...Capítulo 05...
Me forço a comer a gororoba que a arrogante oficial feminina, chamada Júlia, trouxe. Ela colocou a comida com tanta delicadeza, que os respingos quentes vieram me cumprimentar.
Meu histórico com as Júlias que apareceram em minha vida não são nada boas.
Quando eu tinha 8 anos, a primeira Júlia apareceu. Uma valentona do colégio.
— Deixa eu brincar com essa boneca. — Diz, Júlia com uma mão na cintura e um dedo apontando para a boneca.
— Não. — Digo, sem hesitar. — Não quero outra pessoa tocando. Ela é especial.
Meu pai tinha a comprado como pedido de desculpas por não ter ido ao meu aniversário.
— Sua metida! — Faz careta e saí com o nariz empinado.
Dois dias depois, minha boneca sumiu.
— O que você está fazendo com minha boneca? — Digo, incrédula.
Ela cometeu um grande erro.
— Tá aqui sua boneca! — Com um sorriso debochado, ela arremessa em minha direção.
Todo seu cabelo e roupas estavam cortados. A linda boneca, está destruída agora.
— Obrigada! — Dou um sorriso sarcástico.
Ela se vira e começa a andar desfilando toda feliz, depois de destruir meu patrimônio.
— Júlia, espera. Esqueci de te dar isso aqui.
— O que? — Vira em minha direção.
Dei um soco na cara dela e fui suspensa por três dias, mas valeu a pena. Nunca mais a vi depois disso.
A segunda Júlia, era minha amiga no ensino médio. Eu tinha 14 anos e namorava um perdedor chamado Lúcio, o popular da sala.
— Vocês já estão namorando há um mês. — Diz, Júlia.
— E? — Digo, arqueando uma sobrancelha.
— Quando vocês vão? — Ela passa a mão pelos cabelos. — Sabe… Dormir juntos.
— Nunca! Eu vou terminar com ele. — Me sento e cruzo as pernas.
— Por que? — Abri um grande sorriso.
— Percebi que não gosto dele. Achava que ele me atraía, mas estava enganada. — Dou de ombros.
— Quando você vai falar com ele sobre o término? — Pergunta, demonstrando interesse. Ela se senta na cadeira à minha frente.
— Não sei, estou pensando como vou dar o fora nele.
Na tarde do mesmo dia, vou na casa de Júlia. Ela precisa de ajuda na atividade de português. A diarista que me recebe. Então, sigo meu caminho para o seu quarto. Quando abro a porta encontro os dois juntos, se pegando fervorosamente.
— Que cena linda. — Digo e bato palmas. — Ainda bem que não parei para pensar em como terminar com esse traste. — Digo, para mim mesma.
— Eu contei tudo para ele. Sobre como você falava mal dele, que ia terminar porque não gostava dele. — Ela o abraça e o beija. — Eu gosto! — Diz, Júlia.
— E eu fiquei com a garota que gosta de mim. — Declara, Lúcio. — Você é o que? Uma freira?! Um mês de namoro e nada.
Com essa declaração uma súbita vontade de rir toma conta do meu corpo e da minha voz. Quis socar a cara dela como fiz com a primeira Júlia, por trair nossa amizade e a dele por falta de respeito, mas me contive.
— É por isso que eu te traia com a Júlia, mesmo te amando. — Diz, Lúcio.
— E é por isso que não gosto de você. Você não me ama e nem respeita. Você queria meu corpo achando que eu seria fácil, como essa aí. — Aponto para Júlia. — E agora, tá com raiva porque soube que vai levar um pé na bunda.
Ele se levanta e a largos passos fica de frente para mim.
— Ninguém termina comigo! Ouviu?!
— Parabéns, eu sou a primeira. Os lixos se merecem.
— Vá embora da minha casa, vadia! — Ela vem para cima de mim, mas Lúcio a segura.
— Um canalha como você, não me merece. — Cuspo no chão do quarto.
— Que nojo! — Diz, Júlia. Controlando a vontade aparente de vomitar.
— Sejam felizes!
Ele me segura e o empurro. Então bato a porta, fechando-a.
— No inferno. — Murmuro.
No final, era só uma sanguessuga e mentirosa.
Em casa, conto tudo para a minha mãe que pergunta sobre ele e o motivo pelo qual volto tão cedo. Os dois, três dias depois, param de vir ao colégio.
Júlia e sua família se mudam às pressas, depois de ser revelado que Gertrude, sua mãe, é uma estelionatária procurada. Já Lúcio, se muda para Ustreau, onde vai morar com sua tia, depois do pai ser preso por tráfico de drogas.
...🔍...
Não sinto fome, mas preciso me alimentar. Depois que termino, ela me guia para uma cela vazia. Pelo menos, agora estou sozinha.
As horas passam lentamente enquanto fito o mofo no teto. Se não fosse aquele relógio estupido e antiquado pendurado à frente, eu não ia saber que já se passaram horas, desde que cheguei aqui.
A porta abre. A arrogante oficial de polícia, quer dizer oficial Júlia aparece, porém acompanhada de outra pessoa, Mila.
— Sua advogada chegou. — Diz, Júlia com escárnio.
— Mila, você demorou. — Me levanto, corro e agarro as grades.
