Louise
Não sei exatamente quando começou a minha obsessão por ser a melhor. Talvez tenha sido lá no ensino médio, antes mesmo de eu ter noção do quanto isso iria crescer e as proporções que tomaria.
Eu era uma CDF que todos respeitavam, competia até mesmo para ser a primeira a sair na hora do intervalo. Em todas as provas de fim de bimestre, no quadro de honra dos 100 melhores alunos da escola, ou era o meu nome ou era o de Natanael que estava em primeiro lugar, com no máximo 2 pontos de diferença para desempate.
Natanael e eu eramos amigos, mas aos poucos ele se afastou de todo mundo e apenas nossa rivalidade restou entre nós dois. Meu irmão ainda o vê às vezes, quando a namorada dele não o impede e controla (muito raramente).
O pessoal da turma se divertia por apostar em quem seria o melhor e os professores apenas achavam que devíamos parar de ser tão irritantes e ir brincar, já que muitas vezes era um empate e precisávamos que eles arranjassem um meio de desempate que fosse justo e que ambos aceitassem. Óbvio que não podia ser por ordem alfabética, o mais merecedor devia estar no topo.
De qualquer forma, depois dos três anos, fomos juntos para a faculdade de engenharia civil e depois para a de arquitetura, sem parar com a rivalidade que nos faziam manter o foco e ser considerados os melhores entre os melhores. Eu até hoje me pergunto se ele me imita ou é realmente uma coincidência estarmos na mesma faculdade e fazermos os exatos mesmos dois cursos.
-Lu! Por que me deixou para trás?! - Gina me perguntou inflando as bochechas que já são gordinhas e ficam ainda mais fofas daquele jeito.
Gina foi a primeira amiga que fiz quando eu estava no terceiro ano do ensino médio, na época ela estava no primeiro. Quando eu comecei a cursar arquitetura, ela terminou os dois últimos anos dela no ensino médio e depois de um ano sabático, entrou na faculdade para cursar logística. Antes de voltarmos a estudar juntas, eu conversava com poucas pessoas porque normalmente ficavam irritadas com uma das três coisas: Eu ser mais bonita, eu ser muito estudiosa ou minha falta de vontade em socializar.
-E eu lá quero atrapalhar o seu namorico com o Juan? - fiz uma careta enquanto pegava os livros que precisava para os próximos períodos no meu armário. - Eu deixei meu livro de cálculos com você?
-Não deixou, deve estar aí no meio da sua zona. - Gina espiou a bagunça dentro do armário. - E eu não estava de "namorico", só estava falando sobre o jogo novo que...
Parei de prestar atenção ao que ela dizia ao ver meu rival aparecer no fim do corredor com seu cabelo benfeito e sorriso de dentes branquinhos. Grudada em seu braço, tentando desafiar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, a namorada dele está quase se fundindo a ele.
Natanael sorriu pra mim e eu sorri de volta, em um momento que durou tão pouco que se alguém percebeu vai duvidar de que aconteceu mesmo. Voltei a focar em procurar meu livro no armário, tentando entender o que Gina estava dizendo e eu não prestei atenção.
-E aí, o que você acha? - seus olhos brilhavam de empolgação.
-Ah, claro, é uma ótima idéia. - sorri como se soubesse do que ela estava falando.
-Que bom, por que já inscrevi você. - ela pulou alegremente, posso sentir que não deveria ter aceito. - Você tem que fazer uma maquete perfeita!
-Ah, eu vou. - se é apenas uma maquete eu consigo tranquilo, eu até gosto disso.
Gina tagarelou mais coisas que eu não prestei atenção e depois saiu correndo por se lembrar que tinha algo para fazer antes da aula. Continuei a procurar meu livro, já estava quase jogando tudo para o chão quando notei que estava sozinha no corredor com Natanael.
