Névoa Eterna

David abriu os olhos e se esticou na cama, sorrindo ao sentir o calor do sol em sua pele. Ele sempre adorava acordar cedo, quando a ilha ainda estava tranquila e silenciosa. Então se levantou da cama e foi até a janela, admirando a vista deslumbrante da ilha de Solaria.

As nuvens pareciam tocar os pés da ilha enquanto ela flutuava pelos céus. O sol brilhava alto no céu, iluminando as ruas e casas da ilha. David respirou fundo, sentindo o ar fresco e limpo da manhã. Era um dia perfeito para começar sua rotina diária de estudos e pesquisas.

Ele se vestiu rapidamente, colocando sua túnica branca favorita e calçando suas botas de couro. Ele pegou sua bolsa de livros e deixou a cabana, caminhando pela rua em direção ao centro da ilha. No trajeto ele cumprimentou os vizinhos que encontrava pelo caminho, sorrindo para eles enquanto continuava a andar. Logo ele avistou sua amiga de infância, uma garota chamada Dora Lykaion, uma aristocrata da ilha, assim como David. Ela tinha cabelos negros como a noite, com belos olhos azuis brilhantes, sendo ela da mesma idade de David e com a mesma estatura física.

Assim que eles se encontraram, Davi a olhou e começou a conversar.

— Bom dia, Dora, está pronta para mais um dia de estudos sobre a Névoa Eterna? — falou David, com um sorriso no rosto. — Temos que explorar o maior mistério do nosso mundo o quanto antes.

— Claro, vamos logo começar — disse Dora, pegando seus livros.

— Bem, então vamos lá, para a biblioteca de Solaria.

Dora assentiu com a cabeça e ambos foram para a biblioteca.

No caminho eles admiravam a ilha de Solaria, ela era linda, todas as manhãs o sol refletia sobre as águas que ficavam ao redor da ilha dando um brilho magnífico como se fosse um espelho brilhante. David olhou o castelo que ficava no centro da ilha, onde o governador de Solaria ficava e discutiu com Dora.

— Não entendo, como o governador de Solaria nunca sai do castelo, acho que com todos os meus vinte e dois anos nunca o vi uma vez sequer — comentou David, apontando seu dedo indicador para o castelo.

— Há boatos de que o governador tem um grave problema de pele, e não pode sair à luz do Sol.

A rua da cidade é repleta de cores e vida. As casas são construídas com tijolos  que brilham em diferentes cores ao longo do dia. Flores exóticas crescem ao longo das calçadas e as árvores têm folhas de várias cores. David e Dora estão caminhando pela rua, admirando as maravilhas da cidade. De repente, eles são abordados por três trombadinhas, que os param com intenção de roubar suas carteiras. Um deles gritou com David.

— Ei, seu engomadinho, melhor passar tudo o que está em sua mão, ou prepara-se para morrer — disse ele, apontando uma faca pequena para David.

Outro deles se aproximou de Dora falando.

— Olha que princesinha, você não gostaria de dar uma voltinha conosco gatinha? Invés de ficar com esse burguesinho — falou ele, com uma voz rouca e grave, olhando para o decote de Dora.

— É melhor vocês saírem daqui para o seu próprio bem — advertiu David, com um olhar obscuro e sombrio.

— Olha como esse pivete está abusado — reclamou o terceiro trombadinha, rindo da cara de David.

David puxou sua espada da bainha, que estava presa em sua cintura, revelando uma espada vermelha como sangue e a apontou para o primeiro bandido e falou alto.

— Aquele que encostar nessa mulher, estará hoje mesmo no inferno — gritou David, se preparando para a luta. — Ele colocou sua espada na frente e uma de suas pernas para trás.

O segundo trombadinha, revoltado com a atitude de David, pega no braço de Dora a puxando com força para seu lado.

Nesse mesmo instante o primeiro bandido grita de dor ao ver sua mão caída no chão e a espada de David com sangue em sua lâmina. David cortou a mão do primeiro no momento em que seu companheiro encostou em Dora e já partiu para cima do segundo, o golpeando em sua coxa direita, o fazendo soltar Dora.

David pega Dora e a leva para atrás de seu corpo e pronuncia-se.

