O Encontro

          Quanto mais se aproximava a data da viagem, mais ansiosa ela ficava, mesmo não entendendo por que isso a estava deixando tão nervosa.

          - Maurício, obrigada por cuidar de tudo.

          - De nada, e lembrem-se o que vocês precisarem, podem ligar.

          - Obrigada.

          Assim que elas embarcaram, ela colocou o fone e nem notou quando pegou no sono.

          Quando ela abriu os olhos, percebeu onde estava. O local, o mesmo que ela nunca conseguiu esquecer, só não imaginava ver novamente. No momento que se olhou no espelho que estava na sua frente, se surpreendeu com o que vestia.

          - Senhorita...

          - Isabel?

          - Desculpe, Patrícia, você está maravilhosa. – Realmente ela estava se sentindo bonita, com o cabelo loiro, não que ela gostasse, preso em um coque lateral e o vestido, o mais lindo que ela já tinha visto, mas sua cabeça demorou um pouco a registrar que não era apenas um vestido de festa, mas um vestido de noiva.

          - Eu estou... – Feliz, radiante, realizada, eram as únicas palavras que passavam na sua cabeça.

Mas como sentir tantos sentimentos diferentes ao mesmo tempo podia ser considerado uma coisa boa? Mas era, ela sabia que aquele seria o dia mais importante e feliz da sua vida.

          - Linda, minha querida. – Aquela voz, era impossível.

          - Mãe...

          - Filha, acho que nunca vi uma noiva tão linda. E não se preocupe, está quase na hora.

          Sim, ela sabia onde estava, lembrava de praticamente todo o local, só não conseguia entender por que tudo estava tão real. Assim que terminaram de arrumá-la, ela foi levada pelo corredor e pelas escadas do castelo, o mesmo que não via inteiro há anos.

          Quando pensou que veria o pai, perto de tudo que já tinha visto até aquele momento, algo mudou e ela se viu na igreja de frente para ele, o homem mais lindo da sua vida e que desde o último sonho, ela tentava não pensar, mesmo que isso não acontecesse, mas não era só a beleza, era ele, como se quando os dois se olhassem, seu mundo fazia sentido e novamente a sensação de que seu coração pertencia a ele.

No momento que ele ia tocar no seu rosto, como sempre acontecia, ela acordou, suando frio, com o coração disparado e a sensação de que faltava uma parte dela.

          - Paty, o que aconteceu?

          - Nada, foi só um sonho.

          - Pesadelo?

          - Não...

          - Paty, eu só te vi assim... foi aquele sonho?

          - Quase, mas dessa vez foi diferente.

          - Diferente?

          - Sim, mais... real, na verdade foi o sonho mais real da minha vida.

          - Quer conversar?

          - Agora não, só quero ficar um pouco quietinha.

          - Certo.

          Naquela hora, ela percebeu que uma parte sua queria continuar aquele sonho, o que não aconteceu, e como ela não dormiu mais durante a viagem, resolveu escrever o sonho e percebeu que aquele tinha sido a continuação dos anteriores, e lembrou também porque o pai não estava no casamento.

          O resto da viagem foi tranquila, mas aquele sonho não saia da sua cabeça. Sim, ela já tinha sonhado com tudo que viu, ou pelo menos quase tudo, e quando era pequena, sonhava em ser uma princesa, com príncipes e castelos, mas aos vinte e cinco anos e muito mais realista, nada daquilo fazia sentido.

E as perguntas que não saiam da sua cabeça eram: Por que pela primeira vez aquele sonho foi tão real? Tão real que ela ainda conseguia sentir a proximidade entre eles.

E por que seu coração sabia que não pertencia mais a ela depois de encontra-lo? Porque mesmo que quisesse negar, ela sabia que seu coração era dele.

          - Paty, você quer mesmo ficar em Londres?

          - Lu, nós estamos a uma hora da cidade, e eu não acho uma boa ideia nós ficarmos na casa de uma pessoa que não conhecemos.

