da camisa, novamente o bateu contra a parede de pedra com muito mais força que da primeira vez, dizendo furioso e aterrador:

— De que você a chamou miserável? Essa mulher que você

está insultando é minha rainha... e você acabou de assinar a sua sentença de morte!

Albertus fez suas presas surgirem ainda mais proeminentes e ferozes, quando o molestador viu que se tratava de um vampiro mudou completamente sua postura:

— Perdão senhor... eu... eu prometo que jamais a importunarei novamente!

— Tenho certeza disso seu bastardo! Afinal... homens mortos não mentem!

O vampiro rasgou o pescoço do homem a dentadas como um animal selvagem, bebendo seu sangue sem deixar uma única gota para trás, dessa forma, herdou sua aptidão para manusear punhais. O Duque abandonou seu corpo dilacerado no beco, assim as autoridades pensariam que sua morte foi causada por um ataque de lobo. Arrumou a gravata e satisfeito retornou a carruagem, suas mãos, seu rosto e sua roupa estavam sujas de sangue. O cocheiro amedrontado observou tudo em silencio... o nobre entrou no coche e disse com tranquilidade:

— Podemos ir Olivier.

Retornaram ao castelo, Albertus estava inteiramente saciado e cantarolando sua canção de ninar favorita.

Nos dias que se sucederam, Albert continuou a observá-la, entretanto, manteve-se um pouco mais afastado, precisava retornar mais cedo ao castelo, não permitiria que novamente a maldição o pegasse desprevenido pondo sua amada em risco. Pediu a seu mordomo, Jean Pierre, que o trancasse em seu caixão com correntes de prata. Comportou-se com esse cuidado durante todo aquele período lunar, na última noite do ciclo ele quase conseguiu escapar, mas exausto, desistiu antes de conseguir romper as correntes.

Passou a vigiá-la constantemente todos os dias, Wynnie não dava nem um suspiro sem o olhar atento de Albert a invadir sua privacidade. Sem jamais falar com ela novamente, o nobre acompanhava todos os seus passos. Notou que não era o único interessado nela, um outro homem também a cercava sem trégua... não queria disputá-la, não poderia perdê-la, estava ficando sem tempo.

Naquela manhã o Duque a seguiu até o lago e escondido a admirou. Lembrou que foi ali que a viu a primeira vez, há muito

tempo, em sua outra vida, naquela tarde de primavera em 1748.

Apesar do frio intenso, Wynnie tirou sua roupa e foi se banhar, ela acreditava que estava sozinha ali nas margens, então dispensou qualquer tipo de cuidado. Por ter poucos recursos, usava flores e ramos de lavanda para perfumar-se e lavar os cabelos. Por mais que se banhasse e se esfregasse até sua pele avermelhar, sentia-se suja desde o dia que foi humilhada na taberna, como se o cheiro da água imunda estivesse impregnado em sua alma.

Chorou silenciosamente ao se lembrar dos acontecimentos daquele dia e apesar de saber que jamais veria novamente aquele homem horrível, pois o mesmo foi encontrado morto em um beco vítima de um ataque de animal, a cena dele a molestando não saia de sua cabeça, com estas lembranças a perseguindo saiu do lago e foi se vestir.

Albert ao vê-la nua tão próxima a ele, ficou nervoso e fez barulho ao pisar em um galho seco. Wynnie ouviu o ruido e ficou com medo, o vampiro temendo ser descoberto transformou-se em lobo e saiu do lago em disparada, a jovem viu um enorme lobo branco correr entre as arvores e se assustou. Seria aquele o animal que atacou seu agressor? Rapidamente, terminou de se vestir e retornou a pousada, pois muito trabalho a aguardava.

Com o fim do período de lua cheia, Albert passou a observá-la também a noite, durante seu sono, através da janela de seu quarto. Estava completamente obcecado por ela e também estava há vários dias sem conseguir dormir, já não dispunha tempo para cortejá-la, mais um mês já havia se passado e mais uma vez a lua cheia retornaria trazendo consigo a maldição.

Temendo que Albertus a atacasse, e que apenas correntes não o deteriam, o Duque refugiou-se no castelo de seu irmão mais novo, Richard, passando as noites acorrentado com prata em uma cela da masmorra até aquele novo ciclo lunar terminar.

Apesar da sugestão do filho ser inapropriada, após pensar por vários dias o Duque não conseguiu encontrar outra solução. Depois de semanas observando a moça e sua pequena irmã, Albert resolveu agir naquele agradável início de março.

De volta ao seu próprio castelo, o nobre comunicou a seu pequeno Eduard que seguiria seu conselho e a buscaria:

— Filho... tenho observado minha amada e vi coisas de cortar o coração. Resolvi seguir seu conselho e a trarei aqui hoje à noite. Durma bem meu pequeno Ed, descanse, pois amanhã teremos companhia. — Confessou o nobre acolhendo o pequeno em seus braços.

Eduard alegrou-se e tratou de apoiar seu pai:

— Pai... não se preocupe, vai dar tudo certo!

O garoto ficou muito ansioso e não conseguiu dormir, não via a hora de conhecer o grande amor de seu pai. Sendo assim,

resolveu esperar o retorno de Albert acordado.

Naquela tarde, o vampiro sobrevoou a cidade transformado em morcego pousando atrás da taberna para recuperar a forma humana, distante de olhares curiosos. Ao longe avistou a pequena Wendy na praça tentando bombear água do poço, aproveitando-se da dificuldade da menininha, Albert aproximou-se oferecendo-se para auxiliá-la.

— Boa tarde garotinha, deixe-me ajudá-la.

Wendy agradeceu e lavou as mãos. Ao perceber que a irmãzinha de sua amada retornaria para casa, Albert agiu:

— Diga-me uma coisa.... Você é irmã daquela moça que estava hoje cedo aqui na fonte?

— Sim.

— E ela se chama...

— Minha irmã se chama Wynnie. Wynnie Sweetspell.

O nome de sua deidade, de fato, soou como um doce feitiço em seus ouvidos, deixando escapar um sorriso no canto dos lábios, satisfeito, prosseguiu com seu plano:

— Hum.... Quantos anos ela tem? Será que ela gostaria de me conhecer?

— Wynnie completou 19 anos a alguns dias. Quanto a te conhecer, não sei... ela já tem um pretendente. Mas eu gostei de você tio e por isso, eu vou ajudá-lo.

— Sua irmã é realmente uma mulher muito bela! E você? Qual seu nome? E quantos anos tem? — Perguntou sem dar muita atenção ao suposto pretendente.

— Sou Wendy e tenho 6 anos. — Respondeu a menina mostrando sua idade com os dedos.

— Meu filho Eduard é quase da sua idade... vocês poderiam ser amigos.

Albert conversou com Wendy por muito tempo, logo já sabia tudo o que precisava para naquela noite ir buscá-las.

— Mais tarde, quando todos estiverem dormindo, deixe a janela do quarto dela aberta e fique ali me aguardando. Eu irei visitá-las. — Disse audacioso.

— Você vai ser namorado da minha irmã? — Questionou.

— Eu adoraria e nada me deixaria mais feliz.... Você estaria disposta a me ajudar e fazer o que for preciso? — Disse por fim o vampiro a sua nova aliada, que sem saber exatamente o que estava prometendo, aceitou.

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Comments

Simone Souza

Simone Souza

crianças nessas estórias sempre roubam a cenas

2024-05-06

1

Mariazinha

Mariazinha

Amei 😍

2024-03-28

1

Mariazinha

Mariazinha

matou e encheu o buxinho kkkkkk

2024-03-28

1

Ver todos

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