" Vi de perto a face da solidão
e ela cresceu em mim
enquanto inundava meu rosto
com minhas lágrimas."
Joseph R. Russo
Acordei cedo, dei um beijo em minha Lara e corri para casa, não sabia porque, mas tinha a impressão que o dia seria difícil. arrumamos nossas bolsas e fomos para a praia do Caça e pesca.
— Joseph, precisamos falar com você.
Meu pai disse, enquanto
almoçávamos no restaurante em frente à praia.
— Vocês vão se divorciar?
O rosto de pai ficou pálido.
— Minha nossa, não, Joseph.
Ele logo assegurou, pegando a mão da minha mãe para enfatizar. Minha mãe sorriu para mim, mas eu podia ver lágrimas começando a brotar em seus olhos.
— Então o quê?
Perguntei.
Meu pai lentamente se encostou em sua cadeira, procurando palavras.
— Sua mãe andava meio chateada com meu emprego, Joseph, não
comigo.
Eu estava bem confuso, até que ele disse:
— Estão me transferindo para Sadenha, Joseph. A empresa teve um problema por lá e estou sendo mandado de volta para dar um jeito nele. Só eu posso resolver.
— Por quanto tempo, papai?
Perguntei.
— Quando você vai voltar?
Meu pai passou a mão pelo cabelo, do mesmo jeito que eu fazia, quando estava nervoso, e respondeu:
— Aí é que está, Joseph.
Ele disse, cautelosamente.
— Pode levar alguns anos. Pode levar meses.
Ele suspirou e continuou:
— Realisticamente, qualquer coisa entre um e três anos.
Meus olhos se arregalaram. Sabia que tinha algo errado com aquele passeio em família.
— Você vai deixar a gente aqui no Brasil por todo esse tempo? Sozinhos?
Minha mãe estendeu a mão e cobriu a minha com a dela. Eu a
observei sem pensar direito. Então as verdadeiras consequências do que papai estava dizendo começaram a entrar em minha mente.
— Não, papai.
Eu disse, sussurrando. Ele não podia fazer isso comigo.
Olhei para cima. Vi a tristeza tomando seu rosto, ele não queria me fazer sofrer, mais ia.
Eu sabia que era verdade.
Agora eu entendia por que tínhamos vindo para a praia. Por que ele
queria que estivéssemos sozinhos, ele não queria vê-la sofrer. Por que ele nunca recusava a companhia
de Lara.
Meu coração disparou enquanto minha mente dava voltas, perdi totalmente o chão… Eles não
iriam… Ele não iria… Eu não iria!
— Nãooooo, papai.
Eu gritei, tão alto, atraindo os olhares das outras mesas.
— Eu não vou. Eu não vou deixá-la.
Eu me virei para minha mãe buscando ajuda, mas ela baixou a
cabeça. Arranquei minha mão da dela.
— Mamãe?
Supliquei, mas ela balançou a cabeça devagar.
— Somos uma família, Joseph. Não vamos ficar separados todo esse
tempo. Temos que ir. Somos uma família.
— Não, eu não possoooo!
Dessa vez gritei bem mais alto, empurrando a cadeira para longe da
mesa. Fiquei em pé.
— Eu não vou deixá-la! Vocês não podem me obrigar! Aqui é nossa casa agora. Aqui! Não
quero voltar para Itália!
— Joseph, por favor.
Disse meu pai, de modo pacificador, levantando da mesa e estendendo as mãos.
Mas eu não conseguia ficar naquele espaço fechado com ele. Eu me
virei e corri para fora do restaurante o mais rápido que pude, rumo à praia.
O sol estava desaparecendo lá. o Horizonte, fazendo um vento frio
chicotear a areia. Continuei correndo em direção às dunas, e os grãos grossos atingiam meu rosto.
Enquanto corria, tentava lutar contra a raiva que me rasgava por
dentro. Como eles podem fazer isso comigo? Eles sabem o quanto eu
precisava de Lara, o quanto eu a amo.
Eu tremia ao subir a duna mais alta e me jogar sentado no topo. Então
deitei, observando o céu que se acinzentava, e imaginei a vida de volta à Itália sem minha Lara. Senti o estômago virar… só de pensar em não tê-la ao meu lado, segurando minha mão, beijando meus lábios…
Eu mal conseguia respirar.
Minha mente disparou, buscando ideias de como eu poderia ficar.
Pensei em cada possibilidade, mas conhecia meu pai. Quando decidia
algo, nada o fazia mudar de opinião. Eu iria embora; o olhar no rosto dele
me disse claramente que não havia como escapar. Eles iam me tirar da
minha garota, da minha alma. E eu não poderia fazer nada a respeito.
Ouvi alguém subindo a duna atrás de mim e sabia que era meu pai.
Ele sentou-se ao meu lado. Olhei para a outra direção, para o mar. Eu queria ignorar a presença dele.