          - E por que nós não nos hospedamos na cidade?

          - Não sei, mas agora já estamos aqui então vamos enfrentar uma hora de trem, vai ser mais rápido do que pra chegar aqui.

          - Você não vai começar a reclamar, não é?

          - Você sabe que eu não gosto de ponte aérea, pra mim, deveria ser embarcar e sair no local que você quer.

          - Então nós devíamos ter vindo no jatinho da empresa ou em um voo sem conexão.

          - Primeiro, voo direto eu não consegui passagem, e o jatinho é da empresa não meu, e essa viagem é pessoal.

          - Então não reclama.

          - Eu não estou.

          - Não?

          - Não, mas você me conhece, eu não gosto de demorar a chegar nos lugares.

          - Eu sei, e foi por isso que falei do jatinho.

          - E eu te disse que ele não é meu.

          - Você que sabe, o que você vai dizer pra ele?

          - Ele?

          - Quem você acha?

          - Para o nosso tio?

          - Sim.

          - A verdade, afinal foi ele que entrou em contato.

          - Certo, você vai falar com ele hoje?

          - Amanhã de manhã, hoje está tarde.

          - Bom, eu vou dar uma volta, quer ir comigo?

          - Não, estou querendo descansar.

          - Você que sabe.

          Assim que ela deitou, mesmo que não quisesse, o sonho não saia da sua cabeça, quando ela pegou o bloco de desenho, sua mão parecia fazer o que queria e ela acabou desenhando os dois, um ao lado do outro na igreja, quando conseguiu pegar no sono, seu coração queria continuar aquele sonho, o que claro não aconteceu. No dia seguinte, ela ligou para o tio e marcou uma visita para aquela tarde.

          - Eu ainda não acho uma boa ideia.

          - Lu, você sabe que eu não vou conseguir fazer isso sozinha.

          - E se ele for um louco psicopata?

          - Ele é nosso tio, e a história bate com o que nós descobrimos.

          - Isso não impede que ele seja louco.

          - Luciana?

          - É verdade, eu só estou tentando entender por que o papai nunca falou do próprio irmão.

          - Eu também quero saber, e o melhor jeito de descobrir vai ser perguntando pessoalmente para ele.

          - Paty...

          - Lu, se ele for um louco, nós saímos de lá, pode ser?

          - Tudo bem.

          Quando elas chegaram na cidade, seu coração começou a disparar, mas ao mesmo tempo, ela estava com um aperto muito forte no peito e com uma sensação de familiaridade que não entendia e sabia que era impossível, mas ela conhecia aquele lugar.

          - Paty?

          - O quê?

          - Você está bem?

          - A cidade...

          - É, ela parece bonita.

          - Não é isso.

          - Patrícia?

          - Eu... – Ela não podia dizer para a irmã que já tinha estado lá, principalmente porque ela nunca esteve.

          - O que aconteceu?

          - Você não achou... – familiar – linda?

          - Um pouco, mas você me conhece, eu prefiro cidades mais parecidas com Londres.

          - Sei, é que eu pensei...

          - Você não está querendo se trancar em uma cidade pequena, não é?

          - Claro que não, você sabe que isso não combina comigo.

          - Ainda bem.

          - Quer saber, foi só a diferença entre as cidades que nós normalmente conhecemos.

          - Tem certeza?

          - Tenho, vamos?

          - Vamos.

          Assim que ela viu a casa do tio, seu coração disparou de novo, não era um castelo, claro, mas tinha um estilo medieval, dois andares, as paredes de pedra e a porta dupla de madeira antiga, que a levou de volta para o sonho e mesmo querendo fugir, a levou de volta para ele.

          - Boa tarde.

          - Oi.

          - Você deve ser a Patrícia.

          - Sim, e essa é a minha irmã, Luciana.

          - Muito prazer.

          - O prazer é meu.

          - Eu imagino que vocês tenham muitas perguntas.

