Alguns dias depois, ela e a irmã tiveram que ir para a reunião dos acionistas na empresa do pai.
- Lu, está pronta?
- Sim.
Sair de casa pela primeira vez depois do enterro estava sendo a coisa mais difícil para ela, mas sendo a irmã mais velha, mesmo com uma diferença de apenas dois anos, ela sabia que precisava se manter firme.
- Oi Maurício.
- Oi meninas, como vocês estão?
- Vivendo um dia de cada vez.
- Patrícia, eu sei que você sempre disse que não ia seguir os passos do seu pai, mas o conselho precisa de uma decisão.
- Eu vou assumir a empresa.
- Paty, mas o seu sonho...
- No momento é só isso Lu, um sonho.
- Você tem certeza?
- Tenho, afinal como o meu pai sempre disse, eu me preparei desde pequena para assumir os negócios dele.
- Bom, vocês duas têm a maior parte das ações e com você controlando, não vai ser difícil te colocar na cadeira de presidente.
- Ótimo. – Por que ela tinha que ter sido a mais velha? Automaticamente o pai, a colocou como o filho homem que nunca teve.
Isso pelo menos serviu para muitas coisas, principalmente para convencê-la a fazer a mesma faculdade que ele, não que importasse o que ela queria.
Sua maior paixão desde os cinco anos era desenhar e conforme ela crescia além do amor pelo desenho, ela começou a descobrir a escrita e percebeu que era boa em ambas as coisas, mas infelizmente suas paixões não importavam para o seu pai.
Ela iria se formar em administração, se especializando em comércio exterior, e como boa filha, foi o que ela fez.
Então com vinte e quatro anos, ela já estava formada e sua pós estava completa, e apenas seis meses depois de se formar, ela estava realizando o sonho do pai, claro que alguns anos antes do que ambos imaginaram.
- Maurício, você quer mesmo colocar uma empresa desse porte na mão de uma menina?
- Andrew, ela já se formou, é inteligente e dona da maior parte das ações da empresa.
- Mas não muda o fato de que ela é praticamente uma criança. – Certo, ela sabia que naquela reunião precisava ouvir e levar em consideração a decisão do conselho, mas o jeito do outro a estava deixando com muita raiva.
- Desculpa, Andrew, certo?
- Isso mesmo.
- Olha, eu vou dizer apenas uma vez, eu sei do que sou capaz e imagino que muitos dos senhores também, já que me conhecem, mas para quem não acredita, eu vou fazer uma proposta.
- Patrícia...
- Confia em mim, Maurício, eu sei o que estou fazendo.
- Tem certeza?
- Absoluta. A proposta é a seguinte, eu fico seis meses na presidência e se não conseguir deixo o cargo.
- Seis meses?
- Sim, se eu não conseguir ou não der certo, deixo o cargo e apoio o nome que o conselho decidir colocar no meu lugar.
- Você apoiaria qualquer pessoa?
- Se eu julgar que ela merece o cargo, sim.
- Eu acho razoável.
- Claro.
Aquele podia não ser o seu sonho, mas os seis meses foram para ela como um desafio, e ela nunca fugia de um desafio.
- Patrícia, foi uma ideia genial.
- Obrigada.
- Pronta para assumir a sua sala?
- Acho que... sim, eu estou.
- O que precisar me chama.
- Obrigada, Maurício.
- Paty, por que você fez isso?
- Porque eu precisava.
- Você nunca gostou de administração, seu sonho sempre foi desenhar ou escrever.
- Lu, sonhos são ótimos por um tempo, mas eu cresci e está na hora de enfrentar o mundo real.
- Eu não entendo como você ficou assim.
- Realista?
- Cética, e não só sobre os seus sonhos, mas sobre tudo.
- Você está falando de romance?
- Eu estou falando da vida, e romance faz parte dela.
- Você sabe que eu nunca acreditei nisso.
- Você acreditava.
- Quando era pequena.
- E foi por isso que você fez aqueles desenhos?
- Que desenhos?
- Do seu príncipe.
- Meu... ah Lu, isso foi por causa daquele sonho, eu tinha dezesseis anos, faz muito tempo.
- Paty, além dos desenhos, você detalhou o sonho inteiro, se você continuasse poderia até virar um livro.
- Claro, que teria um capítulo e um bem pequeno.
- Você sabe que com a sua imaginação poderia ter aumentado a história.
- Esquece isso Lu, e como eu disse, sonhos são ótimos, mas chega uma hora que você precisa acordar.
- Mas você merece alguém que quebre essa casca que você criou.
- Eu não quero, e você sabe o que eu penso de romances.
- Claro, você acha que não são pra você.
- Eu não acredito, é diferente.
- Paty, você pode dizer que não, mas eu sinto que alguém ainda vai derrubar esse muro que você construiu em torno do seu coração.
- Não vai não, sabe por quê?
- Por que você não dá uma chance pra ninguém?
- Porque eu não acredito e não pretendo deixar alguém se aproximar tanto e acabar me machucando.