— Acredito que vocês já devem ter aprendido a lição, então por favor, saiam  da nossa frente.

— Maldito, você vai pagar por isso — berrou aquele que teve a mão cortada.

— Veremos isso agora — declarou David, chamando dois guardas que estavam passando.

— O que aconteceu aqui? — perguntou um dos guardas, perplexo vendo aquela cena.

— Esses três nos atacaram e tentaram nos roubar — respondeu Dora, um pouco assustada.

Um dos guardas logo percebeu que aquela mulher era Dora Lykaion, filha do duque Lykaion, um dos 3 assessores do governante de Solaria.

— Senhora Lykaion, Sentimos muitíssimo por não termos visto o que estava acontecendo aqui, esses homens irão agora para a prisão e possivelmente vão receber pena de morte por te atacar — explicou um dos guardas, olhando com raiva para os três.

— Está tudo bem, deixe os vivos, mas não deixe que saiam tão cedo da prisão — manifestou David.

Os guardas saíram do local com os três, enquanto David e Dora se sentavam em um banco na praça central da cidade e conversavam sobre o ocorrido.

— Não temos manhãs tão movimentadas assim há muito tempo — disse Dora, rindo da situação.

— Verdade, eu achava que nem sabia mais usar minha espada — falou David, suspirando, e esticando seus braços para cima.

— Você sabe que isso é impossível, David, você treinou sua infância inteira, desde que se tornou órfão.

David abaixou sua cabeça e juntou suas mãos em cima de suas pernas.

— Vamos encerrar esse assunto aqui. E vamos logo para a biblioteca, eles estão nos esperando lá.

Os dois se levantaram e seguiram para a biblioteca de Solaria, eles passaram pela rua central da cidade onde diversas pessoas, elfos, demi-humanos e animais passavam. A rua era iluminada e toda feita com pedras de mármore, trazidos da ilha de exóryxi. A ilha mineradora.

Chegando a porta da biblioteca, eles avistaram a sua entrada, na qual um grande livro feito de madeira ficava em cima de sua porta gigante, com janelas de vidro transparente e grandes. Ao entrarem foram recebidos por sua equipe de pesquisa, sendo eles: Eric, é um pesquisador de química, com 32 anos. Ele é alto e magro, com cabelos louros e olhos azuis. Ele é muito preciso e detalhista em sua pesquisa, o que a ajuda a descobrir novas moléculas e reações químicas. Fernanda, é uma pesquisadora de astronomia, com 28 anos. Ela é alta e magra, com cabelos castanhos e olhos verdes. Ela é muito curiosa e está sempre explorando os mistérios do universo. E Helen é uma pesquisadora de biotecnologia, com 29 anos. Ela é alta e magra, com cabelos loiros e olhos azuis. Ela é muito habilidosa em sua pesquisa e tem uma mente científica aguçada.

— Bem vindos — exclamou Eric, segurando um recipiente de vidro contendo um líquido verde dentro. — Vamos ao trabalho.

— Vocês se atrasaram, aconteceu algo? — perguntou Fernanda.

Dora explicou tudo o que aconteceu, com eles sendo parados e ameaçados por bandidos.

— Ainda bem que você estava com o David, Dora — disse Helen, com olhar de preocupação.

— Sim, afinal ele é campeão de esgrima de Solaria — respondeu Eric.

— Chega de conversa pessoal, vamos ao trabalho — declarou David.

David sorriu, mas logo ficou sério novamente.

— Não podemos nos distrair, temos muito trabalho pela frente — disse ele, olhando para a grande pilha de livros e papéis sobre a mesa de pesquisa.

A biblioteca de Solaria era um lugar mágico, com prateleiras e prateleiras de livros antigos e novos. As paredes eram cobertas por mapas e ilustrações de todos os tipos, mostrando as ilhas flutuantes e os mistérios da Névoa Eterna. No centro da sala havia uma mesa de pesquisa, onde David e sua equipe passavam horas estudando e analisando os dados que haviam coletado. Eles trabalharam juntos por horas, anotando tudo o que descobriram e discutindo teorias e possíveis explicações.

