...*** Nadine narrando ***...
Nadine Ezra
Grego Milano
A mulher me analisou dos pés a cabeça. – Está ótima. Pode usar um pouco de maquiagem se quiser, mas nada exagerado, é claro.
– Oh, eu não uso.
– Ótimo. É melhor assim, vai por mim. Algumas pessoas não sabem dosar.
Sorrio. – Imagino!
– Bom, me acompanhe! Caminho atrás dela enquanto abre e fecha algumas portas. – Você deve limpar alguns banheiros ao longo do dia. Não se preocupe, não será a única a fazer todo o serviço. Há mais duas como você, esta bem? Sei que o serviço é pesado, mas você logo se acostumará.
– Eu não tenho medo de trabalhar, posso dar conta disso.
– Ótimo.
Passamos por uma sala grande da qual ela sequer fala a respeito.
– E quanto a esse lugar? Olho para a porta fechada. Por algum motivo, senti que havia algo ali.
– Bom, o que você tem que saber é que não deve entrar nessa sala. Nunca! Em hipótese alguma a limpe, a menos que seja o seu trabalho fazer. Você entendeu?
– Sim, eu entendi.
– Então é isso. Bom, eu vou deixar você começar. Esse aqui é o deposito onde estão as coisas que deve usar na limpeza.
– Por onde eu começo?
– Comece limpando os banheiros, por favor.
E assim eu fiz. Limpei cada pedacinho daquele lugar, dos infinitos banheiros que haviam naquela empresa. Já era tarde quando finalmente acabei o meu serviço. Deveria receber por semana. Troquei de roupa e voltei para casa. Eu mal pude ver televisão, ou ler. Estava cansada demais para qualquer coisa.
Quando acordei pela manhã o sol queimava a minha pele. Não haviam cortinas, por isso, esse tipo de coisas sempre aconteciam. Também costumava chover dentro do meu quarto. Mas eu não podia reclamar. Ao menos havia um teto sob minha cabeça. Não era mais como antes, quando ainda estava na rua, e aqueles homens tentavam abusar de mim enquanto dormia. Mas eu resisti. Eu sou uma guerreira, como minha mãe costumava dizer antes de falecer.
Quando voltei para o meu trabalho na empresa, me troquei e rapidamente comecei a limpar o chão. Estava ajoelhada em um corredor, em frente a aquele escritório. Era cedo, e eu acreditei mesmo que não havia ninguém ali, mas a porta se abriu. Olhei para cima e o vi pela primeira vez. Ele já possuía aquele olhar gélido e postura impecável de homem intocável e impenetrável que tem agora.
– Eu gosto de mulheres aos meus pés, mas não esperava que fosse no sentido literal.
Sorrio sem graça, mas ele ainda permanece sério. – Me desculpe, eu vou me retirar.
– Não quer entrar?
– Não senhor. – Eu sabia bem o que aquilo significava. Porque um homem com quase trinta anos me convidaria para entrar em sua sala se não quisesse algo comigo?
– Interessante!
– O que? – Sorrio, enquanto volto a esfregar o chão.
– Você é a primeira que recusa.
Perco o meu sorriso no mesmo instante. Ele sempre se achava daquela maneira? – Desculpe.
– Não precisa pedir desculpas toda hora. – Apenas faça o seu trabalho.
– Se permite que eu pergunte, qual o seu nome?
– Porque quer saber?
Sorrio sem jeito. – E você esta sempre por aqui? Trabalha aqui?
– Digamos que eu ajude o dono.
– Algum conselho sobre ele?
– Se mantenha longe. Ele não costuma ser muito paciente.
– Legal. Meu nome é...
– Eu não perguntei.
Aquele homem arrogante caminhou por onde eu havia acabado de limpar. Deixou marcas do seu sapato italiano caro em todo o chão molhado. Praguejei. Mas ele era provavelmente um dos meus chefes, então o que eu poderia fazer? Apenas voltei e limpei tudo. Sempre gostei de cantar enquanto fazia o meu serviço, e por isso chegava mais cedo. Eu não pretendia atrapalhar ninguém com a minha voz feia. Não sou perfeita, não tenho sei cantar, mas isso não me impede de extravasar dessa maneira. É a melhor forma para me distrair do trabalho pesado.
Segurando o esfregão, voltei a passar pano por todo o corredor. E em uma simulação, me envolvi em uma linda valsa segurando o cabo daquele instrumento de limpeza. Estava de olhos fechados, mas pude me sentir observada. Eu os abri. Aquele homem estava ali, parado, com seus braços cruzados e o olhar que não saberia decifrar. Me julgava? Estava me odiando? Eu sequer conseguia saber se ele pretendia me demitir depois daquilo. Mas ele não disse uma única palavra quando eu parei de dançar. Ele voltou a entrar em sua sala, onde se trancou.
– Nossa, que vergonha. Por que eu sempre faço esse tipo de coisa? – Conversei comigo mesma como sempre fazia. Eu estou sozinha a tempo de mais para não ser ao menos um pouquinho maluquinha.
Voltei a limpar aquele corredor mais uma vez. Droga de sapato masculino que sempre sujava tudo. Porque ele tinha que trabalhar tão cedo quanto eu?
Depois de finalmente terminar. Fui em direção a outros locais onde deveria limpar. Era tão cansativo. Toda hora eu deveria voltar e refazer algo que alguém havia sujado.
Quando finalmente pude descansar. Lembrei-me de que em dois meses deveria voltar para o meu inferno pessoal. Eu sinto falta daquilo hoje em dia. Ao menos eu conhecia o que eu deveria lidar todos os dias. Não era um mistério para mim. Não havia nada de complexo em ir para a escola e ser atormentada todos os dias. Os meninos que se aproximavam porque sabiam que não havia família para que orientar. Eles sempre achavam que eu seria fácil. Ou aquelas garotas esnobes que jamais seriam minhas amigas. Ninguém seria. Em uma escola como aquela, onde eu era bolsista, haviam pessoas realmente milionárias, esnobes. Tudo em mim era motivo para piadas. Minhas roupas, meu cabelo, o corte dele, o porque de eu sempre estar com os mesmos pares de sapatos... Mas ora essa, eu não sou uma centopeia, posso viver com dois pares de sapatos e estarei muito satisfeita se nenhum deles me deixar na mão no meio do corredor do colégio ou durante a aula de educação física. Oh, eu era realmente muito boa naquilo, exceto quando perdia o jogo por ter o sapato descolado. Eu fui odiada por aquilo.
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Atualizado até capítulo 94
Comments
Cirene Bandeira
que homem lindo misericórdia 🫣🫣🫣🫣🫣🫣🫣🫣🫣🫣
2024-02-21
1
Alba Farias
ele e lindo
2023-11-23
1
Tereza Machado
Que dó sem amparo e ser humilhado por esses ridículos.
2023-11-20
2