Os dias passaram tão lentos que se tornaram anos para mim. Os três primeiros dias, fiquei o máximo de tempo sem direcionar uma palavra a ela. Nos últimos seis dias, algumas das suas frases eram nitidamente sobre a venda da minha casa que jamais iria ceder.
Eu estava convicto que Deus tinha a ver com tudo o que estava a acontecer ao meu redor, ou ter posicionado aquela mulher como punição a meus atos, um dedo, ou seja lá o que Ele possua no “corpo”. Caso não seja apenas uma forma espírita e iluminada como um sol. O imaginava numa estrutura sólida, como as pessoas. Possuindo uma casca para esconder o interior.
Enfim, não suportava a chance se quer de uma pessoa como aquela mulher tenha entrado em minha vida tão cedo e tenha feito tanta bagunça. Meus amigos estavam ao lado dela ao invés do meu e isso era o que mais me incomodava. Talvez tenha realmente que vender o casarão, mas iria ficar longe dali e não iria conviver na mesma cidade que alguém que me tirou tudo. Aceitar seus termos, viajar para Nova Jersey e talvez, um grande talvez, levar minha dama da noite junto. Mas seria uma hipótese que jamais se concretizaria, porque não venderia.
Agora, caminhava com raiva pelo corredor direito do segundo prédio. Nem se quer olhei para os lados, ombros sempre retos e queixo levantado. A minha barba estava rala, não quis fazê-la ou não tive ânimo nos últimos nove dias. Nora Olsen havia tirado o meu sono, a ponto de deixar-me irritado mais do que já era.
Queria apenas terminar os nossos negócios e vê-la o mais longe possível daqui, para não poder olhar na sua direção e ver alguém que queria a minha casa.
O corredor tinha uma cor sólida, banhado num tom mais claro que a do meu prédio no lado sul. Na verdade, todo o lado Leste tinha uma cor diferenciada do Norte e do Sul. Cores mais exuberantes e claras como a luz vívida da lua vermelha. O chão era um piso liso, causava um barulho grosso no solado do meu sapato de couro preto. Era como ouvir a valsa e o sapateado na minha cabeça, que se mantinha num conflito criado por apenas eu. Comigo mesmo.
Assim que cheguei no andar de cima, observei a morena sentada na sua cadeira. Por trás de tantos papéis que mal sabia se ela piscava ou respirava antes de preencher uma folha e passar para outra. Enfiei as mãos no bolso da calça preta e levantei o olhar, observando-a concentrada no seu trabalho. Tanto que nem se quer questionei se havia me visto ou não.
Cheguei em silêncio que fez a mulher se erguer assustada, talvez até demais para uma simples visita.
Mas sendo eu, nunca seria apenas uma visita e ela sabia disso muito bem.
— Eric! — Audrey se levantou a tirar os óculos e o colocando sobre a mesa, passando as mãos pelos cachos vermelhos e caminhando desajeitada até a minha frente.
Usava um vestido preto, colado no corpo que ia até os seus joelhos. Uma pulseira exagerada no braço direito e o batom vermelho nos seus lábios grossos. A surpresa que ela demonstrou ao encarar-me fez-me sorrir satisfeito observando o seu decote, quase jogando os seus seios para fora. O que também achava exagerado para aquela manhã?
Mordiquei meu lábio e abri o meu sorriso para ela.
— O que faz aqui? — Ela perguntou num sussurro apavorante, fazendo-me abrir mais o sorriso.
— Não a vejo faz um tempo. — Caminhei até o canto da parede e encostando-se nela. Olhei para a porta no fundo do corredor maior do prédio e dei de ombros, voltando a minha atenção para ela. — Audrey, sabe como sou curioso. O que aconteceu, exatamente?
— Nada.
A sua resposta não me convenceu quando pronunciada num pulo, quase como um robô produzido do Japão. Rápido, falso e manipulador.
— Dormiu com ele? — Perguntei de uma vez, cruzando os braços e ainda com o sorriso nos lábios.
— O quê? — Questionou a morena ofendida por minha pergunta e levantei as sobrancelhas como se esperasse por mais vindo dela. — Talvez. — Baixou os ombros.
