4- Provocações

Segunda, seis da manhã.

Não consegui dormir, fiquei o tempo todo pensando no que vai acontecer comigo naquele emprego. Quero dar o meu melhor nesse cargo.

-Eu vou dar o meu melhor nesse cargo! - falei empolgado enquanto levantava.

Corri para o banheiro, tomei banho, e cuidei dos mínimos detalhes de cada parte do meu corpo, pra quê? Não sei, só senti essa necessidade, dei uma última olhada no espelho e gostei do resultado e fiquei orgulhoso por ter caprichado, com alegria desci correndo para a cozinha.

-Bom dia Filho.

-Bom dia, pode deixar que levo a Antonella para a escola. - falei vendo que minha mãe estava arrumada para levá-la.

-Tem certeza? Não vai se atrasar?

-Não, mas ela vai chegar um pouco cedo.

-O importante é chegar. Agora coma para não se atrasar e antes que eu me esqueça, você está lindo. -ela sorri.

Comi muito bem, eu não sabia se ia ter tempo para comer. Levei a Antonella para o carro e coloquei ela na cadeirinha, seguimos para a escola, no caminho fomos conversando sobre o aniversário dela, que vai ser só daqui a seis meses e mesmo assim ela já está ansiosa e falando sobre o tema e tudo que ela vai querer na festa.

Deixei ela na escola com pesar no coração, sempre dei o máximo de tempo que pude dar a ela, e dessa vez percebo que não vou poder ficar tanto tempo com ela. Espero que um dia ela entenda que é por ela que faço isso.

Cheguei na empresa e estacionei, passei pela recepção e dei um sorriso para a Brenda, ela retribui e solta nos lábios um 'boa sorte', eu retribuo com um 'obrigado'.

Entro no elevador e aperto o último andar, enquanto os andares iam subindo meu coração acelerava e eu ficava mais nervoso. Quando finalmente chego no último andar ele está diferente.

Antes tinha apenas um balcão, onde ficava a Isadora e agora tem dois, um em cada lado da porta do inferno, o meu um pouco mais perto mas posso dizer que agora este andar está melhorando.

Olho pra Isadora e ela sorri pra mim.

-Bom dia, Isadora.

-Bom dia Matteo, preparado para o seu primeiro dia?

-Um pouco nervoso. A senhorita Smith chegou?

-Sim, acho melhor você entrar e avisar a ela que chegou.

-Vou fazer isso. Obrigado. -sorri pra ela que retribui.

Bati na porta da senhorita Smith e ela me mandou entrar, olhei para ela e decidi não chamá-la pelo primeiro nome, ela pode não gostar.

-Bom dia senhora Smith… -fui interrompido pela voz autoritária dela.

-Peça para a Isadora imprimir quarenta cópias desse documento. Já está com minha agenda? O telefone está na sua mesa. Anote todos meus compromissos e me avise com cinco minutos de antecedência. A decoração da mesa eu não gosto que seja brega, então traga no máximo uma foto em família. -ela fala tudo sem me olhar.

-S-sim, irei fazer tudo isso, mais alguma coisa senhora Smith?

-Não, se retire.

Peguei o documento na mesa dela enquanto sentia ela me fitar, optei por não olhá-la, virei as costas e sai da sala dela.

Quanta falta de educação para uma CEO da maior empresa de moda do país. Resolvi não ligar para isso, passei na Isadora e entreguei o documento para as cópias, pedi a ela a agenda da Smith e ela me explicou que eu tenho a agenda no computador da minha mesa e no meu tablet, os compromissos já estavam todos lá, eu só precisava acrescentar os próximos compromissos que virão. Tinha uma pasta extra com tudo que a Smith gosta, e faz, eu dei uma olhada mas logo recebi um telefonema de um homem querendo marcar uma reunião com a Smith, a Isadora estava do meu lado me auxiliando na minha primeira ligação. Liguei para a sala da Smith e informei a ela, ela me pediu para marcar num dia menos cheio, e assim fiz.

