Azazel
(A Anjo da Morte)
O mundo está em silêncio.
Como deve ser.
A névoa paira densa entre os campos espirituais, e eu caminho entre os véus com o passo calmo de quem sabe que a morte não corre — ela espera.
Ouço o sussurro.
"Proteja-os. Mate quem ousar tocá-los. Isso é uma ordem."
Minha essência vibra como lâmina recém-forjada.
Ela finalmente quebrou o juramento.
Finalmente admitiu que eles são dela.
Abro os olhos no mundo físico. Meus pés tocam o solo seco do vale escondido onde os dois foram deixados, sob minha guarda. Daniel e Lucas estão adormecidos, mas seus corpos se contraem. Suor escorre pelas têmporas, os punhos cerrados.
A dor chegou. A dor dela.
— Então começou... — murmuro.
Me aproximo em silêncio absoluto, sentindo a energia ao meu redor enegrecer. Os corvos me seguem, as sombras dançam ao meu redor. Sou a Morte.
Mas hoje... hoje serei guardiã.
Minha boca se aproxima do ouvido de Lucas, minha voz como vento gelado:
— Ela sangra por vocês... e vocês sentirão cada gota.
Afasto-me e observo. Não vou impedi-los de sofrer.
A dor é o preço do vínculo.
Mas se alguém tentar tocá-los...
A espada em minhas costas vibra. A foice sobre meu ombro brilha com uma aura cinzenta.
Eles não sabem do que ela é feita.
Nem do que eu sou feita.
E isso... é parte do plano.
Lucas
(O protetor instintivo)
Acordo ofegante, como se estivesse sendo puxado de dentro pra fora.
O ar não entra. O peito queima.
Meus olhos se arregalam e a primeira coisa que sinto...
é ela.
— Anael? — murmuro, sem entender.
Mas não preciso.
É dor.
Dor crua. Cortante. Como se chicotes se enterrassem na minha própria carne.
Instintivamente, caio de joelhos.
Vejo sangue — não meu, mas dela.
— Algo está errado... muito errado.
Me viro, procurando Daniel, e o vejo gemendo, o rosto contorcido.
Os dois sabemos.
Mesmo sem palavras.
Ela está sendo punida.
— Isso não... não era pra acontecer. — sussurro, rangendo os dentes.
Azazel está ali, parada como uma sombra. Ela sabe. Sempre soube.
— O que fizeram com ela? — minha voz sai rouca.
Mas ela não responde.
A morte nunca se explica. Ela apenas assiste.
Daniel
(O lobo partido)
Há uma faca enterrada na minha alma.
Não sei como explicar...
Só sinto.
Dor.
Minha mente grita o nome dela, mas não o digo em voz alta.
Se eu disser... talvez quebre.
Meus dedos arranham a terra. Tento respirar, mas o ar fede a sangue.
O sangue dela.
Chicotadas.
É isso que sinto. Cada uma... reverbera em mim como um trovão mudo.
Minhas costas queimam — mesmo intactas — como se algo dentro de mim estivesse se abrindo em cortes invisíveis.
— Eles a pegaram... — digo, sem pensar.
Lucas se ajoelha ao meu lado. Nos olhamos.
Não precisamos dizer mais nada.
Somos dela.
Se ela sofre, nós sofremos.
E a única coisa mais insuportável do que essa dor...
É não estar lá pra lutar ao lado dela.
Meus olhos encontram os de Azazel.
— Nos leve até ela. — exijo.
Mas a Morte sorri, fria, misteriosa.
— Ainda não. A hora não chegou. Ela pediu tempo. Ela precisa se partir... para se reconstruir.
— E se ela morrer? — Lucas pergunta, com os olhos úmidos.
Azazel responde com a calma de um túmulo:
— Então o céu terá seu primeiro genocídio.
A escuridão era espessa como breu, o ar parado como em um túmulo selado.
Ali, entre planos, onde o tempo não existia e as leis dos vivos eram apenas sugestões distorcidas, Azazel pairava.
Silenciosa. Majestosa. Mortal.
A Anjo da Morte observava os dois corpos adormecidos, suas almas pulsando de angústia pura. Daniel e Lucas — os lobos que falharam.
O sangue que prometera proteção.
E que deixou Anael sangrar sozinha.
Aos seus pés, pequenos frascos de cristal negro tremulavam com o poder bruto de memórias vivas.
O nome dela.
