Segredo de Família

            Naquela hora, ela percebeu que suas pernas mal conseguiam sustentar seu peso e sua cabeça não conseguia registrar o que estava acontecendo, a única parte do seu corpo que parecia saber o que estava fazendo, mesmo contra sua vontade, era seu coração, que batia tão rápido que ela imaginou se mais alguém além dela estava ouvindo.

          - Paty, o que aconteceu com você?

          - Eu...

          - Patrícia, você está me assustando.

          - E... eu... eu preciso sair daqui.

          - Paty?

          - É verdade Lu, eu preciso sair daqui.

          - E o que eu falo pra eles?

          - Que eu... – O que ela poderia dizer naquele momento que não parecesse uma completa loucura?

          - O que você tem?

          - Nada, e fala alguma coisa pra eles, eu só não sei o quê.

          - Você quer que eu vá com você?

          - Não, eu...

          - Paty, você não está bem.

          - Estou, eu... eu só preciso ficar sozinha.

          - Tem certeza?

          - Tenho.

          Certo, aquilo não podia ser real, ele não apenas lembrava o seu marido nos sonhos, era ele, a mesma voz, os mesmos olhos, a única diferença era o cabelo e foi só então que ela percebeu, o mesmo nome. E independente do que seu cérebro queria, a mesma sensação de que seu coração não era mais dela, e sim que pertencia a ele.

Assim que ela saiu, foi andando sem ter certeza de para onde estava indo, quando percebeu, ela estava na porta da Catedral e nem imaginava como tinha chegado lá, muito menos porque seu coração começou a disparar assim que ela olhou para o prédio. Só que ela também não percebeu quando ele apareceu atrás dela.

          - Patrícia.

          - Oi... – Ela levou um susto tão grande que quase caiu pra traz e provavelmente era o que teria acontecido se ele não a tivesse segurado pela cintura, e mesmo sem entender, aquela situação era muito mais familiar a ela do que seria possível.

          - Desculpe, eu não queria te assustar.

          - É... – Naquela hora, ela percebeu que ficar muito próxima dele, estava deixando seu coração sem saber o que fazer.

          - A sua irmã disse que você se sentiu mal.

          - Um pouco.

          - E eu só queria...

          - O quê?

          - Só queria saber se você está bem.

          - Acho que eu estou. – Por mais que ficar tão perto dele, não desse nenhuma certeza a ela.

          - Você acha que consegue ficar em pé?

          - Não tenho certeza.

          - Certo, se apoia aqui. – Quanto mais eles se aproximavam, mais seu coração disparava, só que mesmo que quisesse, ela sabia que não poderia continuar ali.

          - Eu...

          - Melhorou?

          - Um pouco.

          - Acho melhor você sentar um pouco.

          - Obrigada, mas sim, eu melhorei.

          - Tem certeza?

          - Tenho.

          - Certo. – Mesmo sabendo que devia, naquele momento tudo que ela queria era sentir ele perto dela de novo.

          - Como você sabia que eu tinha vindo pra cá?

          - Não sabia, acho que...

          - Quê?

          - Que eu só segui o meu instinto.

          - A verdade é que eu nem sei como vim parar aqui.

          - Você com certeza andou bastante.

          - É, eu saí caminhando e de repente me vi parada aqui.

          - Na Catedral?

          - Sim.

          - Se você quiser conhecer, a essa hora não tem muito movimento.

          - Quero. – No momento que eles entraram na Catedral, seu coração não estava apenas disparado, mas parecia que iria sair do peito.

          - O prédio é... lindo.

          - Muito, é o principal ponto turístico daqui.

          - Ele é maravilhoso.

          - É imponente.

          - Verdade, mas...

          - Tudo bem?

          - Ela passou por alguma reforma?

          - Algumas ao longo dos anos.

          - Faz sentido, e...

          - Fala.

          - Posso te perguntar uma coisa?

          - Claro.

          - Por que você veio atrás de mim?

          - Não sei, acho que eu não queria que você se perdesse.

          - Obrigada por ter vindo.

          - Não foi nada, você está se sentindo melhor?

          – Com você perto de mim, com certeza. – Era o que ela queria responder, mas sabia que seria loucura dizer isso em voz alta.

          - Sim, acho que eu só precisava de ar.

          Por quê? Porque ela não conseguia nem olhar pra ele, sem que seu coração perdesse o ritmo? Claro que ele ser igual ao homem dos seus sonhos, podia ser a resposta, mas algo no seu coração dizia que não era isso.

          - Eu posso estar errado, mas você não deve querer voltar, não é?

          - Na verdade não, só que ainda falta quase uma hora para o próximo trem.

