Por Marina
Deito-me para dormir e fico pensando que fracassei na tentativa de contratar outra pessoa para a vaga de motorista, todos que entrevistei foram péssimos, alguns não conheciam direito o transito da cidade, outros pareciam muito desanimados e ainda havia aqueles que me olhavam de uma forma invasiva e vulgar, algo que me incomodava muito em um homem e que descartava totalmente a possibilidade de confiar um cargo tão próximo a mim e que envolvia a minha segurança. No entanto, embora eu não quisesse Stevan por perto para evitar distrações e para evitar o sentir as mil e uma sensações que ele me causava só com o olhar e também me despertava o maior dos medos, a paixão, que para mim era algo perigoso. Mas não tinha como negar que ele havia se saído perfeito, pois me inspirava muita segurança.
Acordo no sábado de manhã e decido fazer uma caminhada, coloco uma calça legging preta, um top e uma regata cavada cinza e meus tênis de caminhada, pego meus fones de ouvido e saio caminhando sem rumo na esperança de clarear meus pensamentos que ultimamente tem se voltado para a mesma coisa, ou melhor, pessoa. Pois depois da entrevista fiquei com uma vontade imensa de saber mais sobre Stevan, por que havia começado a trabalhar tão jovem, por que havia trancado a faculdade, por que havia saído de seu último emprego e por que aceitará o emprego de motorista, se claramente era muito inteligente e poderia estar em um emprego melhor.
Caminho durante meia hora, sem prestar muita atenção nas coisas a minha volta imersa nesses pensamentos e quando percebo estou na rua da empresa. De repente algo me chama atenção, meu olhar é instantaneamente atraído para alguém do outro lado da rua, quando consigo identificar de quem se trata percebo que Stevan está parado na calçada, com uma calça de moletom, tênis de corrida e uma regada que deixam seus braços fortes muito expostos. Mas nesse momento percebo que a figura ao seu lado se trata de uma mulher morena, alta e aparentemente muito bonita, ela conversa com ele sempre tocando seu braço ou ombro e de alguma forma isso me incomoda. Então imediatamente saio dali e volto para casa.
Passo o final de semana trabalhando, ligo para meus pais para conversar um pouco já que eles moram em uma área rural do Mato Grosso do Sul e por isso não nos vemos com tanta frequência. Então como ando estressada ultimamente decido sair de casa e ligo para Amanda uma amiga que conheci ainda na faculdade.
- Oi
- Oi, Amanda! Tudo bem?
- Sim amiga e você como está? Faz tempo que não conversamos...
- Eu sei, ando um pouco ocupada ultimamente, mas estava pensando se poderíamos colocar a conversa em dia, que tal nós sairmos para jantar hoje?
- Seria ótimo, estou precisando conversar. E assim aproveito para matar a saudade que estava de você...
- Perfeito, o que acha de jantarmos naquele pequeno restaurante aconchegante que costumamos ir?
- Só pela escolha do local, sei que tem algo sentimental para me falar...hahha
- Só gosto do local - falo sorrindo. – Você sabe.
- Sei – ela ri ao telefone. - As 19:00 pode ser?
- Sim, passo te pegar.
Me arrumo, colocando um vestido vermelho justo até os joelhos e com uma fenda na coxa, deixo os cabelos soltos e faço uma maquiagem discreta. Assim que saio de casa vejo meu celular tocar, mas ignoro, pois estou dirigido, logo chego a casa da Amanda.
- Oi, Marina.
- Oi.
- Uau, onde vai pousar esse avião? – ela diz sorrindo.
- Vamos pousar em um pequeno e tranquilo restaurante – digo sorrindo – Já que esse avião aqui quer deixar de lado as últimas turbulências.
Ela me olha por um momento e fala: - Já vi que aí vem história...
- Essa é diferente, não são problemas de trabalho ou família – digo pensativa – Mas depois falamos disso.
- Está bom. Mas quero saber direitinho disso quando chegarmos no restaurante, até porque é no mínimo estranho você andar estressada e não ser por trabalho.
