Capítulo 8

Esta mulher está a ficar nervosa. Chama-se Marta e é uma infeliz, pelo que parece. Este idiota que diz ser meu pai chama-se Gonzalo e ambos estão a empalidecer. Talvez pensassem que o Otelo não estava em casa.

< Otelo, não é o que estás a pensar! A Lenka foi desrespeitosa comigo, ela está a criar problemas com a Lilian. A irmã dela adora-a, mas ela proibiu-a de cuidar dela. A minha filha está muito triste porque se sente culpada por não ajudar a irmã na sua queda. Ela quer cuidar dela, mas a Lenka afasta-a, dizendo que tu não queres estranhos. Mas a Lilian é tua cunhada! _ Fala como se a vilã da história fosse eu.

< Não voltes a bater na minha esposa! E sou eu que não quero ninguém de fora em minha casa. Já chega de aturar a tua filha Lenka e os seus disparates com dinheiro. _ É claro que ele está a tentar defender-me, mas não sei se com essas palavras quero que me continue a defender. Cala-te que ficas mais bonito.

< Otelo, meu querido genro, a minha esposa apenas se deixou levar pela raiva perante a falta de respeito da Lenka. Peço desculpa, mas a Lilian não tem culpa... _ Ouço-o dizer isto e não consigo acreditar no descaramento! Querem meter aquela sonsa na cama do Otelo a todo o custo.

< Gonzalo, não me interessa o que aconteça à tua outra filha. Ela não vem e ponto final. Acho que esta visita já se prolongou demasiado. Podem retirar-se. _ Neste momento, este homem é o meu herói favorito, gosto mais dele do que do Deadpool, a sério.

Ambos se assustaram e a minha mãe olha-me ameaçadoramente, disfarçando, enquanto se retira. E eu só quero rir às gargalhadas.

Saem os dois como alma que o diabo leva enquanto eu olho para o Otelo, que me observa incomodado. (Agora o que foi que eu fiz?)

< Lenka, és burra, por acaso? Pfff! Que perguntas as que eu faço? Claro que sim! Como te deixas intimidar tão facilmente? Devias ser mais direta. Esta é a tua casa, deves saber que os podes mandar embora quando quiseres. É só chamar os guardas para os expulsarem. Chega de ser tão burra! _ Diz-me ele e depois vai para o seu escritório e eu fico com vontade de lhe dar estalos até me doerem as mãos.

O que é que se passa com este pirralho idiota? Não vou reclamar, tenho de ser paciente. Quando lerem o meu testamento, até a minha dependência económica deste miúdo vai desaparecer. Só tenho de o ajudar a destruir o Denis e vou-me embora daqui para deixar tudo para trás. Preciso de ser livre e fazer a minha própria vida longe de todas estas pessoas más e sem escrúpulos.

Nestes últimos dias tenho saído para passear com a Clara no parque e tenho-me divertido muito. Já não tinha férias há muito tempo e pode-se dizer que isto é algo parecido. Quando chego à mansão, não vejo ninguém e vou para o meu quarto. Já não tenho a minha tala no tornozelo, já ando melhor.

Entro e procuro uma camisa de dormir para vestir depois do banho. Tiro a roupa e vou só de cuecas para a casa de banho, com as minhas cuecas azuis com bolinhas brancas que são as minhas favoritas para dormir. Mas quando saio, quase tenho um ataque cardíaco.

< Otelo, mas que raio...? O que é que estás aqui a fazer? _ Grito enquanto tento cobrir-me com a camisa de dormir, enquanto as minhas cuecas caem descaradamente no chão. Devo estar vermelha como um tomate, sempre fui bastante tímida e um pouco insegura com o meu corpo, foi assim que me criaram, apesar de agora ter um corpão.

< É a minha casa, além disso não sei porque te incomoda. Tens fotos com menos roupa no teu Facebook. _ Diz-me ele sem qualquer problema, está ali como um cubo de gelo que nem o aquecimento global derrete.

< Não é a mesma coisa! Além disso, vou apagar essas fotos, não fui eu que as pus lá. Agora vira-te que me vou vestir. _ Digo, arrogante.

< Despacha-te, que tenho de falar contigo. _ Diz-me ele, irritado, enquanto sai do meu quarto. Ele é um idiota do caraças e deve ser impotente! Este corpo é espetacular e ele nem se mexeu, o seu olhar frio e sem emoções é realmente perturbador.

Entro na casa de banho e tomo um duche, a verdade é que cheirava a "maldita sejas tu!". Uma vez pronta, vou ao seu escritório para ver o que é que "Sua Majestade" quer antes que me lance outro daqueles olhares assassinos.

< Otelo, o que é que me querias dizer? _ Digo suavemente, há algo neste miúdo que me deixa nervosa.

< Senta-te. Acabaram de me avisar que encontraram o corpo da minha cunhada. A mulher do Denis está oficialmente morta, tinhas razão. Encontraram-na numas falésias a caminho da sua vivenda. Agora pergunto-me: como é que sabias? _ Ele olha para mim desconfiado, o que é pouco dizer. Sinto-me como num interrogatório policial.

< Apenas me ocorreu, foi só uma palpite, nada de especial. Não pensei que fosse acontecer mesmo assim. _ Digo, tentando não parecer nervosa.

< Um palpite? Ah, agora és vidente? Achas que és o Oráculo de Delfos? Ah, desculpa, não podes ser a última opção, visto que eram donzelas e virgens, e tu não és nenhuma das duas coisas.

< Ouve bem, Lenka. Não faças nem digas nenhuma asneira, não me quero ver envolvido nesse assunto. Agora tens de te portar bem, amanhã é o velório e temos de ir, quero que te portes bem, nada de birras ou de fazer coisas estúpidas, percebeste? _ Diz-me ele, olhando para mim como se eu fosse o ser mais estúpido do planeta. "COMO EU ODEIO-O!"

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