          - Você está um pouco pálida, se você quiser nós podemos comer alguma coisa.

          - Você sempre segue e convida as mulheres que acabou de conhecer?

          - Normalmente não, e não se preocupa que eu não sou um louco, mas você é minha prima.

          - Isso é verdade, e não se preocupa, eu não te achei um maluco.

          - E além de nós dois sermos primos, você está parecendo...

          - Perdida, confusa, em choque?

          - Um pouco de cada, mas se você quiser ir direto para a estação, eu posso te levar.

          - Não, você tem razão, acho que vai ser bom comer alguma coisa.

          - Claro. – Quando ele segurou a sua mão, seu coração estava dando piruetas dentro do peito, e dessa vez ela teve certeza, aquela proximidade também estava mexendo com ele, ela só não sabia se no mesmo nível.

          - O que você quer?

          - É... – Naquele momento, ela percebeu que ainda não conseguia pensar direito. – Você escolhe.

          - Certo. – Ela queria muito impedir seu coração de sentir o que estava sentindo, mas mesmo que quisesse evitar, seu coração sabia que pertencia a ele, mesmo que sua cabeça discordasse.

          - Tudo bem?

          - Acho que sim.

          - Patrícia?

          - É que eu percebi uma coisa.

          - Fala.

          - Você é meu primo e eu percebi que não sei nada sobre você.

          - Então somos dois.

          - Verdade.

          - O que você quer saber? – Muitas coisas, principalmente porque você é igual ao homem dos meus sonhos.

          - Acho que eu não sei o que te perguntar. – Pelo menos não algo que não pareça uma completa loucura.

          - Foi uma surpresa, não é?

          - Você nem imagina o quanto.

          - Acredite, eu imagino.

          - Você sabia?

          - De você e da sua irmã?

          - Sim.

          - O meu pai me contou, um pouco antes de escrever para vocês.

          - E ele contou...

          - Por que nós nunca nos conhecemos?

          - Sim.

          - Não, isso não.

          - E você não ficou curioso?

          - Muito e ainda estou, mas ele disse que só contaria essa história uma vez, imagino que estivesse esperando vocês responderem.

          - Entendi, mas é estranho.

          - O quê?

          - Ele saber que nós iriamos responder.

          - Você realmente conseguiria descobrir sobre isso e não querer saber mais?

          - Na verdade não, eu sou curiosa desde que nasci.

          - Eu também.

          - Que foi?

          - Por quê?

          - Não sei, você ficou estranho.

          - É que...

          - Fala.

          - Parece que a nossa curiosidade é apenas sobre a família, não é?

          - Você quer saber alguma coisa?

          - Queria, só não sei se você vai querer falar sobre isso.

          - Pode perguntar.

          - O que aconteceu com você hoje?

          - Eu... sinceramente eu acho que foi o choque, saber que eu tinha um tio foi uma surpresa, e não sei por que, mas não pensei na família dele, no caso você.

          - Entendi.

          - E será que você me responderia uma coisa?

          - Claro.

          - Por que você foi atrás de mim?

          - Acho que o fato de você ter saído assim que eu cheguei me deixou curioso.

          - E sobre isso, me desculpa, eu não costumo agir daquele jeito.

          - Não se preocupa, mas também teve o fato de que de acordo com o meu pai, você nunca tinha vindo à Canterbury.

          - Eu nunca vim a Inglaterra, o meu pai nunca deixou.

          - Sério?

          - Sim, por mais que de acordo com o meu... desculpa, seu pai, eu nasci em Londres.

          - Mas desde que você foi pro Brasil, nunca mais voltou?

          - Nunca, e o estranho é que eu sempre quis.

          - Você acha que o motivo do seu pai não ter deixado você vir, tem a ver com o que quer que tenha acontecido?

          - Hoje em dia, acho que sim.

          - É, faz sentido.

          - Pra quem sabe da história talvez, mas sempre que eu lembro de alguma conversa com o meu pai sobre a Inglaterra, lembro que nós terminávamos brigando.

          - Sério?

          - Desde que eu era pequena, a minha mãe tentava acalmar a situação dizendo que ele só queria me proteger, mas nós dois vivíamos brigando sobre isso.

          - Te proteger?

          - Sim, por isso que quando eu penso nessa história, ela fica mais confusa na minha cabeça.

          - É na minha também.

          - É melhor eu ir, senão vou perder o trem.

          - Eu posso te levar, garantir que você não se perca.

          - Obrigada.

          Assim que eles chegaram na estação, ela sabia que precisava, mas não queria se afastar dele e independente de tudo, quando olhou pra ele, tinha quase certeza de que ele também não queria sair de perto dela.