O toque dela.
A promessa.
— Vocês ainda não estão prontos — sussurrou Azazel, como uma sentença.
Ergueu as mãos pálidas, e as sombras ao redor responderam com reverência.
"Ela ainda os ama... apesar de tudo."
"Mas isso, também, será esquecido."
Daniel e Lucas começaram a contorcer-se nos lençóis.
Gritaram.
Gritaram com tudo que tinham.
— NÃO! — Daniel uivou, agarrando o vazio. — Não a tire de mim!
— A gente vai protegê-la! Juro! Azazel, por favor! — Lucas rugiu, lágrimas caindo.
Mas era tarde.
Azazel tocou o centro das testas de ambos, e a luz se apagou de dentro para fora.
As lembranças queimaram em silêncio.
O nome... evaporou.
“Este é o castigo. Este é o fardo.”
O corpo dela. A presença. A ligação.
Permaneceu.
Mas como um quebra-cabeça sem imagem.
Azazel se afastou, desvanecendo na penumbra com um último sussurro:
“Procurem-na... sintam-na... sofram por ela.”
“Mas só lembrarão... quando o Deus Dragão despertar.”
Daniel acordou com o coração disparado, o peito arfando, os lençóis empapados de suor.
A primeira coisa que sentiu foi a dor.
Física. Emocional. Espiritual.
Ela estava ferida.
Ela estava cativa.
E ela era dele.
Mas quem...?
Tentou gritar o nome — mas ele não vinha.
— Merda... — rosnou entre dentes, se levantando. Suas garras surgiram involuntariamente e dilaceraram os lençóis. — Ela está sofrendo...
No corredor, Lucas De Santis escancarou a porta do quarto.
Os olhos brilhavam em laranja flamejante. Seu cheiro exalava desespero.
— Você também sentiu. — disse, a voz áspera. — A dor... o aperto... como se ela estivesse gritando.
Daniel assentiu, ofegante.
— Eu vi sombras... correntes... fogo... mas... — Ele levou a mão à cabeça. — Eu não consigo lembrar. O rosto... o nome dela... desapareceu.
Lucas andou em círculos, como um animal enjaulado.
— Mas eu sei que é ela. Nossa companheira. Presa. Humilhada. Sufrendo sozinha.
E a gente... a gente deixou isso acontecer.
Os dois alfas se encaram, em silêncio.
Havia algo quebrado entre eles e ela.
Uma ponte queimada cujas cinzas ainda flutuavam ao redor.
— Não vamos falhar de novo. — Daniel murmurou com os olhos baixos. — Mesmo sem saber quem ela é.
Mesmo sem lembrar... nós vamos encontrá-la.
Algumas horas depois, a sede da matilha de Daniel estava em estado de alerta.
A dor inexplicável que os dois alfas carregavam se espalhava.
Todos sentiam.
O luto por algo que não sabiam que haviam perdido.
A tensão.
O chamado.
No meio do alvoroço, Eva Wolff, a alfa mãe, surgiu no corredor com um olhar grave.
Ela sentia.
Não entendia.
Mas sentia.
— Daniel... Lucas... há algo ancestral pairando no ar. Como se uma antiga dívida estivesse para ser cobrada.
Daniel apertou os punhos.
— A gente não sabe quem é... mas ela está em perigo. Está sofrendo.
E a gente vai encontrá-la.
— Mesmo que eu tenha que virar cada centímetro dessa terra — completou Lucas, os olhos ardendo.
Eles não lembravam do nome dela.
Não lembravam do toque.
Mas lembravam da dor.
E isso era suficiente para começar uma guerra.
Enquanto isso...
Na masmorra do reino celestial, envolta em trevas e sangue, Anael se contorcia contra as correntes sagradas manchadas com pó de demônio.
Os lábios rachados abriram-se apenas para murmurar com a voz da alma:
— Daniel... Lucas... em um momento de fraqueza ela chama por eles.
Mas eles já não podiam ouvi-la.
Nos planos esquecidos, Azazel observa em silêncio.
— Vocês vão rastejar pelo mundo para encontrá-la... sem saber o que procuram.
— E quando ela acordar os Deuses antigos e seus cavaleiros... só então entenderão tudo o que destruíram... e tudo o que ainda terão que reconstruir.
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Atualizado até capítulo 155
Comments
Milly(灬º‿º灬)♡
Continua assim tá bom
2023-08-22
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