A Nuvem Que Fala

A Nuvem Que Fala

Prólogo

^^^Dois meses depois do acontecido^^^

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Como saber se alguém diz a verdade? Olhando nos seus olhos e descobrindo uma fraqueza através das suas pupilas? Ou esperando que a mentira vem à tona sobre as suas expectativas?

Conto-me a mim mesmo as falhas que tive que suportar e as evidências de uma traição verbal. Algo que jamais se passou por minha cabeça que enfrentaria. Devo afastar-me ou sofrer quieto?

O amor atinge pessoas de diferentes formas. Ora conduzindo para a luz no fim no túnel ou para provações inusitadas e cheias de farpas envenenadas. Acredito que nada vem na surpresa de um anoitecer sem a simplicidade de uma dor que se despede, mas que tudo renasce ao amanhecer de um novo dia.

Fui atingido das duas maneiras, colidindo-me ao precipício de uma indecisão amarga e fere mais que qualquer coisa. Agora pergunto-me novamente: Devo afastar-me ou sofrer quieto?

O mundo não é um lugar cor de rosa. Se abrirmos bem os olhos, o cinza irá desmanchar os seus sonhos.

Eu costumava ter o céu diante dos meus pés, a maré deslizava ao meu encontro como uma necessidade brusca de me tocar. Tocava violão como arpa diante de Deus, todos adoravam.

Hill Valley City era mais bonita antigamente, cercada de crianças correndo pelas calçadas e as praças sempre cheias de vida e alegria. E talvez seja até hoje, mas jamais seria igual.

Eu, por outro lado, era o mais feliz entre eles. O mar sabia disso e digo esta verdade chorando, olhando para o céu escuro e deitado na grama verde, sozinho.

— Bullock?

Alguém apareceu e virei o rosto, sentindo as pontas das gramas arrastarem na minha bochecha esquerda, causando pequenas agulhadas irritantes. Mas não me importei, queria ver quem me chamaria a esta hora, num lugar tão escondido que mal davam para me ouvir de longe. Apesar de a cidade ser tão pequena, não tínhamos o costume de explorar o lugar, por mais belo que fosse um dia.

Estava escuro, mas graças a lua pude identificar o corpo de uma mulher. Estavam com as mãos para frente, com o propósito de impedir que a ventania forte arremessasse o seu cabelo diante dos seus olhos, tentativas quase em vão. Toda a sua cabeleireira estavam diante do seu rosto, e mesmo estando escuro pude vê-la se irritar com isso.

— Eric, estão o procurando à horas. — Voltou a dizer e virei o meu rosto para o céu, observando parte das nuvens tamparem as estrelas, já sabendo de quem era a voz fina.

— E como sabia que eu estava aqui, Audrey? — Questionei a sentir alguns pingos de água sobre a minha testa, logo depois nas minhas bochechas.

— Vem quando quer fugir, disse-me uma vez.

Respondeu, ouvindo seu caminhar se aproximando e não movi o meu rosto.

— Se sabe que venho até aqui para me esconder, ou fugir como relatou, porque pensa que ainda não saí? — Fui rude, mas era disso que eu necessitava há muito tempo e continuei-me enganando.

— Ela está aqui. — Falou num tom calmo, mas para mim, foi como farpas rasgando o meu intestino de uma forma tão violenta que pude senti-las por dentro. — Não perca essa oportunidade novamente, é o melhor para você e sabe disso. Ela não teve culpa...

— Por que julga que sabe o que é o melhor para mim? — Ergui o meu corpo numa única velocidade, passando as mãos sobre a minha camiseta preta e levantando-me, ficando de pé junto a ela.

Audrey tinha os cabelos avermelhados, cor de fogo. E mesmo com o escuro na espreita dos nossos corpos, pude vê-lo com clareza. Vestia uma longa saia (jeans) que descia até abaixo dos seus joelhos morenos. Estava com uma blusa branca e um casaco de pano sobre ela, enquanto o seu cabelo gigante voava com o intuído de querer fugir da sua cabeça com o vento forte. A lua estava sobre a sua cabeça. Iluminava o seu rosto quando caminhava na minha direção, mostrando os seus lábios grossos coberto pelo batom vermelho-púrpura.

Eu, por outro lado, mantinha-me firme e reto. Sem nenhum passo a mais ou a menos, simplesmente quieto como uma estátua na espera que ela fosse desistir da sua busca por mim e voltasse para o restante do pessoal.

— Precisa superar, Eric...

— Não me venha com superação. Por que eu nunca, em hipótese alguma irei esquecê-la. — Esbravejei-me num sobressalto, ela esquivou para trás e assentiu preocupada. — Você não tem ideia do que passo, não sabe o quanto... dói, o quanto me fere e destrói-me.

— Não é para esquecê-la, é apenas superar. Sabe as nossas regras, feita por suas ordens para estabelecer uma boa relação nesta cidade...

— Ela se foi, Audrey. E FOI CULPA DELA!

— Eu sei...

— NÃO! — Berrei. — Você não sabe. Mentiu pra mim como todos ao meu redor! Fez-me de idiota.

— Eric...

— GRACE MORREU POR CULPA DELA!

Gritei sentindo a raiva presa ganhar liberdade para fora, quase arrancando tudo que sobrou dentro de mim e a mágoa voltou de uma forma maior e mais dolorida.

— Vá embora daqui, Audrey. — Ordenei magoado.

— Eric... Errei em esconder de você, me desculpe. Por favor. — Tentou argumentar. — Eric...

— Vá embora de uma vez e me deixe em paz! — Berrei frustrado virandome e voltando a se sentar no chão, sentindo os pingos da água aumentar em meu corpo e ignorando os olhos dela assustada.

Voltei a me deitar, agora com a chuva virando numa tempestade diante de mim. Fechei os olhos com a ardência que a água causava e esperei o trovão cessar o volume alto que transcendia do céu. Ignorando o fato de Audrey não me deixar em paz.

Cada parte do meu corpo entendia que, apesar de tudo, foi oque Grace sempre quis de verdade: proteger alguém. Sempre a espreita de uma chance para ser a heroína, alguém que pudesse sentir orgulho ou talvez até que seja lembrada de uma forma diferente. Era tão perspicaz, sagaz e altruísta que me dava arrepios. Ajudava quem estava a sua volta e não importava, de modo algum, se a machucava de alguma maneira.

Foi oque a matou. 

Protegeu quem a deixou para morrer dentro daquele carro.

E serviu de quê tanta bondade? Tanto heroísmo, valentia? Isso não a salvou, a destruiu num segundo apenas sem a chance de dizer adeus ou se era mesmo isso que imaginara um dia.

E mesmo com o fato de ter escolhido uma pessoa desconhecida, ao invés de mim, eu a amava tanto que parte de todo meu organismo estava praticamente morto quando a vi naquele estado deplorável. Era ingênua demais para entender a humanidade, que por sinal não merecia a vida de uma pessoa tão boa quanto a de Grace.

— ERIC! Por favor… — Ouvi a voz fina.

— Vá embora, Audrey. — Sussurrei com os olhos fechados e sentindo meu corpo molhado.

 — Espero que consiga encontrar o que procura observando o céu tão vazio quanto você.

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Comments

Aud Wan

Aud Wan

Parece que ele tem motivos...

2022-10-07

3

Aud Wan

Aud Wan

Talvez descobrindo sozinho ajude.

2022-10-07

1

Aud Wan

Aud Wan

isso sempre me quebra

2022-10-07

1

Ver todos

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