O tempo passou, e cada vez ficou mais difícil para os amigos se verem. A maior parte de sua adolescência, Antônio estudou em colégios internos, nas poucas vezes que vinha para a fazenda era obrigado a ficar com o pai e suas lições rígidas de como gerir os negócios, economia, matemática e inglês. Cada dia se aproximava mais o tempo em que caberia ao menino grandes responsabilidades. Mas ele nunca esqueceu de Luciana. Sempre que vinha para a fazenda perguntava dela para dona Rosa, que nessa época era uma jovem cozinheira e já trabalhava na Fazenda. Pouquíssimas vezes o jovem conseguia com a ajuda da mãe, Anna, fugir para ir para o seu refúgio e se encontrar com a menina. Essas vezes eram os melhores momentos que Antônio passava. O tempo com Luciana voava! Falavam sobre tudo. Agora ele não tinha mais tantas coisas novas para contar, sempre as mesmas histórias do internato, das peças que pregava nos professores, das festas chatas e entediantes que tinha que acompanhar a família. Das meninas que conhecia, algumas frescas, sem humor e fúteis, outras legais e divertidas, mas nenhuma como ela.
Luciana era a menina mais interessante que Antônio conhecia, não sabia se era porque a conhecia desde pequena, ou por causa do seu jeito espontâneo de ser. Ela tinha uma vida bem agitada, brincava e brigava com os meninos sem medo, sem maldade, era valente, caçava passarinhos e pequenos animais. Poucas vezes se importava com o que os outros falavam, mas às vezes ficava triste com algumas meninas da comunidade que a tratavam mal por ela ser tão moleca.
Antônio consolava a amiga, falava para ela nunca mudar pelo o que os outros falavam. Que ela era a menina mais incrível, valente, divertida e alegre que ele conhecia. Que as outras meninas tinham inveja da luz que Luciana tinha, por isso falavam aquilo dela.
- Antônio, você é o menino mais incrível que eu conheço, é diferente dos meninos aqui da comunidade! As meninas dizem que você anda comigo porque tem pena de mim. Que todo mundo tem pena de mim, porque eu sempre ando assim, mal vestida, suja, com os cabelos por pentear.
- Não Luciana, eu não tenho pena de você, gosto de você assim desse seu jeitinho, você está assim porque vive a vida melhor do que qualquer uma dessas meninas que falam de você! Você é vida..... eu gosto tanto de você que me dá um negócio aqui na minha barriga! Falou o menino apontando para a boca do estômago.
- Eu também gosto muito de você Antônio, e um dia eu quero me casar com você!
Os anos passaram e a amizade e cumplicidade continuou cada vez mais forte. Antônio agora tinha quatorze anos e a pequena Luciana com onze, ambos desabrochavam conforme os anos passavam e ficavam mais bonitos. Os cabelos de Luciana eram longos, negros, naturalmente brilhantes, e os olhos de um verde único e raro. Já Antônio, tinha cabelos e olhos castanhos, uma fina penugem no rosto, a voz mudando de timbre, a corpo ainda magricelo, era um belo menino se comparado com os garotos da comunidade.
Sempre que conseguia, apesar de ser cada vez mais difícil ele ia até lá. Quando chegava as meninas ficavam alvoroçadas, pois ele era rico, lindo e com um sorriso maravilhoso, era tudo se comparado aos meninos de lá, todos franzinos, magrelos, infantis, era compreensível, afinal o mundo deles não ia além das porteiras da fazenda, enquanto o de Antônio ia além da cidade e do Estado.
Ninguém entendia como um rapaz tão granfino e educado, andava com a menina mais desleixada da comunidade.
- Antônio! Como você está! Falou Bárbara, se aproximando do menino quando ele foi procurar por Luci.
- Oi Barbara, estou bem! Você sabe onde a Luci tá?
- Ah deve estar por aí, jogando futebol com os meninos. Ela vive suja, parece um moleque! Aquela menina não tem um pouco de classe.
- Ela sabe viver! Gosto de meninas assim! Alegres, espontâneas e que não se importam com a opinião das pessoas!
- Ah mais você deve estar acostumado com meninas elegantes, antenadas com a moda e inteligentes, que nem devem saber o que é futebol, quem dirá ficar jogando esse jogo que é para vocês meninos. Eu mesma, não entendo nada, prefiro ficar com meus livros, aprendo muito mais com eles.
- Nenhuma das meninas que conheço é como a Luci, não trocaria ela por ninguém e se dependesse de mim ficaria mais aqui do que com a minha família.
- Ah, não sei Antônio, você confia muito na Luci, sei lá, minha mãe fala que não pega bem pra uma menina andar com os meninos. Dizem que ela está namorando com o Davi.
- Tenho certeza que são somente amigos, e mesmo que eles fossem namorados o que você tem a ver com isso Bárbara? Porque você se importa tanto com a vida de Luci?
- Não me importo, mas acho errado, vejo você vindo aqui sempre que pode procurar por ela, e ela anda por aí com os moleques! Quando você está aqui, ela fica com você o tempo todo. Mas é só você ir que ela já está por aí com eles, como se fosse uma moleca.
- Luciana é uma menina pura e ingênua Barbara, vocês deveriam cuidar de suas vidas. Não há problema se ela continua vivendo a vida dela depois que vou, afinal também tenho que viver a minha, mesmo não sendo tão interessante quanto a dela. É maldade falarem dela assim. Vou indo nessa, nos vemos por aí.
Bárbara
Davi
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Atualizado até capítulo 50
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