- Quando chegarmos te conto.
Dirijo por mais alguns minutos falando de coisas aleatórias do dia a dia. Estacionamos e entramos no restaurante e novamente meu celular começa a tocar. Então vejo que é Bernardo, posso dizer que é um amigo, mas sei que a intenção verdadeira dele é ser algo mais, então deixo cair na caixa postal.
Sentamos em uma mesa em um canto mais reservado do restaurante, era um local pequeno, com revestimentos em madeira e arranjos de flores silvestres, o que tornava o lugar muito aconchegante além de servir uma comida deliciosa que lembra as refeições na fazenda em que meus pais moram, e por isso eu praticamente atravessava a cidade para vir aquele lugar sempre que precisava acalmar meus pensamentos. E é claro que isso se tornava ainda mais fácil com a companhia de Amada, alguém que eu tinha como irmã.
Fazemos nosso pedido e ela imediatamente me olha com aquele cara de quem está esperando que eu desembuche logo o que quero falar.
- Eu não sei bem por onde começar amiga, ando um pouco estressada e até distraída nesses últimos dias e não posso dizer que isso seja problemas na empresa como de costume ou mesmo com minha família, por que quanto a isso não tem nada fora do comum acontecendo, mas tem algo estranho comigo...
- Realmente toda essa descrição é estranha para você, mas para mim não. Eu sei que você não contou tudo.
- Como assim?
- Eu sei que tem mais, ou melhor, deve ter alguém...
- Acho que tem, mas você sabe que eu conheço e lido com pessoas todos os dias e sabe como isso não me afeta … mas – fico pensativa – Dessa vez me sinto abalada pela simples presença de um homem que conheci. Na verdade, que nem conheço direito e isso me incomoda ainda mais, como eu me tornei tão irracional a ponto de ficar me distraindo para pensar em alguém que nem conheço.
- Vejo sintomas de paixão aí.
- Não pode ser, talvez seja desejo simplesmente.
- Humm, pelo visto é muito gato então, porque se tem alguém que eu acreditei ser imune a sentimentos como paixão, amor ou mesmo desejo, esse alguém é você. Te conheço desde a faculdade e não houve um homem que despertasse isso em você.
- Eu sei, me tornei tão concentrada no que queria e tão seletiva que ninguém conseguiu prender minha atenção por mais de alguns minutos. E é isso que me preocupa, porque nem mesmo sei se posso me permitir sentir isso, não sei como ele é, se é solteiro.... não sei nada e não queria ficar me sentindo assim exposta e frágil, você sabe o quanto isso me incomoda e por isso tentei afastar-me. Mas para piorar acabei contratando ele para ser meu motorista.
- Serio? – ela ri – Essa história está ficando cada vez melhor. Quero saber tudo.
Nos jantamos e conto a ela tudo, desde o primeiro momento que o vi. Ela me dá alguns conselhos dizendo que eu deveria dar uma chance de ao menos conhece-lo melhor e não me reprimir tanto, afinal já não sou mais uma garotinha que facilmente pode ter seu coração partido. Pondero seu conselho enquanto conversamos, ela começa me contar sobre seu novo emprego e rapidamente já fico mais tranquila. Até que sinto uma eletricidade pelo meu corpo, me viro em direção a porta e vejo Stevan entrando no restaurante com a mesma mulher morena que vi com ele na calçada em frente a empresa ontem. De súbito sinto uma raiva e uma tristeza ao mesmo tempo, porque ao que parece ele já tem alguém, uma namorada ou até mesmo esposa, embora eu não tenha visto aliança em seu dedo.
Percebo que ele está me olhando e desvio o olhar, que canalha, por que não cuida da acompanhante dele. Terminamos o jantar e vamos embora e decido que não posso seguir o conselho de Amada, afinal parece que ele não é solteiro, então devo trata-lo como o que ele é, mais um empregado e mantê-lo o mais distante possível.
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Atualizado até capítulo 22
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