David e sua equipe eram muito dedicados a sua pesquisa e estavam sempre buscando novas maneiras de entender o mundo de Névoa Eterna. Eles estudavam tudo, desde as leis da física até as lendas antigas e os mistérios sobrenaturais. Eles estavam determinados a descobrir a verdade sobre o Final do Mundo e a Névoa Eterna, e não parariam até chegar lá.

***

No final da tarde, eles decidiram fazer uma pausa para descansar um pouco. David se esticou na cadeira e suspirou, olhando para o teto alto da biblioteca.

— Eu ainda não entendo por que a Névoa Eterna apareceu em nosso mundo há tanto tempo e ninguém sabe explicar — disse ele, franzindo a testa.

— Talvez a resposta esteja no Final do Mundo — sugeriu Dora, olhando para os mapas que cobriam as paredes. — Talvez essa seja a razão pela qual você está tão determinado a encontrar esse lugar.

— Tenho certeza que está — respondeu David, olhando para ela com um brilho nos olhos. — Mas, independentemente da razão, eu sei que encontraremos a verdade. Somos a equipe certa para isso.

— Por essa razão chegarei ao final do mundo e irei enfim descobrir a origem da Névoa eterna e descobrirei como acabar com ela.

— Você ainda sonha com isso? — respondeu Eric, com olhar de frustração no rosto. — Muitos chegaram perto do final, mas sempre desapareceram após isso.

— Ele está certo David, isso é um sonho infantil ou um suicídio, e você sabe disso — comentou Fernanda, olhando para David.

— Eu não ligo, todos sabem que a única maneira de acabar com a névoa eterna é chegando ao final do mundo, na última ilha — explicou David. —  Serei o primeiro a chegar lá, não importa o que aconteça.

O clima na biblioteca se tornou tenso por algum tempo, até que Dora resolveu intervir.

— Pessoal — disse Dora, olhando para eles. — Vamos deixar o David seguir seu próprio caminho.

— Obrigado pelo apoio Dora — respondeu David.

— Já que estamos no final da tarde, que tal concluirmos nosso expediente de hoje e irmos a um novo restaurante que abriu no centro da cidade? — argumentou Eric, tirando seu jaleco branco e colocando em cima da mesa.

— Concordo com a ideia — respondeu Helen, também tirando seu jaleco.

Todos aceitaram a ideia, então tiraram seus jalecos de estudos, fecharam seus livros e saíram da biblioteca indo até um novo restaurante que havia inaugurado.

Chegando ao restaurante eles notaram sua fachada muito brilhante, toda iluminada com luzes amarelas e vermelhas, era um restaurante de carnes, que adotava um estilo rústico, com mesas de madeira, chapéus de vaqueiros pendurados nas paredes e cartazes mostrando de cada parte vinha a carne no animal.

Eles se sentaram e um atendente vestido com roupas típicas e uma caderneta nas mãos veio atender eles.

Boa noite, senhores, o que desejam hoje? — perguntou ele, sorrindo.

Todos pediram o mesmo prato, uma carne de gado cozida em ervas com batatas acompanhada de vinhos finos.

Assim que o prato chegou, ele estava em uma grande bandeja, que foi colocada no centro da mesa, todos eles começaram a se servir e conversar.

— Amanhã começarei a arrumar minha expedição rumo ao fim do mundo — falou David, com um olhar de felicidade. — Após muito tempo estou pronto para ir.

— Você irá partir logo tão cedo? — perguntou Dora.

— Sim, estou me planejando desde os 12 anos quando li sobre no livro“ as crônicas da Névoa eterna”

— Alguém tão racional sendo levado a acreditar em algo por conta de um livro de fantasia escrito a uns 500 anos — respondeu Eric, já embriagado com um leve sorriso de deboche no rosto.

— Não é uma fantasia — declarou Fernanda, com olhar sério.

— Ele foi escrito por um renomado alquimista da era do ferro — garantiu Helen.

Eric levantou da mesa cambaleando.

— Não sejam idiotas, é um mito, assim como os deuses, cadê o pensamento crítico de vocês?

Logo após falar isso ele cai no chão bêbado e desmaia.

— Talvez seja um mito… mas irei com David — afirmou Dora, olhando para David

— Somos uma equipe, não é mesmo, eu também irei — respondeu Helen.