-Obrigado, Isadora, não sei o que ia fazer sem você. -falo e abro um sorriso.

Fiquei muito grato por ela ter me ajudado e sinto a necessidade de expressar isso.

-Por nada, se precisar estou do outro lado, e daqui a sete minutos ela tem uma reunião com o RH, acompanhe ela até lá e anote tudo que for importante, não atenda telefonemas em reunião, não interrompa as conversas e sempre que voltarem, sente-se em sua mesa e anote as observações nos blocos de notas, fique sempre atento aos compromissos e não se atrase.

-Tudo bem, obrigado novamente.

Ela foi para a mesa dela e fiquei olhando a agenda, em exatos cinco minutos de antecedência entrei na sala da Smith e avisei a ela da reunião. Ela se levantou e pediu para eu acompanhá-la.

A manhã toda foi assim, reuniões, telefonemas, avisos e leituras.

Descobri que a Smith é filha única, a empresa era do pai dela, mas ele se aposentou e ela assumiu tudo. Suas comidas preferidas são sushi e pizza, seus hobbies são tênis e yoga, ela não tem muitos amigos, mas tem uma melhor amiga quase irmã. Emma Smith é formada em moda e foi ela que tornou a empresa a melhor do país, quando o pai dela assumiu a empresa era a terceira melhor.

A vida dela não tem nada de interessante vista por aqui. Mas eu sei que não é só isso, ela tem valores e lutas que ninguém sabe, todos veem ela como uma menina mimada, mas eu a vejo como uma mulher forte, tenho essa impressão desde que pisei aqui, apesar da falta de educação com os funcionários.

Na hora do almoço a Smith me chamou na sua sala, me deu um cartão e pediu para eu ir comprar sushi para ela no restaurante da esquina. Fui até o restaurante e a fila parecia um show, tinha pessoas cobrindo uma quadra inteira, perguntei a última pessoa da fila se era a fila do restaurante mesmo e ela disse que todo dia é a mesma coisa.

Depois de uma hora consegui comprar o sushi e acabei perdendo meu horário de almoço, subi até a sala da Smith e entrei, com muita dificuldade coloquei o sushi na mesa dela.

-O que é isso Wilson? - ela perguntou e eu não acreditei no que ouvi.

-O seu sushi, senhora, foi você mesma que pediu para eu ir comprar.

-Ah, você demorou demais, comi no restaurante da empresa mesmo, volte para sua mesa e fique com esse cartão para quando eu quiser comer.

Olhei pra ela com fúria nos olhos, por pouco não mando ela ir á merda, mas aí lembrei por que estou aqui e que eu já imaginava que isso ia acontecer. Respirei fundo e pedi licença ao me retirar. Cheguei na minha mesa e havia vários recados na secretária eletrônica e vários e-mails na caixa de mensagens, eu tinha que ligar para todos e lembrar a Smith da reunião em vinte minutos. Perfeito.

-Você não almoçou, não é? - Isadora perguntou encostada na minha mesa e provavelmente vendo minha cara de frustração e também deve ter ouvido minha barriga roncar. - O diabo fez com você o lance do restaurante?

-Já é mania dela? - perguntei incrédulo.

-Sim, eu não sei por que ela tem essa necessidade, mas é mais comum do que você imagina. Eu imaginei que isso ia acontecer, então trouxe para você. - ela me entregou uma pequena marmita de plástico. -Peguei no restaurante daqui, você tem quinze minutos.

-Quanto te devo?

-Nada, pode ficar tranquilo.

-Isadora, você é um anjo, muito obrigado. Te devo uma, duas, quantas você quiser.

-Que isso, não se importe. -ela deu um sorriso espontâneo.

Comi na velocidade da luz e fiz todas as ligações, anotei todos os compromissos e na hora certa avisei a ela sobre a reunião.

Ela parecia surpresa, eu fiz questão de chegar com um sorriso bem largo no rosto.

-Dessa vez não Emma Smith. -pensei.