          - Pede desculpas pro seu pai.

          - Eu falo com ele, e não se preocupa, ele vai entender.

          - Que bom.

          - Você tem o meu número, se precisar de alguma coisa me liga.

          - Você também.

          - Tchau.

          - Tchau. – Quando ele a abraçou, ela duvidou que ele não sentisse seu coração quase sair do peito.

          - Paty... aquele era o nosso primo?

          - Sim, ele me encontrou na Catedral.

          - O que aconteceu com você? – Naquele momento, ela sabia que contar para a irmã seria um grande erro, então foi mais fácil manter a história que já tinha contado.

          - Eu precisava de ar, eu te disse.

          - Mas você está bem?

          - Sim, – não – eu estou bem. – Mas não, ela não estava bem, como estaria se seu coração parecia vazio desde que eles se afastaram.

          - Algum dia você vai me contar o que realmente aconteceu hoje?

          - Eu já te contei, Lu.

          - Paty, você ficou branca, parecia que tinha visto um fantasma.

          - Não foi...

          - Ah, meu Deus! – Droga. Ela conhecia a irmã, poderia demorar, mas ela sabia que a irmã se lembraria.

          - Que foi? – Tentou soar o mais normal e desinteressada possível.

          - Você viu... você viu um fantasma, ou quase, eu acho.

          - Do que você está falando?

          - Disso.

          - Luciana, devolve o meu caderno.

          - É ele, o nosso primo é o seu príncipe.

          - Primeiro, devolve o meu caderno, segundo ele não é meu príncipe.

          - Paty, você sonhou com ele e o desenhou anos antes de vocês se conhecerem.

          - Luciana...

          - Fora a história de amor que você escreveu.

          - Isso foi uma grande coincidência.

          - E foi por uma coincidência que você fugiu assim que o viu?

          - Eu não fugi.

          - Sério?

          - Sim, só precisava de ar.

          - E ele foi atrás de você?

          - Ele deve ter se sentido mal pela situação. – Tinha que ser isso, porque nada mais faria sentido, não que muita coisa estivesse fazendo sentido na sua cabeça naquele momento.

          - Ou isso é um sinal.

          - Você sempre acha que as coisas são um sinal.

          - Mas pode ser.

          - Sinal de quê? De que eu estou ficando louca? Acredite, eu já pensei nisso.

          - Não, de que vocês estavam destinados a se conhecerem.

          - Lu, isso é besteira.

          - Sério?

          - E se você quer mesmo saber, sim, nós estávamos destinados a nos conhecer.

          - Você está concordando comigo?

          - Luciana, ele é nosso primo, uma hora nós íamos nos conhecer.

          - Não foi isso que eu quis dizer.

          - Lu, me faz um grande favor e esquece tudo isso.

          - Vai ser difícil.

          - Luciana...

          - Paty, você já imaginou que pode ser ele?

          - Ser ele, o quê?

          - O cara que vai fazer você se apaixonar.

          - Não tem a menor chance disso acontecer.

          - Por que não?

          - Eu já te disse que não acredito em...

          - Patrícia?

          - Lu, sério, eu estou cansada, o dia hoje foi intenso demais, me faz um favor, esquece esse assunto.

          - Certo, eu prometo.

          - Ótimo.

          Assim que ela deitou, sempre que fechava os olhos, o rosto dele vinha na sua cabeça, e talvez pelo que aconteceu ou pelo fato de não tirar ele da cabeça, quando ela pegou no sono, o sonho voltou, e dessa vez muito mais real do que antes.

          "Ela ainda estava vestida de noiva, mas eles não estavam mais na Catedral, estavam em casa.

          - Você está aqui.

          - Só queria fugir um pouco da festa.

          - Você está maravilhosa.

          - Damon...

          - E eu estou com saudades da minha esposa.

          - Você sabe que eu sempre fui sua, desde que nos conhecemos.

          - No dia mais perfeito da minha vida.

          - Da nossa.

          - Mas você sabe que devemos voltar.

          - Claro que sei, só queria ficar um pouco com o meu marido.

          - Nós vamos ter a vida toda para ficarmos juntos.

          - Vamos, toda a nossa vida.

          - Porque nada vai me afastar de você.

          - Eu sei.

          - Mas estão todos nos esperando.

          - Nem todos.

          - Paty, não fica assim.

          - Eu sei o motivo, mas não acredito que ele não veio.

          - O seu pai está magoado, mas ele vai superar o que aconteceu.

          - Será? Damon, nós estamos juntos há meses, e ele...