— Audrey. Audrey. — Balancei a cabeça negando e caminhando na sua direção. — Aquele homem não merece você, nem seu grande coração.
— Ah! Supõe que ele fará melhor que você? — Ela perguntou séria e puxei o ar.
— Melhor eu não sei, mas creio que ele não te dará o valor devido.
— Não venha até aqui para dizer essas palavras, Eric. — Ela disse baixo. — Eu segui, você disse e eu segui.
— Ele é seu “seguir”? Sério?
Caminhei até ela e tirei a mecha cacheada do seu rosto, colocando por trás da orelha. Mesmo que não tenha a visto a quase dois meses, a tratava como se fosse um único dia longe. Sedutor, prático, as vezes arrogante e simplesmente normal como das últimas vezes.
Sempre pareceu gostar, atingindo-a da forma que eu eu desejava.
Audrey abaixou os ombros e percebi a sua redenção a meu toque no seu rosto, por mais branco e fraco que tenha sido. Não precisava de muito esforço para enrijecer as pernas de uma mulher e eu sabia bem a fraqueza de muitas delas, daquela cidade.
— Audrey. — Sussurrei a aconchegar minha mão no seu rosto, encaixando perfeitamente a sua bochecha na palma da mão. — Não quero que durma com um cara como ele.
— Um “cara” que fique mais que duas horas? — Perguntou magoada assim que me aproximei, quase beijando-a, mas não fiz, não era o certo. Mas tentei e recuei assim que senti o cheiro de perfume masculino exalar da pele de Audrey, que deveria ser do homem que estava tirando-a de mim. Por mais que ela não fosse tão "minha" como imaginava. — Você não pode chegar aqui dessa maneira e pensar que pode corromper-me com os seus toques.
Eu poderia facilmente fazer isto sem ao menos toca-la. Mas ela estava certa em dizer que eu não tinha aquele direito, então tirei a minha mão do seu rosto e dei um passo para trás.
Uma distância, pouca para nossos corpos não estarem tão perto um do outro. Mas ainda observava ela, sério.
— Espero que ele não faça o que eu fiz. — Falei sincero.
— O que faz aqui? — Audrey perguntou desajeitada, me ignorando e eu soltei o meu sorriso dando mais um passo para trás.
— Quero um favor seu. — Voltei a colocar as mãos no bolso da calça.
— E, porque não usa o telefone para isso?
— Desliguei. Não quero receber certas ligações. — Falei a lembrar-me de Nora.
— O que quer? — Ela deu meia volta e voltou para trás da sua mesa, ainda de pé.
— Quero que pesquise sobre uma pessoa para mim.
— Quem?
— Nora Olsen. — Falei num baixo, sério, quase como se não quisesse pronunciar tais palavras.
Audrey levantou as sobrancelhas e soltou um sorriso calmo, escondendo os ciúmes que sentiu naquele segundo porque eu sabia exatamente como causar tais sensações no seu corpo.
— Uma mulher? — Perguntou curiosa. — Você nunca foi tão longe para levar alguém para cama.
— Não farei isso. — Falei logo. — Ela é uma pedra no meu sapato, quero uma carta na manga antes de começar agir.
— Específico. — Ela disse desconfiada e sentou-se na cadeira respirando fundo. — Quase fui pega da última vez que me pediu um dos seus favores, invadir os bancos de dados do governo não é tão fácil como um tutorial na “internet”.
— Eu sei. Eu sei. — Disse a puxar a cadeira na sua frente e sentando-se para encará-la de mais perto. — Não terá problema dessa vez, não deixarei. Confie em mim.
— Confiar em você? — Soltou o sorriso pegando uma folha na minha frente e riscando-a. — Da última vez que confiei, perdi o meu emprego por violar treze regras de condutas.
— Por favor, Audrey. — Implorei a apoiar meus ombros sobre a mesa e entrelaçando os meus dedos uns nos outros.
Audrey olhou-me desconfiada novamente, mas com os olhos desajeitados e soltou a respiração mostrando a sua desistência.
— Certo. — Revirou os olhos e me ergui segurando seu rosto e beijando a sua bochecha, feliz. — Ficará me devendo.
