Anna aguardava qualquer lugar em que ela havia entregado currículos na última semana ligarem e mantinha-se grudada ao telefone; quando três batidas fortes balançaram sua porta e ecoaram pelas paredes.
Olhando novamente o aparelho em sua mão, viu que já passavam das onze da noite; além disso, o pijama de coelhinhos rosas deixava claro que ela não esperava visitas.
Julgando ser algum vendedor de doces que tinha permissão de entrar no prédio ou algo do gênero, ela abriu a porta, já falando:
— Não estou interessada, mas obrigada, viu? — e fechando a porta em seguida, se não fosse pelo pé que a parou no meio do caminho.
Anna levantou o olhar do pé para a cara do homem. Sua pele era extremamente pálida, os olhos verdes e o cabelo escuro comprido penteado para trás alongava-se além dos ombros.
— Sim? - ela pergunta, a sobrancelha levantada estranhando toda aquela situação.
— Você é Anna Leniev? — ele perguntou, a expressão impassível olhando-a de cima a baixo, o tom de voz gentil destoando-se completamente da face séria e fria.
— Do que se trata? — ela retrucou, afinal, ela morava sozinha, não havia ninguém para quem gritar ajuda, enrolar o homem era a melhor opção que tinha.
— Seu pai — ele disse, já impaciente, e todos os pensamentos da garota foram para a ausente e violenta figura paterna, que a abandonara anos atrás.
Anna sentia os pelos do corpo arrepiados, e não parava de esfregar as mãos uma na outra durante todo o trajeto. Chaves, que Anna descobriu ser o apelido do homem que tocou sua campainha, abrira a porta do carro para ela com um sorriso gentil e tranquilo. Desconfiada, Anna desceu, ainda trajando o pijama de coelhos, embora com o cabelo menos desgrenhado e o sobretudo preto de Chaves, uma cortesia bem-vinda.
Uma fila de homens aguardava, não tão pacientemente, a entrada na boate Pandalli, onde Anna e Chaves entraram, liberados por um alto e forte segurança. O lugar estava cheio, mas para onde olhasse, Anna apenas via mulheres.
— Porque só tem mulher aqui? — ela perguntou a Chaves, que andava na sua frente, liberando o caminho, mas ele ou a ignorou, ou não havia ouvido o que a garota dissera.
Luzes rosas e violetas atravessavam o salão rapidamente, lasers coloridos formavam um desenho no teto de um brasão com uma adaga atravessando a lua, que deixara Anna curiosa, mas não o suficiente para esquecer de Chaves, que subia uma escada coberta de veludo rosa e um corrimão de vidro que permitia uma visão da pista de dança. Já no segundo lance de escadas, a música parecia distante e abafada, sumindo a cada degrau; e quando Chaves abriu uma porta preta quase invisível, Anna não se recusou a entrar. Em sua frente, um jovem estava sentado numa poltrona de couro, um pequeno cobertor de veludo preto sobre os ombros, escondendo uma parte do blazer azul pastel. Assim que Anna caminhou em sua direção, seus olhos azuis brilharam sobre ela como duas joias exuberantes, e sem tirar os olhos dela, ele jogou os cabelos prateados que caíam em seu rosto para trás.
— A filha — ele disse, pegando uma pequena bola antiestresse vermelha sobre a mesa e apertando-a em movimentos repetidos — Você sabe porque está aqui? — ele questionou-a, a voz arranhada e rouca de quem fumava há anos, o olhar penetrante avaliando-a de cima a baixo.
— Chaves disse que tem a ver com meu pai, mas eu sinceramente não tenho interesse algum — ela retrucou.
Ao ouvir o apelido de seu parceiro chamado com tanta naturalidade, o jovem não conseguiu segurar uma risada exacerbada.
— Chaves está certo — falou ele, limpando uma lágrima pela risada que escorrera livremente. — Meu nome é Shui — ele disse, levantando-se e se aproximando da garota, que encolhera os ombros sob a altura do homem. — E você vai querer o que seu pai te deixou, ou... — interrompeu-se, pegando um pequeno controle no bolso das calças, que ele apertou sem hesitação. — Bom... Você pode ficar aqui comigo e minhas garotas...
Imediatamente, a cor das paredes pareceu escorrer como tinta diante de seus olhos, formando um degradê com o vidro temperado. Jovens de todos os tipos preenchiam as paredes, presas em cubículos, nuas, portando apenas uma fina coleira de couro sintético branco.
— O-O que você quer? — ela subitamente perguntou, afastando-se dois passos de Shui, as pernas lutando para mantê-la firme.
— Seu pai me deve, e eu só quero meu dinheiro — ele simplesmente soltou, rodopiando em seus calcanhares, lançando o pequeno cobertor que cobria seus ombros pelos ares. — Não é tão difícil assim, não é Anna? — ele buscou nos bolsos internos do blazer um mini caderno de capa preta e abriu-o, procurando o pai de Anna. — Aqui, são 937 mil. — falou, olhando para ela com o sorriso gentil de um vendedor de sorvetes, ao que os olhos da garota se arregalaram. - Ou, como eu disse, você pode ficar aqui comigo, e me deixar cuidar de você. - Ele sussurrou, aproximando-se e colocando a mão na base do cabelo de Anna. A garota se sentia traída de diversas formas, mas reuniu coragem e em um sussurro, selou seu destino:
— Eu vou pagar a dívida. - Engoliu em seco, afastando-se dele..
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Atualizado até capítulo 8
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