Capítulo 7

Hoje fui ao médico e tiraram a ligadura das minhas costelas, ele diz que estão muito bem, só devo evitar esforços desnecessários e vou ser obediente.

Chego em casa e vejo Otelo na sala de estar com o seu computador, ele olha para mim como se eu fosse um chiclete no seu sapato, ele realmente me odeia.

< Bom dia, Otelo, já me sinto melhor, a faculdade começa em algumas semanas, queria saber se posso me inscrever - digo respeitosamente, até encontrarem o meu corpo e lerem o meu testamento, dependo deste homem em todos os sentidos.

< Não é preciso, eu já te inscrevi, então você só terá que ir, vou te dar um carro com vales de gasolina, você tem crédito na cantina para comprar a comida que quiser, mas não terá dinheiro para mais nada - ele me diz sem me olhar enquanto escreve em seu laptop, ele é um maldito idiota, mas é o dinheiro dele, não posso reclamar e ainda mais com o jeito que essa garota boba tem se comportado.

< Excelente, obrigada, você vai ver que eu serei a melhor aluna - digo sorrindo e ele me olha de soslaio e apenas resmunga até que vejo uma revista que fala sobre o meu desaparecimento, parece que Otelo está acompanhando isso e aproveito para plantar a dúvida.

< Esta é a esposa do seu primo?, ela é bonita, não acredito que ela tenha fugido com um amante, ela parece decente, eu a conheci quando era mais jovem, eles deviam procurar nos penhascos perto da sua vila, aquele lugar é traiçoeiro, quem sabe se ela caiu em um deles - digo distraidamente enquanto ajusto a minha imobilizadora do tornozelo e sinto o seu olhar penetrante em mim (merda, odeio quando ele faz isso), Denis, nem em sonhos, teria o temperamento de Otelo, este garoto tem um estado emocional digno de um imperador cruel e sanguinário que às vezes me assusta.

< Eu também acho que ela não fugiu com um amante, ela é uma boa mulher, eu não a conhecia muito bem, mas eu sempre a admirei, ela tem a sua própria empresa, é uma mulher determinada e trabalhadora, do tipo que quase não existe no nosso círculo, o meu primo teve sorte em ter uma esposa tão notável - ele diz olhando pela janela, me deixando surpresa, parece que Otelo me admirava como mulher, isso é interessante.

< Deviam mesmo procurar naquele penhasco, aquele lugar é perigoso, eu nunca gostei dele, tenho sempre a impressão de que vou cair lá e ninguém nunca me vai encontrar - digo enquanto vou mancando para o meu quarto, mas menos patética.

Só espero deixar uma grande pulga atrás da orelha com o meu comentário, preciso de ser encontrada rapidamente.

Nesses dias tenho falado com a Clara, ela me contou algumas coisas que eu digo que não me lembro por causa da queda, mas ela não é muito esperta e acredita em tudo o que eu digo, o que eu acho muito fofo.

Agora que sei mais sobre a minha nova vida, já sei como lidar com certas coisas, como a visita dos meus pais, ou dos pais da Lenka, eu sei que eles são uns malditos manipuladores que venderam a sua linda filha por dinheiro e prestígio, esta garota é uma pusilânime graças a eles também, eles a criaram para ser uma boneca e não uma mulher de verdade.

Vejo esses desalmados entrando pela porta, enquanto me repreendem, antes de mais nada.

< Lenka, garota estúpida, como assim você não deixa a sua irmã vir à sua casa?, se você não consegue colocar o Otelo entre as suas pernas para conseguir mais benefícios, devia deixar a sua irmã ser amante dele e que ela faça o que tem que ser feito - eles me dizem furiosos enquanto eu quero morrer de vergonha, que tipo de gente má é esta?

< Olá, queridos pais, estou bem, só quase morri graças à minha amada irmã que me empurrou pelas escadas, mas de resto estou sã e salva - digo sarcasticamente enquanto eles franzem as sobrancelhas, estão perdidos, eu sei, tenho certeza de que esta garota insegura e manipulável nunca os enfrentou.

< Lenka, não fales nesse tom com a tua mãe, e a Lilian seria incapaz de fazer uma coisa dessas, agora vais convencer o Otelo de que a Lilian precisa de cuidar de ti, percebeste? - diz o meu suposto pai, tirando a máscara, este homem está me falando de forma ameaçadora e eu não acredito no desgraçado que ele é.

< Não posso fazer isso, o Otelo não quer estranhos aqui, e eu também não a quero por perto, um dia ela mata-me, por isso é melhor que ela arranje outro rico para ser amante - digo irritada, isto já é demais.

< Tu…, vais fazer o que eu digo ou vou te bater até me obedeceres - diz a minha suposta mãe aproximando-se de mim enquanto levanta a mão, mas ouço uma voz autoritária que a deixa rígida com a mão no ar.

< O que está a fazer à minha esposa? - Otelo está olhando para a minha suposta mãe com fúria nos olhos, a sua voz é tão autoritária que até eu fiquei assustada.

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