Uma santa?

Leonor: Íris, posso ter fazer uma pergunta? - Íris estava cuidando dos meus ferimentos na casa de Amarïe. Valen havia nos deixado lá e ido ajudar os outros.

Íris: Claro! - Ela estava aplicando remédio no meu pescoço.

Leonor: Aí! - Meu pescoço parecia que estava pegando fogo de tanta dor que sentia.

Íris: Desculpa! - Ela começou a assoprar meu machucado para aliviar a dor.- Então, o que queria me perguntar?

Leonor: Já ouviu falar da gruta dos desejos?

No momento que mencionei o lugar, Íris ficou pálida.

Íris: Q-quem te falou desse l-lugar?

Leonor: Nir, disse que preciso ir para lá.

Íris: Você não pode! Se você for, vai morrer assim como os outros! - falou desesperada.

Leonor: Calma Íris, como assim vou morrer como os outros?

Íris: Ninguém que foi para esse lugar sobreviveu Leonor... Ninguém.

Leonor: Por que?

Íris: Não se sabe o motivo, alguns dizem que a um monstro guardando a entrada da gruta, outros dizem que lá é o lar das sereias. Enfim, ninguém sabe o que há lá dentro, já que nenhum dos que foram voltaram para contar.

Leonor: Será que eu ouvi direito o que Nir tinha dito? - Pensei alto.

Íris: Provavelmente não, ir para esse lugar é quase suicídio! - gritou.

"Considerando meu histórico nesse lugar, não seria a primeira vez que iria para um quase suicídio", pensei.

De repente a Íris começou a chorar.

Leonor: Íris? - Santo Deus, como se consola uma fada?

Íris: Você não pode ir para esse lugar! - Ela chorava feito criança.

Leonor: Tudo bem, vemos isso depois. - Tentei acalmá-la.

Íris: Você não pode! Não pode ir Leonor!

Demorou um pouco para acalmar Íris e fazê-la dormir, não entendi porque dela ficar tão alterada com a simples menção desse lugar. Na verdade se eu parar para pensar, não sei nada sobre Íris. Esses dias com ela e Valen me fizeram sentir que éramos "próximos" de certa forma, mas a verdade é que não conheço eles.

Leonor: Não somos diferentes de estranhos afinal.

Ainda assim, eu conseguia me sentir mais confortável com eles do que com minha família a minha vida inteira, com eles eu sentia que podia ser eu.

Leonor: Como será que estão as coisas lá fora? - Eu me sentia culpada de certa forma por não estar ajudando, se sou mesmo a filha da profecia, o certo seria eu estar lá, ajudando essas pessoas.- Eu devo ter enlouquecido, já estou até pensando como aquelas heroínas de histórias em quadrinhos.

Minha cabeça era um campo de batalha, por um lado eu sentia que tinha a responsabilidade de ajudar essas pessoas, como se tivesse nascido para isso. Por outro, me perguntava também por que eu tinha que arriscar a minha vida por gente que nem conheço.

"Você foi bem hoje criança".

Leonor: Apareceu em boa hora, ouvi dizer que o lugar que você me mandou ir é como pedir para morrer.

"Hahaha, mas você já não quase morreu várias vezes? Achei que já tinha perdido o medo."

Leonor: Eu quero chegar pelo menos aos 80 anos senhor, então não estou afim de morrer ainda.

"Fique tranquila, estarei com você."

Leonor: Você também estava comigo hoje, no entanto eu quase morri.

"Não irei mentir para você criança, você enfrentará muitos perigos pela frente. Sua missão não é nada fácil. Tendo dito isso, eu não vou te prometer te livrar da aflição, mas passar por ela com você."

Leonor: ...

"Também prometo que farei com que cumpra sua missão e encontre as respostas que veio procurar nesse mundo."

Leonor: Então descobrir quem sou e cumprir a missão que o senhor me deu, são coisas que estão conectadas?

" Isso. Agora tome, isso vai ajudá-la com suas feridas". Um frasco com um líquido dourado brilhante apareceu na minha frente.

O líquido era pegajoso, o que tornava a experiência de beber aquilo nada agradável. No entanto, assim que bebi eu senti uma onda de calor me envolver, era uma sensação acolhedora, e a dor que estava sentindo pelo corpo sumiu instantâneamente. Me levantei e fui até um espelho que tinha no quarto, tirei a faixa que estava no meu pescoço.

