Melissa Alpes Narrando
Após sair da clínica, o primeiro lugar que fui, foi na casa
de Joana e encontrei tudo fechado e vazio, era nítido que ninguém mais morava
ali fazia muito tempo e nunca mais soube de Joana. Eu tentei saber por alguns
vizinhos sobre ela, mas ninguém soube me dizer nada! Antes de embarcar no trem
que me levaria para Paris, eu fui até a casa de minha mãe e de longe eu a vi
brigando com um homem que entra xingando ela num carro parado na frente da
casa. Em um ano minha mãe nunca me visitou na clínica, enquanto todos os
pacientes recebia visitas, eu não recebia ninguém e nos dias das cartas, eu era
a única que não recebia nada.
Antes dela entrar em casa, me ver e ela para na porta da
casa me encarando, ficamos assim por alguns segundos, às vezes eu queria saber
o que se passa na cabeça dela, em seu coração, o que ela sentia por mim?! Minha
mãe se tornou uma mulher seca, triste e procurando em diversos homens o que ela
tinha em meu pai. Ela fecha a porta e eu entendo que o nosso ciclo tinha se
fechado também e o que me resta é ir para a estação do trem. Levando apenas a
minha mochila, algumas mudas de roupas, um caderno de desenho, alguns lápis e
um pouco de dinheiro que ela havia deixado para o dia da minha saída. Eu não
tinha mais nada além de mim mesmo!
— Boa tarde! — um homem de terno fala, se sentando ao meu
lado — Esse é o meu assento.
— Fique a vontade — lhe dou sorrindo fraco
— O trem está cheio, todo mundo resolveu ir para Paris! —
ele fala me olhando.
Acabei reparando nele, era um homem que deveria ter entre 35
a 40 anos, tinha uma aliança em seu dedo e segurava um celular que tinha foto
de duas crianças.
— Realmente.
— Você mora lá?
— Não, estou indo morar lá.
— Sozinha? — ele pergunta, um pouco surpreso. — Desculpa,
mas é que você deve ter a idade de uma das minhas filhas.
— Sem problema, estou indo sozinha sim.
— Meu nome é Renato, trabalho em uma empresa de marketing em
Paris — ele tira um cartão do seu paletó. — Se você precisar de trabalho é só
ir nesse endereço.
— Obrigada — sorrio pegando o cartão de sua mão.
— Renato Toshiba? — uma moça que trabalha no trem fala ao se
aproximar. — conseguimos um lugar perto de sua família.
— Obrigado — ele fala se levantando — Boa sorte! — ele diz
me olhando e sorrio agradecendo a ele
Guardo o cartão num bolsinho pequeno na minha mochila e
encosto a minha cabeça na janela do trem, vou vendo a paisagem passar na
velocidade do trem. Fico olhando as formas das nuvens e me lembro de quando eu
e Joana éramos crianças.
Flashback on.
— Olha lá, tem um
tubarão — Joana fala apontando para as nuvens no céu
— Lá é um dinossauro —
falo sorrindo.
— Um coração — ela
fala apontando para outra nuvem.
Flashback off
Às vezes ficávamos horas e horas deitadas sobre o gramado da
sua casa, olhando as formas das nuvens e só levantávamos quando sua mãe nos
chamava para tomar um delicioso café.
— Paris — um dos funcionários grita e eu percebo que havia
chegado.
Meu coração gela, a viagem havia passado tão rápido que eu
não tinha nem percebido que eu havia chegado. Desço com minha mochila do trem e
encaro aquela cidade, eu me tremia muito em cada passo que eu dava, eu estava
agoniada. Saio da estação do trem que era perto da torre Eiffel e vou andando
me aproximando dela, a enfermeira Lara disse que o bistrô era bem em frente a
torre, era apenas sair da estação do trem e seguir a torre que eu chegaria até
o bistrô.
