Capítulo 3

Capítulo: O Acordo

Vinícius jogou-se na cama com a elegância de um trapo velho, olhos fixos no teto, ainda tentando processar o tsunami de acontecimentos que lhe arrastara a dignidade.

— Meu pai só pode estar louco… e agora estou casado — murmurou, balançando a cabeça, como quem tenta acordar de um coma alcoólico emocional.

Soltou um longo suspiro, daqueles que já vêm com boleto emocional embutido, e começou a falar sozinho, como bom protagonista que precisa convencer o público (e a si mesmo) de que tem um plano.

— Meu Deus, eu só estou sonhando… mas é um pesadelo. Pensa, Vinícius, pensa: se essa tal de Sara não quis se casar comigo de verdade, então ela não sente nada por mim. Ótimo! É isso! Um acordo! Podemos ser apenas parceiros. Como o Cláudio… sim, como o Cláudio! Eu sou um gênio! Vou tomar um banho e dormir. Amanhã eu falo com ela.

Satisfeito como se tivesse descoberto o fogo, o rapaz foi para o banheiro, convencido de que sua ideia revolucionaria as relações matrimoniais forçadas.

Enquanto isso, na sala, o clima era de comédia leve e amizade improvável. Rodrigo e Sara estavam em um papo animado, daqueles que dariam um ótimo spin-off.

— Sara, vamos ser ótimos amigos!

— Acho que sim, gostei das suas histórias… mas você quase matou meu pai.

— Eu sinto muito mesmo. Mas estou pagando o melhor hospital. Quero que ele esteja ao seu lado no altar, no dia do casamento.

— Vou amanhã mesmo comprar um vestido, seu Rodrigo. Pode deixar, vou ser a esposa perfeita para seu filho!

Rodrigo sorriu como quem venceu a Mega da Virada.

— Ainda bem que acertei em cheio. Hoje eu durmo nas nuvens!

— Não exagera!

— Só não dê moleza para o Vinícius. Ele é esperto e vai tentar te enganar.

— Pode deixar, seu Rodrigo. Eu me viro.

Sara subiu as escadas com aquele olhar de quem está subindo para sua própria novela paralela. Por dentro, o monólogo estava fervendo:

“Quero distância. Ele até que é bonito e charmoso, mas não estou a fim. Vamos fazer um acordo, Vinícius: seremos só amigos. Como irmãos. Dormimos no mesmo quarto e só isso. Agora, que ele não esteja acordado…”

Ah, doce ilusão. Não só Vinícius estava acordado… como também tramava algo digno de reality show.

— Vou dormir pelado… vamos ver se ela resiste. Se resistir, podemos ser parceiros mesmo.

Sim, ele disse isso. E ainda se enfiou sob os cobertores com um sorriso de vilão sensual de novela das oito.

A porta se abriu e… surpresa!

— Meu Deus!

Sara fechou os olhos como se tivesse visto a própria conta de luz.

— O que foi? Nunca viu um homem pelado? Afinal, sou seu marido, minha esposa!

— Vista uma roupa! Não quero ter pesadelos. Aliás, já vou ter.

— Eu tenho direito à nossa lua de mel!

E para provar seu ponto, começou a balançar o corpo como um pêndulo indecente.

Horrorizada, Sara recorreu à sua força interior (e à memória do conselho de Rodrigo).

— Pode dormir assim. Eu vou dormir aqui também, só vou colocar uns travesseiros entre a gente. E vou trocar de roupa… Boa noite, maridinho.

Trancou-se no banheiro como quem fugia de uma criatura mítica e perigosa: o homem confiante demais.

Vinícius caiu na gargalhada.

— Ela vai ser meu parceiro! Vinícius, você é um gênio! Mas vou dormir pelado mesmo… só não me agarre de madrugada!

Dentro do banheiro, Sara encarava o espelho como quem encara um oráculo.

— É cada uma… Mas que homem é aquele? Será que vou conseguir dormir depois do que vi?

