Capítulo 5 - A primeira peça do quebra-cabeças

Mesmo depois de Sophia ligar diversas vezes para a amiga, Richard chegou no escritório e tornou a tentar. No entanto, a falta de resposta da garota o jogou na direção do pedido de Elui; Anna Leniev se tornara a pessoa mais interessante do mundo assim que Richard começou a pesquisá-la, mas alguns minutos depois, já não havia mais nada. A garota era praticamente um fantasma, se não fosse pelas redes sociais mal atualizadas e o currículo entregue na imobiliária.

Subitamente, o celular de Richard vibra sobre a mesa:

***Catharina ***

— Aconteceu alguma coisa? — ela questiona de cara, o tom frio e a respiração entrecortada forte contra o alto-falante.

— Você tá bem? — ele retruca, o tom claramente estranhando a situação de Catharina.

— Sim, só vi suas ligações agora — ela responde rapidamente.

A mulher estava mais do que bem. Deitada de barriga no colchão com o celular entre o ouvido e o ombro, Catharina deixava Shui massagear suas pernas, excitando-a. A mulher pigarreou, dando uma olhada rápida em Shui, que mordiscava seu tornozelo e subia por sua panturrilha devagar, fazendo cócegas.

— Muito trabalho — ela completa, sorrindo para o jovem, que subia a mão por suas coxas.

— Elui quer conhecer a garota que o ajudou no acidente — Richard diz logo.

— Quem? — ela pergunta de volta, claramente esquecendo-se da existência de Anna e senta-se, empurrando Shui, que revira os olhos e apoia a cabeça na mão, esperando-a.

— Anna Leniev. — Ele a lembra.

— E eu com isso? — Catharina retruca, despreocupada com o acordo, certa de que sua posição nos braços de Elui é firme. Richard, pelo contrário, se sente ansioso.

Antes que ele responda, a mulher desliga e volta-se para Shui, deixando o homem pendurado no telefone num piscar de olhos. Richard ri consigo mesmo, irônico, e disca o número de Anna enquanto a raiva de Catharina se aquece no peito dele.

— Alô? — ela atende logo no primeiro toque.

— Anna Leniev? — ele pergunta, e os pelos da garota se arrepiam, lembrando-a da noite em que conheceu Shui.

— Sim.

— Aqui é da Imobiliária Tomanzini, podemos conversar hoje à tarde? — diz, intrigando Anna, que aguardava ansiosa por uma oportunidade de emprego. Ele observa o currículo de cima a baixo com descaso.

— Claro! — ela respondeu animada. — Que horas?

— Lá pelas três está bom? Seria aqui na imobiliária mesmo. Li que é perto para você. — disse, soltando a folha do currículo sobre a mesa.

— Está ótimo, até lá. — Anna concorda e Richard desliga sem dizer mais nada.

Com as mãos como apoio para a cabeça, Richard respira fundo e bufa.

“Agora já era”

Anna estava animada demais. “Melhor que um trabalho, só um marido velho e rico” pensou, rindo de nervoso quando a dívida surgiu em sua mente. Ela havia tomado banho e ensaiado algumas respostas para a entrevista no espelho, mas assim que colocou os pés na agência, já não lembrava mais de uma palavra. Que qualificação ela tinha para trabalhar ali?

Distraída, Anna não notou quando um homem alto de cabelos acinzentados e um terno bem cortado se aproximou com a mão estendida:

— Anna? — Richard perguntou, estendendo a mão para cumprimentá-la.

— Isso — ela responde rápido, agarrando a mão de Richard.

— Como você está? — ele pergunta a caminho da sala de reunião dos fundos.

— Bem, obrigada — sussurra, e Richard lhe dá uma olhada rápida. — Não

— Não se preocupe tanto, não é uma entrevista — avisa.

— Então do que se trata? — ela questiona, com o semblante confuso.

Richard para em frente a porta e a abre, dando espaço para que Anna entre, oferecendo-lhe um sorriso gentil. Na mente da garota, um deja vu a leva de volta à Shui. A garota engole em seco e dá o primeiro passo, forçando-se a entrar.

— É sobre Elui — Richard explica, acendendo a luz e indicando um lugar à mesa para Anna.

— Ele está bem? — pergunta, ansiosa. Elui surgia em sua mente de tempos em tempo.

— Primeiro, eu gostaria de agradecer imensamente pela sua ajuda no acidente dele. — falou rapidamente, sem direcionar o olhar à garota, que franzindo a testa, deu-se conta de que eles deviam ser parentes.

— Eu sinto muito pelo acidente — ela adiantou-se e encolheu-se na poltrona.

— Ótimo, parece que vai tudo bem. — Ele conclui, direcionando o olhar para o chão — Sobre Elui, os médicos estão incertos quanto aos danos causados em seu cérebro durante o acidente. Ele está cego, e sua condição pode ser tanto temporária quanto permanente. Só o tempo irá dizer — disse, claramente chateado, respirando fundo, aliviado por tirar o peso do segredo de seus ombros cansados.

— Ele sa... — ela começou, mas Richard imediatamente negou com a cabeça.

