Em exatas duas da manhã, coberto com um lençol fino da Barbie, deitado numa cama sem poder mover um músculo para não acordar uma criança de dois anos que dorme profundamente, eu estou pensando como está minha vida no momento. Desempregado, pai, com a faculdade de medicina trancada e ainda morando com minha mãe, é ou não é a vida perfeita? Me recordo de como tudo começou e olho para a minha filha abraçada com meu braço dormente, ela é tão linda, ela me dá forças pra continuar, uma garotinha muito esperta, cheia de marra e coragem. Com toda certeza do mundo Antonella não puxou ao pai.
Saio dos meus pensamentos e escuto um barulho alto de panelas caindo no chão.
-É na cozinha! - afirmei em pensamento.
Antonella se movimentou fazendo uma careta, abriu um pouco os olhos e voltou a dormir, dessa vez não está agarrada no meu braço.
Levantei e fui em direção a cozinha em passos duvidosos, peguei um vaso no caminho e vi uma sombra passar pela fresta da porta. Levantei o vaso até o alto da cabeça, fui com cuidado até o interruptor e liguei as luzes, em questão de segundos quando eu estava prestes a bater com o vaso na cabeça de seja lá quem fosse, recuei e vi parada minha mãe, olhando pra mim com a cara mais cínica que alguém pode ter.
-Isso são horas dona Eva? Quase me matou de susto! - falei em um sussurro.
-Você é muito frouxo garoto. - falou em tom de deboche.
-Sou o homem da casa, preciso salvar as mulheres.
-A Antonella é mais corajosa que você, com toda certeza ela é a mulher da casa.
Tive que concordar apenas com a cabeça, não tinha o que falar.
-Deu formiga na cama? - perguntei mudando de assunto.
-Não, mas confesso que estou muito preocupada com você, até agora não conseguiu nenhum emprego, e eu vejo que você está se esforçando muito, mas não dou conta sozinha na lanchonete, Matteo precisa se virar em dois agora.
Eu não sabia o que falar, realmente eu estou me esforçando, ajudo muito minha mãe na lanchonete que ela fez na garagem de casa, antes do meu pai morrer, mas sei que isso não é o suficiente.
Depois que o meu pai morreu as coisas ficaram difíceis, minha mãe decidiu abrir uma lanchonete e me ajudar com a Antonella e eu comecei a fazer faculdade de medicina com o dinheiro que economizei em trabalhos de meio período e empregos que trabalhei por um tempo antes da Antonella, mas as despesas estão altas e o dinheiro acabando, tive que trancar a faculdade e me dedicar a ajudar ela na lanchonete com entregas. Mas preciso de um emprego que pague mais.
-Vou sair pra procurar amanhã, e prometo que vou encontrar.
-Isso não depende de você Matteo, não se cobre tanto, mas eu sei que você consegue. Viu o jornal hoje? Essa empresa aqui tá contratando. -falou apontando para o jornal.
-Essa não é aquela empresa que tem uma CEO muito rígida?
-Sim, chamam ela de 'O Diabo de Prada'.
Eu gargalho.
-O filme? Isso é uma piada? - perguntei achando graça da situação.
-Não é uma piada, ela é muito rígida, trabalhar pra ela é quase uma prisão, você tem que estar disponível a toda hora, e fazer tudo que ela pede.
-Que horror.
-Sim, mas compensa olha o salário, e não é tão concorrido já que muita gente não aguenta.
Olhei para o salário incrédulo, era um valor três vezes maior do que eu preciso, e não é longe de casa.
Dei uma folheada no anúncio e encontrei o horário da entrevista e os requisitos. O único requisito é : disponibilidade vinte e quatro horas.
-Eu acho que não é pra você. - minha mãe falou e olhou pra mim sabendo que eu não ia.
Decidi arriscar!
-Estarei lá amanhã.
