04

“Há momentos especiais que jamais esqueceremos...”

ENZO

Nesse momento estava na casa de Renato, um dos meus grandes amigos. Ele também é médico e trabalha na mesma clínica que eu.

— Como foi a noite com Evelyn? — Ele bebeu um gole de água.

— Padrão! — disse sem demonstrar nenhum sentimento.

— Padrão?! — Renato começou a rir enquanto se virava para procurar alguma coisa.

— Sim, o de sempre. A gente se diverte.

— Você tem muita sorte de encontrar uma mulher que gosta de sexo sem compromisso — ele disse com desdém.

— Sorte?! — perguntei espantado. — Nessa cidade é o que mais encontro, e sabe bem disso — complementei.

— Não é bem assim. Tentei por várias vezes essa vida "diferente", mas não obtive sucesso.

— Você procurou nos lugares errados, tenho certeza.

— Não sou um símbolo sexual, Enzo. Tenho minhas limitações físicas.

— Limitações físicas... — Deixei no ar a frase olhando para cima.

— Não é isso que está pensando.

Caímos na gargalhada. Em alguns momentos, Renato solta certas pérolas com duplo sentido. Confesso que ele me confunde na maioria das vezes.

— Você não sabe o que pensei — retruquei.

— Estou dizendo de não me sentir bem com meu corpo. Confesso que estou precisando praticar algum exercício, fechar a boca, ter uma vida saudável...

— Que ironia! — Ri depois de mencionar a frase. — Você é médico, sabe muito bem o que faz bem e mal, e mesmo assim ainda não tomou uma atitude? Estou decepcionado com você, Renato!

Não iria perder a oportunidade de tirar sarro com a cara dele.

Renato é um bom amigo, mas quando faço algo errado... sai de baixo. O sermão é demorado e cheio de explicações. Perco a paciência na maioria do tempo, confesso.

— Pois é. Não consigo levar a vida fitness que você leva. Acho que é por isso que faz tanto sucesso entre as mulheres.

— Não só por isso — complementei. — Tenho outras qualidades e vários atributos que fazem elas ficarem doidas. Mas... isso não vem ao caso.

— Não mesmo!

Paramos algum tempo.

— Me diga o assunto que queria falar pessoalmente comigo.

Havia conversado com ele a respeito de Gabriela. Não havia dado nenhuma informação relevante, só disse que era a respeito de uma paciente.

— É um assunto sério, Renato. — Mudei um pouco meu semblante. Não podia fazer piadinhas neste momento.

— Pode dizer.

— Te encaminhei uma paciente chamada Gabriela Paixão. Preciso que faça o possível para ajudá-la, e que me diga como está o andamento de todo o processo dela. Quero isso detalhadamente.

Renato começou a rir.

— Não sabia que estava trabalhando para você, Enzo. — Renato gargalhou e dei um sorriso breve.

— Quem sabe um dia.

— Qual o motivo maior da preocupação, posso saber?

— Nada demais.

— É alguém que você quer levar para um cantinho a sós? — Ele me olhou com uma cara de deboche.

— Gabriela é uma mulher que fez parte do meu passado — disse por fim. — Antes de ingressar na faculdade éramos muito ligados, mas...

Parei. Ter em mente que ela não se lembra de mim me deixa triste e extremamente irritado.

— O que houve?

— Ela irá te explicar melhor, mas ela perdeu uma parte da memória, e não se lembra mais de mim. Quer dizer... ela não se lembra de um pedaço da sua vida. Renato ficou surpreso.

— Uau! Não esperava esse tipo de história. Principalmente por você estar interligado a ela dessa maneira.

— Imaginei.

— O que houve para essa perda de memória?

Novamente, a raiva me consumiu. Lembrar do que o ex-marido dela fez me deixa possesso, e não consigo disfarçar.

— O ex-marido dela a agrediu com um taco de beisebol. — disse rangendo os dentes.

— Meu Deus! — Renato me olhou assustado. — Que tipo de pessoa faria uma coisa dessas? — ele indagou.

— O tipo de pessoa que eu espancaria se visse na minha frente.

Por mais que Gabriela signifique algo para mim, o que nunca descerá pela minha garganta é agressão de um homem a uma mulher. Tenho meus princípios, os quais sigo à risca, e isso nunca poderia aceitar. Não há perdão para uma coisa dessas.

— Não sou a favor de agressão, mas esse cara merece alguma punição.

— Morrer! — disse nervoso.

— Não é bem assim, Enzo. Todos cometemos erros. É fácil julgar as pessoas, mas é muito difícil se colocar na situação delas. Não estou defendendo ele, longe disso. Só estou dizendo que alguns deslizes são normais.

— Não me diga que acha isso um deslize. Pelo amor de Deus, Renato! — disse irritado.

— Não. — Ele foi firme. — Estou generalizando, somente. Agressão com um taco de beisebol é algo que não consigo aceitar, ainda mais se for relacionado a uma mulher indefesa. Não sei se ela estava ameaçando ele com outra coisa também, mas mesmo assim é algo chocante.

— Não perguntei a ela, mas acho difícil.

— Entendo. — Ele parou um pouco. — Tudo bem. Irei te avisar a respeito de tudo, não se preocupe. Ela parece ter sido uma pessoa muito importante no passado para você.

— Não!

— Não?! — ele perguntou confuso.

— Ela ainda é uma pessoa importante para mim — disse direto. — E será assim no presente e no futuro, tenho certeza.

— Tem certeza de que ela foi somente sua amiga no passado?

— Bem... vamos parar de perguntas, não é? — Me levantei da cadeira. —

Eu só preciso que me ajude, Renato. Um dia te contarei tudo que aconteceu em meu passado, te prometo.

— Certo. — Renato riu, sabendo que não tiraria mais nenhuma informação de mim.

— Irei embora. Preciso conversar com meu pai.

— Tudo bem. Até mais, Enzo. Pode ter certeza de que irei ajudar Gabriela.

— Muito obrigado.

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Comments

Amanda

Amanda

Muita covardia 😔

2023-08-06

1

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