Ele veio andando na minha direção, com o sorrisinho presunçoso lindo e exibindo duas covinhas fofas. Acho que é por culpa dele que meus padrões são altos quando se trata de gostar de garotos, meu rival é bonito e inteligente, então não tem como eu gostar de alguém que é só bonito e não tem uma inteligência tão grande quanto a dele. Não só ele, todas as pessoas do sexo masculino com quem tenho convivência são muito inteligentes e/ou bonitas.
-Uau, que organização! - falou rindo ao ver meu armário abarrotado de bugigangas. - Eu estou com seu livro de cálculos, você deixou na sala ontem.
Ele ergueu o livro no alto e eu tentei pegar, mas ele é tão alto quanto um poste... Não, não é o clichê de eu ser muito baixa e ficar sofrendo bullying de todo mundo por isso, ele realmente ultrapassou os 1,90 da última vez que eu chequei, eu com meus mero 1,70 ainda sou baixa perto de um monstro desses.
-Pode me dar meu livro? - pedi sabendo que nem se continuasse pulando eu pegaria.
-Quais são as palavrinhas mágicas? - seu sorriso só aumentava, ele tem prazer em implicar comigo.
-As palavrinhas mágicas é "me dá ou você pode correr o rosto de ficar estéril de novo". - eu ri quando ele fez uma careta e devolveu o livro.
Pode não parecer, mas Natanael e eu temos algum tipo estranho de amizade onde a gente não conversa quase nunca mas se sente confortável na presença um do outro. Ele ofereceu seu braço para eu segurar e eu aceitei depois de trancar meu armário que é muito organizado e fechou com muita facilidade já que nada estava vazando para fora ao ponto de não querer deixar a porta ser fechada.
-Sua namoradinha não vai ficar chateada se te ver andando com outra garota? - perguntei enrolando uma mexa do cabelo no dedo e fingindo mascar um chiclete. - "Você não pode respirar o mesmo ar que outras garotas! Eu vou ligar para a minha massagista depois dessa e fazer um skincare para relaxar!"
Imitem sua voz anasalada e fingi estar no pior dia da minha vida, que é exatamente o que ela faz sempre que vê o namorado perto de qualquer garota.
-Que engraçadinha você está hoje, Arquiteta de Lego. - ele me olhou com um olhar superior, como se eu fosse baixa mesmo. - E eu não estou respirando o mesmo ar que outra garota, estou respirando o mesmo ar que você.
-É eu que sou a engraçadinha, né? Você devia largar a faculdade e virar comediante. - soltei seu braço me dei uma cotovelada nele, havíamos chegado na sala então nem me preocupei em o segurar de novo.
-Mas como você vai viver sem mim aqui, para te derrotar? - Natanael debochou e foi para o lugar dele, mais no fundo.
Revirei os olhos e fui para o meu lugar favorito perto da janela. Sinceramente, as aulas estão tão chatas nesse último bimestre que olhar pela janela é mais produtivo do que assistir a aula.
Posso ver muitas pessoas passando lá embaixo no pátio, são sempre os mesmos filhinhos de papai que não se importam com as aulas e ficam passando tempo no pátio apenas para não perder a mesada.
Eu já pensei em ficar matando tempo por lá também mas só de pensar que presença conta como método de desempate, acabo ficando na aula. Obviamente eu não vou deixar Natanael ganhar de mim.
As aulas passaram tão rápido que eu sequer notei quando o professor do dia foi embora e até as pessoas de outras salas começaram a invadir a nossa para papear com os amigos. Inclusive, Gina já está do meu lado (provavelmente à um bom tempo) e parece bem animada em conversar com as suas amigas.
-Poxa, vocês são tão maravilhosas! - Gina abraçou uma delas parecendo animada. - Obrigada por deixar eu e a Lu ir.
-Onde eu vou que nem tô sabendo? - eu espero ter mostrado pelo meu tom que mesmo que seja para ir até a esquina, não estou afim de sair e socializar.
-Viagem no feriado prolongado, amiga. Vamos todos para a praia. - Gina respondeu com um sorriso muito suspeito de quem me arrastaria se fosse preciso. - Você precisa pegar um solzinho.
