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Melissa Alpes Narrando

Faz algumas horas que estou organizando a cozinha enquanto

ele continua sentado fumando um cigarro atrás do outro, até parece uma chaminé

ambulante.

— Você poderia fumar lá fora? — falo tossindo. — Quando você

abrir o restaurante, o cheiro vai estar nele todo e não é crítica, apenas uma

verdade.

— Você vai ser contratada para limpar a louça.

— Quero saber quanto vou ganhar para limpar tudo isso — falo

olhando para ele e apontando para a tal cozinha.

— O suficiente para se manter em Paris — ele fala.

— Preciso de um lugar para ficar, você sabe onde posso

encontrar?

— Não — ele fala rápido. — Espera! — ele levanta se

aproximando — Isso precisa ser limpo de novo.

— Mais limpo que isso é impossível!

— Limpe novamente — ele joga a panela de volta na pia e sai

andando.

Estou vendo que irei odiá-lo com todas as minhas forças, que

homem arrogante e ignorante! Eu pego a panela e vejo que não havia nada sujo,

seco ela e coloco novamente no lugar. Depois de algumas horas vejo que tinha

gente chegando pela porta da frente e as conversas rolavam no salão.

— Meu Deus, o que aconteceu com essa cozinha? — uma garota

ruiva pergunta entrando no ambiente. — Você é a funcionária nova que o

Sebastian contratou? — ela pergunta — Meu nome é Suzana.

— Oi, Melissa — sorrio apertando sua mão que estava estendida.

— Seja bem-vinda! Você fez mágica nesse lugar — ela diz,

olhando para o cômodo sorrindo.

— Realmente esse lugar estava horrível, não consigo

acreditar que alguém cozinha dessa forma.

— Ele deixa esse lugar assim todas as noites, ele não é nada

organizado. Só trabalha aqui porque a irmã dele é a dona, se não… — ela diz

sorrindo. — Você é nova em Paris?

— Cheguei hoje.

— Hoje?

— Sim.

— Meu Deus! E como chegou aqui?

— Uma amiga me indicou o restaurante e aí encontrei o senhor

simpático, ele me deu o emprego depois de muita insistência

— Não de bola para ele, está sempre de mal com a vida, não

tem nada a ver com você.

— Você sabe de algum lugar barato que eu possa ficar? Estou

com medo de cair a noite e não ter onde dormir.

— Conheço uma pensão, vou ligar para lá ver se tem quarto

vago e aí depois do expediente eu te levo — ela fala sorrindo.

— Obrigada — sorrio e continuo o meu trabalho.

Logo começa uma correria no salão e Sebastian volta com a

roupa limpa e um avental limpo, uma touca na cabeça e começa organizar as suas

coisas. Os alimentos que ele ia usar e começo a perceber o que Suzana disse,

ele não era nada organizado. Ele vai fazendo os pratos conforme os pedidos vão

chegando, vou organizando e limpando tudo. Assim era difícil acompanhar ele,

Sebastian faz tudo muito rápido e liberava os pratos.

— Me passa o tempero — ele pede enquanto mexe algo na

panela.

— Esse?

— Sim.

— Aqui — entregando para ele e deixo cair na sua roupa — Me

perdoe — ele me encara com um olhar reprovador.

— Naquele armário tem mais, busque — eu me viro para ir até

o armário e pegar mais temperos e ele fala — Cuidado para não derrubar, não

desperdiçamos comida aqui.

Deu vontade de responder que não desperdiça comida, mas

deixa tudo uma porquice. Coloco o tempero novamente no pote e entrego para ele

com todo cuidado, sem deixar derrubar nada. Nos falamos pouco durante o

expediente, era uma hora da manhã e eu estava muito cansada, estava a tarde

toda e a noite toda na cozinha, sem comer nada, sem ir ao banheiro, sem beber água

e muito menos sentar. Estou terminando de limpar a louça da noite quando os

outros funcionários se aproxima de Sebastian.

— Valeu, que comida gostosa — vejo João, o primo de Suzana,

falando.