          - Algumas.

          - Acho melhor conversarmos lá dentro.

          - Na verdade...

          - Vocês não precisam se preocupar, a minha esposa está lá dentro e a nossa empregada também, nós não ficaríamos sozinhos.

          - Certo, pode ser. – Naquela hora, mesmo sem entender, ela acreditava e o mais difícil, ela também confiava nele.

          - Oi, vocês devem ser as sobrinhas do Charles.

          - Sim.

          - Meu nome é Mary, muito prazer.

          - O prazer é meu, eu sou a Patrícia e essa é a minha irmã, Luciana.

          - Muito prazer.

          - Oi, podem ficar à vontade.

          - Obrigada.

          - Vocês querem alguma coisa?

          - Eu não.

          - Nem eu. – Por mais que quisesse que ele respondesse suas perguntas, quanto mais ela olhava para o tio, mais ficava com a impressão de que eles já se conheciam.

          - Você lembra muito o seu pai, Patrícia.

          - É, muitas pessoas já me disseram isso.

          - A sua irmã não, ela lembra mais a sua mãe.

          - Você conheceu a nossa mãe?

          - Sim, e te conheci quando você era apenas um bebê.

          - Sério?

          - Sim, e eu preciso dizer que você ficou muito bonita.

          - Obrigada, mas como você...

          - Como eu te conheci?

          - Sim, eu não me lembro de você.

          - Porque você era muito pequena, você sabe que nasceu em Londres, não sabe?

          - Eu nasci em São Paulo.

          - Não, você nasceu em Londres, antes dos seus pais se mudarem.

          - Eu... eu não...

          - Você não sabia?

          - Não, nenhum dos dois nunca me contou.

          - Eles se mudaram quando você tinha seis meses.

          - Se você conheceu a nossa mãe, por que nem ela e nem o meu pai nunca falaram de você?

          - Porque quando vocês se mudaram, o seu pai cortou todos os laços com a família.

          - Imagino que tenha tido um motivo.

          - Teve, claro.

          - E você não vai contar?

          - Meninas, aconteceram muitas coisas na nossa família, algumas antes mesmo de você nascer, Patrícia.

          - Pai, eu preciso falar com... desculpe, não sabia que você tinha visitas.

          Aquela voz, ela não precisava olhar para saber quem era, por mais que a sua cabeça soubesse que era impossível.

          - Damon, essas são as suas primas, Patrícia e Luciana. – Ela sabia que precisava, mas estava sem coragem de olhar pra ele, principalmente porque sua cabeça sabia quem iria ver.

          - Muito prazer. – No momento que eles se olharam, seu coração quase parou de bater e sua única certeza é que tinha ficado completamente louca. Não era apenas a voz, mas ele, o que claro era impossível, mas era ele, ela tinha certeza.

          - O prazer é... é meu, desculpe o choque é que...

          - Você...

          - Sim?

          - Você não sabia que tinha um primo?

          - Isso, é... eu não sabia. Patrícia, muito prazer. – Ou pelo menos, ela não sabia que tinha um primo igual ao homem dos seus sonhos, literalmente.

          - O prazer é... é meu, Damon. – Quando ele tocou na sua mão, seu coração estava ressoando nos seus ouvidos, e o modo como ele a olhava, como se pudesse enxergar através dela, não estava ajudando.

E naquele momento, a parte racional do seu cérebro sabia, mas era como se não tivesse mais ninguém na sala além dos dois, e quanto mais ele olhava para ela, mais seu coração disparava.

          - Oi Luciana.

          - Oi.

          - Paty, posso falar com você?

          - O... o quê?

          - Vem comigo, eu preciso falar com você.

          - Claro... nos deem licença, por favor.

          - Sem problemas.

          Ela podia não ter certeza, mas se não fosse a sua imaginação, ele também tinha ficado mexido com aquele encontro, mas por quê?

E como explicar ao seu coração, que o que ela estava sentindo não poderia ser real?

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