Samia estava mais nervosa que o dia anterior para mais uma longa jornada de trabalho. Tudo porque ela sabia que estaria em maus lençóis. Ter provocado aquela mulher não foi uma boa idéia. Caminhando pela recepção, foi preciso que mostrasse seu crachá mais uma vez para que ela entrasse no local. Não importava quantas vezes fosse necessário repetir, ela sempre precisava explicar que era Hindi e que mulçumanos não são pessoas terroristas. De que adiantava? Seus longos cabelos escuros e olhos amendoados delatavam a descendência árabe. Fora do comum, sua pele era clara, mas ainda tinha o tom bronzeado e brilhante. Tudo que nenhuma das mulheres que a encarava naquele trabalho possuía. Mas era uma mulher que ainda não havia vivido o suficiente num pais como esses para perceber a inveja que a cercava. Ela e entendia sobre mulheres invejosas, é claro. Em seu país, isso era algo comum, mas nada se comparava a forma como agiam neste pais. Eram como amigas, mas isso não era bem a verdade.
Mais uma vez na recepção, a mulher a encara como se a quisesse matar. É claro, ela e a Callie eram amigas e ela não perdoaria uma pessoa que acabou de conhecer. Mas o que a Samia poderia fazer além de contar a seu chefe? Era sua obrigação. Ao menos era o que ela tentava se convencer enquanto subia pelo elevador. Quando pisou seus pés no escritório, sentiu que havia algo de errado, embora não tenha conseguido identificar de primeira. A Callie ainda estava lá, mas isso não traria alivio a longo prazo. Sabia que aquela mulher se vingaria dela. Cautelosa, caminha até sua mesa na vã esperança que ninguém a note, mas antes que possa faze-la, seu chefe surge no ambiente e a convida mais uma vez que a até a sua sala. Isso a deixava nervosa. Nunca gostou da forma como alguns homens olhavam para ela nesse país, especialmente seu chefe, um homem casado e com filhos.
Indo em direção a sala, via pessoas que a olhavam torto e cochichavam sobre como ela entregou uma colega de trabalho em seu primeiro dia. Não era uma pessoa a quem deveriam confiar, diziam. Mas ela tentava a todo custo ignorar os burburinhos e seguir para a sala do seu chefe, onde ela também não queria estar.
– Entre e feche a porta. – Diz, sem sequer olha-la.
Quando ela finalmente fechou a porta, seu chefe a olhou de um jeito que não agrada a Samia de forma alguma. Ela se perguntava porque um homem estaria a portas fechadas com ela sem sequer estar comprometido. Tentava entender a todo custo porque isso era algo do qual ele fazia questão.
– O senhor me chamou...
– Sente-se!
Samia vai até a mesa e se senta cautelosamente a sua frente. Como de costume, ela não cruza suas pernas. Seus pais sempre lhe disseram que um gesto como este poderia torná-la culpada caso sua virtude fosse perdida. Ela não gostaria de ser jogada no vento.
– Se for sobre aquilo. Eu posso ter me engano, foi meu primeiro dia de trabalho.
– O chefe quer que eu a promova. Fui contra...
– Mas...
– Deixe que eu explique porquê. É educado que você espere eu terminar de falar. Não ensinam isto em seu país?
Ela estava muito cansada das insinuações, mas o que poderia fazer? Não pretendia ser rude com seu chefe e provar suas teorias, além disso, ela não poderia ser demitida. Ter um trabalho como aqueles a deixava mais interessante para um casamento, mas ser demitida, definitivamente só aumentaria o dote que seu pobre pai teria que pagar por ela.
– Desculpe.
– Eu não queria que você fosse promovida, porque eu acho que ainda é muito jovem e imatura. Você acabou de chegar aqui, e existem pessoas no cargo a mais de dois anos e que ainda não conseguiram a sua posição. Mas, ordens lá de cima devem ser acatadas. O senhor Rizzo não gosta de desobediências.
– Em que vou trabalhar.
– Ira revisar os balanços gerais da empresa. Apenas se certificar de que todos os dados estão corretos.
– Sim senhor.
– Por enquanto, continuará em sua mesa, mas providenciarei uma sala para você assim que encontrar algo neste andar.
– Muito obrigada.
– Parabéns!
– Obrigada mais uma vez. – Com licença.
– Já vai? Não quer ficar e conversar?
– Não, senhor.
– Tem certeza de que quer recusar?. Talvez mais tarde possa vir aqui tomar algo comigo, ou nós podemos ir a algum lugar...
– Não creio que seja apropriado. Eu sou noiva.
– Isso nunca impediu ninguém, apenas você.
– Sim senhor. Afirma. Ela não queria brigar ou lhe dizer o que se passava por sua cabeça. Seria uma grande ofensa, mas não estava disposta a ficar naquele lugar e ouvir aqueles absurdos de alguém como ele.
– Vá! Saia daqui antes que eu me arrependa.
Ela não sabia o que aquilo queria dizer. Ela mal entendia porque ele a chamou para sair ou para o seu escritório a noite. Ela entendia apenas que era algo que não deveria fazer. Seu pai certamente não aprovaria.
– Imigrantes imundos...
Ouve quando estava fechando a porta atrás dela. Tentando se controlar, Samia apenas fechou seus olhos e respirou fundo haveria algum lugar fora de seu país natal onde esse tipo de coisa não aconteceria? Ela esperava que sim.
Voltando para sua mesa, pessoas a olhavam como se ela realmente fosse uma traidora. Ainda pior, cochichavam sobre como havia se tornado recorrentes as suas idas a sala do supervisor. O que aconteceria quando todos soubessem que ela foi promovida a um cargo acima do deles? Ela se perguntava isto o tempo todo.
– A atenção de todos vocês em mim agora! – Diz, enquanto estala os dedos das duas mãos. – O chefe a nomeou a revisora do trabalho de vocês. Quando terminarem, passem tudo para a Samia, por gentileza. Ela vai dizer se está tudo certo.
– O que? Ela acabou de chegar aqui. Eu trabalho duro por anos.
– Cala a boca. Você cometeu um grande erro e teve muita sorte por eu não a ter delatado. Assumi o seu erro e espero que esteja satisfeita. Uma recém chegada está acima de mim.
Voltando a sua sala, ele bate a porta com força. As pessoas se olham e cochicham. Todos naquele escritório sabiam bem o motivo para que o supervisor tenha protegido a Callie, mas ninguém ousaria contar isto a nova chefe. Se esse tipo de coisas era comum na empresa, certamente ela também estaria fazendo com o senhor Rizzo. Muitas mulheres ali dariam tudo para ter um homem como ele. Quem não gostaria de um italiano de um metro e noventa de altura?
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Atualizado até capítulo 94
Comments
Fbiana De Santos
linda história pena que tratam as mulheres mal
2024-03-26
2
Marilene Xavier
pena tratarem os outros assim
2023-05-18
1
Eni Firmino Nascimento
curti
2023-02-16
0