— Uma delícia — Suzana fala e fico em silêncio lavando a louça.

— Melissa — Sebastian me chama e eu o encaro — Pare um pouco

e venha comer algo.

— Venha Melissa — Suzana me chama batendo no estofado da

cadeira ao seu lado.

Eu seco as minhas mãos e me sento na mesa com eles, começo a

comer o prato que Sebastian tinha me entregue, eu estava morrendo de fome.

— Eu consegui um quarto para você na pensão, eu te levo até

lá — Suzana diz e sorrio.

— Obrigada.

Sebastian sai, eu o procuro, mas não encontro. Precisava

saber se eu poderia voltar amanhã e sobre o meu pagamento de hoje, eu tinha

pouco dinheiro. Mas não o encontro, encontro apenas um lugar com muito cigarros

no chão, fumando dessa forma ele morreria em pouco tempo. Suzana me leva até a

pensão, Samuel e Catarina que eram os donos me mostram o quarto que eu ficaria.

Era um lugar pequeno, com uma cama, uma cômoda, uma mesinha e uma banheira no

canto do quarto, uma porta com um vaso pequeno. A vista era bonita e se via a

torre de longe, o prédio era bem antigo, mas a cama era confortável.

 CAPÍTULO 3Melissa Alpes Narrando

Acordo de manhã cedo e tomo um banho relaxante, lavo a roupa

que usei ontem e coloco para secar na janela que estava pegando um pouco de

sol. Olho a hora e já era meio-dia, então resolvo ir atrás de algo para comer,

achar um mercado ou algo do tipo e depois iria para bistrô, ele não disse nada

que eu não poderia voltar até lá, então acredito que é para continuar. Compro

uns pães e uns queijos, me sento na frente da torre para comer, eu ainda não

sei o que realmente eu iria fazer aqui em Paris. De ontem para hoje fiquei tão

cansada e feliz por conseguir o emprego que eu ainda estou anestesiada com toda

a situação, eu tentava não parar a minha mente para não surtar.

Fiquei um ano numa clínica sendo tratada como uma doente,

sem notícias da minha amiga e escutando o tempo todo que eu era culpada por ela

tentar se matar. Eu jamais pedi para que ela se matasse, eu jamais pedi nada

desse tipo e jamais queria que isso acontecesse! Joana era minha melhor amiga,

eu apenas queria o seu bem. Volto para a pensão e começo a mexer na minha

mochila, eu trouxe a caixinha que ela me deu junto comigo na mochila, eu a

pego, abrindo-a, vendo a nossa foto e uns cacos de vidro dentro. Suspiro e

fecho a caixinha, guardando na cômoda deixando algumas lagrimas caírem.

Eu me arrumo com a minha roupa que ainda está meio úmida,

mas já dava para usar e vou em direção ao bistrô. Entro pela porta de trás

encontrando Sebastian bebendo e fumando no lado de fora, ele está sentado

paralisado olhando para o nada, eu me pergunto se era apenas isso que ele sabia

da vida dele?

— Boa tarde — falo e ele me encara.

— O que faz aqui?

— Achei que como você não me disse nada, eu poderia voltar

para trabalhar hoje, mas se você não gostou do meu trabalho, eu só preciso

receber o meu dia de ontem.

— Ainda é cedo, o expediente começa em algumas horas — ele

fala tomando a sua bebida.

— Achei que deveria chegar no mesmo horário de ontem.

— A cozinha está limpa hoje — ele resmunga.

— Que horas preciso vir?

— Às 18h — ele responde e toma outro gole;

— Vou ficar olhando o relógio da torre.

— Você não tem celular? — ele questiona.

— Não! Volto daqui a algumas horas — eu me viro indo para a

saída.

— Você já almoçou? — ele pergunta e eu paro, me viro olhando

para ele.

— Já comi algo, obrigada.

— Fiz bastante comida, você pode almoçar comigo.

— Eu e você? — pergunto apontando para mim e depois para

ele. — Obrigada, eu vou esperar lá fora.