          - Paty, confia em mim, uma hora ele vai entender e aceitar. – Naquele momento, a primeira vez que ela o sentiu tocar no seu rosto, seu corpo inteiro se arrepiou.

          - Você está certo e pode ser difícil, mas desde que você esteja do meu lado, eu enfrento tudo.

          - Então você vai conseguir, porque eu nunca vou sair do seu lado.

          - E eu nunca vou sair dos seus braços. – Se ela achava que seu coração não poderia disparar mais, quando ele a abraçou, o que ela sentiu foi tão forte e intenso que parecia que seu coração iria sair do peito.

          - Pronta pra voltar?

          - Sim.

          - Olha pra mim, nós vamos estar juntos pra sempre.

          - Sempre.

          - Sempre e pra sempre, eu te amo.

          - Eu amo você. – Quando ela deu a mão a ele, toda a força e todo o amor que unia os dois, voltou.

          - Damon, Patrícia, a cerimônia foi linda.

          - Obrigado, e nós agradecemos você e a sua família por terem vindo.

          - É uma pena o seu pai não estar disposto no dia do seu casamento.

          - A saúde dele não permitiu, mas eu sei que ele está muito feliz com o nosso casamento.

          - Imagino que sim, e é uma pena que o seu irmão também não tenha conseguido comparecer, Damon. – Só a menção do irmão dele, fez todo seu corpo se retrair.

          - Os compromissos dele em Londres, o impediram de vir.

          - Entendo.

          - Agora por favor, nos deem licença.

          - Claro.

          - Paty, não fica assim.

          - Eu sei que ele é seu irmão, mas...

          - Ele nunca vai fazer nada contra nós dois, eu estou aqui e vou te proteger por toda a nossa vida.

          - Eu sei que vai.

          - E será que agora a minha esposa aceitaria dançar comigo?

          - Claro...

          - Paty?

          - Desculpa amor, foi... você sabe que o seu irmão me dá calafrios, eu não sei explicar, mas...

          - Olha pra mim, eu sei, e já te prometi que ele nunca vai se aproximar de você.

          - Eu sei, e confio em você.

          - Eu amo você, Patrícia.

          - Eu amo você. E agora o meu marido poderia me convidar novamente para dançar.

          - Minha esposa, você aceita dançar comigo?

          - Claro que eu aceito."

          De repente seu coração apertou de um modo que nunca tinha acontecido e um arrepio na espinha, a fez acordar suando, tremendo e com a sensação de que alguém tinha arrancado seu coração do peito.

          - Paty, você está bem?

          - Eu...

          - Patrícia, você estava gritando.

          - Não... não foi nada.

          - Alguma coisa aconteceu, Paty.

          - Não... eu... eu estou bem. – De repente sua mão foi automaticamente para o peito, como se ela quisesse ter certeza que seu coração ainda batia.

          E mesmo que quisesse, aquela reação não fazia sentido, principalmente porque não foi um pesadelo, mas só de lembrar da sensação, parecia que estavam arrancando seu coração de novo.

          - O que foi?

          - Um sonho.

          - Aquele?

          - Mais ou menos.

          - Patrícia, não está na hora de você falar com alguém sobre isso?

          - Não, eu só preciso esquecer o que aconteceu e de preferência não encontrar com... – Antes dela terminar a frase, seu celular tocou, e ela não conseguia acreditar em quem era. – Que droga!

          - O que foi?

          - Oi Damon, que surpresa.

          - Eu imagino, mas estou com o dia livre e em Londres, queria saber se você quer dar uma volta.

          – Não, não, não. Você não deve ir. – A frase não saia da sua cabeça, mas seu coração parecia não se importar com isso, e infelizmente nem a sua boca.

          - Claro, podemos nos encontrar aqui no hotel.

          - Certo, eu te encontro em meia hora.

          - Ok, até já.

          Quando ela desligou, podia sentir os olhos da irmã nela.

          - Você enlouqueceu?

          - Acho que sim, mas...

          - Paty, você está apaixonada por ele?

          - O quê? Claro que não.

          - Sério?

          - De onde você tirou essa ideia?

          - Você quer mesmo que eu responda?

          - Eu só estou curiosa.

          - Sobre ele?

          - Sobre tudo.

          - Você sabe que isso pode acabar muito mal, não sabe?

          - A gente se vê mais tarde, Lu.

          Quando ela saiu do quarto, percebeu que a irmã podia ter razão, principalmente pelo modo que ela acordou naquela manhã, mas sempre que pensava nele, parecia que uma força a atraia diretamente para ele.