— Eu também vou — disse Fernanda.

Eric se levanta do chão e cai em cima de David falando.

— Nem sonhem em me deixar fora dessa aventura, mesmo que seja loucura.

Todos começam a rir da cena e se sentem felizes por sempre estarem juntos.

— Conto com todos vocês nesta aventura, vamos descobrir o mistério por trás da névoa eterna — falou David, sorrindo de felicidade.

Após terminar de comer e beber eles se levantam, pagam a conta e seguem até suas casas, as ruas estavam bem iluminadas com postes em formato de triângulos com uma pequena luz mágica dentro, movida a pó de um mineral muito comum nesse mundo.

No caminho, Fernanda e Helen seguram Eric, que estava totalmente embriagado. Em uma encruzilhada os cinco se despedem e se dividem, Fernanda e Helen segurando Eric continuam indo retos na rua, David e Dora viram à direita indo rumo ao final da cidade.

David e Dora agora estavam sozinhos indo para suas casas que ficavam na mesma direção. Eles chegam a porta da casa de Dora que era uma gigantesca mansão, lá eles se despedem.

— Até amanhã, Dora, muito obrigado por seu apoio àquela hora — disse David, com timidez no rosto.

— É o mínimo que posso fazer pela pessoa que gosto — responde Dora, dando um beijo no rosto de David e correndo para dentro de casa enquanto acena para ele.

David fica ali parado tentando entender o que aconteceu, e começa a se indagar “espere, será que a Dora gosta de mim como amor?” ele fica alguns minutos ali em pé pensando sobre, mas chega a conclusão que é melhor ir logo para a casa e pensar melhor sobre depois.

Chegando em sua casa, David abre a porta e pronúncia.

— Estou em casa.

Sabendo que ninguém iria responder de volta, ele entra em sua pequena casa, uma casa simples, feita de madeira, sem quintal ou varanda, mesmo sendo um filho de aristocrata, ele perdeu todos os seus direitos políticos quando seus pais morreram, e agora vive estudando nos dias da semana e finais de semana ele trabalha em uma mineradora para se sustentar, porém, ninguém conhece sua atual situação.

Mas ele se sente feliz nessa vida, principalmente agora que ele conseguirá partir em breve rumo ao seu sonho de conhecer o mundo e chegar ao final dele. Mal ele sabe que tudo o que conhece em breve acabará.

***

Na manhã seguinte, um sábado, David acorda com o sol batendo em seu rosto através de uma abertura na madeira da parede, ele senta em sua cama e começa a vestir sua roupa de mineração, coloca um capacete amarelo, pega uma picareta e sai de sua casa.

Ele caminha até o porto da cidade, onde iria pegar um navio que iria levar até a ilha de mineração, o navio era grande e todo de madeira, com hélices atrás e em cima um balão de gás que o fazia flutuar.

David entra no navio junto a outros trabalhadores e segue até a ilha de mineração que ficava a alguns minutos de Solaria.

No caminho ele conversa com outros trabalhadores que relatam algo inusitado para ele.

— David, você sendo da aristocracia, ficou sabendo sobre o pacto que o governador de Solaria está fazendo com o reino de Elliniká? — perguntou um trabalhador, sentado ao lado de David.

— Não fiquei, me conte sobre — respondeu ele, perplexo.

— Segundo os boatos, o governador de Solaria planeja abandonar o império central de Romaíoi e entrar em  Elliniká — explicou o homem.

— O governador ficou louco? — declarou David, colocando sua mão direita sobre o ombro do homem.

— A última ilha que tentou realizar isso foi destruída pelo império há 200 anos.

— O governador acredita que isso pode dar certo por estarmos bem na  fronteira com Elliniká — disse o homem.

— Mesmo assim, é loucura… — falou David, confuso.

Antes que eles pudessem continuar a conversa, o navio chegou à ilha mineradora, e todos se levantaram e começaram a sair. A ilha era gigante, mas muito destruída, toda cheia de buracos no chão de onde vinham os mineiros raros e comuns, muito utilizados em Solaria, não havia nenhuma árvore ou outra forma de vida, apenas pedras e minérios.