Já pela manhã acordo e vou direto para o banheiro tomar banho e fazer minha higiene matinal, coloco uma roupa formal, já que a empresa pede essa vestimenta e desço para tomar café.
-Bom dia lindas. - falo entrando na cozinha.
-Bom dia Filho.
-Bom dia Papai, eu fiz café.
-Você fez? Tá muito esperta meu amor.
Olhando aquele monte de panquecas e frutas, eu não tinha vontade de tomar café, mas como a Antonella fez com muito amor e aquele sorriso no rostinho dela me fez mudar de ideia. Tomei um gole do café e ela me olhou com esperança, e então tomei outro gole.
-Que delícia filha, esse café é digno da lanchonete da sua avó.
-Viu vovó, o pai gostou. - fala com um sorriso de orelha a orelha.
-Vi meu amor, vá pegar a mochila que seu pai vai te levar pra escola.
Antonella subiu e eu peguei o jornal novamente para ler o anúncio da vaga.
Encontrei mais benefícios do que eu imaginava, tinha alimentação, dinheiro para gasolina ou passagem, férias pagas, ajuda com escola dos filhos, plano de saúde e muito mais. Era quase perfeito, tirando a parte do diabo em pessoa.
-Tá nervoso, Matteo? -minha mãe perguntou preocupada.
-Sim, parece ser muito puxado, eu não vou ter tempo de levar e pegar a Antonella na escola pelo horário. Mas o salário compensa.
-Eu levo ela pra escola e abro a lanchonete quando eu chegar.
-E a volta? É justo no horário de almoço e algumas pessoas passam na lanchonete para comer.
-No começo eu fecho para pegar ela, quando voltar pra casa eu reabro, mas depois vamos receber uma ajuda extra. -ela fala com um sorriso no rosto.
-Como assim ajuda extra? - pergunto assustado.
-Sua irmã volta daqui a um mês.
Escutar essa notícia é música para os meus ouvidos. Minha irmã Miriam, saiu de casa depois que terminou os estudos e foi fazer faculdade de moda na França, somos gêmeos e muito apegados. Finalmente ela terminou a faculdade e vai voltar para casa.
-Que notícia boa.
-É, agora vai para não se atrasar.
-Vamos Antonella? -perguntei vendo ela entrar na cozinha arrastando a bolsa maior do que ela.
-Vamos papai, tchau vovó.
-Tchau meu amor, boa sorte filho.
Entrei no meu carro velho e remendado e segui para a escola da Antonella, deixei ela na frente da escola e observei ela entrar com lágrimas nos olhos, sempre era difícil me despedir dela. Depois de alguns longos minutos e as lágrimas enxugada, dei partida para a grande empresa do diabo escutando música para me acalmar.
Estacionei e ao sair do carro olhei bem para o enorme castelo que era aquela empresa, entrei com o pé direito pra dar sorte e me desejei sorte.
-É agora ou nunca. -retruquei e segui para a recepção.
-Bom dia, posso ajudar? - uma linda moça sorridente falou comigo na recepção.
-Bom dia, vim para a entrevista de assistente pessoal da Emma Smith.
A moça loira me olhou espantada, parecia que ela tava pedindo socorro e como se fosse um aviso de 'corre'.
-S-sim, claro, último andar no elevador, fale com a secretária lá em cima e ela te dará as instruções.
-Sim, muito obrigado… -olhei o crachá na sua blusa. -Brenda. -sorri pra ela.
Ela sorrio.
-Foi um prazer…
-Matteo, Matteo Wilson.
-Prazer então Matteo. - ela me deu um sorriso simpático e eu fui para o elevador.
Entrei no elevador e apertei o botão do último andar e muitas pessoas entram logo em seguida, todas em andares baixos, todos no elevador me olhavam com cara de socorro assim que percebem que eu vou para a entrevista.
O elevador demorou quase uma eternidade e quando as portas finalmente se abriram no vigésimo quinto andar eu não acreditei no que vi.