Aqueles olhos azuis, o sorriso, aquele corpo que só dela imaginar, seu corpo inteiro se arrepiava, mas além de toda a atração, tinha mais alguma coisa, ela só não queria confessar, nem pra si mesma.

          - Oi.

          - Oi, fiquei surpresa com o convite.

          - Eu só queria ter certeza que você melhorou.

          - Um pouco.

          - Se você disse sim só por educação...

          - Não, eu vou gostar de passear.

          - Tem certeza?

          - Sim, vai ser melhor do que passar o dia no hotel.

          - Tudo bem.

          - Mas lembra o que eu te disse?

          - Sobre?

          - Eu não conheço nada por aqui.

          - Não se preocupa, eu conheço Londres como a palma da mão.

          - Então eu espero que você seja um bom guia.

          - Eu acho que sou.

          Andar perto dele, não a deixava apenas nervosa e com as pernas bambas, mas trazia uma sensação de familiaridade, como se ela estivesse voltando para casa.

          - Aonde nós estamos indo?

          - Hyde Park, eu não tenho certeza do motivo, mas pensei que você fosse gostar, mas se você quiser ir em...

          - Não, eu também acho que vou gostar. – Quando eles chegaram, ela percebeu que alguma coisa naquele passeio parecia familiar.

          - Você gostou mesmo?

          - Sim, o parque é lindo.

          - Na minha opinião é um dos mais bonitos de Londres.

          - Eu não disse que ia gostar da sua ideia. – E mais uma vez, quando ele se aproximou dela, seu corpo se arrepiou e seu coração parecia não se controlar.

          - Você sempre gostou de parques?

          - Eu moro em São Paulo, esqueceu? Pode não ser pra todo mundo, mas pra mim, o melhor lugar da cidade sempre foi o Ibirapuera.

          - Esse lugar parece com você.

          - Sério?

          - Sim.

          - Damon...

          - Fala.

          - Por que você está me olhando assim?

          - Assim como?

          - De um jeito tão... – Naquele momento, todas as palavras que vieram na sua cabeça, pareciam difíceis de acreditar.

          - Desculpe, eu não devia... – Quando ele olhou pra ela e levantou a mão para tocar no seu rosto, seu coração parecia que tinha parado de bater.

          - Não devia o quê?

          - Patrícia... – E de repente ele recolheu a mão, rápido demais e tudo que ela mais queria era sentir aquele toque.

          - Você não respondeu.

          - Desculpa, eu não sei o que me deu.

          Certo, era hora de se recompor, por mais que ela não soubesse como, nem se conseguiria.

          - É, nem eu, mas...

          - Eu... eu acho melhor nós continuarmos o passeio.

          - Claro.

          Tudo bem, ela não estava imaginando e sabia disso, ele queria aquele contato, ele queria tocar nela, então por que recolheu a mão? Por que ele se afastou?

          - Nós podíamos almoçar, a menos que você queira ir pro hotel.

          - Não, estou querendo passar o dia fora.

          - Vamos, então?

          - Claro.

          Assim que eles chegaram no restaurante, ela percebeu que quanto mais eles se aproximavam, mais seu coração disparava.

          - Parece que nós já conseguimos conversar sobre mais coisas além da nossa família.

          - Verdade.

          - E agora você mataria a minha curiosidade.

          - Claro, sobre o quê?

          - Você.

          - Pode perguntar.

          - Eu queria saber mais sobre você.

          - Não tem muito o que dizer, eu sou uma pessoa normal.

          - Você não gosta de falar sobre você, não é?

          - Não abertamente, então vamos combinar assim, você me pergunta o que quiser e eu respondo.

          - Tipo uma entrevista?

          - Com uma observação, uma pergunta pra cada.

          - Tudo bem, sua maior paixão?

          - Essa é fácil, desenhar e escrever.

          - Sério?

          - Sim, desde pequena.

          - Interessante.

          - Agora é a minha vez, a sua maior paixão?

          - Fotografia.

          - Profissional?

          - Não, é um hobby, eu só gosto de tirar fotos.

          - Legal, e você...

          - Não, é a minha vez.

          - Certo, pergunta.

          - No seu caso, a escrita ou o desenho é profissional?

          - Por mais que há alguns anos eu quisesse, não, eu só gosto de desenhar e escrever.

          - Engraçado.

          - O quê?

          - Eu sei que é sua vez e que essa pergunta pode ser estranha, mas em que você trabalha?

          - Presidente de uma empresa de comércio exterior.

          - A Capitol?

          - Sim, como você sabe?

          - Porque há alguns meses eu tive contato com a sua empresa, e estranhei o fato do seu sobrenome ser o mesmo que o meu.

