“Há momentos especiais que jamais esqueceremos...”
ENZO
Nesse momento estava na casa de Renato, um dos meus grandes amigos. Ele também é médico e trabalha na mesma clínica que eu.
— Como foi a noite com Evelyn? — Ele bebeu um gole de água.
— Padrão! — disse sem demonstrar nenhum sentimento.
— Padrão?! — Renato começou a rir enquanto se virava para procurar alguma coisa.
— Sim, o de sempre. A gente se diverte.
— Você tem muita sorte de encontrar uma mulher que gosta de sexo sem compromisso — ele disse com desdém.
— Sorte?! — perguntei espantado. — Nessa cidade é o que mais encontro, e sabe bem disso — complementei.
— Não é bem assim. Tentei por várias vezes essa vida "diferente", mas não obtive sucesso.
— Você procurou nos lugares errados, tenho certeza.
— Não sou um símbolo sexual, Enzo. Tenho minhas limitações físicas.
— Limitações físicas... — Deixei no ar a frase olhando para cima.
— Não é isso que está pensando.
Caímos na gargalhada. Em alguns momentos, Renato solta certas pérolas com duplo sentido. Confesso que ele me confunde na maioria das vezes.
— Você não sabe o que pensei — retruquei.
— Estou dizendo de não me sentir bem com meu corpo. Confesso que estou precisando praticar algum exercício, fechar a boca, ter uma vida saudável...
— Que ironia! — Ri depois de mencionar a frase. — Você é médico, sabe muito bem o que faz bem e mal, e mesmo assim ainda não tomou uma atitude? Estou decepcionado com você, Renato!
Não iria perder a oportunidade de tirar sarro com a cara dele.
Renato é um bom amigo, mas quando faço algo errado... sai de baixo. O sermão é demorado e cheio de explicações. Perco a paciência na maioria do tempo, confesso.
— Pois é. Não consigo levar a vida fitness que você leva. Acho que é por isso que faz tanto sucesso entre as mulheres.
— Não só por isso — complementei. — Tenho outras qualidades e vários atributos que fazem elas ficarem doidas. Mas... isso não vem ao caso.
— Não mesmo!
Paramos algum tempo.
— Me diga o assunto que queria falar pessoalmente comigo.
Havia conversado com ele a respeito de Gabriela. Não havia dado nenhuma informação relevante, só disse que era a respeito de uma paciente.
— É um assunto sério, Renato. — Mudei um pouco meu semblante. Não podia fazer piadinhas neste momento.
— Pode dizer.
— Te encaminhei uma paciente chamada Gabriela Paixão. Preciso que faça o possível para ajudá-la, e que me diga como está o andamento de todo o processo dela. Quero isso detalhadamente.
Renato começou a rir.
— Não sabia que estava trabalhando para você, Enzo. — Renato gargalhou e dei um sorriso breve.
— Quem sabe um dia.
— Qual o motivo maior da preocupação, posso saber?
— Nada demais.
— É alguém que você quer levar para um cantinho a sós? — Ele me olhou com uma cara de deboche.
— Gabriela é uma mulher que fez parte do meu passado — disse por fim. — Antes de ingressar na faculdade éramos muito ligados, mas...
Parei. Ter em mente que ela não se lembra de mim me deixa triste e extremamente irritado.
— O que houve?
— Ela irá te explicar melhor, mas ela perdeu uma parte da memória, e não se lembra mais de mim. Quer dizer... ela não se lembra de um pedaço da sua vida. Renato ficou surpreso.
— Uau! Não esperava esse tipo de história. Principalmente por você estar interligado a ela dessa maneira.
— Imaginei.
— O que houve para essa perda de memória?
Novamente, a raiva me consumiu. Lembrar do que o ex-marido dela fez me deixa possesso, e não consigo disfarçar.
— O ex-marido dela a agrediu com um taco de beisebol. — disse rangendo os dentes.
— Meu Deus! — Renato me olhou assustado. — Que tipo de pessoa faria uma coisa dessas? — ele indagou.
— O tipo de pessoa que eu espancaria se visse na minha frente.
Por mais que Gabriela signifique algo para mim, o que nunca descerá pela minha garganta é agressão de um homem a uma mulher. Tenho meus princípios, os quais sigo à risca, e isso nunca poderia aceitar. Não há perdão para uma coisa dessas.
— Não sou a favor de agressão, mas esse cara merece alguma punição.
— Morrer! — disse nervoso.
— Não é bem assim, Enzo. Todos cometemos erros. É fácil julgar as pessoas, mas é muito difícil se colocar na situação delas. Não estou defendendo ele, longe disso. Só estou dizendo que alguns deslizes são normais.
— Não me diga que acha isso um deslize. Pelo amor de Deus, Renato! — disse irritado.
— Não. — Ele foi firme. — Estou generalizando, somente. Agressão com um taco de beisebol é algo que não consigo aceitar, ainda mais se for relacionado a uma mulher indefesa. Não sei se ela estava ameaçando ele com outra coisa também, mas mesmo assim é algo chocante.
— Não perguntei a ela, mas acho difícil.
— Entendo. — Ele parou um pouco. — Tudo bem. Irei te avisar a respeito de tudo, não se preocupe. Ela parece ter sido uma pessoa muito importante no passado para você.
— Não!
— Não?! — ele perguntou confuso.
— Ela ainda é uma pessoa importante para mim — disse direto. — E será assim no presente e no futuro, tenho certeza.
— Tem certeza de que ela foi somente sua amiga no passado?
— Bem... vamos parar de perguntas, não é? — Me levantei da cadeira. —
Eu só preciso que me ajude, Renato. Um dia te contarei tudo que aconteceu em meu passado, te prometo.
— Certo. — Renato riu, sabendo que não tiraria mais nenhuma informação de mim.
— Irei embora. Preciso conversar com meu pai.
— Tudo bem. Até mais, Enzo. Pode ter certeza de que irei ajudar Gabriela.
— Muito obrigado.
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Comments
Amanda
Muita covardia 😔
2023-08-06
1