Ficamos em silêncio até que por fim eu cedi e perguntei:
— Quanto tempo tenho com Lara?
Senti o meu pai congelar do meu
lado, fazendo-me olhar para sua direção. Ele observava o meu rosto com expressão de pena. Meu estômago revirou ainda mais.
— Quando vámos?
Insisti. Papai baixou a cabeça e respondeu:
— Amanhã.
Tudo parou. parecia que o mundo iria acabar, pelo menos o meu ia.
— O quê?
Sussurrei, em choque.
— Como isso é possível?
— Sua mãe e eu soubemos há um mês. Decidimos não contar a você
até o último minuto porque sabíamos como você se sentiria.
A empresa precisam de mim no escritório na segunda-feira, Joseph. Organizamos tudo com a sua
escola, fizemos a transferência de seus históricos. Seu tio está preparando nossa casa em Sardenha para nossa volta. A empresa contratou uma equipe
de mudanças para levar as nossas
coisas de navio para a Itália. Eles chegam amanhã um pouco depois que a gente for embora.
Encarei o meu pai. Pela primeira vez na vida, eu odiava-o. Cerrei os
dentes e olhei para longe. Eu sentia-me com náuseas com o tanto de raiva que corria nas minhas veias.
— Joseph.
Meu pai disse suavemente, colocando a mão no meu ombro.
Eu me livrei de sua mão.
— Não. Jamais me toque ou fale comigo de novo.
Virei a cabeça e disse:
— Eu nunca vou te perdoar por isso. Eu nunca vou te perdoar por me afastar de minha Lara.
— Joseph, eu entendo você, meu filho…
Ele tentou dizer, mas eu o cortei.
— Você não entende. Você não tem ideia de como eu me sinto, do
que a Lara significa para mim, do quanto ela vai sofrer sozinha. Não tem ideia. Porque, se tivesse, não ia
me levar para longe dela. Você diria para sua empresa que não ia se mudar. Que precisávamos ficar.
Papai suspirou fundo.
— Eu sou o diretor técnico, Joseph. Tenho que ir para onde precisam
de mim, e agora é na Itália, lá também é nosso lar.
Eu não disse nada. Eu não ligava que ele era o maldito diretor técnico
de uma empresa com problemas. Eu estava furioso porque ele só tinha me contado agora. Eu estava furioso porque íamos embora, e ponto-final.
Quando fiquei quieto, meu pai disse:
— Estou juntando nossas coisas, filho. Esteja no carro em cinco
minutos. Quero que você fique esta noite com Lara. Quero dar pelo menos isso a você.
Lágrimas quentes se formaram nos meus olhos. Virei o rosto, assim
ele não poderia me ver. Eu estava com raiva, com tanta raiva que não
conseguia impedir as malditas lágrimas. Eu nunca chorava quando estava triste, só quando sentia raiva. E naquele momento eu estava tão furioso que mal podia respirar.
— Não será para sempre, Joseph. Uns poucos anos no máximo e
estaremos de volta. Eu prometo. Meu emprego, nossa vida, é aqui no Brasil. Mas tenho de ir para onde a empresa precisa de mim. Sardenha não será tão ruim; é de onde somos. Você sabe que sua mãe vai ficar feliz por está perto da família de novo. Achei que você também poderia ficar.
Não respondi nada. Porque uns poucos anos sem Lara seriam uma eternidade. Eu não ligava para minha família.
Eu estava perdido, observando o movimento das ondas, e esperei o
máximo que pude antes de me levantar. Eu queria encontrar Lara, mas ao
mesmo tempo não sabia como dizer a ela que estava indo embora. Eu não suportava a ideia de partir seu coração.
A buzina tocou, eu segui para o carro, onde minha família me esperava.
Minha mãe tentou sorrir para mim, mas eu a ignorei e deslizei para o
banco traseiro. Enquanto saíamos da costa, fiquei olhando pela janela.
Senti um toque de mão no meu braço e me virei. Era meu irmãozinho apertando
a manga da minha camisa. Sua cabeça estava pendida para o lado.
Desalinhei seu cabelo, ele riu, mas o sorriso logo se apagou, e ele ficou olhando para meu lado durante toda a viagem até nossa casa. Achei irônico que meu irmãozinho pudesse entender quanta dor
eu sentia, mais do que meus pais. A viagem para casa pareceu durar uma eternidade. Quando paramos
na nossa entrada, praticamente pulei do carro e corri para a casa de Lara.
Bati na porta da frente. Dona Clara atendeu em apenas uns segundos. No momento em que ela me viu, seus olhos encheram-se de lagrimas.
Ela deu uma olhada pelo jardim para minha mãe e meu pai tirando as coisas do carro. E fez um pequeno aceno para eles.
Ela também sabia.
— A Lara está?
Dei um jeito de perguntar, empurrando as palavras pela minha garganta apertada.
Dona Clara puxou-me em um abraço.