-Ai meu Deus.
Sai do elevador com um certo espanto.
Eu imaginava várias pessoas no mínimo quinze, cada pessoa com sua pasta de documentos e aguardando serem chamadas.
Não tinha absolutamente ninguém! Apenas um balcão, uma porta que eu acredito que seja o inferno e uma moça atrás do balcão.
Caminhei sem pressa até o balcão gigante e uma moça linda de cabelos cacheados me deu um olhar de esperança, ela me olhou parecendo que eu era o entregador de pizza.
-Bom dia, vim para a entrevi…
-Bom dia, é um prazer ter você aqui, gostaria de um copo de água, refrigerante, talvez um suco, chá, café? - ela falou um pouco rápido demais.
-Não eu…
-Veio para a entrevista, não é? Por favor diga que sim.
O que é isso? Esse trabalho tá acabando com as pessoas.
-Sim, eu… -esperei outra interrupção mas não veio. - Eu me chamo Matteo Wilson, vim para a entrevista de assistente pessoal da Emma Smith.
-Ah - ela abriu um sorriso de orelha a orelha. - Me acompanhe Senhor Wilson.
-Matteo, acho que prefiro só Matteo.
-Sim, Matteo.
Ela me levou até a porta invernal e deu duas batidas, pude ouvir claramente o som de uma voz forte e feminina mandando entrar. Adentrei e observei a sala enorme e luxuosa.
-Senhora Smith, esse é o Matteo Wilson, ele veio para a entrevista. - a linda morena de cabelo cacheado falou e novamente me olhou com esperança.
-Certo, pode ir, e você Wilson, sente. - ela falou quase como uma ordem.
Ao sentar na poltrona pude observar melhor a aparência da Emma, ela parecia cansada, apesar de estar muito bem maquiada, ela tinha uma aparência bem padrão e um corpo extremamente atraente. Mas o que mais me chamou a atenção foi o seu olhar muito triste, ela não está bem, e parece magoada e sofredora.
-Trouxe currículo? - ele me perguntou arqueando a sobrancelha.
-Sim, aqui está. - entreguei o currículo pra ela e ela leu com muita atenção.
-Você não serve pra essa vaga, quer ser médico não é?
-Sim, mas eu me adapto muito bem a qualquer ambiente.
-E por qual razão devo te contratar Wilson? - ela debochou, sim, ela debochou na minha cara!
-Senhora Smith, eu sei que talvez não sou o que está procurando no momento mas, pelo que sei sua fama com funcionários não é nada boa, quando eu cheguei aqui não tinha nem sequer uma pessoa lá fora e com certeza não tem filas querendo esse emprego, se estou aqui é por que sei que sou qualificado e vou dar o melhor que eu posso nesse cargo. Irresponsabilidade, falta de interesse, falta de pontualidade e desonestidade não são características que a senhora irá ver em mim, muito pelo contrário, farei do possível ao impossível para fazer tudo que fui ordenado a fazer. -coloquei tudo pra fora de vez e me arrependi assim que terminei de falar.
Ela me analisou com atenção, parecia pensar um pouco, ficou num silêncio que parecia horas. Até que ela quebrou o silêncio.
-Quero que seja sincero comigo, o que vai fazer com o dinheiro do seu salário?
-Isso não é um assunto pessoal?
-Sim, mas se vou te dar um cargo tão importante preciso saber.
-Vou terminar minha faculdade, ajudar minha mãe em casa e dar o melhor que posso para minha filha. -quando eu falei da minha filha ela levantou uma sobrancelha e me encarou séria.
-Muito bem. Está contratado, passe no RH e dê seus documentos, a minha secretária vai te explicar horários e tudo que você vai fazer, salário e benefícios. Você começa na segunda.
- Muito obrigado senhora Smith, não vou decepcioná-la. -levantei e apertei a mão da minha nova chefe.
- Assim espero!