          - Damon Watts... claro, o Maurício é que fechou com a sua empresa.

          - Sim.

          - Interessante é que eu pensei a mesma coisa sobre o seu nome.

          - Acho que eu só não imaginava que...

          - Que nós éramos primos?

          - Sim.

          - Nem eu, mas nós podemos não falar de trabalho?

          - Claro, mas então vamos a próxima pergunta.

          - Fala.

          - Por que você não desenha ou escreve profissionalmente?

          - A verdade?

          - De preferência.

          - Por causa do meu pai, ele iria enlouquecer se eu tivesse seguido essa carreira.

          - Entendi, e...

          - Nada disso, minha vez.

          - Pergunta.

          - Por que você não seguiu com a fotografia profissionalmente?

          - Falta de talento, eu gosto, mas as minhas fotos não são profissionais.

          - Sério?

          - Sim, próxima pergunta.

          - Fala.

          - Seu maior sonho?

          - É... – Por mais que não quisesse, só vinha um sonho na sua cabeça, e era o único que ela não podia contar.

          - Pergunta difícil?

          - Se eu te disser que foi a mais difícil que você me fez, você acredita?

          - Então acho que nós podemos falar de coisas mais comuns.

          - Boa ideia.

          Naquele momento, ela percebeu que passar o dia do lado dele, a fazia se sentir como se tudo que ela já tinha sentido, não tivesse significado nada e que a sua vida tinha começado no momento que eles se conheceram.

          - Obrigada pelo passeio.

          - De nada, o dia foi... ótimo.

          - Foi sim, e você fala com o seu pai?

          - Claro, eu vou falar com ele e te ligo.

          - Certo. – Quando ele se aproximou e finalmente tocou no seu rosto, tudo que sentiu no sonho aconteceu, mas ao mesmo tempo, seu coração ficou muito apertado e com um grande sentimento de perda.

          - Tchau.

          - Tchau. – Assim que ele segurou a sua mão, ela viu nos olhos dele que ele também não queria desfazer aquele toque.

Quando ela subiu para o quarto, mesmo que por um lado estivesse completamente feliz, por outro, seu peito parecia que tinha sido estraçalhado.

          - Você sabe que não devia ter ido, não sabe?

          - O lado racional da minha mente sabe, mas...

          - Paty, por que você não admite logo?

          - Não admito o quê?

          - Que você está apaixonada por ele.

          - Porque eu não estou.

          - Sério?

          - Sim, muito sério.

          - Patrícia, ninguém nunca te deixou assim.

          - Amanhã nós devemos ir a Canterbury de novo.

          - Você quer mudar de assunto, tudo bem, mas não vai mudar o que você está sentindo.

          - Esquece isso, Lu.

          - Claro.

          Quando ela pegou no sono, aquele sonho voltou para a sua cabeça.

          "- Não vai.

          - Patrícia, você precisa confiar em mim.

          - Em você, eu confio, meu problema é ele.

          - Amor, você precisa esquecer.

          - O quê? Que o seu irmão me dá calafrios desde que me olhou pela primeira vez?

          - Paty...

          - Eu sei que ele é seu irmão e que você quer ver o melhor nele, mas...

          - Olha pra mim, eu sei como ele te vê, e é um dos muitos motivos que me fez te afastar dele.

          - Não é só isso.

          - Amor...

          - Damon, por favor, eu estou implorando, não vai.

          - Paty, vem aqui, ele nunca vai te tocar, eu prometo.

          - Eu queria conseguir ignorar o que sinto quando penso nele, mas não consigo.

          - Acredite em mim, ele superou o que aconteceu.

          - Eu não consigo acreditar nisso, ele não nos perdoou, Damon, eu sinto, por favor.

          - Não se preocupe, vai dar tudo certo, amor.

          - Então promete que você vai voltar pra mim.

          - Claro que vou, eu estou aqui, Paty, e não vou sair do seu lado.

          - E promete que você vai tomar cuidado.

          - Prometo, vem aqui, eu sou seu, Patrícia, não existe nada que mude isso.

          - E eu sou sua, e por favor cumpre as duas promessas, eu não suportaria se acontecesse alguma coisa com você.

          - Não vai acontecer nada, eu juro.

          - Eu amo você.

          - Eu amo você, confia em mim, não existe nada que me tire de você.

          - Nem que me tire de você.

          - Claro que não, nós vamos ficar juntos pra sempre."

          E mais uma vez, ela acordou com o coração apertado como se ainda estivesse no meio de um pesadelo e a terrível sensação de que ela estava perdendo-o, não saia do seu peito.