Fomos para a reunião e tudo ocorreu bem, na volta ela me chamou na sala dela.

-Wilson, estou muito ocupada no momento, preciso que passe na lavanderia e traga minhas roupas. -falou me entregando um cartão da lavanderia.

-Respira. - pensei.

-Sim senhora Smith, vou agora mesmo. Mais alguma coisa? - falei com um sorriso encantador.

-Não, pode ir.

Saí e peguei meu carro, fui em direção a lavanderia, vi o endereço no cartão que ela me entregou. Cheguei lá, peguei as roupas, que eram muitas e dirigi novamente para a empresa, subi em direção a sala da Smith, bati e ela me pediu para entrar, entrei.

-Aqui estão suas roupas senhora Smith.

-Muito bem Wilson, mas não era pra você trazer aqui, deveria ter levado até minha casa. - fala com um sorriso malicioso.

-Mas você não… S-sim, senhora, eu só não sabia onde ficava o seu endereço, pode me informar, por favor? -forcei simpatia, essa mulher não vai me tirar do sério, isso é uma promessa.

-Tudo bem. - ela anotou o endereço em um papel e me entregou, também me entregou a chaves da casa.

-Com licença. -sai da sala dela pisando fundo.

Fui novamente até meu carro e segui até a casa dela, era um apartamento, falei com o porteiro e ele já tinha meu nome na portaria, subi até o andar que era a casa dela e entrei. No apartamento não tinha nada de luxuoso, era apenas um apartamento comum, deixei as roupas dela dentro do guarda-roupa e voltei para meu carro.

Cheguei no carro peguei o tablet para ver os compromissos e tomei um susto, faltava dez minutos para uma reunião importante com investidores, e eu preciso chegar lá cinco minutos antes, corri com o carro, logo na estrada a frente tinha acontecido um acidente, o trânsito estava lento mas não engarrafado, cheguei na empresa e estacionei de qualquer jeito, subi o elevador com pesar no coração o tempo todo olhando a hora, faltava um minuto para os cinco minutos de antecedência, cheguei no andar desejado e já corri para a sala dela, bati e ouvi ela me mandar entrar, antes de entrar dei uma organizada na roupa, não quero que ela pense que eu estava desesperado. Entrei e com muita naturalidade e falei:

-Senhora Smith, faltam cinco minutos para sua reunião com os investidores na sala de exibição. -o sorriso malicioso que antes era dela, agora é meu.

-O-ok, deixou minhas roupas em casa? -ela estava surpresa.

-Sim, deixei no seu guarda-roupa. -aceite Smith, eu venci essa.

-Certo, vamos então?

-Sim senhora.

Partimos em direção a reunião que ocorreu muito bem o resto do dia foi muito tranquilo, antes de largar passei na sala dela para saber se ela queria algo, e ela disse que não e que eu estava liberado. Fui para casa satisfeito com o meu desempenho.

Cheguei em casa e fui recebido com um abraço caloroso.

-Oi Papai.

-Oi minha linda, como foi seu dia?

-Foi legal, eu assisti Bob esponja.

-Que bom filha, o meu foi cansativo, mas agora o papai tá aqui, vou subir pra tomar banho e daqui a pouco desço para a gente brincar tá bom?

-Tá bom pai. -recebo outro abraço.

-Oi mãe, tá tudo bem?

-Tudo bem meu filho, vá tomar seu banho e depois desce pra me contar tudo.

Subi e fui logo para o banheiro, tomei um banho quente na banheira e deixei a água levar o cansaço, não deu muito certo, mas eu preciso descer e passar tempo com a Antonella, não quero que ela sinta minha falta. Terminei o banho e coloquei apenas uma calça moletom e regata, desci e fui comer. Contei tudo pra minha mãe sobre meu dia, ela ficou boquiaberta e ao mesmo tempo orgulhosa, depois do jantar fiquei brincando com a Antonella, mas ela logo ficou com sono e fui colocar ela pra dormir, quando ela dormiu corri para o meu quarto e não demorou muito até eu adormecer.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***