Sai da sala com um sorriso enorme no rosto, fui até a moça bonita de cabelo cacheado para perguntar sobre o RH e o nome dela, porque já estou cansado de falar moça bonita de cabelo cacheado.
O nome dela é Isadora. Ela me ajudou a ir no RH.
Sai da empresa sorridente, passei em uma cafeteria e tomei um café sem pressa e folheei algumas revistas, na maioria delas minha nova chefe é assunto principal e pude ver com clareza em suas fotos o quão bonita ela é. Olhei as horas e era hora de pegar a Antonella na escola, as horas voaram. Dirigi até a escola dela e de longe ela já sabia que era eu, correu até o carro, eu peguei ela e nos abraçamos.
-Papaaaii.
-Oi minha linda, como foi a aula?
-Foi legal pai, eu aplendi a desenhar um coelo. - falou enquanto eu colocava ela na cadeirinha.
-Nossa, que legal. Depois você mostra ao papai?
-Sim pai.
-Ótimo, agora vamos pra casa.
Já em casa nós almoçamos e minha mãe não estava, deduzi que ela está na lanchonete. Dei banho na Antonella, alimentei ela e ajudei ela com as atividades de casa, deixei ela brincando no quarto e desci para a garagem e lá estava dona Eva.
-Oi Matteo, como foi a entrevista? - perguntou de relance.
-Eu passei. - respondi não contendo um sorriso.
Ela me olhou incrédula.
-Pare de mentir Matteo, não faça isso.
-A sua falta de fé em mim me impressiona. Eu passei Dona Eva, vou concluir a faculdade, e nada vai faltar pra você e nem pra Antonella.
Os olhos dela se encheram de lágrimas e ela me deu um abraço forte.
-Eu nunca deixei de ter fé em você, você sempre foi muito esforçado e dedicado eu sabia que ia conseguir, mas esse emprego meu filho, é um pouco puxado não é?
-Agora já foi, ou é esse ou não é nenhum. Preciso sair do zero.
-Tem razão, agora me ajuda a atender aqui que daqui a pouco aparece muita gente.
Fiquei com minha mãe atendendo a lanchonete o dia todo e brincando com a Antonella também, já à noite fechamos a lanchonete e eu subi pra tomar banho, me arrumei e fui para o meu destino dos finais de semana.
Fui para a boate do meu melhor amigo. Nathan é meu amigo desde que me entendo por gente, ele sempre sonhou em ser empresário, ele conseguiu e depois abriu uma boate.
Entrei na boate e fui invadido pela música alta e um cheiro forte de álcool, tinha pessoas bebendo e dançando por toda parte, e cantores no palco, o Nathan sempre escolhe as melhores bandas e cantores para se apresentar na boate, e quanto melhor e mais famoso for o cantor, mais dinheiro pro bolso do Nathan.
Eu já trabalhei aqui na boate como barman, mas o salário não dava pra nada e eu tinha que trabalhar de noite e dormir de dia, cortando todo tempo que eu podia ter com a Antonella. Não deu certo.
Também trabalhei na empresa do Nathan, mas ela fica em outra cidade, tive que sair novamente, tudo pela Antonella, não posso ficar ausente da vida da minha filha, que já não tem a mãe por perto.
Avistei o Nathan bebendo numa das mesas e fui até ele.
-Começou cedo Nathan!?
-Matteo, cara pensei que você não ia vim, tava preocupado. - falou vindo até mim e me dando um aperto de mão e um tapinha nas costas.
-Tá carente? - falei em tom de piada.
-Você sabe que sim. - ele entrou na brincadeira.
-Tenho novidades, consegui um emprego no inferno. - falei mudando de assunto e não me contendo, já que eu estava muito feliz.
-Como? No inferno? - perguntou confuso.
-Na empresa da famosa Emma Smith, eu não conhecia ela até ontem de noite no anúncio do jornal e hoje fiz a entrevista e passei. Tô contratado.