No dia seguinte, elas voltaram para a casa do tio, e daquela vez, ela estava decidida a descobrir tudo.

          - Boa tarde.

          - Oi, eu queria me desculpar pelo que aconteceu naquele dia.

          - Não se preocupe, eu sei que o choque deve ter sido grande.

          - É... eu admito que não imaginei que reagiria daquele jeito.

          - Tudo bem, o importante é que você está se sentindo melhor.

          - Estou, e eu ouvi o que você disse da última vez, eu só acho que mais de vinte anos de segredos foram suficientes.

          - Eu sei que vocês querem saber o que aconteceu, e vocês têm esse direito, o problema é que essa história não é fácil.

          - Naquele dia você comentou que pelo menos uma parte da história era de antes de eu nascer.

          - Isso.

          - Eu sei que posso estar querendo saber demais, só que...

          - Foi por isso que você respondeu a carta?

          - Em grande parte sim.

          - Eu imaginei.

          - Sério?

          - Sim, você pode lembrar o seu pai em muitos aspectos, mas me parece ter a mesma curiosidade da sua mãe.

          - Sempre tive.

          - Sempre mesmo.

          - Pensei que os meus pais tivessem se mudado quando eu era bebê.

          - Sim, mas você sempre foi curiosa, desde que nasceu.

          - Engraçado, você é a primeira pessoa que fala assim da minha infância, além da minha mãe.

          - Eu posso dizer que os seus primeiros meses foram...

          - Foram?

          - Oi... não sabia que vocês já tinham chegado.

          - Oi. – Daquela vez, ela decidiu que iria até o fim daquela história e nem mesmo ele, a faria sair sem as respostas. – Chegamos agora a pouco.

          - Foi bom você chegar, Damon, assim eu não vou precisar repetir essa história.

          Quando ele sentou do seu lado, sua cabeça queria se concentrar, mas seu corpo ansiava por um toque dele.

          - Você está bem?

          - Sim, curiosa, mas bem. E acho que agora que estamos todos aqui, você já pode contar.

          - Certo, eu não sei se vocês perceberam, mas os dois têm a mesma idade.

          - Você tem vinte e cinco anos?

          - Sim.

          - Pensei que você fosse mais velho.

          - Ele é mais velho do que você, mas só alguns meses.

          - Certo, as nossas mães engravidaram na mesma época, isso não é motivo para uma briga na família.

          - Realmente não é.

          - Então você pode ir ao que interessa, porque o nosso pai saiu da Inglaterra e nunca falou de você.

          - Porque quando o Damon tinha nove meses e você tinha seis, muitas coisas vieram à tona na família.

          - Até aí eu entendi, o que eu não consigo entender é porque isso mudou a minha vida inteira, porque eu imagino que se não tivesse acontecido, eu teria sido criada aqui.

          - Provavelmente.

          - Pai, fala de uma vez.

          - Patrícia, a sua irmã pode lembrar a sua mãe, mas além da sua curiosidade, esse brilho nos seus olhos, ela tinha, fora os seus cabelos que lembram muito os dela.

          - O meu cabelo é castanho.

          - Não era quando você nasceu.

          - Não?

          - Não, eu só pensei que ninguém nunca mais fosse lembrar disso, mas sim, o meu cabelo é loiro, pelo menos originalmente.

          - Além disso, você parece ter a força para ir atrás do que quer, que ela também tinha. – Na hora que ela ouviu o modo que ele falava da mãe, seus pensamentos começaram a se formar, ela só não estava gostando da imagem.

          - Você não está dizendo o que eu acho que está, não é?

          - Patrícia...

          - Por favor, porque se for, eu prefiro saber.

          - Eu... sim, a verdade é que eu era completamente apaixonado pela sua mãe.

          - Ah... você... o quê? – Ela imaginou diversas coisas, mas aquela com certeza não foi uma delas.

          - Patrícia, Luciana, eu não consigo nem imaginar o que vocês devem estar pensando, mas...

          - Que bom que você não imagina, porque...

          - Acreditem, o que nó... eu sentia, não era racional, mas...

          - Racional... realmente não parece. – Naquela hora um pensamento que ela não queria, surgiu na sua cabeça. – Vo... você... você não é meu...

          - Seu pai biológico? Não, – naquele momento, ela respirou aliviada – mas o seu pai descobriu sobre a sua mãe e eu, e eu sei que ele pensou isso.

          - Você traiu a minha mãe?

          - Eu amava a sua mãe, Damon, mas o que eu sentia pela Elizabeth, era quase incontrolável.

          - Incontrolável? Então vocês decidiram fazer o meu pai de idiota?