David desembarcou do navio pegando sua picareta e uma garrafa de água, ele caminha até a zona sul da ilha, onde se encontrava o mineral de chrysos, muito utilizado na fabricação de peças para iluminação e motores dos navios, elas eram difíceis de serem retiradas, por isso David era o único capaz de fazer isso manualmente, o serviço era árduo embaixo de um sol muito quente.

David começou a minerar, os outros trabalhadores sempre se impressionaram com a cena, como era possível retirar esse mineral apenas com a força das mãos, nenhum deles conseguia, mesmo com anos de experiência.

A localidade estava toda cheia de máquinas a madeira e metal que auxiliavam os trabalhadores a retirar os metais mais duros, garras de metal seguradas por plataformas de madeira auxiliavam a retirada do chrysos.

O chefe da obra, chamado Frederic, chegou onde David estava para conversar.

— Como sempre se esforçando mais que os outros, David — exclamou o homem de cabelo curto e loiro, sorrindo para David.

— Sim, Frederic, sendo o único capaz de retirar chrysos manualmente, é minha responsabilidade me esforçar — confirma ele.

— Ótimo, mas David, tenho uma pequena missão para você.

— Qual seria essa missão?

— Você sendo nosso único ex aventureiro. Uma nova caverna foi encontrada na ilha, gostaria que você verificasse se ela é segura para explorarmos.

— Mas eu não trouxe nenhuma arma aqui comigo, senhor — respondeu David.

— Tudo bem, eu tenho uma aqui que você pode gostar — declarou Frederic, jogando uma espada para David. — O que acha dessa?

Davi segurou a espada vendo ser de ótima qualidade e fez algumas poses de combate para testá-la.

— Aceito sua missão, irei agora mesmo — respondeu David, colocando a espada na cintura e largando sua picareta.

— Perfeito, sabia que podia contar com você — diz Frederic, sorrindo para David. — A caverna fica ao leste, embaixo da antiga cachoeira, chegando lá, terá uma guia para acompanhá-lo.

Davi segue rumo a esse local, esperando encontrar uma possível nova veia de minérios.

“Não acredito nesse cara, toda vez ele me manda realizar essas explorações e sozinho ainda. Se tiver um monstro que saiba usar magia eu não vou conseguir derrotá-lo”, pensou David enquanto caminhava, o caminho era horrível, estava todo cheio de lama e restos da mineração, as botas de David afundava toda vez na lama, ele teve que tirar suas botas para seguir adiante.

Chegando perto da cachoeira, ele avistou uma jovem de cabelos claros, e olhos verdes, era uma elfa parada na entrada de da caverna. David se aproximou dela a cumprimentando.

— Olá, acredito que você será minha guia nessa exploração, correto? — perguntou, acenando com a mão.

— Correto, David, meu nome é Ana, sou uma maga da luz — respondeu ela, estendo sua mão.

— Como você sabe meu nome? — contestou David, enquanto também estendia sua mão para cumprimentar Ana.

— Seu chefe me disse muitas coisas sobre você.

— Hum! Me diga algumas delas.

— David, um aristocrata pobre, mestre em artes marciais em esgrima, mas incapaz de usar magia, que quando vê um monstro de mana sai correndo — provocou Ana, enquanto dava uma risada irônica.

— Aquele maldito…

— Mas ele também disse coisas boas, seu valor moral e intelectual inquestionáveis, que visam resolver os mistérios da névoa eterna.

David olhou para Ana e logo percebeu uma coisa.

— Eu não tinha certeza sobre, mas é fato, todos os elfos são uma raça de pequeninos — afirmou David, rindo com deboche.

— De fato, somos pequenos, mas conseguimos usar magia, já você, não — respondeu ela.

Ambos se olharam com um pouco de raiva, mas sabiam que iriam precisar um do outro para entrar na caverna.

— Acredito que começamos errado — falou Ana. — Meu nome é Ana Daskalakis, é um prazer em te conhecer David Arcádia.

— Digo o mesmo, Ana, conto com você, afinal como você sabe não posso usar magia.

— Então vamos lá — sugeriu Ana, apontando sua varinha para a caverna.