— Por que não? Você me odeia tanto assim em 24 horas? — ele

questiona.

— Não, só acho não somos uma boa companhia um para o outro,

até daqui a pouco — ele me encara e me viro saindo pela porta.

Vou andando por Paris e começo a entrar em ruas e ruas,

começo a ver que a cidade era muito bonita.

— Vem amiga — vejo duas meninas andando. — Vem, olha isso

que lindo! — ela chama amiga que vai até ela.

Continuo andando e respiro fundo sentindo um dor em meu

peito, sei muito bem o que é, ela já se tornou rotineira.

— Melissa? — Suzana me chama e eu olho para ela. — Ei, o que

faz por aqui?

— Perdendo tempo até a hora de trabalhar.

— Somos duas! Meu primo foi passar o dia com a namorada e

fiquei sozinha.

— Vocês moram aqui? — pergunto.

— Sim, meu avô mora em um vilarejo na França, mas a gente

estuda na parte da manhã, então procuramos um emprego para nos manter por aqui.

— É bom trabalhar lá?

— Heloisa quase não para no bistrô, deixa tudo nas mãos do

irresponsável do Sebastian — ela fala fazendo uma careta. — Sebastian cuida do

bistrô daquela forma, não está nem aí para nada. Não sei como a irmã dele

confia tanto nele.

— Por que não deveria?

— Você não sabe quem ele é? — ela pergunta.

— Não!

— Sebastian foi o criador e era o vocalista da banda Snow,

fez sucesso alguns anos atrás no mundo todo.

— Eu ouvi falarem deles quando era criança.

— A vida dos três integrantes era rodeada de bebidas, drogas

e mulheres, até que na saída de um show o carro que ele dirigia capotou e matou

os seus dois colegas de banda, nunca mais ninguém viu Sebastian cantando e ele

se culpa pela morte dos amigos.

— Que horror!

— Você não tem noção de como ele chegou no bistrô! Quer

dizer, eu também não tenho, só que Heloisa a irmã dele já falou como foi. Ela

ficou com medo do irmão tirar a própria a vida, ele não era assim desse jeito

fechado. Era um menino alegre, de bem com a vida e agora virou esse homem frio,

arrogante, de mal com a vida, só bebe e fuma. A comida dele é maravilhosa e é o

que atraí o público para o bistrô, só que ninguém sabe quem ele é.

— Talvez nem ele saiba.

— Pode ser que seja isso mesmo, ele não sabe mais quem ele

é!

— E ele nunca mais cantou? — pergunto curiosa.

— Nunca mais pegou um violão na mão, ele nunca mais se

comportou como cantor e nunca fala do passado.

— Entendo, cada um tem seus traumas e às vezes eles não são

fáceis de conviver.

— Realmente é isso mesmo — ela fala. — Traumas — eu a olho e

ela está olhando para o chão.

Fomos para o bistrô porque já estava no horário e começo

arrumar as coisas que Sebastian havia organizado ontem para começar, quando ele

chega e vê tudo arrumado, ele olha para as coisas e depois me encara. Ele joga

o cigarro fora e coloca a cartela de cigarro com o isqueiro em cima do armário

no teto ao lado do fogão, tira do bolso um canil que deveria ter bebida dentro.

— Seu salário será pago a cada quinze dias, acho que não

conversamos sobre isso — eu o encaro — 400 a cada 15 dias, está bom?

— Sim! É o suficiente.

— Perfeito — ele fala arrumando os ingredientes, os cortando

e colocando em recipientes limpos que eu havia deixado sobre a bancada.

Era um corte de legumes, um gole de bebida e assim ele

passava a noite toda, mal-humorado e xingando os pedidos que ele não entendia a

letra, os clientes que vinham para o restaurante comer a comida que poderia

comer em casa. Ele passava a noite toda mal-humorado, não falava muito e eu

nunca vi ele abrir um sorriso, ele era uma pessoa bem difícil de conviver,

deveria ser difícil para todos aos eu redor conviver com ele e entender ele, já

que ele não dá abertura para nada.

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