-Não acredito, a Emma Smith. Daqui a três meses você vai está mais rico que eu! - ele fala pondo a bebida na boca.
Exagerado é o nome dele.
-Não seja por isso meu amigo, invista em moda e deixe os carros pra quem pode. - pisquei pra ele e ele riu descontrolado. -Ah, ainda tem outra novidade. - falei lembrando da minha irmã.
-Você tá cheio de novidades hoje. - falou debochando. -O que foi agora, vai ser papai de novo e a mãe é a Emma?
-Você se supera sempre não é?
-Sabe que eu sou o melhor. - falou convencido.
-A Miriam volta daqui a um mês.
Nathan se engasgou com a bebida, era nítido que ele era gamado pela minha irmã desde que éramos crianças, ela não demonstrava interesse.
-A Miriam terminou a faculdade na França? E vai voltar a morar aqui? Quanto tempo ela vai ficar? Vai ficar na sua casa? - ele parecia desesperado.
-Ela terminou a faculdade, ela vai sim morar lá em casa, é a casa dela também e vai ficar até comprar uma pra ela.
Ele engoliu em seco e se calou.
O resto da noite foi muito tranquila, encontramos alguns amigos e ficamos conversando, bebemos e eu dancei muito com uma morena quase perfeita. Voltei pra casa já era muito tarde três horas da manhã, a Antonella já estava dormindo então eu fui para o meu quarto e cai morto na cama, antes de adormecer reparei em um bilhete na cabeceira da cama, peguei o bilhete com uma certa dificuldade e li com atenção, reconheci a letra e dei um sorriso. A letra era da minha mãe, ela escreveu o que a Antonela pediu pra mim.
No bilhete tinha escrito: "Papai, se você voltar tarde de novo eu vou ficar chateada e não vou fazer seu café. Com amor Antonella."
-Essa pequena mandona. -pensei.
Ri muito e adormeci sem nem perceber.
Acordei atordoado com um barulho muito alto ecoando na minha cabeça.
A Antonella estava em pé, ao lado da minha cama batendo uma colher numa panela e gritando 'acorda papai'.
-Filha, o papai tá com dor de cabeça. - falei sonolento.
-Não, toma remédio pai, eu tô dodói você me dá remédio. - falou brava cruzando os bracinhos e fazendo bico.
-Tá bom, o papai vai tomar remédio, mas espera cinco minutos filha. - falei virando o rosto para o outro lado da cama.
Não adiantou, ela subiu em cima da cama e ficou pulando e gritando para eu acordar. De onde vem essa marra toda?
-Tá bom filha o papai já levantou. - falei levantando sentindo uma leve tontura.
-Vou faze café, desce pai, depois do banho, pai fedolento. - falou tapando o nariz com a mão.
-Eu? Não tô fedendo, tomei banho ano passado. - brinquei com ela que saiu com a mão no nariz falando 'Eca'.
Ri e percebi o cheiro de álcool da noite passada, aí estava o fedor que a Antonella sentiu. Fui direto para o banheiro tomar banho e fazer a higiene matinal de sempre, desci para tomar café da manhã e lá estava a Antonella me esperando com uma xícara na mão.
-Café pai, café.
-Tá bom, senta e vamos comer juntos. Bom dia mãe, está radiante hoje. -o sorriso nos lábios de dona Eva era perceptível.
-Estou meu filho, tenho um encontro no domingo. -me surpreende essa novidade, a minha mãe não sai com ninguém faz quatro anos, desde que meu pai morreu, no mesmo dia que a Antonella nasceu.
-Que ótima notícia mãe, com quem?
-Meu filho, me prometa que não vai ficar com raiva de mim, eu pensei muito pra chegar nessa conclusão e na época em que seu pai era vivo isso nunca nem passou pela minha cabeça. -ela anda de um lado para o outro como se estivesse nervosa. - Eu conversei com sua irmã e ela entendeu, mas você eu deixei pra falar depois por que você estava muito mal esses meses sem emprego.