A caverna é escura e úmida, iluminada apenas pela magia de luz de Ana. O chão é coberto de pedras soltas e rochas, e o teto é alto e irregular, com estalactites penduradas de cima. O ar é denso e pesado devido à umidade e o cheiro de morte.

Eles andaram alguns metros sem encontrar nada, mas logo acharam um cadáver de lobo sangrento morto. Os lobos sangrentos são lobos que possuem veneno em seus dentes, que ao morder a pessoa, fazem com que ela comece a escorrer sangue por todos os seus orifícios até a morte.

— Será que está aqui há muito tempo? — perguntou Ana, preocupada.

— Não, Acredito que logo à frente possam existir mais alguns deles, se dermos o azar, talvez até uma matilha com 40 deles. — respondeu David olhando para Ana.

— Eles são muito inteligentes e podem criar armadilhas, por tanto tome cuidado, Ana.

— Farei isso.

— Estou escutando passos vindo em nossa direção — falou ele.

— Vamos fugir então — respondeu ela, tentando correr de volta para a entrada.

David a segura pelo braço.

— É tarde demais, os passos vêm da entrada, aproximadamente dez deles — diz ele, puxando Ana para trás.

Poucos segundos depois, dez lobos sangrentos aparecem por trás deles, dez indivíduos grandes com presas afiadas, eles cercam David e Ana usando uma estratégia chamada “Cerco da morte” muito utilizada por eles, onde cercam os inimigos por todos os lados, impossibilitando sua fuga.

— Vamos morrer — declara Ana, caindo no chão chorando em desespero.

— Sim, nós vamos — respondeu ele, segurando a espada na cintura.

O ar do ambiente se torna tenso, os gritos de Ana começam a ecoar pela caverna enquanto os lobos os cercam prontos para os atacar.

— Mas não hoje Ana — garante David, apontando sua espada para os lobos. — Se levante e me dê suporte mágico para sairmos vivos.

Ana se levanta e se prepara para o combate, ela conjura uma magia de luz ainda mais forte deixando todo o local iluminado. Um dos lobos ataca David começando sua batalha pela sobrevivência.

David segura sua espada com firmeza apontando para a direção que o lobo os atacou, o lobo cai de barriga na espada de David tentando o morder enquanto grita de dor.

David puxa sua espada no mesmo instante e a enfia na parte de cima da cabeça do lobo, o matando perfurado.

Os outros lobos também atacam todos simultaneamente, David vendo a situação finca sua espada no chão e pega Ana com seus dois braços a jogando por cima dos lobos, com ela caindo para o outro lado rumo a direção da entrada da caverna.

Ana mal conseguia raciocinar tudo o que aconteceu por conta da velocidade, David grita com Ana nesse instante.

— Corra — gritou ele, pegando sua espada novamente.

Ana nem mesmo pensou e saiu correndo para fora da caverna.

Chegando lá fora ela caiu após perder as forças nas pernas por conta do medo e desespero.

Ela sabia que havia sido covarde abandonado David sozinho no escuro na caverna, mas não tinha coragem de retornar. Alguns segundos depois, um grupo de mineradores mais Frederic chegou até onde Ana estava e começou a questioná-la sobre tudo.

— Onde está o David? — perguntou um dos mineradores.

— Fomos emboscados por um grupo de lobos sangrentos. O David me salvou me jogando para conseguir fugir — respondeu Ana, colocando as mãos no rosto e chorando.

— Faz quanto tempo que você saiu da caverna? — perguntou Frederic, preocupado.

— Alguns minutos apenas, eram 10 lobos sangrentos.

— Mesmo sendo monstros de classe baixa, o David não deve conseguir lutar, ele já deve estar morto — anunciou Frederic.

Todos ficarem em silêncio imersos em pensamentos sobre o que deveriam fazer, nenhum deles ali sabia lutar, se entrassem seriam apenas mais comida para os lobos.

Eles esperaram alguns minutos e decidiram ir embora chamar uma patrulha de resgate para talvez pegar os restos do corpo de David.

Assim que estavam se virando para partir, eles escutam sons vindo de dentro da caverna, eram pegadas altas e poderosas, como se algo estivesse sendo arrastado, todos logo pensaram que os lobos estavam saindo da caverna para os atacar.

