Escritos Pelo Destino
Em exatas duas da manhã, coberto com um lençol fino da Barbie, deitado numa cama sem poder mover um músculo para não acordar uma criança de dois anos que dorme profundamente, eu estou pensando como está minha vida no momento. Desempregado, pai, com a faculdade de medicina trancada e ainda morando com minha mãe, é ou não é a vida perfeita? Me recordo de como tudo começou e olho para a minha filha abraçada com meu braço dormente, ela é tão linda, ela me dá forças pra continuar, uma garotinha muito esperta, cheia de marra e coragem. Com toda certeza do mundo Antonella não puxou ao pai.
Saio dos meus pensamentos e escuto um barulho alto de panelas caindo no chão.
-É na cozinha! - afirmei em pensamento.
Antonella se movimentou fazendo uma careta, abriu um pouco os olhos e voltou a dormir, dessa vez não está agarrada no meu braço.
Levantei e fui em direção a cozinha em passos duvidosos, peguei um vaso no caminho e vi uma sombra passar pela fresta da porta. Levantei o vaso até o alto da cabeça, fui com cuidado até o interruptor e liguei as luzes, em questão de segundos quando eu estava prestes a bater com o vaso na cabeça de seja lá quem fosse, recuei e vi parada minha mãe, olhando pra mim com a cara mais cínica que alguém pode ter.
-Isso são horas dona Eva? Quase me matou de susto! - falei em um sussurro.
-Você é muito frouxo garoto. - falou em tom de deboche.
-Sou o homem da casa, preciso salvar as mulheres.
-A Antonella é mais corajosa que você, com toda certeza ela é a mulher da casa.
Tive que concordar apenas com a cabeça, não tinha o que falar.
-Deu formiga na cama? - perguntei mudando de assunto.
-Não, mas confesso que estou muito preocupada com você, até agora não conseguiu nenhum emprego, e eu vejo que você está se esforçando muito, mas não dou conta sozinha na lanchonete, Matteo precisa se virar em dois agora.
Eu não sabia o que falar, realmente eu estou me esforçando, ajudo muito minha mãe na lanchonete que ela fez na garagem de casa, antes do meu pai morrer, mas sei que isso não é o suficiente.
Depois que o meu pai morreu as coisas ficaram difíceis, minha mãe decidiu abrir uma lanchonete e me ajudar com a Antonella e eu comecei a fazer faculdade de medicina com o dinheiro que economizei em trabalhos de meio período e empregos que trabalhei por um tempo antes da Antonella, mas as despesas estão altas e o dinheiro acabando, tive que trancar a faculdade e me dedicar a ajudar ela na lanchonete com entregas. Mas preciso de um emprego que pague mais.
-Vou sair pra procurar amanhã, e prometo que vou encontrar.
-Isso não depende de você Matteo, não se cobre tanto, mas eu sei que você consegue. Viu o jornal hoje? Essa empresa aqui tá contratando. -falou apontando para o jornal.
-Essa não é aquela empresa que tem uma CEO muito rígida?
-Sim, chamam ela de 'O Diabo de Prada'.
Eu gargalho.
-O filme? Isso é uma piada? - perguntei achando graça da situação.
-Não é uma piada, ela é muito rígida, trabalhar pra ela é quase uma prisão, você tem que estar disponível a toda hora, e fazer tudo que ela pede.
-Que horror.
-Sim, mas compensa olha o salário, e não é tão concorrido já que muita gente não aguenta.
Olhei para o salário incrédulo, era um valor três vezes maior do que eu preciso, e não é longe de casa.
Dei uma folheada no anúncio e encontrei o horário da entrevista e os requisitos. O único requisito é : disponibilidade vinte e quatro horas.
-Eu acho que não é pra você. - minha mãe falou e olhou pra mim sabendo que eu não ia.
Decidi arriscar!
-Estarei lá amanhã.
Já pela manhã acordo e vou direto para o banheiro tomar banho e fazer minha higiene matinal, coloco uma roupa formal, já que a empresa pede essa vestimenta e desço para tomar café.