— Não quero dar essa dúvida para ele agora. Elui pode ser bem teimoso... — ele explicou, com um sorriso triste no canto da boca. — E nem você dará. — disse.

— Eu nem o conheço — ela soltou, direcionando o olhar para o par de sapatilhas surradas que usava.

— Mas irá? — Richard enfim disse, portando um sorriso indeciso.

— O quê? — ela perguntou, surpresa.

— Ele pediu para conhecer a pessoa que o salvou — explicou o homem, girando uma caneta com o logo da agência nos dedos. — Você me acompanharia até lá? — perguntou gentilmente.

Anna observou o homem durante alguns segundos, seus braços arrepiaram-se em um misto de medo e ansiedade:

— Tudo bem, é claro. — Soltou, a voz soando muito mais confiante do que Anna se sentia.

A garota podia sentir seu coração batendo nas pontas de seus dedos como se fossem um organismo vivo diferente dela. Cutucando-os com as mãos entrelaçadas nas costas, ela seguiu Richard para dentro de uma bela casa palha, cujas janelas e portas eram entalhadas em madeira escura. A garota se permitia deliciar-se entre os detalhes durante alguns segundos, mas ao entrar, seu encanto apenas cresceu. Mármore branco com entalhes dourados estendia-se do hall até uma aconchegante sala de sofá em L com uma elegante lareira de pedra vulcânica.

— Uau, esse lugar... — disse, o folego escapando-lhe entre os lábios.

— Incrível não é? — Richard disse, olhando com tremendo amor e orgulho para a mesma direção de Anna — Elui me deu ela de presente de casamento — finalizou ele com um sorriso orgulhoso.

— Vocês são irmãos? — ela questionou rapidamente, ruborizada, fazendo Richard cair na risada.

— Não! — soltou, limpando uma lágrima feliz que escorria — Elui é meu filho. — explicou, esticando a mão para indicar o caminho a Anna.

Subindo as escadas, Anna sentiu calafrios ao lembrar-se do eminente encontro. Caminhando pelo corredor claro que levava ao quarto de Elui, Anna manteve o olhar no chão de tapeçarias, respirando fundo e acalmando seu coração, que, inevitavelmente, batia mais rápido, ansioso. Anna parou ao lado de Richard, que engolia em seco, as mãos segurando firmemente nas maçanetas douradas. Empurrando-as enfim e liberando espaço para que Anna entrasse.

Elui estava sentado na cama, segurando um livro de braile sobre o colo, que logo foi colocado ao seu lado.

— Olá? — ele chamou, a expressão fechada e sobrancelha curiosa.

— É a Anna — Richard adiantou-se — a garota que lhe ajudou no acidente.

A boca de Elui abriu-se em resposta, como quem quer falar algo, mas se arrepende, gesto esse que Anna não conseguiu deixar escapar e franziu o cenho em resposta.

Com passos pesados para propositalmente alertá-lo de sua aproximação, Anna foi até a lateral da cama de Elui e olhando ao redor, puxou uma poltrona creme para perto, sentando-se em seguida.

-Oi-disse, olhando-o.

O silêncio perdurara então, até que, com um pigarro de Elui, Richard se tocou:

— Vou deixar vocês a sós! — retirando-se com um sorriso e fechando as portas atrás de si imediatamente.

— Então... — Anna começou — Você queria me ve...falar comigo? — corrigiu-se, pigarreando numa tentativa falha de disfarçar.

— Sim — ele disse logo, rindo de Anna, que sorriu em silêncio, admirando-o contra a luz sol, que começava a ser pôr. — Pode me falar do acidente? — questionou enfim.

A garota admirou-o por alguns segundos, lembrando-se de como ele estava ao tirá-lo de dentro do carro e depois imóvel no hospital. Com um suspiro, ela começou a contar os detalhes de quando pisou para fora do apartamento recém alugado. À medida em que falava das faíscas, da madeira prendendo-o pelo cinto e do vidro, Anna notou que Elui ficava mais desconfortável.

— Está tudo bem? — ela perguntou antes de continuar, os dedos finos de unhas longas cutucando o curativo do machucado ao tirar Elui do carro naquela noite.

Com cuidado, ele virou para o lado de Anna e esticou a mão, pedindo:

— Pode se aproximar por favor?

Anna não pensou duas vezes e puxou a poltrona mais para perto, próxima o suficiente para que as mãos de Elui acariciassem suas bochechas, agora rosadas.

Gentilmente, ele passou os dedos pelo rosto de Anna, sentindo o toque macio de sua pele, a textura dos cabelos, que escorriam pelas laterais de seu rosto, como cachoeiras.

— São castanhos, não? — ele disse baixo, aproximando o rosto dela como se quisesse ouvir sua respiração e sentir seu calor.

— Sim — ela cochichou, respirando trêmula enquanto a boca de Elui pairava a centímetros da sua.

— Você foi a última coisa que eu vi. — Elui soltou, segurando uma mecha dos cabelos de Anna entre os dedos.

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Comments

Celia aparecida Dos Santos da Silva

Celia aparecida Dos Santos da Silva

sua história é bem interessante

2023-01-26

2

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