Os mineradores empunharam suas picaretas olhando para a porta, Frederic pegou um pequeno punhal que carregava e Ana se colocou atrás de todos eles.

— Já estão anunciando minha morte assim tão facilmente? — Ecoou uma voz de dentro da caverna.

Todos ficaram espantados e animados.

Então David apareceu saindo da caverna, todo sujo de sangue, suas roupas estavam rasgadas e sua perna direita ferida brutalmente, ele vinha se apoiando na espada com a cabeça do líder dos lobos em sua mão esquerda.

Ele joga a cabeça do lobo nos pés do grupo.

— Para o azar de vocês, eu não vou morrer tão cedo assim — disse ele, sorrindo.

Todos correram na direção dele. David caiu no chão extremamente cansado, mas consciente, ele explica que um dos lobos conseguiu morder sua perna, mas ele a cortou para liberar o veneno antes que ele se espalhasse para seu corpo. Ana se aproxima dele e o abraça forte.

— Seu idiota, por que você fez isso? — perguntou ela, chorando e abraçando David.

— Sendo sincero, não faço ideia, talvez porque não quero ver mais ninguém morrer perto de mim.

David desmaia logo após dizer essa frase, todos eles pegam David e correm para um centro médico que fica na ilha. Ana vai com eles acompanhando David, antes ela achava que ele era apenas um minerador meio idiota, mas agora ela o admira profundamente, ele arriscou sua vida para salva-lá.

Chegando ao centro médico, os mineradores explicam a situação para os médicos que rapidamente chegam com uma maca e levam David para dentro da sala de cirurgia, Ana tenta os acompanhar, mas os médicos a impedem.

Todos se sentam na sala de espera, o hospital era pequeno com apenas alguns quartos de emergência para casos de acidentes nas minas.

Depois de 20 minutos, um médico sozinho vem à sala de espera falar com todos que ali estavam.

— Graças a velocidade vocês, ele está salvo — exclama o médico.

— Como ele está agora? — pergunta Ana, ansiosa.

— Ele está bem, por sorte ele cortou sua perna antes que o veneno entrasse em seu corpo, mas por conta disso ele perdeu muito sangue, mas está bem, até acordou, e em breve já vai poder andar, rapaz bem forte esse —  responde o médico.

Alguns minutos se passam novamente e logo eles avistam David vindo no corredor, agora totalmente bem, e recuperado.

David chega até eles e os conta tudo o que aconteceu na Caverna, após jogar Ana para fora da batalha todos os lobos avançaram sobre ele, David diz que atacou logo o líder deles, assim os outros se dispersariam, porém, antes de conseguir o líder mordeu sua perna o que o possibilitou o matar por estar próximo.

David diz que já teve muitas aventuras naquele dia e que estava indo embora, ele se despede de Frederic e seus companheiros de trabalho e chama Ana para fora do hospital, para conversar em particular.

Do lado de fora do Hospital, Ana o questiona sobre o que ele queria falar.

— Ana, eu não sei se você é aventureira ou não, mas se for, saia desse trabalho, situações como hoje acontecem sempre, e na próxima posso não estar lá — responde David, com um tom de voz sério.

— Para sua sorte eu não sou, sou filha do Frederic e moro nessa ilha com ele, por isso ele me pediu para guiá-lo.

— Como é possível? Você é uma elfa e ele não.

— Minha mãe era uma elfa, uma sacerdotisa da luz, que abandonou a igreja por meu pai.

— Então os boatos são reais, Frederic é mesmo um pecador.

Ambos começaram a rir da situação e, ao mesmo tempo, de alívio por estarem vivos. David se despede de Ana falando que a voltaria para ver novamente, ele se vira e parte rumo ao porto da ilha, já escurecendo.

— Um belo rapaz não é filha? — perguntou Frederic se aproximando de Ana enquanto ela olha David indo embora.

Ana fica com a cara vermelha de vergonha, mas responde que sim, ambos ficam ali vendo o pôr do sol enquanto David embarcava para voltar a Solaria.

Davi embarca novamente no mesmo navio que o trouxe, no caminho todos começam a sentir um cheiro de fumaça muito forte. O navio é verificado, mas o cheiro não vem dele, está no ar.

