Capítulo: O Acordo
Vinícius jogou-se na cama com a elegância de um trapo velho, olhos fixos no teto, ainda tentando processar o tsunami de acontecimentos que lhe arrastara a dignidade.
— Meu pai só pode estar louco… e agora estou casado — murmurou, balançando a cabeça, como quem tenta acordar de um coma alcoólico emocional.
Soltou um longo suspiro, daqueles que já vêm com boleto emocional embutido, e começou a falar sozinho, como bom protagonista que precisa convencer o público (e a si mesmo) de que tem um plano.
— Meu Deus, eu só estou sonhando… mas é um pesadelo. Pensa, Vinícius, pensa: se essa tal de Sara não quis se casar comigo de verdade, então ela não sente nada por mim. Ótimo! É isso! Um acordo! Podemos ser apenas parceiros. Como o Cláudio… sim, como o Cláudio! Eu sou um gênio! Vou tomar um banho e dormir. Amanhã eu falo com ela.
Satisfeito como se tivesse descoberto o fogo, o rapaz foi para o banheiro, convencido de que sua ideia revolucionaria as relações matrimoniais forçadas.
Enquanto isso, na sala, o clima era de comédia leve e amizade improvável. Rodrigo e Sara estavam em um papo animado, daqueles que dariam um ótimo spin-off.
— Sara, vamos ser ótimos amigos!
— Acho que sim, gostei das suas histórias… mas você quase matou meu pai.
— Eu sinto muito mesmo. Mas estou pagando o melhor hospital. Quero que ele esteja ao seu lado no altar, no dia do casamento.
— Vou amanhã mesmo comprar um vestido, seu Rodrigo. Pode deixar, vou ser a esposa perfeita para seu filho!
Rodrigo sorriu como quem venceu a Mega da Virada.
— Ainda bem que acertei em cheio. Hoje eu durmo nas nuvens!
— Não exagera!
— Só não dê moleza para o Vinícius. Ele é esperto e vai tentar te enganar.
— Pode deixar, seu Rodrigo. Eu me viro.
Sara subiu as escadas com aquele olhar de quem está subindo para sua própria novela paralela. Por dentro, o monólogo estava fervendo:
“Quero distância. Ele até que é bonito e charmoso, mas não estou a fim. Vamos fazer um acordo, Vinícius: seremos só amigos. Como irmãos. Dormimos no mesmo quarto e só isso. Agora, que ele não esteja acordado…”
Ah, doce ilusão. Não só Vinícius estava acordado… como também tramava algo digno de reality show.
— Vou dormir pelado… vamos ver se ela resiste. Se resistir, podemos ser parceiros mesmo.
Sim, ele disse isso. E ainda se enfiou sob os cobertores com um sorriso de vilão sensual de novela das oito.
A porta se abriu e… surpresa!
— Meu Deus!
Sara fechou os olhos como se tivesse visto a própria conta de luz.
— O que foi? Nunca viu um homem pelado? Afinal, sou seu marido, minha esposa!
— Vista uma roupa! Não quero ter pesadelos. Aliás, já vou ter.
— Eu tenho direito à nossa lua de mel!
E para provar seu ponto, começou a balançar o corpo como um pêndulo indecente.
Horrorizada, Sara recorreu à sua força interior (e à memória do conselho de Rodrigo).
— Pode dormir assim. Eu vou dormir aqui também, só vou colocar uns travesseiros entre a gente. E vou trocar de roupa… Boa noite, maridinho.
Trancou-se no banheiro como quem fugia de uma criatura mítica e perigosa: o homem confiante demais.
Vinícius caiu na gargalhada.
— Ela vai ser meu parceiro! Vinícius, você é um gênio! Mas vou dormir pelado mesmo… só não me agarre de madrugada!
Dentro do banheiro, Sara encarava o espelho como quem encara um oráculo.
— É cada uma… Mas que homem é aquele? Será que vou conseguir dormir depois do que vi?