A oficial Júlia abre a porta da cela para Mila entrar, fecha e depois sai do local.
— Só tem essa policial? — Cruzo os braços.
— Por que? Aconteceu alguma coisa? Ela fez algo?
— Não, Mila. Ela não fez.
Mila é a minha única amiga e também advogada, trabalhamos juntas. Ela sabe dos meus segredos, até dos mais tristes e sombrios.
— Aurora, me desculpe! — Me dá um rápido abraço.
— Eu… sou inocente, Mila. — Seguro suas mãos.
— Acredito em você, boba. — Com o polegar, toca levemente meu nariz. — Eu li seu caso. O que aconteceu? — Indaga.
— Mila… Ainda está tudo muito confuso. — Aperto os olhos e mordo os lábios.
— Estou aqui para ajudar. — Repousa a mão em meu ombro. — Fique calma, pare de morder o lábio.
— Obrigada, Mila. — Sorrio e sento na cadeira.
Mila faz o mesmo, logo depois de mim.
— Mas, Aurora. Pode ser um pouco difícil provar. — Franze o cenho.
— Como assim? — Questiono.
— Suas digitais foram encontradas na faca, em algumas regiões da casa e na sua roupa, a digital da vítima. E para piorar, um dos policiais alegou que viu você com a mão na faca.
— Grrr! — Reviro os meus olhos, puxo os meus cabelos, frustrada com a situação. — Eu estava estancando o sangramento dela. — Jogo minha cabeça para trás e olho para o teto.
— Calma, Aurora. Você vai sair dessa enrascada que está.
— Tenho quase certeza, que fui drogada, Mila. — Meus olhos vão do teto para os seus.
— Vou solicitar um exame toxicológico, o mais rápido possível.
— Boa ideia! Pode funcionar a meu favor.
— Você precisa tentar se lembrar do que aconteceu, para que eu possa te ajudar mais. Você conhece ela? — Pergunta, enquanto faz anotações no papel.
— Não conheço, também não sei o que eu estava fazendo lá. — Respondo.
— Estranho. — Fala com um tom de voz baixo, quase que para si mesma.
— Ai, minha cabeça ainda tá doendo. — Eu massageio com as pontas dos dedos minhas têmporas.
— Não se preocupe, Aurora. Eu vou te ajudar. — Dá um tapa de leve nas minhas costas.
— Eu vi o corpo da vítima, as facadas foram predominantes na região esquerda do abdômen. — Faço gestos na minha barriga para mostrar a localização.
— Isso mesmo. Tem outras coisas que não fazem sentido.
— Tipo? — Pergunto, curiosa.
— Tipo, sua mão não tem marcas de ter usado uma faca para esfaquear alguém brutalmente. Além disso, a cena do crime mostra que houve muita luta corporal e diferença física entre vocês duas, não é muito grande. — Continua. — Pela direção do corte, a pessoa que fez isso é destra, mas você é canhota. — Conclui.
— A última coisa que eu me lembro é que estava indo procurar o Gael em sua casa. E depois… Nada.
— Alguém com certeza armou para você. Eles sabem quem você é. Por essa razão, não deveriam ter a coragem de mexer com você. Seus pais não vão deixar barato.
— Eles sabem que estou aqui? Disseram algo para você? — Arregalo meus olhos.
— Disseram que vão resolver isso do jeito deles.
— Porra. — Me levanto da cadeira subitamente.
Andando de um lado para outro, penso no que fazer. Mordo a unha na tentativa de controlar a ansiedade e volto a me sentar na cadeira.
— Tudo vai ocorrer bem, relaxa. — Diz, Mila docemente. — Vamos continuar e ver quais são as outras evidências que podem ser inválidas.
— Se eles se envolverem, podem piorar a minha situação. — Digo, tensa. Mordo a unha. — Não quero dever nenhum favor para eles. — Minha voz sai abafada, pois a minha boca está ocupada com minhas cutículas.
— Vou reunir mais informações, mas preciso que você tente se lembrar do que aconteceu. — Suspira, Mila. — Seu julgamento será em breve.
A porta se abre e os policiais que estavam no interrogatório entram.
— Acabou o tempo. Então, como vai ser?
— Minha cliente vai usar o direito de permanecer calada. — Diz, Mila.
— Seria bom ela confessar, temos provas… — Ele é interrompido.
— Provas? Olha aqui, policial…— Olha pro crachá dele, enquanto sai da cela. — Carter. Essas provas não são o suficiente para prender minha cliente.
— Temos a arma do crime. — Diz, outro policial, ao lado de Carter.
— Digitais podem ser manipuladas. Em breve, nem dentro da cela vocês vão poder mantê-la. Então, vamos encerrar aqui. — Diz, Mila, confiante.
— Como quiserem. — Diz, Carter. Toma um grande gole do café que está em suas mãos. — Fecha a cela.
— Até outro momento. — Diz, Mila, para mim.
Eu espero que esse momento não demore.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Thamires Gonçalves de Sousa
e só eu que acho que essa Júlia de quando ela era pequena ela e a polícia chata?
2022-06-02
1
Regina Luzia
to acando que este policiais ta metido nisso
2022-05-21
1
Viiih
Mais autora
2022-05-03
4