          - Nós não queríamos, só que nenhum dos dois conseguiu controlar, mas quando o seu pai descobriu, a sua mãe jurou que nunca mais aconteceria nada, que ela queria recuperar o casamento.

          - Mas eu sou...

          - Minha sobrinha, o seu pai fez questão de confirmar.

          - E a sua esposa?

          - A minha mãe morreu, quando eu tinha dois anos, agora eu estou vendo que foi de tristeza.

          - Eu pensei que a Mary...

          - Não, nós nos casamos quando o Damon tinha oito anos.

          - Eu... – Naquele momento, ela queria dar um apoio a ele, mas ao mesmo tempo queria chegar ao fim daquela história. – Foi por isso que os nossos pais foram para o Brasil?

          - Sim, o seu pai quis se afastar da família, e a sua mãe quis se afastar de tudo pra recuperar o casamento.

          - Por isso... você disse que era apaixonado por ela, e ela?

          - Patrícia...

          - Ela também era apaixonada por você, não era?

          - Era.

          - Isso pelo menos explica por que eu sempre percebi que a minha mãe não amava o meu pai.

          - Ela gostava dele, e...

          - E eles sentiam carinho um pelo outro, eu sei, sempre soube, mas não era amor, mas isso... isso explica o que a minha mãe me disse uma vez.

          - A sua mãe adorava dar conselhos.

          - É, ela disse pra sempre acreditar em um amor verdadeiro, que por mais difícil que fosse, esse amor existia.

          - Isso combinava com ela.

          - Combinava, pena que não com o meu pai.

          - Seu pai sempre foi mais prático, em todos os sentidos.

          - Eu sei.

          - Patrícia, confia em mim, essa foi uma situação complicada para toda a nossa família.

          - Imagino...

          Ela tinha ficado tão em choque, que esqueceu completamente que a irmã estava na sala.

          - Porque você quis entrar em contato, depois de tantos anos?

          - Essa é uma boa pergunta, e a resposta simples, seria eu não sei.

          - Sério?

          - Filho, eu sei que você...

          - Estou com raiva, em choque? Pode apostar que eu estou.

          Naquele momento tudo que ela queria era ajudá-lo a se acalmar e suas mãos agiram antes da sua cabeça pensar direito, mas seguindo o que seu coração queria.

          - Damon, – quando ela segurou a mão dele, a força que sentiu entre os dois e que parecia uni-los, voltou com muito mais intensidade do que ela imaginou – eu sei que foi um choque, mas tenta ficar calmo.

          - Paty... – Quando ele a chamou pelo apelido, não existia uma parte do seu coração que não soubesse que ela estava apaixonada.

          - Olha pra mim, se acalma, por favor.

          - Você tem razão, ficar nesse estado não vai ajudar em nada.

          - Eu acho melhor nós irmos, Paty.

          - É... – Assim que ela soltou a mão dele, parecia novamente que estava deixando uma parte do seu coração pra traz.

          - Patrícia?

          - Certo, você tem razão, acho que... você já contou tudo, não é?

          - Já.

          - Ótimo, é melhor nós irmos mesmo. – A única coisa que ela não conseguia pensar naquele momento, era sair de perto dele, talvez por isso, até sair da casa do tio, os olhos deles não se desgrudavam.

          - Paty, o que aconteceu lá dentro?

          - Lu, você estava lá e ouviu...

          - Eu não estou falando do que ele contou.

          - E está falando de quê?

          - Você e o Damon.

          - Você viu o estado que ele ficou, eu só queria...

          - O quê?

          - Dar um apoio, mostrar pra ele que não estava sozinho.

          - Só isso?

          - Claro que sim.

          - Patrícia.

          - Oi.

          - Desculpe Luciana, mas eu posso falar com você?

          - Claro.

          - Paty?

          - Eu te encontro no hotel.

          - Você vai voltar sozinha?

          - Luciana, eu não sou criança, não preciso de companhia pra pegar um trem.

          - Você que sabe.

          - Como você está?

          - Melhor, obrigado por ter me ajudado lá dentro.

          - De nada, e...

          - E me desculpa.

          - Pelo quê?

          - Ter te chamado de Paty, foi involuntário.

          - Não tem problema, você nunca me chamou assim, mas sempre foi o meu apelido.

          - Combina com você.

          - Obrigada.

          - Você vai voltar agora?

          - Eu... – Assim que ela olhou pra ele, tudo que viu nos olhos dele, deixou seu coração tão apertado que ela respondeu sem pensar. – Você quer dar uma volta?

          - Claro.

          Quando eles deram as mãos, a mesma força e o mesmo arrepio na sua espinha voltaram. 

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