-Desculpa aí, brozeadona. - ergui os ombros e mostrei a língua para ela.
Gina pode falar o que quiser mas não é segredo que desde muito pequena o apelido dela era "Palmitão" de tão branca que é, ela é a última pessoa com moral para falar que alguém "precisa de um solzinho".
-Vamos, amiga, eu nunca te pedi nada! - ela suplicou juntando as mãos como se estivesse prestes a se jogar nos meus pés para implorar. - Vai ser divertido e... Hm... Talvez te dê inspiração para o concurso.
Suspirei sem deixar de mostrar meu descontentamento... Talvez uma viagenzinha não mate ninguém e eu nem precise interagir, posso ficar lendo algo na varanda do hotel.
-Certo, eu vou. - falei por fim, ouvindo ela e as outras três garotas comemorarem.
-A melhor parte é que a Gina é a única garota de outra sala que vai. - elas olharam com sorrisos diabólicos para algum ponto atrás de mim.
Virei para ver o que elas olhavam e já devia estar óbvio, Julie (namorada do Natanael) estava novamente tentando se fundir a ele, tagarelando enquanto ele tentava terminar alguma anotação.
Na faculdade existem cinco pessoas que são extremamente famosas: uma garota que dirigi uma Lamborghini, um rapaz que tem uma banda de garagem com músicas muito boas, eu que sempre estou no topo das listas de melhores alunos em concursos, o Natanael pelo mesmo motivo que eu e, por fim, Julie. Ela é a garota mais odiada de toda a escola e só não sofre bullying verbal porque somos todos "adultos" e a nossa forma de bullying é mais discreta, envolve ignorar e excluir a pessoa de qualquer evento ou acontecimento importante socialmente.
Em defesa dos adultos mais infantis da faculdade que ainda tentam intimidar uma existência tão lamentável quanto a de Julie, ela é extremamente irritante. Talvez não exista uma garota que ainda não foi atacada por apenas estar perto de Natanael, estar no mesmo curso, corredor ou qualquer outro lugar.
O terror psicológico dela nas pessoas a volta é tão grande que o único armário feminino próximo do de Natanael fica a no mínimo dois metros de distância. Não sei como classificar o nível de toxicidade dela mas não parece que é apenas uma dependência emocional, parece que ela acredita que nasceu para possuir Natanael apenas para ela.
As garotas terminaram a conversa alguns minutos depois e saíram, finalmente me deixando sozinha com meus próprios pensamentos. Juntei lentamente meu material, aproveitando para pensar sobre a tal viagem e me perguntar qual foi a última vez que fui para a praia. Será que o biquíni que eu usei quando tinha 12 anos ainda vai servir?
-Como certeza não. - olhei para meus seios com um riso irônico.
Eu obviamente estou muito maior do que a doze anos atrás, não só nos seios como também todo o resto do meu corpo, nem parece que já fui chamada de cabo de vassoura.
Preciso passar em uma loja comprar roupa de banho nesse fim de semana, espero me lembrar disso e não deixar para a última hora, como eu sempre faço. Na verdade não é que eu exatamente deixo para última hora, eu só... Hm... Adio para um momento mais propício.
Na sala restou apenas mais um grupinho de garotos e Natanael com a namorada no fundão, eles pareciam discutir sobre algum assunto que estava deixando Natanael claramente irritado, o que era uma ocasião raríssima. Julie me encarou quando notou que estava olhando para eles e apertou os olhos, me mostrando o dedo do meio.
Revirei os olhos e fui adulta o suficiente para não ir arranjar confusão e apenas sair da sala (depois de mostrar os dois dedos para ela, mas esse detalhe é mesmo importante?). O dia podia ter acabado na faculdade, mas eu ainda tinha muita coisa para fazer antes de ficar livre, só espero poder terminar tudo sem estar completamente derrotada no fim do dia.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Pyn
MARAVILHOSAAAAAA
2023-01-25
1
Pyn
LINDOOOOO
2023-01-25
1