02

^^^9 anos depois.^^^

É sexta feira, as luzes de Natal enfeitando a cidade fazem o meu peito arder de maneira desconfortável. Com uma mão no volante, cigarro entre os dedos, meus cabelos dançam com o vento enquanto acelero ainda mais. Somente essa brisa dada pelo criador tem a capacidade de me deixar totalmente relaxada, apesar de tudo.

Eu seria uma pessoa completamente sozinha no mundo se não fosse Diana, Nádia e Léo. As meninas são minhas melhores amigas e moramos no mesmo prédio desde que resolvi sair do interior e vir para a capital, estudar e trabalhar. Léo, é meu tudo, e muito do que tenho hoje, eu devo a ele. Até mesmo Nádia, tenho por causa dele.

Léo é meu tudo. Ou pelo menos foi. Nos conhecemos assim que cheguei na capital, quando eu era uma adolescente de dezoito anos, feia, estranha e ingênua. Era impressionável com sorrisos brancos em um rosto bonito, ainda mais se fosse um jogador de futebol extremamente gato e um dos mais cobiçados da cidade. 

Durante quase um ano em que namoramos ou ficamos — ele nunca me pediu em namoro oficialmente — muitas coisas aconteceram. Coisas que não sei se tenho capacidade ou vontade de pensar com mais calma, coisas que me fazem duvidar se quero ser namorada, esposa e mãe dos filhos dele algum dia.

Após mais uma noite rodando a cidade sozinha em busca de algum refúgio para a minha agonia, paro em um bar e decido comprar apenas uma bebida. Desço do altomóvel e caminho em passos largos até o Buritis, meu bar preferido. Pego uma garrafinha de cerveja, pago e me viro para sair de cabeça baixa quando tropeço num mísero pano de chão que deixaram jogado.

Tudo acontece em câmera lenta, ouço o estalar do sino de entrada em seguida sinto braços fortes segurarem em meus ombros evitando que eu caísse de cara no chão.

— Cuidado, morena. — diz me fazendo endireitar a postura. — Com licença. — me solta e sai andando rapidamente.

Sua voz grave penetra em meus ouvidos e minha mente força-me a gravar aquele som. "cuidado, morena". Encaro aquele homem que já se encontra sentado no banco do bar, ele me olha de relance, ele é lindo. Aqueles olhos centilantes e extremamente intensos, chega a ser uma ofensa chamar ele de bonito, o cara é um semideus, beira a perfeição. Ele sorri, e cacete, eu ainda estou aqui parada.

Ele suspende o copo em cumprimento e vira-se bebendo todo o conteúdo rapidamente, depois solta um suspiro forte. Balanço a cabeça de um lado para o outro e saio praticamente correndo dali.

Pela manhã, chego no meu trabalho atrasada, tudo culpa do sumiço do meu "ficante fixo". Sento à mesinha ao lado da mesinha de Nádia e suspiro pesado.

— Nossa, Lisa, que cara péssima é essa? Já sei, foi o Leonardo, né? 

—Ai, amiga, sim... vou nem fingir que não foi. Ele sumiu depois de uma briga sobre filhos..— digo tentando aliviar o peso da culpa — nem sei como a briga chegou nesse ponto... Olha bem pra mim, Nádia, você acha que eu to errada em não querer um filho com ele? Claro que não estou. 

— Amiga, há tempos tenho te falado para você dar um pé nesse traste. 

Ela pisca os olhos castanhos puxadinhos para mim, daquela forma que faz tudo parecer simples. Olho ao redor, suspiro e balanço a cabeça como se concordasse. Nádia é uma mulher de pele clara e alta, seus cabelos são escuros e longos. Leonardo a indicou quando procurei alguém para trabalhar na empresa, precisávamos de uma secretária na minha sala.

Nádia está a quase um ano conosco e mora no mesmo prédio que eu e Diana, isso nos aproximou de uma forma muito rápida, conversamos sobre tudo e todos, saímos para baladas, para o trabalho e para casa juntas constantemente.

Logo que ligo o computador e adentro o meu e-mail pessoal, recebo uma enxurrada de fotos de um endereço desconhecido, mensagens suspeitas sobre o meu passado. A alguns meses comecei a receber emails, ligações e até SMS desconhecidos falando sobre a minha avó, desde o dia em que vim embora, não a procurei mais.

Receber aquelas fotos sempre que trás lembranças.

Os meus dedos clicaram no mouse e a cada foto que passava, mais algumas lembranças voltavam à mente rápido. Em uma delas, tinha uma minha com um vestido preto curto, lembro daquele dia, o meu primeiro encontro.

Aquele homem de olhos intensos que nunca soube o nome ao certo e esqueci até o sobrenome que pediu para que procurasse. Solto uma gargalhada baixa lembrando desse dia mas, logo fecho o rosto quando avisto Leonardo entrando na minha sala. Com seus 1,80, Léo é o típico padrão, pele parda, olhos morrons, musculoso, viciado em academia e baladas noturnas. Por falar nisso, ele está usando um óculos escuro.

— Bom dia, meu amor. — deposita um beijo no meu rosto. — Você vai para essa idiotice de inauguração? — apontou para um convite que até então não tinha visto sobre a minha mesa.

— Talvez. — dou de ombros — irei pensar.

— Hum.. — Ele tira os óculos e encara o computador. — Quem lhe envia essas coisas?

— Não sabia que eu tinha bola de cristal para adivinhar as coisas. 

— Deveria, você nunca me conta sobre as coisas da sua vida — engulo seco — sua vida começou após conhecer Diana, mas antes disso, me conta o que aconteceu.

— Não. — digo.

— Isso é muito suspeito. — aponta para a tela. — Odeio as suas mentiras.

— E eu finjo acreditar nas suas. — Pisco para ele. — Onde estava esses três dias? — ele desvia o olhar.

— Resolvendo umas coisas do time, nada demais. — franzo o cenho. — Não estou mentindo. — Ele balança a cabeça — Eu realmente fui resolver uns problemas pessoais.

— No meio das pernas de outra? — ele negou movimentando a cabeça — porque tem um chupão notório em seu pescoço, Leonardo.

— Não sei do que está falando. — Ele se afastou bruscamente — Você está vendo coisas? 

— Com certeza estou. — Sorri forçado — se me der licença, tenho que trabalhar.

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