— O meu corpo é todo seu. — Falei sorrindo e ela fechou o rosto, entediada.
— Bom dia! — Ouvimos a voz grossa do outro lado e me virei, levantando-me e observando o homem em pé.
Era um pouco mais alto, mais claro e menos musculoso que eu. Mas devido ao tamanho de ambos, ficava feliz em ter tal aparência diferenciada. Ele era reto, com o terno apertado no corpo bege. Os olhos claros e o cabelo bem alinhado com o gel masculino, deixando o seu rosto tão limpo quanto a de uma criança sem pelos. O que me fez se lembrar de não ter feito a barba nos últimos dias e estaria um pouco maior que costumava deixar.
— Pensei que não viria aqui, já que deixei bem claro que não seria bem-vindo. — O homem falou num tom arrogantemente frio.
— Passado para mim, ficou por lá mesmo. — Falei e levantei a mão direita, o homem negou o meu cumprimento, sem mover um músculo.
— Pelo visto vendeu a casa. — Abriu um sorriso, mostrando as presas alinhadas enquanto abaixei a mão e o encarei rígido.
— Brandon! — Audrey repreendeu-o calmamente.
— Agora lembrei-me do motivo de ter quebrado o seu queixo. — Bradei lentamente, natural e aparentemente calmo.
Mas eu sabia que os meus nervos estavam a flor da pele e estava prestes à soca-lo novamente, por mais que isso causasse algum problema.
— Vá embora antes que haja mais problema. — Brandon disse. — Dessa vez não deixarei que saia de pé.
Ameaçou, mas abri um sorriso mostrando que não havia-me afetado, até porque Brandon não daria conta de enfrentar-me realmente e todos sabiam disso.
Olhei para ele por mais alguns segundos e me mantive reto, sério.
— Vá, Eric. — Audrey pediu gentilmente.
— Te vejo a noite. — Virei o rosto para a mulher e voltei a beijar o seu rosto, agora com mais calma e tranquilidade.
Brandon cerrou as mãos, mas conteve-se.
Virei as costas me retirando e enfiando as mãos no bolso, enquanto sabia que Audrey me encarava se distanciando. Assim que fiquei rente a porta me virei para ela que se virou para o homem na sua frente e deu de ombros desajeitada, saindo do transe que a deixei toda vez que se aproximava.
Por mais que tenha tido um caso comigo, sabia que não passaria disso. Grace Pierce era sua amiga e queria manter isso, por mais que tenha caído em tentação e nos meus braços.
Brandon se virou para ela, deixando os seus ciúmes nítidos nos olhos. Por um lado, eu conhecia bem ele e sabia muito bem da sua fama, queria apenas se divertir com Audrey. Mas, por outro lado, eu podia ver no seu olhar, sentia que ela poderia ser muito mais do que todas as outras garotas que tenha dormido.
Ser meu concorrente irritava-me, mas ficava feliz em saber que a tinha para ele no momento e curtiria essa hipótese o máximo possível.
Me mantive detrás da porta, em silêncio e encostado na parede imóvel. Estava com a cabeça baixa esperando por algo que nem eu mesmo sabia o que era realmente.
— O que acha de irmos para a casa de lago que comprei semana passada? — Ouvi a voz de Brandon e encostei a minha cabeça na parede.
— Por que o odeia tanto? — Agora Audrey perguntou.
— Pergunte a minha última mulher. — Ele respondeu e abri um sorriso ainda em silêncio. — Aquele homem ainda amará alguém como Grace Pierce e sofrerá como ele fez com muitos por aí.
— Isso não vai acontecer. — Ela falou e conhecia por sua voz que se sentia um pouco magoada. — Pelo menos não com ele.
Audrey me conhecia bem, admirava esse detalhe nela. Tinha razão em afirmar para Brandon que jamais amaria outra pessoa, pois era a mais pura verdade.
Decidi não ouvir mais, me erguendo e saindo daquele lugar.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Aud Wan
Nem se acha KKKKK ego demais
2022-10-08
1
Aud Wan
kkkkkkkk
2022-10-08
1
Aud Wan
Você tem quantas mulheres ?
2022-10-08
0