-Bom dia lindas. - falo entrando na cozinha.
-Bom dia Filho.
-Bom dia Papai, eu fiz café.
-Você fez? Tá muito esperta meu amor.
Olhando aquele monte de panquecas e frutas, eu não tinha vontade de tomar café, mas como a Antonella fez com muito amor e aquele sorriso no rostinho dela me fez mudar de ideia. Tomei um gole do café e ela me olhou com esperança, e então tomei outro gole.
-Que delícia filha, esse café é digno da lanchonete da sua avó.
-Viu vovó, o pai gostou. - fala com um sorriso de orelha a orelha.
-Vi meu amor, vá pegar a mochila que seu pai vai te levar pra escola.
Antonella subiu e eu peguei o jornal novamente para ler o anúncio da vaga.
Encontrei mais benefícios do que eu imaginava, tinha alimentação, dinheiro para gasolina ou passagem, férias pagas, ajuda com escola dos filhos, plano de saúde e muito mais. Era quase perfeito, tirando a parte do diabo em pessoa.
-Tá nervoso, Matteo? -minha mãe perguntou preocupada.
-Sim, parece ser muito puxado, eu não vou ter tempo de levar e pegar a Antonella na escola pelo horário. Mas o salário compensa.
-Eu levo ela pra escola e abro a lanchonete quando eu chegar.
-E a volta? É justo no horário de almoço e algumas pessoas passam na lanchonete para comer.
-No começo eu fecho para pegar ela, quando voltar pra casa eu reabro, mas depois vamos receber uma ajuda extra. -ela fala com um sorriso no rosto.
-Como assim ajuda extra? - pergunto assustado.
-Sua irmã volta daqui a um mês.
Escutar essa notícia é música para os meus ouvidos. Minha irmã Miriam, saiu de casa depois que terminou os estudos e foi fazer faculdade de moda na França, somos gêmeos e muito apegados. Finalmente ela terminou a faculdade e vai voltar para casa.
-Que notícia boa.
-É, agora vai para não se atrasar.
-Vamos Antonella? -perguntei vendo ela entrar na cozinha arrastando a bolsa maior do que ela.
-Vamos papai, tchau vovó.
-Tchau meu amor, boa sorte filho.
Entrei no meu carro velho e remendado e segui para a escola da Antonella, deixei ela na frente da escola e observei ela entrar com lágrimas nos olhos, sempre era difícil me despedir dela. Depois de alguns longos minutos e as lágrimas enxugada, dei partida para a grande empresa do diabo escutando música para me acalmar.
Estacionei e ao sair do carro olhei bem para o enorme castelo que era aquela empresa, entrei com o pé direito pra dar sorte e me desejei sorte.
-É agora ou nunca. -retruquei e segui para a recepção.
-Bom dia, posso ajudar? - uma linda moça sorridente falou comigo na recepção.
-Bom dia, vim para a entrevista de assistente pessoal da Emma Smith.
A moça loira me olhou espantada, parecia que ela tava pedindo socorro e como se fosse um aviso de 'corre'.
-S-sim, claro, último andar no elevador, fale com a secretária lá em cima e ela te dará as instruções.
-Sim, muito obrigado… -olhei o crachá na sua blusa. -Brenda. -sorri pra ela.
Ela sorrio.
-Foi um prazer…
-Matteo, Matteo Wilson.
-Prazer então Matteo. - ela me deu um sorriso simpático e eu fui para o elevador.
Entrei no elevador e apertei o botão do último andar e muitas pessoas entram logo em seguida, todas em andares baixos, todos no elevador me olhavam com cara de socorro assim que percebem que eu vou para a entrevista.
O elevador demorou quase uma eternidade e quando as portas finalmente se abriram no vigésimo quinto andar eu não acreditei no que vi.
-Ai meu Deus.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Aiane Neves
kkkkkk
2024-01-16
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Minha Opnião
Erou na foto ou na escrita
2022-10-16
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