A noite estava sufocante, carregada de nuvens pesadas e de uma pressão invisível que se arrastava pelo ar como um mau presságio. Desde que a ligação espiritual foi rompida, algo dentro de Daniel e Lucas havia se quebrado. As sombras em seus olhos denunciavam noites mal dormidas, angústia acumulada e um desespero silencioso que se recusava a passar.
No plano espiritual, Azazel vigiava. Impassível, olhos como abismos, a Anjo da Morte estava entre mundos. Quando Uriel enviava seus assassinos — sombras disfarçadas de luz — para terminar o serviço, ela os interceptava. Eles nunca chegavam à terra dos vivos. Caíam, um a um, sob sua foice silenciosa. Nada passava por ela. Nada tocaria os lobos. Não ainda.
Daniel mantinha sua rotina com rigidez, tentando sufocar o caos interior com estrutura.
— Tudo bem, Gustavo. Vamos continuar. Quero atualizações a cada quarenta minutos, rapazes. Temos um maníaco à solta e todo cuidado é pouco. Usem suas armas humanas. Nada de poderes shifters, ok? Trabalhem em turnos e, a cada troca, quero ser informado de quem irá assumir o lugar de quem.
A sala respondeu com acenos determinados. Todos correram para cumprir suas ordens. Daniel girou nos calcanhares, buscando Lucas com o olhar. Encontrou-o ainda ao telefone, vociferando ordens.
Quando Lucas finalmente terminou, guardando o celular no bolso, soltou um suspiro tenso:
— Mobilizei toda a equipe do hospital, assim como os seguranças e vigilantes. Falei com o Adrian e o Ian. Avisei a matilha para formar equipes de busca, especialmente nas áreas rochosas e florestas onde a visibilidade é baixa. Trabalhando em grupos de quatro. E todos foram alertados sobre o assassino. — Outro suspiro. — E agora, Dan? O que fazemos?
Daniel passou a mão pelos cabelos e olhou para o nada.
— Não sei, cara. Sem pistas... não temos como agir. Tentei chamá-la, tentei me conectar, mas... eu não sei nem como chamá-la. O nome... sumiu.
Lucas cerrou os punhos.
— A presença dela está tão fraca... quase inexistente. Isso está me acabando. Saber que ela está ferida, sofrendo, e que não podemos fazer nada. Essa impotência tá me destruindo.
Daniel sussurrou:
— Eu sei. Comigo também.
O silêncio foi quebrado por um pensamento atravessando como um raio:
"Sim, eu sei. Isso também tá fodendo comigo."
Daniel franziu o cenho.
— Que porra é essa, cara?
Lucas arregalou os olhos:
— Você... falou na minha cabeça.
Ambos se encararam, atordoados.
— Merda... Isso quer dizer que agora a ligação é entre nós também?
— Isso é... novo. Intenso. E incômodo. E sí, agora você não pode mais me chamar de cuzão sem eu saber, seu merda.
Uma risada amarga, seguida de silêncio.
Uma semana se passou.
Daniel estava no limite.
— Porra, já faz uma semana e nada!
Ele andava em círculos, cabelo desgrenhado, olhos vermelhos. Tudo nele exalava frustração.
— Esperei cento e cinquenta anos por minha companheira. Para ela ser tirada de mim assim? Sem ao menos conhecê-la? Não... eu não vou deixar isso acontecer, porra!
"Cara, isso não está ajudando. Tô indo operar um paciente agora e não preciso desse turbilhão emocional, porra!"
A voz de Lucas ressoou direto em sua mente. Mas Daniel não podia evitar. O lobo dentro dele estava inquieto. Uivava pela ausência dela.
Nem mesmo o caso do serial killer, que aterrorizava humanos e shifters, conseguia prender sua atenção. Era como se a escuridão interna apagasse tudo mais.
O assassino parecia um fantasma. Nenhum cheiro. Nenhuma assinatura. Protegido por alguma bruxa que conseguia burlar todos os dons e instintos.
Nem a vidente trazida do sul conseguiu ver qualquer coisa.
— Calma, mano. Vamos encontrá-la. — David, seu irmão mais novo, tentou confortá-lo.
Mas Daniel apenas encarou o nada. Algo em seu peito doía de forma aguda e constante. Como uma farpa na alma.
Em outra dimensão, Azazel seguia alerta. Cada vez que um anjo de Uriel tentava transpassar os limites da realidade, ela aparecia. E silenciava.
Ela não permitia que ninguém tocasse nos dois lobos. E tampouco deixava que voltassem a se lembrar.
Ainda não era a hora.
A dor, o vazio, a agonia silenciosa... era tudo parte da penitência.
O destino deles estava selado, mas o reencontro exigia um preço. A memória era uma moeda poderosa. E por enquanto, o nome dela estava trancado.
Mas o vínculo permanecia. Como uma chama incansável sob a cinza.
E nos sonhos deles... a dor de Anael ainda ecoava.
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Atualizado até capítulo 155
Comments
Milly(灬º‿º灬)♡
ammooooo
2023-08-22
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