Quando o expediente terminou, pela primeira vez, achou que seria prudente ir comer algo. Estava sempre tão concentrada que por vezes esquecia de se alimentar bem e beber água. Indo ao refeitório, percebeu pela primeira vez como era difícil não ter amigas em um local como aquele. Todas as pessoas a olhavam de um jeito estranho, cheias de julgamentos e superioridade.
– Samia! – A recepcionista levanta sua mão.
Samia queria ir até lá, mas quando a Callie deu uma cotovelada em sua amiga, ela ficou sem jeito. No entanto, depois de cochicharem, a mulher finalmente sossegou e permitiu que ela fosse até elas. Quando Samia se sentou, houve um grande silêncio por algum tempo.
– Nós ainda não nos apresentamos formalmente. Eu sou a Aria.
– Oi. – Responde sem qualquer traquejo social. Ainda esta desconfortável por estar na mesma mesa que a mulher a quem prejudicou a pouco tempo. Ela jamais pensou que subiria na empresa delatando uma colega da forma como fez. – Eu sou Samia.
– Garota, eu sei quem é você. Todos sabem disso aqui nessa empresa.
– E isso é algo bom? – Pergunta, arrastando a fala.
– Sem dúvidas. – Callie responde sem humor algum. – Tive sorte de não perder meu emprego.
– Sorte não é bem a palavra, não é amiga. O senhor Montoia ado...
– Aria, cala essa boca. – Diz, deixando a amiga sem jeito.
– O que tem o senhor Montoia?
– Nada... – Callie responde. – Digamos apenas que eu faço alguns serviços sentada no colo dele.
– Não entendi. Porque se senta no colo dele?
– Porque? Garota, em que mundo você vive? – Pergunta, aumentando seu tom de voz.
Todos ao redor olham para a mesa delas. Porque estariam as pessoas que deveriam se odiar conversando de forma tão amigável? Todos queriam ver sangue e briga.
– Eu não entendi porque ela se senta no colo dele.
– É um eufemismo...
– Mas porque a Callie usaria um eufemismo nisto?
– Menina, você vive mesmo no mundo da lua. Não sabe o que é transar?
Samia abaixa sua cabeça. A verdade é que ela realmente não sabia. Sempre fôra criada a rédeas curtas. Seus pais jamais conversariam sobre coisas como estas até o dia do seu casamento. Seu noivo deveria lhe ensinar tudo que precisa saber para agrada-lo, ela não era realmente importante nisto. Tudo que deveria saber até lá, é que não poderia lhe negar algo assim e tudo estaria muito bem.
– Meu deus, você não sabe... – Callie diz com seu tom de voz escandaloso. – Aria, ela é virgem.
– Como é ser virgem? Mal me lembro da primeira vez que fiz sexo, faz tanto tempo.
– Garota, quantos anos você tem?
– Vinte e um, mas eu não posso fazer... Isso. Eu sou noiva, preciso me guardar para o casamento.
– E como você vai saber que gosta de transar com seu noivo se não fizer amor com ele?
– Eu não sei. – A verdade é que a pergunta realmente fazia sentido. Agora ela estava muito confusa. Talvez fosse sobre esse tipo de influencia que seu pai temia.
– Então você e seu noivo resolveram esperar?
– Eu não sei... É uma tradição em meu país.
– E como seu noivo é?
– Eu não sei...
– Ok, eu não estou falando de sexo. Estou perguntando como ele é... – Aria diz.
– Eu mal o conheço.
– Essa conversa está ficando cada vez mais confusa. Como você vai se casar com um cara que nunca fez sexo e que não conhece. Ele é rico?
– Sim.
– Então é isso. – Responde, batendo contra a mesa, como se tivesse acabado de desvendar o mistério.
A Samia nunca se importou com o fato do noivo ser rico. Na verdade, nas poucas vezes em que o encontrou, esperava que o amor que ele dizia nutrir por ela fosse o suficiente para que a tratasse bem, mas ele foi rude. Disse lhe apenas seus afazeres depois de esposa. Eram tantas regras e deveres que Samia só podia chorar de desespero. A perspectiva de ter no mínimo seis filhos também não lhe parecia agradável. E como ela escolheria os sexos? Ter menina era um prejuízo, ele disse. Apenas uma seria o suficiente.
– Não, eu nunca me importei com isso. Foi arranjado. – Eu tinha apenas quinze anos quando fiquei noiva. Tive sorte, poderia ter sido casada com ele. Minha avó me poupou disto quando fez meu pai prometer que esperaria ao menos até os meus vinte e dois anos. Então, está muito próximo.
– Você tem sorte. Eu adoraria ter um noivo rico e lindo. Um indiano de pele dourada. Fico excitada só de pensar.
– Talvez por isso você não tenha nenhum. Olha como você é rodada.
– Olha quem fala. Eu não faço sexo com o Montoia para manter meu emprego.
– E é por isso que ainda é recepcionista.
A discussão entre as duas é a acalorada. Para Samia, aquilo seria como uma briga, mas elas estavam rindo. Lembrou-se que adoraria ter uma irmã. Seria dessa maneira? Brigariam apenas para provocar uma a outra e ririam disto?
– Olha só, o chefe vai dar uma festa, você pode ir conosco.
– Festa? Do senhor Montoia?
– Do senhor Rizzo.
– Meu pai não permitiria.
– Garota, em que mundo você vive? Você trabalha, seu pai não pode mandar em você.
– Pode... Ele pode sim. Eu não quero ser expulsa da família...
– O que? Ora, eu nem vou tentar entender isto. Você vai conosco, é no horário do trabalho, não tem problema algum.
– Mas o que eu diria ao meu pai? Eu não posso mentir para ele.
– Não minta, apenas não diga para onde vai. É muito simples.
– Eu não sei... Não parece uma boa idéia.
– Eu não vou insistir para você ter uma vida normal e ir a festa do deus grego. Se quiser ir, estaremos lá. Eu levo uma roupa para você. – Callie diz.
– O que há de errado com as minhas roupas?
– Garota, só pode estar de brincadeira comigo. – Diz, olhando-a de cima a baixo.
Quando o almoço finalmente terminou, pela primeira vez, Samia sentiu que tinha amigas. Afinal, as americanas eram mulheres generosas. Mesmo depois de tudo que havia feito, ainda estavam dispostas a ser sua amiga. Lembrou-se de todas as vezes em que foi enxotada do seu colégio por ser de uma casta inferior. Seu pai sempre se empenhou para que ela tivesse instrução nos melhores locais. Ele pretendia que ela pudesse encontrar bons casamentos em lugares assim. Deu certo. O noivo de Samia a viu quando ia buscar sua irmã mais nova e desde então, criou uma verdadeira obsessão. Quando sua vó soube que ela se casaria, usou seu leito de morte para fazer seu filho prometer que ela não se casaria tão jovem. Quando se casou aos quinze anos, não havia ninguém para lhe proteger, e amava demais a sua neta para permitir que passasse pelas mesmas dificuldades, mesmo não compreendendo como ela gostava tanto daqueles papeis e cálculos.
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Atualizado até capítulo 94
Comments
Cleidilene Silva
ela não conhece nada da vida, inocente coitada!
2024-11-18
0
Josilda Silva
coitada inocente
2023-06-27
2
Eni Firmino Nascimento
coitadinha muito ingênua
2023-02-16
1