O destino não tem senso de humor

Gabriel me deixou na sala em silêncio ainda, ele não parecia ser uma pessoa ruim, apenas muito preguiçosa, imagino como ele deve ser em casa. Até o momento, não tenho nada para reclamar, na verdade, talvez até agradecer.

A aula passou nem rápido, o sinal tocou, eu pensei em arrumar as minhas coisas, mas eu só tinha na verdade os cadernos de Gabriel e e algumas folhas de papéis que peguei emprestada, fiquei rindo sozinha na sala.

— Hey! Vai continuar rindo sozinha na sala de aula? Vão descobrir que você é uma idiota. De qualquer forma, vamos logo. Minha mãe quer que eu chegue logo em casa. — Gabriel disse enquanto olhava para seu celular.

— E o que faz aqui? — perguntei confusa.

— Fingindo ser um bom namorado, fazendo apenas meu papel. Vamos logo. — Gabriel respondeu digitando algo no celular e saindo.

Fui atrás. Eu não tinha ideia que ele iria fazer tudo isso, mas ele é tão bonito. Porque será que ainda não tem uma namorada? Ou será que tem?

— Gabriel, você tem namorada? — perguntei olhando para ele, mas ele não respondeu. Andamos até a entrada da escola.

— Para qual lado é sua casa? — Gabriel perguntou parecendo entediado.

— Não vou para casa, meu pai me pediu para encontrar com ele no restaurante da minha família. — Respondi. Gabriel deu com a mão para um carro, que parou em nossa frente em instantes.

— Passe o endereço para Kleber. — Gabriel falou antes de entrar no carro. Quem diabos é Kleber? Entrei no carro irritada. Ele estava me tratando como se eu nem tivesse ali. Que irritante.

— Boa tarde, senhorita. Eu me chamo Kleber, sou funcionário do senhor Gabriel. Poderia me repassar o endereço do seu destino? — O homem que dirigia se apresentou. O que fez sentindo agora porque deveria dar meu endereço a Kleber.

— Boa tarde. Me chamo Ellie. Eu preciso ir para o restaurante Lótus, fica duas quadras daqui. — respondi. O motorista digitou no GPS algo e logo estamos em movimento. Por sorte o restaurante era próximo, eu não aguentava mais um minuto no mesmo lugar que aquele garoto irritante. Nunca pensei que o silêncio me irritaria tanto.

Eu desci do carro e o idiota não disse nada. O carro apenas partiu. Eu sei, eu não deveria está achando ruim, ele é um namorado falso, mas poderia ser minimamente simpático e agradável. Entrei no restaurante meu pai estava assinando alguns papéis com um senhor. Esperei terminarem, assim que o homem saiu, eu me aproximei.

— Quem era ele, pai? — perguntei sentando na mesa.

— Era o chefe da obra. A casa será reconstruída do zero. Vai levar volta de um ano. Espero que eles consigam adiantar um pouco. Até pensei em voltar para nossa antiga casa, mas tem o restaurante e a escola. Será melhor ficar um tempo com esse meu amigo de infância. Eles tem uma casa na piscina, fizeram para deixar as visitas mais a vontade. Ficaremos nela por um tempo. — Meu pai explicou enquanto acenava para o garçom.

— Não é muito tempo na casa de alguém? — perguntei confusa. Minha mãe havia toda visita era boa, quando ela não demorava. Morar um ano na casa de alguém parece tudo, menos agradável.

— Eu sei, mas penso em pedir para que adiantem o máximo da casa, para voltar para ela, mesmo tendo que conviver com uma construção, mas é mais confortável. Para isso precisará pelo menos o básico da casa, que deve demorar no mínimo seis meses. É o melhor que possamos fazer. — Meu pai tinha uma tristeza no olhar. Ele não estava nada satisfeito com a situação.

— Quem é esse amigo? Eu conheço? — perguntei.

— Não deve lembrar, você era muito pequenina. Eu e sua mãe passamos algumas férias com eles. São Ana Clara e Henrique, somos todos amigos de infância. Aliás, eles tem dois filhos, um deles é da sua idade, o outro é bem menor. Acho até que o mais velho estuda na mesma escola que você, pelo que eu entendi — Papai respondeu recebendo o nosso almoço da bandeja que o garçom trazia.

Almoçamos conversando sobre os amigos do meu pai, a Ana Clara era melhor amiga da minha mãe, já o Henrique era melhor amigo do meu pai. Eles acabaram de conhecendo por morarem no mesmo bairro, quando eram mais novos, como sempre andavam juntos, acabaram formando casais. Sempre tentaram passar as férias juntos, depois que a vida tomou caminhos diferentes, mas tiveram que parar depois que minha mãe adoeceu.

Depois de almoçar, entramos no carro do restaurante e partimos em direção do endereço que passaram para meu pai. Era em um lado da cidade que eu nunca havia visto. O GPS nos levou até a frente de um condomínio super chique. Meu pai confuso ligou para o amigo, que em segundos liberou nossa entrada e explicou qual era a casa. Eu nem acredita que estava em um lugar como aquele.

— Pai, você disse que eles tinham uma boa condição financeira, mas isso vai bem mais além do que eu imaginei. — Disse quando meu pai parou na frente da casa. Era tão enorme, que só me pergunto quantas empregadas precisam para limpar ela completa.

— Sempre nos encontramos na casa de campo dos pais de Ana Clara, era um dos nossos lugares preferidos de infância. Também não sabia que era assim, eu sabia que eles estavam bem, mas não sabia que era nesse nível. Não vou mentir que me surpreendeu um pouco também. — Meu pai confessou antes de sair do carro.

Meu pai tocou uma espécie de sino que tinha próximo as cercas brancas que circulavam a casa, com um gramado enorme verde e belas plantas em formato no mínimo questionáveis. Pude ver saindo quatro pessoas de dentro da casa, na frente estavam o que penso ser Ana Clara e Henrique.

— Vocês chegaram! Eu estava tão ansiosa com a chegada de vocês. Não via a hora de encontrar com a Ellie. Meu Deus. Como ela está tão grande e tão linda. Tudo bom, Ellie? Eu a Ana Clara, esse é meu marido Henrique e esse dois são — Ana Clara falava com um enorme e simpático sorriso, dava uma sensação boa de acolhimento. Ela apontava um por um apresentando os membros da sua família, quando finalmente se afastou, pude ver quem era o filho dela minha reação foi bem maior do que eu pensei

— GABRIEL?! — Gritei horrorizada. Com toda certeza todo o condomínio ouviu.

— Ellie? — Gabriel me olhava confuso.

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