A cada passo que eu dava eu me sentia ainda mais insegura,
eu não sei se levaria um não bem grande na cara, eu não sei a onde dormiria
essa noite, onde ficaria, se a dona do restaurante iria gostar de mim?! Chego
na frente do bistrô e vejo um homem alto, na porta do bistrô fumando um
cigarro. Ele tinha o cabelo preto, a barba rala, os olhos castanhos e vestia um
avental branco que está todo sujo, tinha um pano de prato no ombro e espantava
os pombos que tinha na frente do bistrô. Leio novamente o nome do lugar no
papel que a enfermeira Lara colocou e vejo que era ali mesmo.
— Anda, some daqui! — ele fala gritando e os espantando com
a mão.
— Boa tarde — falo atraindo o seu olhar para mim, ele me
encara arqueando a sobrancelha e o seu olhar não era dos mais amigáveis.
— Boa tarde — fala jogando o cigarro no chão e pisando no
cigarro — O bistrô está fechado, só abre a noite.
— Eu sei.
— Se você sabe, o que você quer? — ele pergunta.
— Uma vaga de emprego — falo de uma vez.
— Aqui não é caridade.
— Quem me indicou foi Lara — falo para ele que me encara.
— Lara? — ele pergunta — Lara Robson?
— Sim — eu falo.
— O que você sabe fazer em restaurante?
— Nada!
— Como você quer emprego se não sabe fazer nada? — ele
questiona.
— Aprendo rápido! Cheguei hoje em Paris e não tenho nem onde
ficar, eu tenho muita força de vontade e procuro o emprego. Ela disse que eu
poderia falar com Heloisa Pietra.
— Minha irmã está viajando e só retorna em dois meses, estou
responsável pelo restaurante e como disse não fazemos caridade aqui. Procure
outro lugar para trabalhar — ele fala abrindo a porta e eu vou atrás dele.
— Por favor, eu faço qualquer coisa — falo, o seguindo. —
Limpo mesa, tiro mesa, arrumo mesa, limpo chão, lavo louça — ele para me
olhando. — Por favor — ele fecha uma porta e eu coloco meu pé.
— Garota vai embora, aqui não tem caridade — ele fala em um
tom mais alterado. — por acaso tenho cara de santo?
— Não — respondo rápido e ele me encara — É uma oportunidade
apenas.
— Tudo bem — ele diz olhando para trás de si. — Comece
agora! — o encaro surpresa.
— Agora? — pergunto.
— Tenho toda aquela louça para limpar, você está contratada
— ele fala abrindo a porta e entrando, vou atrás dele.
Ele vai para cozinha que era um lixo, toda bagunçada, cheia
de gordura para tudo que era lado com pilhas e pilhas de louças.
— Você faz o que aqui? — eu pergunto.
— Sou chef da cozinha — ele fala e o olho sem acreditar.
— Quantas pessoas você já matou com a sua comida? — pergunto
e ele me encara.
— Você já quer ser demitida? — ele pergunta me olhando com
raiva.
— Você faz comida aqui? Ou tem outra cozinha?
— Essa é a única cozinha — ele fala indicando o local com a
cabeça.
— Meu Deus! Como ninguém fechou esse lugar ainda? Sua comida
é uma bomba venenosa para as pessoas que comem aqui, olha a sujeira disso! — eu
o encaro apontando para o local que ele chama de cozinha.
— Você quer o trabalho ou não? — ele pergunta.
— Quero!
— Primeira regra do bistrô, trabalhar calada — ele fala me
encarando. — Bom trabalho! — ele diz sentando na cadeira e tirando os cigarros
de uma carteira, acendendo um deles.
Encaro aquele lugar e depois olho para aquele homem folgado.
“ Pensa por um lado positivo, Melissa, você tem um emprego!”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments
Solange Araujo
Acho que essa garota vai dar um show ..
2024-02-05
0
Graciete Barbosa Silva
acredito que ela vai se ajudar e ajudar ele a dar a volta por cima
2023-01-26
0
Mininha
A garota não tem papas na língua!!! 🤣🤣🤣
2022-12-30
0