Em breve eles conseguem enxergar Solaria, mas um brilho muito forte é visto de lá, todos ficam espantados, mas quando se aproximam percebem, é fogo. Solaria estava em chamas, mas não apenas isso, tropas do império estavam na ilha, milhares de embarcações em solo e no ar, as tropas do ar atirando com seus canhões e as tropas em terra matando as pessoas.

A embarcação chega rapidamente a Solaria, David pula do barco e corre em direção a sua casa pegar sua espada, todo o ar de tranquilidade de Solaria se tornou desespero e sangue.

A casa de David estava em chamas, mas ele consegue entrar e resgatar sua espada dada a ele por ser falecido pai, David abandona sua casa e corre em direção a biblioteca onde seus amigos estariam naquele dia, nas ruas o cheiro de sangue era muito forte, todos os que um dia eram moradores estavam mortos por tiros ou cortes, era uma visão do inferno.

No caminho, David foi parado por guardas do império que o atacaram, mas ele conseguiu correr e escapar deles, David ainda estava um pouco fraco e não conseguia lutar com tantos soldados.

“ Que droga, o que está acontecendo aqui, o que esses malditos estão fazendo. Dora, Fernanda, Eric, e Helen, estejam bem, eu vou resgatá-los”, pensou David enquanto corria, no centro da cidade, milhares de corpos estavam sendo empilhados e queimados pelos soldados do império.

Davi chega à biblioteca e abre as portas, mas assim que olha tudo o que aconteceu, ele cai em desespero.

— Não — Gritou ele, fazendo o som ecoar por toda a biblioteca.

Fernanda, Helen e Eric estavam caídos mortos no chão perfurados por lanças e Dora estava no canto da parede sentada com o rosto sujo de sangue e uma espada estava em sua barriga, mas ela estava respirando. Mas seus olhos haviam sido furados.

— David é você? — perguntou ela, tossindo sangue.

Davi vai até onde ela está e se ajoelha pegando ela nos braços.

— Sim, sou eu, o que está acontecendo, Dora?

— O império que nos destruir, o governador de Solaria nos traiu, eu não tenho muito tempo.

Dora começa a se tornar fria e Davi sente isso.

— David, fuja daqui, perto da minha casa, tem um pequeno navio escondido, use ele para fugir, eles estão te procurando, filho do antigo imperador, Arcádia.

— Vou te levar Dora, você vai ficar bem — disse David entrando em desespero.

— Irei partir em breve David, mas antes, me conceda apenas um único pedido.

— Me peça qualquer coisa, eu farei por você.

— Me dê um beijo, morrer sendo beijada pela pessoa que amo pode ser um final bom.

David fica surpreso com as palavras dela, mas não perde tempo, ele se aproxima e a beija, sentindo o gosto doce dos lábios dela pela primeira e última vez.

Dora para o beijo por um segundo para dizer suas últimas frases.

— David, não busque vingança, não quero que você faça isso, apenas sobreviva e chegue ao final do mundo, por todos nós, leve nosso sonho adiante.

Dora volta a beijar David, mas logo David percebe que a mão de Dora que estava em seu rosto cai e junto dela a vida de Dora se vai.

Dora morre nos braços dele, mas David sabe que ela sempre estará presente, no seu coração e em sua memória.

David pega o corpo de Dora e de seus amigos e coloca todos em suas costas, e corre com eles, mesmo com grande dificuldade ele seguiu até o navio perto da casa de Dora, lá ele coloca os corpos deles no navio e sai de Solaria.

Ele para o navio em cima do grande oceano eterno, esse era o espaço entre as ilhas, um vazio que ninguém jamais ousou descer, de lá ele efetua uma última oração e joga seus amigos para a eternidade.

A vida de David havia acabado, ele se tornou um procurado do império, e o último aristocrata de Solaria vivo. David senta no assento do pequeno navio de madeira, de onde vê uma fotografia em cima do monitor de velocidade, era uma fotografia dele e de Dora ainda pequenos em um parque de diversões.

Ele segue até a ilha de Exóryxi, o único lugar no mundo onde ele tem pessoas confiáveis, ele pega a fotografia e coloca no bolso de dentro de sua camisa para sempre se lembrar de quem ele é.

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