Capítulo 3

Anthony Callegari.

Acordei com a porra de um despertador gritando no meu ouvido.

— Droga! Dormi demais. Larissa, acorda. Tenho que ir — Disse sacudindo devagar.

Ela ainda sonolenta, se virou para o outro lado da cama. A garota sabia que eu teria que viajar e fez de propósito, tenho certeza. Ela não queria que eu fosse até a Bahia sem ela, alegando que encontraria alguma morena gostosa, por Deus! A Larissa é incrível, mas essa desconfiança me deixa até ofendido.

Resolvi dar uma passada na empresa antes da viagem, queria deixar tudo combinado entre pessoal lá. Peguei o meu carro e fui em direção ao prédio, resolvi tudo que tinha para resolver, deixei a empresa nas mãos do meu assistente, saí de lá avisando que estaria ausente por alguns dias. 

Após isso, fui em direção ao meu apartamento. Entrei e comecei a arrumar minhas coisas, não pretendia levar muita coisa, o meu pai não me disse por qual motivo ele tanto me queria na Bahia. Para me tirar do trabalho, deveria ser algo muito importante.

Encontrei um voo na parte da tarde, como imaginei, com certeza só chegaria à noite lá e só poderia ir à empresa do meu pai no outro dia. Peguei a pequena mala que arrumei e saí do apartamento, entrei no carro e fui para o aeroporto. Pedi ao meu assistente para alugar um carro para mim, não poderia ficar o tempo todo andando de táxi.

O voo foi bem tranquilo, saí de São Paulo já no finalzinho da tarde e quando cheguei ao meu destino já estava escurecendo, mas não era tão tarde assim. Segui para o apartamento que tenho na cidade, tomei outro banho para relaxar e pensei em ligar para o meu pai.

Desisti disso e resolvi fazer uma surpresa. Fazia alguns meses que não nos vemos, eu sentia muita falta dele. Decidido isso, desci, peguei meu carro e fui em direção à casa dele, chegando lá bati na porta e a empregada veio atender.

— Boa noite. O meu pai está? — Perguntei para a empregada que estava parada me encarando. Sei que sou um pouco bonito, mas não é para tanto.

— Bom, seu pai for o senhor Adam, ele está no escritório — ela disse e me deu passagem para entrar. 

Achei muito fácil, poderia ser qualquer pessoa fingindo ser o filho dele, não é?

Se ela me deixou entrar, eu entrei. Como já sabia o caminho do seu escritório, segui até ele. Chegando próximo à porta, ouvi a voz do meu pai conversando com alguém.

— Murilo, esse contrato foi assinado há bastante tempo. Mesmo que essa menina não aceite, alguém da família dela terá que se casar com meu filho. — Ele disse para o outro homem que estava em sua companhia, olhei pela fresta da porta, e vi meu pai andar de um lado para o outro passando a mão nos cabelos.

Outro homem, de terno e com uma boa postura, respondeu:

— Adam, eu não sei se ela aceitará esse acordo, ela está muito orgulhosa. Para que o contrato seja válido, os dois têm que assinar, o seu filho Anthony e a garota. 

Nesse momento, senti uma raiva percorrer pelo meu corpo. Como assim contrato? Casamento? O que está acontecendo? 

Eu nem bati na porta, apenas entrei e encarei o meu pai, que praticamente mudou de cor ao me ver ali, parecia ter visto um fantasma.

— Filho! — Ele disse surpreso. 

— Que história é essa, pai? O que está acontecendo?

— Deixa eu te explicar meu filho, por favor deixa eu te explicar!

— Tá! Explica. — Disse.

— Eu e Miguel éramos muito amigos. O irmão dele aplicou um golpe na empresa e deixou ele falido. Eu quis ajudá—lo, mas eu não consegui recuperar a empresa! Durante esse tempo, Miguel se afogou em dívidas e, para ajudar a família dele, prometeu a mão de sua única filha em casamento. Eu estava o ajudando a se reerguer e procurando provas contra o irmão. Casando com a menina, você consegue recuperar a empresa de Miguel e podemos juntar com as nossas.

— Chega, já é o suficiente. Desculpa aos modos, mas o senhor enlouqueceu de vez? Acredito que o senhor anda assistindo muita ficção! contrato? Que maluquice!

— Olha os modos, garoto! Deixa eu te explicar! — ele disse impaciente.