Jogou água no rosto, tentando apagar as imagens indevidas da mente.
— Diga que você vai sim… Seja forte. Vamos enfrentar o peladão.
Ao voltar, encontrou o dito cujo já roncando, virado de lado, com tudo à mostra. Sim, tudo. Sara bufou como uma chaleira emocional.
— Meu Deus… o que eu faço? Que raiva! Eu nunca vi um homem assim pelado na minha frente… e ainda não posso tocar. Só deita e dorme, Sara!
Na manhã seguinte, cena clássica: braços masculinos jogados sobre ela como se fossem travesseiros vivos.
— Que folgado! Além de roncar a noite inteira, ainda me abraça… Vai dormir no chão da próxima vez!
Indignada, saiu pisando forte até o banheiro. O barulho do chuveiro acordou o folgado.
— Está trancado!
— Estou usando, maridinho. Espera!
— Caramba! Nem no meu banheiro eu mando mais… Pai, você me paga!
Pouco depois, ela saiu com um sorrisinho irônico nos lábios.
— Agora pode ir, maridinho!
Vinícius entrou como quem entra num oásis após atravessar o deserto.
— Ai, que alívio… preciso falar com ela logo.
Enquanto ele se banhava, Sara olhava o espelho, pensativa, já em modo existencialista:
“Sou uma mulher casada agora… O que aconteceu com minha vida? Será que devo mesmo fazer isso?”
Minutos depois, já vestido (aleluia!), Vinícius apareceu.
— Que bom que você já se arrumou. Precisamos conversar.
Sara, ainda impactada com o peitoral nível comercial de perfume, respondeu sem pensar muito:
— Eu também tenho algo pra te dizer. E vê se veste logo essa camisa, não quero mais pesadelos.
— Você só teve sonhos, vai… Mas pensei numa coisa: podemos ser parceiros. Eu sei que você não quer ser minha esposa, não é?
— Não quero mesmo. Mas quero ser uma grande chefe. Então vai ter que me aturar. E se quiser continuar com a vida boa que seu pai oferece, temos que fazer um acordo.
Vinícius abriu um sorrisão, orgulhoso como criança que inventou uma brincadeira nova.
— Dormimos na mesma cama, mas sem ter nada. Vai ser como com meus amigos. Você resistiu a mim, então não teremos problemas.
— Fez de propósito?
— Sim. Queria ter certeza de que você não sente nada por mim. Não me leve a mal, mas não quero estar preso a ninguém.
— Ok. Concordo. Mas tenho condições.
— Quais?
— Nada de dormir pelado. Nada de abraços. E quero conversar sobre o meu dia, então você vai ser meu ouvinte.
Ele fez uma cara de tédio digno de novela chata das seis.
— Dormir no chão, não! Mas pelado eu não durmo, prometo… Só se você quiser amizade colorida.
Olhou para as pernas dela como quem avalia cardápio. Sara corou na hora.
— Nem pensar! Somos parceiros e nada mais.
— Trato feito!
— Sim, parceiros.
— Mas tem mais uma coisa…
— O quê?
— Meu pai vai controlar tudo agora. Quando eu quiser ir a festas, você vai comigo. Vai gostar.
— Não gosto dessas festas de loucos.
— Vai gostar sim! Agora vamos tomar café, esposa!
Ele estendeu o braço como um galã em treinamento. Ela aceitou, rindo.
— Sim, marido!
E assim, senhoras e senhores, nasce o acordo mais esquisito, potencialmente tóxico e completamente divertido da história dos casamentos improvisados.
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Atualizado até capítulo 96
Comments
Amanda
Vamos ver quem se apaixona primeiro
2024-07-13
0
Fatima Vergueiro
vamos ver o wue vai dar Sara toda essa loucura
2023-11-07
2
Adriana Baggio
o correto é eu me viro e não mim viro....
2023-04-14
1