Leonor: A ferida sumiu! Não ficou nem cicatriz!

"Vocês devem ir para a gruta dos desejos logo, as forças do mal já começaram a se mover."

Leonor: Como vou convencer meus amigos? Viu a reação da Íris?

"Você dará um jeito, e caso seja necessário eu mesmo irei intervir. Agora vá dormir criança."

Leonor: Eu não sou criança, sabia?

"Para um ser eterno, sim, você é uma criança."

Leonor: É, não tenho como argumentar quanto a isso. Boa noite.

Lembrei que no meu mundo as pessoas costumavam orar para seus deuses, para que eles atendessem seus pedidos, eu não tinha esse costume, já que minha família não era nem um pouco religiosa. Mas não custava tentar dessa vez.

Leonor: Só queria te pedir Nir para guardar Valen e o povo da vila, ajude eles a derrotarem esses monstros, nem que seja fazendo cair um raio na cabeça dessas criaturas das trevas, e mais uma vez, boa noite.

Eu dormi maravilhosamente bem aquela noite. Quando acordei, Valen estava dormindo na cama ao lado, em sua forma de gato. "Me pergunto que horas ele chegou ontem".

Decidi dar uma olhada na aldeia. Para isso eu resolvi colocar a capa que Valen me deu, já que provavelmente as pessoas desse lugar não teriam uma reação favorável vendo uma humana.

Amarïe: Bom dia! Vai dar uma olhada lá fora? - Amarïe estava na cozinha fazendo o café da manhã.

Leonor: Bom dia! Sim, queria ver como ela está depois do caos de ontem...Aliás, a senhora está bem? Imagino que ficou até tarde ontem cuidando dos feridos, deve estar cansada.

Amarïe: Curandeiros estão acostumados a virarem a noite hahaha, aquilo não era nada para mim, inclusive daqui a pouco irei ter que voltar a cuidar dos feridos. Mas você deve ter ficado surpresa né? Imagino que no mundo humano não tenha isso.

Leonor: Realmente não tem...A senhora não se incomoda com o fato de eu ser humana?

Amarïe: Você está com sua alteza, e ele parece confiar em você, não tem porque eu me preocupar, confio no julgamento de sua alteza. Mas é melhor manter a capa para ir lá fora, as pessoas daqui não teram a mesma opinião que a minha.

Leonor: Pode deixar. - Quando sai da casa, me surpreendi com a visão que tive.

Muitas casas foram destruídas e havia corpos de feridos em macas no chão. Mas em meio a tudo isso, era possível ver elfos ajudando uns aos outros a reconstruir suas casas, pessoas dividindo seus alimentos umas com as outras, outras cuidando dos enfermos. Eu esperava ver desespero, mas ao invés disso, vi esperança nos olhos das pessoas. Andando pelas ruas, ouvi grupo de crianças conversando animadas, sobre um assunto que me chamou atenção.

"Minha mãe me disse que a filha da profecia deve ter aparecido!"

"A minha também! Dizem que ontem a noite uma mulher de fios prateados como a lua apareceu e derrotou os devoradores e as bruxas sozinha, deve ser ela!"

"Eu ouvi que ela estava com um homem bonito e uma fada, de qualquer forma, se essa mulher conseguiu vencer os devoradores, ela deve ser mesmo a filha da profecia!"

"E ontem a noite tinha raios caindo do céu golpeando os adversários. Graças a filha da profecia, Deus voltou a olhar para nós!"

"Será que ela sera nomeada santa pela igreja?"

"Mas é claro seu bobão, logo teremos uma santa que rogará a Deus em favor de seu povo, mal posso esperar para conhecer a filha da profecia!"

"Loucura! Isso tudo é loucura! Eu, uma santa? Esse povo está doido?", pensei comigo mesma. Senti minha pressão cair após ouvir disparates um atrás do outro. Continuei andando, e sempre ouvia a mesma conversa aqui e ali sobre mim. "Então é por isso que elas estão tão felizes mesmo após o que aconteceu ontem", pensei. Resolvi voltar para a casa, ouvir cochichos sobre a "filha da profecia" ou " a santa" estavam me dando dor de barriga de ansiedade, essas pessoas estavam depositando uma esperança muito grande em mim, e eu temia não ser capaz de corresponder as suas expectativas.

Contínua...

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