- Mas você precisa, todo mundo precisa.
- Lu, eu te adoro, mas você vive namorando e onde isso te levou?
- Eu não gosto de estar sozinha.
- E essa é uma das nossas principais diferenças, eu não me importo.
- Sério?
- Sim, sabe aquele ditado, antes só do que mal acompanhada?
- E se ele não for tão ruim?
- No fim, todos são.
- Nem todos.
- Sério? Me dá uma exceção.
- Nossos pais.
- Essa não é uma exceção.
- Do que você está falando? – Naquele momento, ela sabia que não devia ter falado nada, mas não conseguiu controlar.
- Nada, esquece o que eu disse.
- Você vai fazer a mesma coisa que eles, e me tratar como uma criança?
- Ok, você quer mesmo saber?
- Sim.
- Certo, a verdade é que os nossos pais viviam brigando, e mesmo vendo que a mamãe se esforçava, ela não amava o papai.
- Eu não acho.
- Porque como você mesma disse, você era a caçulinha e nunca via os dois brigarem, mas acredite entre eles podia existir carinho, companheirismo e talvez um tipo de amor, mas não aquele amor que a mamãe defendia.
- Eu ainda acho que você...
- Lu, isso não vai acontecer, confia em mim. – Certo, a irmã tinha razão em uma coisa, ela tinha se tornado cética, menos quando lembrava dele, porque era impossível não acreditar em uma coisa que ela sentia com todo seu coração.
Conforme o tempo passava, ela conseguiu provar para si mesma e para o conselho que conseguia cuidar dos negócios.
- Patrícia, eu preciso falar com você.
- Vem na minha sala.
- É sobre o contrato de Londres.
- Algum problema?
- Queria saber se quem vai é você ou o Maurício.
- Ainda não sei, eu estava pensando em ir, por quê?
- Porque o presidente da empresa perguntou.
- Eu acho que nós nunca trabalhamos com ele.
- Não trabalhamos, ele entrou esse ano na empresa.
- Me passa o contato dele, eu ligo e resolvo.
- Ok. – Assim que ela leu o nome dele, por mais que não entendesse o motivo, seu coração estava completamente disparado.
- Boa tarde, eu gostaria de falar com o senhor Watts.
- Ele está em uma reunião, a senhora gostaria de deixar recado?
- Pede a ele para retornar para a sede da Capitol, por favor.
- Claro.
- Obrigada.
- Patrícia, posso falar com você?
- Pode, entra.
- Você está bem?
- Sim, mas... acabei de perceber uma coincidência.
- Qual?
- O sobrenome do presidente daquela empresa inglesa, é o mesmo que o meu.
- Eu não tinha reparado.
- Nem eu, só agora porque liguei, mas ele estava em uma reunião, mas o que você queria?
- Eu sei que você disse que não sabia se iria, mas não acho uma boa hora para você viajar.
- O balanço dos acionistas, eu sei, é semana que vem
- Isso.
- É loucura querer viajar agora, mas...
- Eu sei que você sempre quis ir a Inglaterra, é por isso?
- Também, mas o trabalho vem primeiro, me faz um favor, cuida desse contrato.
- Tem certeza?
- Tenho, o dia que eu conseguir umas férias, vou lá a passeio.
- Pode deixar.
Naquela noite, mesmo sem entender, ela não parava de pensar naquele sonho, assim que pegou no sono, ela reviveu o mais real e melhor sonho que já teve, mas que não imaginava que teria de novo.
- Patrícia, faltam apenas duas semanas para o seu casamento, você tem certeza que o seu pai não vai?
- Isabel, eu adoro os meus pais, mas sabia que seria uma guerra, pelo menos com o meu pai, quando decidi me casar com o Damon.
- Pelo menos a sua mãe organizou um lindo casamento.
- Sinceramente, eu não me importo com a festa, os preparativos, tudo que eu mais quero é me casar com ele.
- E você vai, e o seu noivo vai ficar perplexo quando te ver.
- Eu sei, e mal posso esperar.
- Querida, o seu noivo está aqui.
- Pede a ele para esperar um pouco. Me ajuda a tirar o vestido, Bel. – Assim que ela desceu, como sempre acontecia, vê-lo olhando para ela, a fazia se sentir mais feliz.
- Boa tarde, senhor Wood.
- Senhorita Walker.
- Vocês não precisam ser tão formais um com o outro, e hoje podem sair sozinhos, mas estejam de volta na hora combinada.
- Não se preocupa tia, nós só vamos passear um pouco no parque.
- Ótimo. – E mais uma vez, quando eles iam se tocar, ela acordou, novamente com o coração disparado e sem saber como tirar aquela sensação do seu peito.
Ela podia não ter certeza, mas mesmo sem contar pra ninguém, ela resolveu escrever aquele sonho e percebeu que aquele tinha sido a continuação do primeiro, ela só não entendia por que teve aquele sonho de novo.
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Atualizado até capítulo 20
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