Jogou água no rosto, tentando apagar as imagens indevidas da mente.

— Diga que você vai sim… Seja forte. Vamos enfrentar o peladão.

Ao voltar, encontrou o dito cujo já roncando, virado de lado, com tudo à mostra. Sim, tudo. Sara bufou como uma chaleira emocional.

— Meu Deus… o que eu faço? Que raiva! Eu nunca vi um homem assim pelado na minha frente… e ainda não posso tocar. Só deita e dorme, Sara!

Na manhã seguinte, cena clássica: braços masculinos jogados sobre ela como se fossem travesseiros vivos.

— Que folgado! Além de roncar a noite inteira, ainda me abraça… Vai dormir no chão da próxima vez!

Indignada, saiu pisando forte até o banheiro. O barulho do chuveiro acordou o folgado.

— Está trancado!

— Estou usando, maridinho. Espera!

— Caramba! Nem no meu banheiro eu mando mais… Pai, você me paga!

Pouco depois, ela saiu com um sorrisinho irônico nos lábios.

— Agora pode ir, maridinho!

Vinícius entrou como quem entra num oásis após atravessar o deserto.

— Ai, que alívio… preciso falar com ela logo.

Enquanto ele se banhava, Sara olhava o espelho, pensativa, já em modo existencialista:

“Sou uma mulher casada agora… O que aconteceu com minha vida? Será que devo mesmo fazer isso?”

Minutos depois, já vestido (aleluia!), Vinícius apareceu.

— Que bom que você já se arrumou. Precisamos conversar.

Sara, ainda impactada com o peitoral nível comercial de perfume, respondeu sem pensar muito:

— Eu também tenho algo pra te dizer. E vê se veste logo essa camisa, não quero mais pesadelos.

— Você só teve sonhos, vai… Mas pensei numa coisa: podemos ser parceiros. Eu sei que você não quer ser minha esposa, não é?

— Não quero mesmo. Mas quero ser uma grande chefe. Então vai ter que me aturar. E se quiser continuar com a vida boa que seu pai oferece, temos que fazer um acordo.

Vinícius abriu um sorrisão, orgulhoso como criança que inventou uma brincadeira nova.

— Dormimos na mesma cama, mas sem ter nada. Vai ser como com meus amigos. Você resistiu a mim, então não teremos problemas.

— Fez de propósito?

— Sim. Queria ter certeza de que você não sente nada por mim. Não me leve a mal, mas não quero estar preso a ninguém.

— Ok. Concordo. Mas tenho condições.

— Quais?

— Nada de dormir pelado. Nada de abraços. E quero conversar sobre o meu dia, então você vai ser meu ouvinte.

Ele fez uma cara de tédio digno de novela chata das seis.

— Dormir no chão, não! Mas pelado eu não durmo, prometo… Só se você quiser amizade colorida.

Olhou para as pernas dela como quem avalia cardápio. Sara corou na hora.

— Nem pensar! Somos parceiros e nada mais.

— Trato feito!

— Sim, parceiros.

— Mas tem mais uma coisa…

— O quê?

— Meu pai vai controlar tudo agora. Quando eu quiser ir a festas, você vai comigo. Vai gostar.

— Não gosto dessas festas de loucos.

— Vai gostar sim! Agora vamos tomar café, esposa!

Ele estendeu o braço como um galã em treinamento. Ela aceitou, rindo.

— Sim, marido!

E assim, senhoras e senhores, nasce o acordo mais esquisito, potencialmente tóxico e completamente divertido da história dos casamentos improvisados.

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Comments

Amanda

Amanda

Vamos ver quem se apaixona primeiro

2024-07-13

0

Fatima Vergueiro

Fatima Vergueiro

vamos ver o wue vai dar Sara toda essa loucura

2023-11-07

2

Adriana Baggio

Adriana Baggio

o correto é eu me viro e não mim viro....

2023-04-14

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