05

Cansada de correr, paro respirando ofegante e olho para o meu próprio corpo. Minhas roupas estão rasgadas, o braço machucado e marcado de roxo, na boca sinto o gosto metálico do sangue e arde muito.

Eu estou sozinha, sem documentos e sem meu celular. Não pensei na possibilidade de pegar a minha bolsa que estava em cima do sofá jogada ou até mesmo meu telefone que estava ao lado da cama, eu só pensei em fugir. A agressão de Leonardo me trazem flashbacks do passado, um passado que luto arduamente para esquecer, mesmo sendo relativamente impossível.

Decido descansar um pouco em uma pracinha onde não há ninguém, eu estou com muito medo, mas não tenho o que fazer, para onde ir, está escuro e vazio, provavelmente porque chove como se o mundo fosse acabar hoje à noite. De repente, ouço uma voz.

— O que essa bela jovem faz aqui sozinha? — Olho rapidamente para trás e avisto um homem, jovem, mas com um bafo de bebida que só de sentir, me deixa com tontura.

Era só o que me faltava.

— Estou apenas tomando um ar. — Respondo desviando o olhar para o chão, quero que ele vá embora. Rápido.

— Um ar? Neste lugar deserto? Posso lhe fazer companhia? — Pergunta o rapaz se aproximando de mim. — Uma moça tão linda como você, não pode ficar sozinha aqui.

— Estou tomando um ar, só isso. — digo ainda sem o encarar — Quanto a companhia, prefiro ficar sozinha, por favor.

— Ah, claro que pode — Ele responde se sentando no banco ao meu lado. — Você quer vir comigo? Eu posso acompanhá—la até em casa em segurança. Está chovendo e..

— Não, deixe-me em paz. — Direciono o olhar para o rapaz que esboça um sorriso tanto quanto suspeito. — eu quero ficar sozinha.

— Vamos, eu posso ajudar você — Ele puxa-me pelo braço para ficar mais perto de si.

— Eu não quero! Me solta! — Grito e recolho o braço de volta, numa tentativa falha de escapar do aperto do rapaz desconhecido. Começo a me debater, mas é em vão, o homem parece muito maior que eu — Socorro! Socorro! — Continuei a gritar.

— Cala a boca, sua miserável! — Ele lança um tapa em meu rosto e eu me calo, qualquer tipo de agressão me deixa em choque, não consigo dizer nada, apenas choro.

— Seu maldito! O que quer comigo? — Questiono quando finalmente o homem me solta numa calçada. — me deixa em paz!

— Te dou 500 pelo programa. — Ele diz alisando meu rosto. — Está suja, mas nada que um banho não resolva.

— Não sou esse tipo de mulher, seu nojento! — vocifero aos prantos e ele sorri malicioso. — Por favor, me solta!

— Nem pensar! — Ele me agarra novamente e eu grito mais alto do que antes. — Você me servirá para uma coisa bem interessante..

Em algum momento, acho que desmaio. Sinto meu corpo balançar, abro os olhos lentamente sentindo minha cabeça latejando, me encontro deitada em um carro velho com um pano na boca. O homem estacionou o carro em um tipo de barranco, avisto alguns homens parados e armados. Ele me trouxe para um tipo de morro? Era só o que faltava.

Assim que ele bate porta do carro e se aproxima dos homens, consigo tirar o pano da boca e respirar aliviada. Vejo os rapazes desconhecidos conversarem algo e apontarem pro carro, depois sobem um tipo de barranco, aproveito disso e saio correndo igual uma louca pelo mato afora.

Em determinado momento, paro numa pista e atravesso, corro ainda mais em busca de ajuda. Paro ao avistar um casal se beijando e me escondo numa moita tentando controlar a respiração, poxa, eu sou fumante.

— Quem está aí? — Ouço a voz ecoar na floresta vazia, o barulho parecia se aproximar cada vez mais. — Deve ter sido algum animal. — fica silêncio, e eu corro, sendo infelizmente impedida ao me chocar em um poste humano.

— Ei, ei... Vai com calma! — Uma voz falhada soa.

Meus olhos se encontram ao de uma mulher velha e alta que me encara da cabeça aos pés, ela tem um olhar conhecido mas diferente de todos que já havia visto, me olha profundamente, como se conseguisse revelar todos os meus segredos.

— Me desculpa, moça. — Eu digo sem graça.

— O que está acontecendo? — Pergunta a mulher. — Porque está deste lado?

— Preciso voltar para minha casa! — Respondo baixo me preparando para correr, quando a mulher segura em minha mão.

— Eu vou te ajudar. — Confirmo balançando a cabeça, sem motivo algum para confiar naquela desconhecida. — Uma menina tão jovem — me encara na cabeça aos pés — não pode ficar nesta rua vazia... — Ela olha o relógio de pulso e faz uma careta. — Ainda mais esse horário.

— Eu só preciso de uma carona pra casa. — Respondo. — pode fazer isso por mim?

— Claro, porque não? — ela sorri. — você mora lá?

—Sim. Podemos ir agora? — pergunto e coço a cabeça. — Estou precisando fumar, preciso da minha casa e das minhas irmãs — Ela olha para o meu rosto e depois para as minhas mãos tremulas com a testa franzida.

— Suas irmãs são da sua idade? — pergunta de uma forma estranha — digo, são adultas ou jovens?

— São da minha idade, porque? — pergunto.

— Que ótimo! Eu também fumo às vezes e tenho filhas belíssimas, posso apresentar elas para você em algum momento. — Ela sorri parecendo forçado. — Vamos, entre, precisamos ir.

O carro passa por diversos locais, bairros nobres e periferias. Começo a estranhar suas atitudes e faço menção em abrir a porta do carro, eu pretendo mesmo pular. A velha maldita sobe uma ladeira rápido demais e estaciona em frente a uma casa mediana, no final da rua.

— Desça. — ordena rude.— Desça do carro, agora!

— Você é maluca? — Grito quando a vejo abrir a porta. — Ei, está surda? Caramba, eu quero ir pra minha casa.

Noto a mulher chamar ao lado, dois homens altos e fortes. Um deles me segura e o outro aplica alguma coisa no meu braço, aquilo arde. Minha última visão nesta noite é o sorriso presunçoso daquela velha maldita e um barulho alto de hélice.

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