-Não importa quem seja mãe, se te faz feliz, isso que importa. -tentei passar o máximo de segurança pra ela.
-É o Bryan. -ela fala receosa.
Ela ficou esperando a minha reação, mas acontece que eu não tenho o que reagir, o Bryan é pai do Nathan, e de alguma forma eu já havia notado algo, só não queria acreditar.
-O Nathan sabe?
-Bryan falou que ia conversar com ele hoje. Mas, o que você acha? - ficou receosa.
-Não acho nada, quem tem que achar não sou eu, seja feliz e se ele vacilar, estarei aqui pra tudo que precisar.
-Oh meu filho, você não sabe o quanto isso é importante para mim. - com os olhos cheios de lágrimas ela me olhou com agradecimento, mas eu que devo isso a ela, por tudo.
-Eu imagino, domingo vou ficar na lanchonete e com a Antonella, se arrume e se divirta.
Ele apenas sorriu e tomamos o café da manhã tranquilos.
Pela tarde fui numa loja de roupas e comprei algumas camisas e calças formais, comprei dois sapatos e passei no mercado para comprar algumas coisas para a Antonella.
Pela noite saí novamente para a boate, reencontrei uma amiga da escola e ficamos conversando.
Voltei para casa não muito tarde pra não levar bronca da patroa Antonella, coloquei ela na cama para dormir e fui dormir também.
*Sonho*
Eu estava deitado numa cama enorme, estava muito calor então escuto alguém ligar o ar condicionado, uma luz invade o meu rosto e eu não consigo ver nada.
No canto de uma parede a silhueta de uma mulher tirando a roupa me chama a atenção e então a luz é desligada e a silhueta some.
Escuto vozes, muitas vozes, e me foco em apenas uma que chamava o meu nome.
-Matteo, Matteo, Matteo.
Eu decido responder e então pergunto quem é e a pessoa responde baixo, algo que não deu para escutar. Percebo que estou preso na cama com correntes e aparece uma mulher na minha frente, não consigo ver o rosto dela, ela tira as correntes da minha mão e fala…
-É você que eu quero.
Acordo atordoado e penso muito no sonho, talvez eu imagine quem seja a mulher. Mas não vou e nem quero pensar nisso agora.
Fui direto para o banheiro fazer minha higiene matinal e logo após desci para tomar café da manhã.
Percebo que minha rotina está muito repetitiva e amanhã ela irá mudar completamente. Estou grato por ter sido contratado, mas assustado com o cargo.
A Emma parece ser uma mulher difícil, mas assim que entrei naquela sala tive a sensação que o que falam dela é tudo mentira, ou exagero. De qualquer forma vou descobrir ao longo do tempo.
-Bom dia lindas. - coloquei o melhor sorriso no rosto.
-Bom dia Papai.
-Bom dia Filho. A Miriam ligou, eu contei para ela a novidade e ela ficou muito feliz por você, disse que mais tarde liga pra vocês conversarem. - minha mãe falou colocando o que parecia ser chocolate na panqueca, ela tinha um vício por doces preocupante.
-Tudo bem. Preparada para o encontro hoje a noite? - tentei demonstrar empolgação.
-Sim, não tô nervosa, estamos juntos a dois meses, não te falei porque você estava deprimido.
-Eu não estava deprimido, só frustrado por não ter conseguido emprego, mas agora isso acabou, amanhã eu começo uma nova jornada na minha vida.
-De muitas que vão vim meu filho. Você vai ser um ótimo médico, disso eu tenho certeza. - apenas sorri para ela que me olha de forma carinhosa. -Ok, agora vou sair, vou no SPA.
-Nossa dona Eva, vai voltar gata?
-Eu já sou! - fala convencida. -Não me esperem para almoçar, vou comer num restaurante perto do salão. Volto apenas para me arrumar para o encontro.