— Ela está no quintal, querido. Ficou lá a tarde toda lendo.
Dona Clara beijou minha cabeça.
— Eu sinto muito, Joseph. Minha filha vai ficar de coração partido quando você for embora. Você é a vida dela.
Ela também é minha vida, eu queria dizer, mas não consegui falar
uma só palavra. Dona Clara me soltou e me afastei, pulando a varanda e correndo até o quintal.
Cheguei lá e logo avistei Lara sob um balanço. Parei, ficando bem fora de vista, enquanto a observava lendo seu livro, com fones de ouvido sobre a cabeça. Galhos repletos de flores pendiam ao redor dela como um escudo protetor. Ela usava um short jeans rasgado e blusa preta, curta sem mangas e um boné de lado. Parecia que tinha entrado em um sonho.
Senti um aperto no peito. Eu via Lara todos os dias desde os
meus seis anos. Eu dormia ao seu lado quase todas as noites desde os quatorze anos. Eu a beijava todos os dias desde os nove anos e a amava com todas as forças
por tantos dias que parei de contar.
Eu não tinha ideia de como viver um dia sem ela perto de mim. De
como respirar sem tê-la ao meu lado.
Como se tivesse sentido que eu estava lá, ela desviou o olhar da
página do livro. Quando apareci no gramado, ela me deu o maior sorriso.
Era o sorriso que ela tinha só para mim.
Tentei sorrir de volta, mas não consegui.
Caminhei com dificuldade pelas flores no chão, o caminho tão
repleto de pétalas caídas que parecia um lago amarelo e rosa sob meus pés.
Observei o sorriso de Lara sumir à medida que eu chegava mais perto. Eu não conseguia esconder nada dela. Ela me conhecia tão bem quanto eu mesmo. Ela percebeu que tinha algo errado.
Eu disse a ela antes, não havia segredos comigo. Não com ela. Ela era a única pessoa que me conhecia completamente. Lara ficou parada, movendo-se apenas para tirar os fones de ouvido das orelhas. Ela colocou o livro de lado e sentou-se no chão, passou os braços em torno das pernas dobradas e apenas esperou.
Engolindo em seco, fiquei de joelhos na frente dela, e minha cabeça
pendeu para a frente, em derrota.
Lutei contra o aperto no meu peito. Por fim, levantei a cabeça. A apreensão estava clara nos olhos de Lara, como se ela soubesse que o que saísse da minha boca ia mudar tudo.
Mudar a gente. Mudar a nossas vidas.
Acabar com nosso mundo.
— Nós vamos embora.
Finalmente consegui desengasgar.
Observei seu rosto empalidecendo.
Olhando para o outro lado, consegui um fôlego curto e completei:
— Amanhã, Larinha. De volta para Itália. Papai está me tirando de
você. Ele nem está tentando ficar.
— Não, Joseph.
Ela sussurrou em resposta e então se curvou para a frente.
— Podemos fazer algo!
A respiração de Lara acelerou.
—Talvez você possa ficar lá em casa? Morar com a gente? Nós podemos dar um jeito. Podemos…
— Não, Larinha.
Interrompi.
— Você sabe que o meu pai não permitiria. Eles sabem há semanas; já me transferiram de escola. Só não me contaram porque sabiam como eu reagiria. Preciso ir, Larinha. Não tenho outra escolha. Preciso ir.
Observei algumas pétalas de flores rosas soltar-se com o vento. E flutuando como uma pena até o chão. Eu sabia que, a partir daquele
momento, a cada vez que visse uma pétala de flor caindo, eu lembraria de Lara.
Nós passava muito tempo ali naquele quintal. Era um dos
lugares que ela mais amava.
Fechei os olhos enquanto a imaginava ali, sozinha depois de
amanhã, ninguém para acompanhá-la em suas aventuras, ninguém para ouvir seu riso… Ninguém para lhe dar beijos de explodir o peito.
Sentindo uma dor cortante atingir meu peito, eu me virei para Lara,
e meu coração se partiu em dois. Ela ainda estava parada no mesmo lugar, mas seu lindo rosto estava inundado de lágrimas silenciosas, e suas mãos pequenas estavam fechadas em punhos que tremiam sobre os joelhos.
— Larinha.
Eu disse com voz áspera, finalmente libertando a minha dor.
Eu me aproximei dela e a aninhei em meus braços. Lara desabou
sobre mim, chorando contra meu peito. Fechei os olhos, sentindo cada pedaço de sua dor.
Aquela dor também era minha.
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Atualizado até capítulo 125
Comments
Ezanira Rodrigues
A dor da separação é inevitável.
2024-04-22
1
Gabrielly Barbosa
nunca chorei taaanto com um capítulo de um livro 😭 sentindo a dor deles
2023-12-23
3
Dinha
Estou sentindo cada sentimento da Lara, passei por algo parecido e sei como é doloroso.
2023-09-25
0