Capítulo 2

Estendi minha mão para ajudar Juan a se levantar depois de ter ganhado dele pela segunda vez, não importa quantas vezes ele peça revanche, eu sempre vou vencer ele em cima do tatame.

-Você roubou todos os genes bons da família. - ele reclamou aceitando a derrota, ele cuidaria da limpeza após a aula.

Meu irmão aceitou a ajuda para se levantar e tentou vim para cima de mim tão rápido que se eu não soubesse que ele sempre faz isso, teria sido pega. Me esquivei de seu ataque e dei um tapa leve na sua cabeça, indo me jogar num canto onde estavam nossas bolsas.

Toda sexta-feira nós damos um apoio ao meu pai e cuidamos da aula das crianças para que ele possa passar um tempo com a nossa mãe, já que fim de semana eles não tem muito tempo para ficarem só os dois. Apesar de o dojô oferecer aulas de diferentes artes marciais, nós cuidamos apenas do karatê que é mais comum as crianças quererem aprender.

-Mesmo rolê de sempre depois que a gente acabar? - Juan se jogou ao meu lado.

O olhei feio por que estava tentando pegar minha garrafa na bolsa e ele sentou entre mim e ela, dificultando muito. Sim, seria mais fácil se eu não fosse preguiçosa e tivesse feito mais do que estender meus braços torcendo para alcançar mesmo que estivesse longe, mas a culpa é dele também por se colocar no meio quando eu quase conseguia atrair a garrafa com a força da mente.

-Claro, você quem paga. - respondi sorrindo satisfeita quando ele facilmente pegou a garrafa e me entregou.

-Eu não, os meninos resolveram querer sair hoje e chamei eles para beber com a gente. - ele sorriu orgulhoso por ter achado uma forma de não pagar pela bebida.

-Então eu vou para casa.

Sinceramente, eu sair com um bando de caras barulhentos numa sexta-feira? Prefiro vestir meias coloridas e comer brigadeiro na frente da TV.

-Não! Você é nossa arma secreta! - Juan me abraçou, ignorando minha cara de nojo por estarmos ambos suados. - Nat também vai vim essa noite!

-Sério? Pensei que ele não saísse mais com vocês desde que começou a namorar. - não escondi minha surpresa ao me soltar de seus braços e o empurrar.

-Ele não sai! Mas ele vai levar ela e...

-Tô totalmente fora! - prefiro passar a noite limpando estrume de cavalo.

-Calma! - Juan fingiu estar bravo e tampou minha boca com a mão e eu a lambi (eca, está salgada!) o fazendo a retirar com nojo e limpar na minha roupa. - Eles apostaram que ela fique o rolê todo sem surtar... Se ela surtar, Nat vai poder viajar com a turma de vocês. Se ela aguentar ele vai ter que sair com ela e as amigas para algum local maligno... Tipo sei lá, aquelas lojas que vende bolsa de jacaré.

Provavelmente quem sugeriu esse acordo foi a própria Julie, Natanael não é de fazer esse tipo de coisa, ele é mais do tipo que gosta de evitar dor de cabeça e acaba cedendo. Já tinha ouvido que quando começaram a namorar eles prometeram que não iam forçar um ao outro a sair com os amigos deles, cada um podia sair com quem quisesse.

Claro que o acordo era mais vantajoso para ela, já que sempre que ele queria sair com os amigos ela o chamava para sair também e ele ia com ela para evitar briga desnecessária.

-E você quer que eu vá por que uma garota vai irritar ela mais ainda? - Juan e os amigos compartilhavam um ódio mútuo por ela, apesar de babarem sempre que ela passa na frente deles com decote e mini-saia.

-Porque ela odeia você também.

-Ela me odeia? Por que? Nunca nem falei com ela. - franzi o cenho, eu posso não ser a pessoa mais simpática do mundo mas nunca fui maldosa com ela.

-O Pedro ouviu do Paulo, que ouviu do irmão da Carla que uma vez Julie falou mau de você no banheiro feminino porque você sempre parece ter um sorrisinho debochado. - ele deu de ombros. - Além disso, você é a única garota que existe no mundo da lua em que Nat vive, você sabe que desde o ensino médio ele nunca foi muito de falar com as garotas, entre o basquete e estudar, a única garota "próxima" dele é você.

Bom, realmente Natanael não era muito de socializar mas nossa relação sempre foi resumida a nossa rivalidade, nunca pensamos um no outro como um possível interesse romântico. Eu sempre me senti um "cara" perto dele e nunca tentei ser mais que isso, no fim eu não quero muito me amarrar a alguém mais. Quando eu era mais nova até estava aberta a me deixar conquistar, mas de uns quatro garotos com quem já fiquei, nenhum era suportável depois de um tempo.

Amar uma pessoa é entregar toda sua estabilidade emocional nas mãos dela, basta uma vaciladinha e você tá chorando no banheiro de um membro do time de futebol durante a festa mais maneira do ano, vomitando cinco caipirinhas nas novas botas de flanela da sua melhor amiga.

Isso foi incrivelmente detalhado porque eu já fui a amiga que tem as botas arruinadas.

Foi nessa mesma festa que eu quase deixei Natanael estéril, fiz um belo show de striptease na mesa da cozinha e dei um fora em um canalha escroto que hoje em dia foge de mim nos corredores da faculdade, mas isso não é história para agora.

-Mas onde eu entro aí?

Não que eu queira ir mas... bom, se eu puder dar um pouco de prejuízo para quem pagar a conta, talvez não seja totalmente ruim. Eu não desgosto dos garotos também, eles sempre foram muito divertidos e respeitosos comigo.

-Nós queremos tornar as coisas mais difíceis para ela por ter roubado nosso mascote. - Juan socou o ar, mostrando convicção. - E precisamos de uma garota legal para aliviar um pouco o clima.

-Seus amigos ainda tem esperança de me verem fazer estrip de novo, não é? - provoquei com um sorriso.

-Não só eles, a turma toda gostaria de ter certeza de que aquilo não foi um delírio coletivo. - ele riu e se levantou ao ver que as crianças haviam começado a chegar.

Com certeza vai me dar muita dor de cabeça e não é só dá ressaca, mas se eu aceitei até mesmo ir na praia com as garotas, não posso dar algumas horinhas do meu precioso tempo livre para os garotos? Talvez seja até legal.

Prometi dar a resposta no fim da aula e foquei em ajudar as crianças, é impressionante como são incrivelmente desengonçadas com dez anos, nessa época eu já ganhava de alguns alunos mais velhos, quando treinava com meu pai.

Pensando mais a fundo sobre a questão de sair com os amigos do meu irmão sem noção (que deveria ter me perguntado antes de os convidar), a melhor parte é que eu até gosto de beber com muita gente, é bom ver as pessoas ficando bêbadas enquanto eu estou sóbria e bem plena.

Me incomoda o fato de quererem me usar como uma ferramenta para atingir Julie, mas agora que sei que ela destila um ódio gratuito por mim, talvez ela mereça. Não é como se eu fosse fazer algo realmente ruim, só vou observar a conversa do pessoal e marcar presença... Talvez provocar um pouquinho, já que ela me mostrou o dedo do meio mais cedo. Nada pode dar errado, certo?

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Comments

mariaaa

mariaaa

Tô gostando da estória

2023-02-21

1

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