-Tá bom. Vai dar um beijo na sua avó filha, ela já vai sair. - ajudei a Antonella a sair da cadeira e ela foi em direção a avó com um sorriso no rosto.
-Tchau vovó, traz blinquedo. - fala abraçando ela.
-Vou trazer minha netinha linda. Se cuidem, os dois.
Ela saiu e eu e a Antonella terminamos o café da manhã tranquilos sem preocupações. Logo em seguida eu abri a lanchonete e o movimento estava fraco, tinha dias que estava assim, depois que uma lanchonete abriu na esquina da rua.
-Pai, posso sorvete? - Antonella me tira dos meus pensamentos.
-Só uma bola, se não você não almoça.
Acompanhei ela no sorvete e quando chegou a hora do almoço resolvi comer na lanchonete mesmo. A Antonella ama a lanchonete, ela adora brincar de caixa e tem uma ótima relação com todos os clientes, todos amam ver como ela é esperta.
Vendo ela conversar com a vizinha me fez pensar, eu consegui criar minha filha sem a mãe, e até hoje ela nunca perguntou sobre o assunto, espero que não pergunte tão cedo, pois não sei o que responder.
Saio dos meus pensamentos quando escuto uma voz familiar.
-Ficou sabendo daquele absurdo? - Nathan entra na lanchonete com a cara fechada e o maxilar trincado.
-Fiquei, não acho um absurdo eles são adultos muito bem resolvidos, sabem o que estão fazendo. - falei já sabendo do que ele estava falando. -Não podemos nos meter nesse assunto.
-Eu sei mas, é estranho, eu não sei como reagir, o que pensar. Tudo tá confuso.
-Deixe as coisas acontecerem e aí vamos ver no que vai dar.
-Tem razão, estou me preocupando atoa. Vai na boate hoje?
A velocidade que ele mudou de assunto me assusta.
-Tenho que ficar com a Antonella, dona Eva tem um encontro hoje com o seu pai. Hoje eu vou assistir Barbie e comer pipocas com refrigerante. Não quer nos acompanhar? - falo em tom de deboche.
Nathan não se aproxima muito de crianças desde que a mãe dele morreu no parto do irmão, ele é um pouco intenso demais, e quando algo de ruim acontece na vida dele ele leva como um trauma pra vida toda.
-N-não, eu tenho que assinar uns papéis…
-De noite? Conta outra Nathan.
Rimos muito e ele foi embora, logo minha mãe voltou para se arrumar e trouxe um brinquedo para a Antonella que amou e brincou com ele direto, minha mãe se arrumou e saiu atrasada.
Durante a noite fechei a lanchonete e recebi uma ligação, era a Miriam.
-Esqueceu da família? - perguntei sarcástico.
-Muito engraçado Matteo. E você? Esqueceu que tem irmã e não me contou que conseguiu um emprego na melhor empresa de moda do país!?
-Não tive tempo.
-Conta outra Matteo. Então, começa quando?
-Amanhã. Estou ansioso para sua volta, como tá sendo esses últimos dias aí? - falei mudando de assunto.
-Está sendo de despedida, estou muito feliz que vou voltar.
Ficamos conversando por um tempo falando sobre a faculdade dela e sobre a sua volta para casa, falei um pouco sobre a entrevista e depois de alguns minutos encerramos a ligação.
Passei o resto da noite com a Antonella na sala, assistindo e comendo besteiras. No final da noite levei ela para o quarto e coloquei ela na cama. Dei beijinhos de boa noite e a cobrir.
Escutei minha mãe entrar em casa, fui falar com ela e ela me contou um pouco sobre sua noite.
Fui para meu quarto e deitei para dormir.
-Amanhã, eu começo o cargo de assistente pessoal da Emma Smith. - pensei alto. - Será que aguento pelo menos as primeiras horas? Vamos descobrir.
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