3

Acordo e percebo que estou no carro novamente. Sinceramente, parece que só vivo apagando. Olho ao redor, confusa, sem ideia de onde estamos. Ao meu lado, lá está ele: o homem que virou minha vida de cabeça para baixo. Não sei se devo odiá-lo ou temê-lo mais. Notei que ele também havia cochilado, o que me faz pensar que já estamos nesse carro há horas, ou talvez ele simplesmente não tenha dormido bem na noite anterior.

— Ei! Onde estamos? — pergunto, tocando sua perna na tentativa de acordá-lo.

Ele abre os olhos lentamente, dá um sorriso que logo desaparece, substituído por uma expressão séria.

— Estamos indo para o jatinho particular. Vamos para a Rússia, meu bem. — Seu tom é calmo, mas seu olhar me paralisa.

Sinto um frio na espinha.

— Sua família vai me aceitar? — pergunto, tentando conter o tremor nas mãos.

Ele se vira para mim, me puxando para o colo dele com a mesma facilidade de quem segura algo frágil.

— Não se preocupe. Eles não têm nada contra você ou sua família. Na verdade, estão ansiosos para conhecê-la. — Ele acaricia meus cabelos enquanto fala.

Fico quieta, absorvendo aquelas palavras. Mas então ele continua:

— Meu problema sempre foi com os seus pais. Sua mãe prometeu sua mão para mim, enquanto seu pai a prometeu para outro.

Minhas mãos tremem ainda mais. Não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você os matou por isso? Isso é tão... infantil. — digo, afastando-me dele com raiva.

— Não foi apenas por isso. — Ele respira fundo, como se quisesse escolher bem as palavras. — Suas ações tiveram consequências. Por gerações, as meninas da sua família foram prometidas a herdeiros de famílias importantes. Quando atingissem a idade certa, elas se casariam. Mas seus pais anularam esse acordo, fazendo de você a herdeira principal. Isso atraiu pretendentes, e sua mãe prometeu você para mim. Porém, seu pai queria algo mais vantajoso e a ofereceu para outro herdeiro.

Minhas lágrimas ameaçam cair.

— Eles estavam me leiloando? Como se eu fosse um objeto? — minha voz sai embargada.

— Sim. Eles estavam negociando quem ofereceria mais. — Ele encara o vazio por um momento. — Mas quando as famílias descobriram, tudo mudou. A promessa original, a de que você seria minha, foi reafirmada. Só que surgiram boatos de que você estava sendo prometida a um herdeiro espanhol, um rival da Rússia e de Portugal nos negócios.

Minha mente fica em choque, enquanto tento processar tudo.

— Mas minha família nunca trairia Portugal! — argumento, antes que flashes de memória daquela rua estranha invadam meus pensamentos. As pessoas fugindo de mim, os olhares de medo...

Ele me encara, seus olhos firmes e intensos.

— Sua mãe era espanhola, Ada. Seu pai, português. O casamento deles foi um acordo de negócios. Nós, russos, não sabíamos disso. Quando seu pai tentou fazer o mesmo com você, sua mãe se entregou à nossa família. Prometeu todas as riquezas da sua família em troca de manter a promessa original do casamento.

Sinto um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Minha mãe, a mulher que sempre me rejeitou, foi quem mais me protegeu. Traiu suas origens por mim.

Diego percebe minha luta interna. Ele me puxa de volta para seu ombro, acariciando meus cabelos com gentileza. De alguma forma, isso me acalma.

— Sua mãe foi a mulher mais forte e inteligente que já conheci. Trair sua família e seu marido foi algo impensável, mas ela fez isso por você. Só que há muito sobre sua origem que você ainda não sabe. Temos que tomar cuidado.

— Cuidado com o quê? — pergunto, tentando compreender o que ele quer dizer.

— Ainda não somos casados. — Ele puxa um envelope e me entrega. — Leia os documentos. Se quiser assinar, tudo bem. Se não quiser, também. Mas saiba que, se assinar, será minha esposa, e isso será irreversível.

Meu coração acelera ao abrir os papéis. Lá estava tudo explicado: ao me casar, ele seria responsável por mim. Caso algo acontecesse comigo, ele não teria direito à minha herança. Não poderia me obrigar a continuar como sua esposa. No entanto, o contrato era claro: não havia possibilidade de divórcio. No final, a frase "Até que a morte nos separe" parecia um aviso sombrio.

Depois de ponderar, finalmente digo:

— Eu, Ada Gomez, mesmo sabendo que minha família não manteve a palavra, aceito me casar com você. Mas espero ser respeitada. Não sou uma esposa burra.

Vejo surpresa em seus olhos.

— Achei que você não fosse concordar. — Ele sorri, aproximando-se. — Você não é ambiciosa, sabia? Sua mãe deixou tudo pronto caso você quisesse fugir. Mas foi uma ótima escolha. Outras famílias iriam atrás de você... e não de forma amigável.

Ele me beija. Por um instante, sinto-me segura e ao mesmo tempo assustada. Essas famílias, essas alianças... tudo parece tão criminoso.

— Chegamos. Vamos entrar no jatinho. Já estou cansado de Portugal. — Ele se levanta, abrindo a porta.

Entro no jatinho, sabendo que estava a caminho de encontrar minha nova família. "Nova família" parecia uma ironia cruel.

Continua...

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!