— Eu já entendi tudo. Você simplesmente acredita que tem poder sobre as minhas decisões, sobre a minha vida! — Respondi.

— Eu estou pensando no melhor para você! Esse contrato não é de agora filho, tem muitos anos. — Ele me disse tentando se explicar.

— Então esse contrato acaba aqui! Agora! — Gritei — Não importa o que eu perca, eu não vou me casar com uma pessoa que eu nunca vi na vida e que eu não amo! 

— Filho, veja bem, muita coisa está em jogo. Todo nosso patrimônio, nossos bens, nosso dinheiro, a sua herança!

Quanto mais ele tentava explicar a situação, mas eu me sentia usado.

— De que vale ter isso pai? De que vale tanto dinheiro, ser o melhor empresário? Se eu ficar preso alguém que não me ama? Eu estou com a Larissa, você sabe.

— Mas pode conquistar ela com o tempo meu filho, essa Larissa você conhece a pouco tempo e sinceramente, não acho ela boa para você.

— Ela é boa para mim pai, eu garanto. Eu não quero conquistar ninguém!

— Isso se ela aceitar se casar. Se nem você e nem ela quiserem, deverão pagar uma multa de quebra de contrato. Avaliado em aproximadamente 150 mil. E outra, ela não tem tanto assim. Você perderá muito mais. — O tal Murilo disse.

— Então é isso, ela também não sabe?

Eles se olharam e ficaram em silêncio.

— Me digam, ela não sabe? — Gritei — Era só o que me faltava! 

Saí daquela sala e bati a porta com força. Eu não acreditei que meu pai fizesse isso comigo, estudei tanto, me esforcei tanto para ser o que sou e agora posso perder tudo por conta de uma merda de um contrato.

Resolvi ligar para Pedro Henrique, meu amigo, precisava esfriar a cabeça. Depois de uns três toques ele atendeu.

— Alô? — Disse.

— Alô, ph? — Chamava ele assim quando era pequeno.

— Quem fala? — Como esse corno não sabe que sou eu?, pensei.

— É o Tony, cara!

— Ah! Senhor Anthony ., a que devo a honra? — O desgraçado disse rindo.

— Para de graça seu maldito! Onde você está? Apagou meu número?

— Desconfiei que fosse você. Você nunca nem ligou para mim em chamada seu miserável! Só liga em vídeo e parou de ligar né? Quanto tempo, cara, julguei que esqueceu do seu melhor amigo.

— Não esqueci meu irmão, mas aqui ficou um pouco corrido para mim, sabe.

— Entendo, a vida adulta não é fácil! Para mim também ficou corrido, afinal, eu não sou herdeiro igual a você — Ele ri — Mas me conta, como estão as coisas?

— Justamente sobre isso que resolvi te ligar, mas só posso falar com você pessoalmente. 

— Pessoalmente como seu otário? Você tá bem longe.

— Então, eu já estou na Bahia, vim resolver umas coisas. Podemos nos encontrar essa semana ainda, o que acha?

— Nem chegou e já quer ir? 

— É que, deixei minha empresa nas mãos do secretário, e tem a minha gata, não dá para ficar longe muito tempo.

— Está apaixonado mesmo! Tudo bem senhor, sexta tem uma balada, nos vemos lá?

— Acredito que estou mesmo, mano! Vou lá sim, tô com saudade de você e quero me distrair um pouco. Até logo!

Depois disso desligamos a ligação. Resolvi dar uma volta na cidade, minha cabeça girava de tanta informação, os meus pensamentos não paravam. Eu precisava saber mais sobre esse contrato e como acabar com ele.

Peguei no sono quando acordei já eram 9 horas da manhã. Tomei um banho, peguei o carro e fui em direção à casa do meu pai. Chegando lá, a empregada que já me conhecia deixou entrar.

— Bom dia filho! Vamos tomar café? — Perguntou com a cara mais cínica do mundo.

— Bom dia pai, eu vou aceitar, não tomei ainda. 

Começamos a tomar café, decidi então puxar o assunto.

— Pai, o senhor pode ligar para o advogado e perguntar se esse valor pode ser reavaliado? 

— Posso ligar sim, filho, se após essas informações você não aceitar, eu não poderei fazer nada.

Ele disse indiferente, como se não se importasse.

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