Ligados Pelas Sombras - Livro II

Ligados Pelas Sombras - Livro II

O muro

1.400 anos A.C – Fim do Século XV antes de Cristo

Canaã era a terra prometida e tão almejada por um povo que outrora fora liberto da escravidão no Egito. Mas para possuí-la, era necessário expulsar os habitantes que lá viviam.

Doze espias foram enviados ás terras para reconhecer território, e descobrir o que enfrentariam.

Este é o relato do que aqueles homens viram:

— Fomos á terra que nos enviaste; e verdadeiramente é uma terra abençoada que mana leite e mel e este aqui é o seu fruto. O povo, porém que nela habita é mui poderoso e as cidades mui grandes e fortificadas; também vimos entre os moradores filhos de Anaque. Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós.

E continuaram a difamar a terra que haviam espiado:

— A terra, pela qual passamos é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura; Também vimos ali gigantes filhos de Anaques, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos diante deles, assim também éramos nós aos olhos daqueles homens.

Números 13: 27-33

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Enganar a morte uma vez pode até parecer algo incomum, mas duas vezes só podia significar um tipo de propósito divino, algo complexo e extremamente difícil. Uma responsabilidade que só é dada á alguém muito capaz.

Mas ir e voltar do mundo dos mortos sempre tem um preço.

A primeira percepção que tenho é a de que estou morta. Não faço idéia de como é estar morta.

Abro os olhos para a escuridão e não há nada. Não sinto meu corpo, não ouço nenhum tipo de ruído e não vejo nada. É como estar em um quarto escuro e vazio. Puxo o ar tentando sentir algum cheiro. Nada.

Tento emitir algum som dos meus lábios, estou sem voz... Olho para baixo para ver sobre o que meus pés estão firmados e não enxergo nem meu próprio corpo que dirá um chão.

“Onde estou?” Penso, já que não consigo falar. O inferno não deve ser assim. Falaram-me sobre gritos e enxofre. Pessoas sofrendo e demônios torturadores. Isso aqui é um vazio. Um grande buraco negro. Estou no meio do nada!

Então sou puxada para baixo de forma brusca e meu corpo de repente está caindo. Solto um grito mudo. Cair é uma das piores sensações. O frio na barriga, o corpo sacolejando no ar instável. A queda é horrenda e gélida, porque agora consigo sentir o vento a medida que desço em queda livre me debatendo e buscando algo em que pudesse me segurar.

Não há nenhum som, mas estou caindo e não faço ideia de pra onde.

Até que sinto meu corpo bater em algo duro e abro imediatamente os olhos, que eu nem fazia ideia de que estavam fechados. Ofego assustada não entendendo o que está acontecendo.

A primeira coisa que vejo quando minha visão retorna é uma imagem. A estátua de uma mulher com um véu na cabeça e um bebê no colo. Não á reconheço. Ela está acima de um tipo de altar com velas acesas e um cálice de prata.

Em seguida, olho para baixo para meu corpo e estou com um vestido de seda rosa familiar.

Checo meus pés e pernas... Parecem normais.

Um cheiro forte atinge meus sentidos e logo percebo que vem de mim.

Estou sentada sobre algo macio e fétido. Flores. Estou sobre um tipo de tapete de flores coloridas e misturadas.

Olho em volta. Estou confusa. Onde estou e como vim parar aqui?

Vasculho em minha mente o que aconteceu, mas me deparo com um muro alto. Como se estivesse correndo e ele surgisse de repente me fazendo dar de cara e cair de bunda no chão.

Não me lembro de nada. Olho em volta e há velas acessas por todo lado, em espaços abertos nas paredes e em balcões pequenos no chão onde também há castiçais. O teto é de madeira com pequenos vitrais em mosaico colorido. Não reconheço.

Onde estou? Meu cérebro pergunta novamente.

Vasculho em minha mente qualquer coisa que me ajude a entender o que é tudo isso. Há muitas flores onde estou e elas incomodam meu nariz causando ânsia de vômito.

Podem até ser cheirosas individualmente, mas juntas e quase murchas emitem um cheiro fúnebre e podre.

Mais uma tentativa de lembrar e dou de cara com o muro!

Quero sair daqui.

Um rangido alto chama a minha atenção para outra extremidade do ambiente onde há bancos de madeira organizados dos dois lados deixando o espaço de um corredor no meio de onde veio o som.

Uma porta se abre e a claridade fere meus olhos, então os fecho rapidamente estranhando o desconforto. E uma figura embaçada surge em meio os raios de luz.

Tento fixar meu olhar vendo a silhueta caminhar em minha direção.

Não sinto medo, então me mantenho imóvel sentada no mesmo lugar que percebo ser alto comparado ao nível do chão. Parecia uma cama de flores.

Não consigo me lembrar de nada. Todas as vezes que tento, o muro está lá erguido fazendo separação entre mim e minhas memórias . Sinto dor forte na cabeça.

Então a figura se aproxima em silêncio fazendo sua imagem ficar mais nítida.

Ela veste um manto vermelho vinho longo, com um capuz e mangas tão grande e largas que esconde todo o seu rosto, como um mago.

Há coisas em suas mãos.

Acompanho seus movimentos, vendo-a depositar o que parece ser uma bandeja e um manto como o seu sobre um dos bancos. Observo se aproximar de mim. E me surpreendo por não estar com medo.

— Estou aliviado por ter finalmente acordado.

Franzo a testa confusa. Vejo a figura erguer as duas mãos e puxar o capuz para revelar sua identidade.

Seu rosto é duro apesar do meio sorriso que invade seus lábios finos. É um homem.

Sua barba por fazer o faz parecer um mendigo, mas seus cabelos negros e bem cuidados caem ondulados e elegantes até o ombro. Consigo ver algumas rugas, mas ele não parece ser velho. Não o reconheço embora pareça familiar.

— Quase acreditei que não fosse achar o caminho de volta, Senhorita Kate.

Meus olhos se arregalam quando sinto o muro despedaçar, e sou bombardeada com memórias que decidem invadir minha mente todas ao mesmo tempo.

O desaparecimento dos turistas, a morte de Olga, o sumiço de Jess, A queda no lago, a corrida no colo de um Sentinela, a luta, a morte dele...

Uma enxurrada de informações que enchem a minha mente com uma força que me faz ofegar e levar as mãos á cabeça com dor.

Não estou morta.

Diante de todas as lembranças, e questionamentos que de repente me fazem refém... E de todas as pessoas que imaginava ver, ele era a última da enorme lista.

— Doutor Vasiliev?!

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Comments

nimorango

nimorango

tô super amando vou favorita ❤️❤️❤️😻

2022-12-03

0

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