A ascensão da família Sá, começou ainda no século XII, quando um membro foi nomeado embaixador junto ao papa Gregório. Desde então quando se ouve falar dos Sá, sabe-se que trata-se de uma das famílias mais influentes do país.
São descendentes de portugueses, e vieram para o Brasil, na época de colonização. Se tornaram donos de grandes propriedades latifundiárias, principalmente em Minas Gerais, e com o tempo expandiram os negócios da família para diversas regiões do nordeste, sudeste e centro oeste, ganhando grande visibilidade em todo o país. Sempre foi uma família patriarcal e tinham como principal característica a criação rígida de seus filhos, e o bom tino para os negócios. Os pais sempre tomavam todas as decisões sobre o futuro de seus filhos, desde a educação até o campo afetivo, inclusive sobre o casamento.
Antônio era filho único de Francisco, desde pequeno foi criado para assumir todas as responsabilidades imposta pelo pai. Nunca lhe foi permitido escolher, sempre teve que cumprir as ordens do pai. Mas também era moldado para ser um homem forte e rígido, pois como todos os homens dessa família iria chegar o dia em que ele seria o patriarca, e caberia a ele tomar as decisões sobre o que era melhor e mais vantajoso para a família.
Sua mãe, apesar de ser uma mulher sábia, boa e amável, sempre obedeceu ao marido Francisco, era assim que as mulheres daquela época eram criadas, para servirem sem contestarem. Mas Anna, ao contrário da maioria das mulheres, conseguia sutilmente moldar os valores do filho para que este não se tornasse a imagem do pai. Não queria que Antônio se tornasse um homem frio, inescrupuloso e sem coração, como o marido, tinha esperança de que seu filho seria o primeiro a tentar mudar os costumes dos Mendes de Sá, pois Antônio quando jovem tinha uma alma livre e rebelde.
Anna não aceitava a ideia de seu filho, se tornar um homem que se preocupava apenas com os negócios, e esquecia da família, tal qual era Francisco.
Não que ela tivesse do que reclamar, vivia uma vida extremamente confortável, as mais caras joias e os vestidos de alta costura do mundo todo. Mas achava que isso não era sinônimo de felicidade. Francisco não se preocupava com as necessidades afetivas de Anna e tratava Antônio como se fosse um adulto, tentando privar o menino de uma infância boa e saudável.
Naquela época os casamentos não só na família Mendes de Sá, como em quase todas as outras, eram arranjados, sempre levando em consideração o que a união dos filhos poderia trazer de benefícios para os pais, para a fortuna e principalmente para influencia da família. Foi assim com os pais de Francisco, foi assim com ele, seria assim com Antônio e deveria ser assim com os filhos de Antônio, mesmo os tempos mudando, e as tradições antigas aos poucos sendo deixadas para trás, dificilmente se consegue mudar tradições que estão enraizadas por muito tempo no seio familiar.
Desde a infância os homens Mendes de Sá foram criados para não acreditarem no amor, ou no mínimo para crerem que o amor viria com o tempo, com a convivência entre o casal. Segundo os antigos o amor enfraquecia as pessoas, as deixavam burras, e incapazes de tomar decisões inteligentes para os negócios, o tino para os negócios dos Mendes de Sá, se dava a isso, por não acreditarem em amor verdadeiro.
Não era tão ruim assim ter um casamento arranjado, não ao menos na época de Francisco e Anna, pois além do sentimento vir com o tempo, os casamentos não levavam só em conta os interesses da família, buscavam também pessoas bonitas, educadas e principalmente de famílias ricas, capazes de garantir uma boa vida para os nubentes, desde que as mulheres fossem passivas, sem iniciativas e obedientes aos maridos, a felicidade iria reinar. Ao menos era o que sempre acontecia.
Antônio era um menino inteligente, educado, corajoso e rebelde. Tudo indicava que seria ele quem iria acabar com aquela tradição tão ultrapassada dos Mendes de Sá. Anna poderia apostar que aquele menino era capaz de lutar por seus ideais e por sua felicidade. Mas não poderia esquecer que também era moldado por Francisco, para mais tarde assumir todos os negócio da família, o peso do nome Mendes de Sá sempre era um fardo pesado e que estava destinado ao pequeno Antônio.
Vez ou outra o menino fugia e não havia quem o encontrava. Tinha dentro da fazenda seu próprio refúgio. Em meio a mata, num lugar longe dos cafezais, longe dos olhares rígidos do pai, Antônio encontrou um rio, cheio de grandes pedras, que corria tranquilamente e cortava aquelas terras, e mais à frente, uma linda cachoeira. Desde o dia que encontrou aquele tesouro em meio a propriedade, fez daquele lugar seu refúgio. Naquela época o caminho até lá era difícil, a mata era fechada, mas era o local favorito do menino. Sempre que conseguia fugir ia pra lá. e ficava tomando banho de cascata, sentava numa pedra e observava a natureza. Era um menino bom, se preocupava com os outros e mesmo proibido por seu pai, brincava com as crianças da comunidade.
Quando Antônio tinha dez anos, conheceu uma menina pouco mais nova Luciana, ela era uma menina especial que enchia a vida de Antônio de alegria, tinha os cabelos lisos e negros como a noite, e seus olhos verdes, combinavam perfeitamente com a paisagem que os rodeava. A menina preferia brincar com os meninos do que com as meninas, achava as brincadeiras das meninas muito chatas. Achava que não nasceu para cuidar de uma casa, ou ter filhos, queria conhecer o mundo, falava que quando crescesse, iria para a cidade grande.
Antônio e Luciana não se desgrudavam, quando o pai não estava de olho ele corria para a comunidade para chamar a amiga para irem até a cachoeira, e lá o menino, que tinha uma boa educação, pois estudava no melhor colégio de Belo Horizonte, deitava na grama e lia para a pequena Luciana, falava histórias da cidade grande, das casas e carros que tinha por lá, dos shopping e lojas, e de como era o ensino na escola que ele estudava. A menina ficava com os olhos vidrados nele, encantada com cada história, fez ele prometer levá-la naqueles lugares um dia.
Com suas histórias Antônio fazia Luciana viajar além das porteiras da fazenda, e ela fazia que não morresse dentro dele o jovem rebelde, alegre e corajoso, uma troca mais que justa para ambos.
Geralmente meninos não gostam de brincar com meninas, ainda mais quando eles não tem a mesma idade, mas com Antônio e Luciana era diferente. Ele gostava dela, a protegia dos outros meninos e meninas, e ensinava coisas para ela sobre a sociedade, falava sobre a cidade grande, sobre sua casa na capital mineira. Queria poder levar Luciana para conhecer seu mundo. Queria mas não podia, o menino sabia o quanto seus mundos eram diferentes.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 50
Comments