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Dormindo, começo a ter pesadelos. Figuras do meu passado se misturam com os eventos recentes, transformando minha mente em um caos. Acordo sobressaltada, ofegante, e percebo que estava no colo dele. Diego acariciava meus cabelos com delicadeza. Sem entender, me afasto imediatamente, sentindo meu coração acelerar.

— Desculpe. Vi você tendo pesadelos e achei que pudesse ajudar. — Sua voz era calma, mas eu a ignorei, virando o rosto para o lado oposto.

— Olha, não espero que você queira ser minha esposa, assim como não espero que entenda o motivo de eu ter matado sua família. Mas aquilo precisava acontecer. Não havia outra escolha.

Aquelas palavras despertaram algo em mim. Virei-me para encará-lo, com os olhos cheios de amargura.

— Não tenha pena de mim. Sei muito bem que meus pais estavam me vendendo como uma oferta de paz.

Ele permaneceu calmo, voltando a tocar em meus cabelos.

— Não sinto pena de você, Ada. Apenas estou cuidando da minha noiva. Levo meus compromissos muito a sério, embora seus pais tenham vacilado comigo.

Afastei sua mão novamente, meu tom mais firme:

— Não tenha pena de mim.

Ele suspirou, frustrado, e ordenou ao motorista que parasse o carro. Foi aí que percebi, pela primeira vez, que havia outra pessoa dirigindo.

— Sabe, eu não tenho paciência para garotas mimadas. "Ah, meus pais morreram, sou tão injustiçada..." — Ele zombou, fazendo um gesto teatral. — Garota, ninguém controla o próprio destino. Mas vou te dar uma chance. Saia agora. Vá e só volte quando entender por que seus pais morreram. Nosso casamento será hoje, e vou te esperar.

Ele falava com tanta confiança que parecia impossível contrariá-lo. Mas algo em suas palavras me instigava.

Desci do carro sem hesitar, caminhando o mais rápido possível para longe. Alguns minutos depois, avistei um grupo de senhoras. Pedi ajuda, mas elas reagiram de forma estranha.

— Essas roupas... esse cabelo ruivo... Saia daqui, monstra! Saia daqui, Isabela Gomez!

O nome de minha mãe saiu de suas bocas como uma maldição. Confusa, corri para longe delas. Quando percebi onde estava, meu coração gelou. Aquela rua... Meu pai sempre dizia para eu nunca me aproximar dali.

Continuei andando, mas a paisagem ao redor só piorava. Pessoas dormiam nas calçadas, desviavam de mim com olhares de ódio ou medo. Então, uma pedra atingiu minha cabeça. O impacto me deixou zonza. Minha testa sangrava, mas reuni forças para correr de volta ao carro.

Diego estava lá, esperando, com um sorriso satisfeito.

— E então, Ada Gomez? Como foi a experiência? — Ele me olhou, triunfante.

Ignorei sua provocação, entrei no carro e sussurrei:

— Por favor, quero sair daqui.

Essas foram as últimas palavras que consegui dizer antes de apagar.

Quando acordei, estava em um quarto de hotel. O aroma característico e os kits de boas-vindas entregavam onde eu estava. Minha cabeça ainda doía, mas alguém havia feito um curativo. Foi então que percebi: eu não estava mais com meu vestido. O susto foi imediato.

Antes que pudesse pensar em quem havia trocado minhas roupas, Diego saiu do banheiro... pelado.

— Meu Deus, o que você está fazendo aqui? — perguntei, cobrindo-me com o lençol.

Ele sorriu, zombeteiro.

— Uma pergunta estranha para fazer ao seu marido, mas tudo bem. Você é bem peculiar mesmo.

A audácia dele me deixou sem reação. Ele se aproximou e me beijou. Só então consegui empurrá-lo, com raiva.

— Marido? Espere... Você não pode me beijar assim! Eu odeio você pelo que fez com minha família. E espero que não tenha sido você quem trocou minhas roupas.

Ele revirou os olhos, pegando uma garrafa de vinho do frigobar.

— Nossa, como você é insuportável quando acorda. Dormindo parecia um anjo. E sim, fui eu quem trocou sua roupa. Não quero ninguém mais olhando para o que é meu.

— Meu? Você está louco! — levantei a voz.

— Seus pais já haviam nos casado. Você assinou os papéis sem saber. E, sinceramente, eles mereceram morrer. A única inocente era você. Foi o que sua mãe disse antes de morrer.

As palavras dele me atingiram como uma faca.

— Minha mãe sabia que isso ia acontecer? — lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

Diego se aproximou novamente, mas desta vez com uma expressão séria.

— Você ainda não está pronta para saber tudo. Nossas famílias estão envolvidas em coisas sombrias. Já tentei me afastar, mas esse é o meu destino. É quem eu sou. Espero que você possa me aceitar como marido. Prometo que, quando estiver preparada, contarei tudo.

Olhei para ele, tentando encontrar a verdade em suas palavras. Apesar do jeito frio, algo em seu tom me fez acreditar.

— Quer beber? — Ele mudou de assunto, abrindo a garrafa.

— Por que não? — respondi, ainda atordoada.

Bebi uma, duas, três taças, até começar a relaxar.

— Ada, não precisamos fazer nada que você não queira. Só quero que você se entregue a mim quando estiver confortável. Posso ser muitas coisas, mas nunca um... estuprador.

— Minha família está morta. Meu nome está manchado. E agora sou apenas sua esposa... — empurrei-o para a cama, em um impulso.

— Entendi. Mas não vou me aproveitar de você. Você não está bem mentalmente. Posso esperar. — Ele me segurou nos braços, acariciando meus cabelos até eu adormecer novamente.

Enquanto o sono me envolvia, ainda tentava entender quem ele realmente era... E por que, mesmo odiando-o, não conseguia parar de acreditar nele.

Continua...

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Comments

Vera Lúcia

Vera Lúcia

eita

2024-12-27

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