...Capítulo 02...
~ 5 anos atrás ~
— Irmão, eu queria conversar com você. Você teria como me emprestar o seu precioso tempo? — Diz, Anelise em uma ligação telefônica.
Eu aperto os lábios para conter um riso.
— Mais é claro, preciosa irmãzinha.
— Pode ser agora?
— Humm… Pode. Te vejo em breve!
— Beijos!
Ela desliga o telefone e eu vou para o carro. Mas antes de chegar ao meu destino, faço uma parada na mercearia do Arthur, fica a um quarteirão de casa, para comprar um refrigerante e uma barra de chocolate. Ela é viciada. Se eu não levar, tenho pena dos meus ouvidos pelos próximos meses.
Ela iria falar coisas do tipo: "irmão, por que veio de mãos vazias?", "Você sempre trazia besteira antes.", "Não me ama mais?" e ia fingir chorar, depois de cantar uma música melancólica, ela é boa nisso. Anelise é atriz de musical, tem uma voz soprano linda, sei que um dia irá brilhar.
Lá está ela, parada na porta de casa.
— Irmão!
Ela pula nos meus braços e eu quase derrubo as compras.
— Estava com saudade das suas perturbações. Eu fico preocupada quando você vai para uma operação perigosa. — Diz, cabisbaixa.
— Sei que você é muito sensível. — Riu e eu bagunço seus cabelos lisos.
— Mark! Você sabe que eu odeio que bagunce meu cabelo. — Bufa. — Vem, senta aqui no sofá.
Puxa meu braço.
— Você comprou meu mimo, que fofo. Obrigada! — Beija minha bochecha e vai deixar as coisas no balcão.
Como sempre, ela precisa de um pouco mais de organização, apesar de não chegar ao nível, caos. Eu sempre tenho que pegar no pé dela com a limpeza da casa, porque depois sobra pra mim.
— A Ana não pôde vir hoje? Acho que ela deveria vir todos os dias.
Ana é uma diarista que trabalha a anos para a família.
— Ah Mark, nem está tão bagunçada assim. — Bate as mãos nas pernas.
— É, tem dias piores! — Dou uma gargalhada.
— Aproveita que você está aqui, faz o serviço. — Diz, em um tom zombeteiro.
Ela costuma bagunçar e me fazer limpar para ela quando estou em casa.
— Tô fora! Chama a Ana. — Aponto para o telefone fixo.
Começamos a rir.
— Enfim, o que você queria conversar comigo?
— Você sabe que meu sonho número um é ser mãe, né? — Senta no sofá.
— Claro! Você sempre fala disso.
— Então… — Ela esfrega as mãos nas pernas.
— Desembucha, Anelise. — Olho sério para ela. — O que você está… — Semicerro os olhos. — Você está grávida?
Ouço um choro de bebê vindo do segundo andar da casa.
— Anelise. — Digo, lentamente seu nome, em um tom firme.
— Calma, irmão! Deixa eu explicar. — Ela coloca a mão no meu ombro.
— Explicar? Explicar o que? Um choro de bebê vindo do andar de cima é o que? Ou será que foi impressão minha? O pai e a mãe estão sabendo disso?
— Caramba, que interrogatório. Tantas perguntas e você não me deixa responder nenhuma, Mark. — Diz, com a voz estridente.
— Anelise, olha o tom de voz. Eu não estou gritando com você. — Aviso, encarando-a.
— Como não altero, irmão? Você parece uma metralhadora, só que em vez da arma está usando a voz para me calar. — Ela se levanta.
— Tá bom, desculpa. — Digo, com a voz mansa.
Seguro seu braço e a faço se sentar de novo.
— Eu não quero te calar, eu quero respostas.
— E eu vou te dar se você estiver disposto a ouvir. — Me olha sério. — Sim, tem um bebê lá em cima. Eles já sabem. Alguém largou ela, recém-nascida, em um beco há uma semana.
— Uma semana?! E ninguém em casa resolveu nada ou me avisou? — Interrogo, perplexo.
— Você não entende, Mark. Ela foi abandonada. Estava com frio e quase não chorava de tanta fome. Por sorte eu a encontrei quando voltava da faculdade. — Diz, enquanto gesticula as mãos.
— Por que escondeu isso de mim e só está me contando agora?
— Esqueceu que você estava ocupado? Eu sempre conto tudo para você, mas nem sempre você está disponível para ouvir.
— Ai meu Deus. — Suspiro. — Tem razão. — Me curvo com os cotovelos nos joelhos e descanso minha cabeça nas mãos. — Já procurou algum orfanato? — Pergunto.
— Não! — Respondi, Anelise.
— Não? — Indago.
— Eu já adotei ela. Ela é minha. Não vou entregá-la num lugar tão frio e solitário outra vez.
Dou uma gargalhada, incrédulo.
— Você não fez isso. — Me levanto. — Cadê essa menina? Ela vai embora hoje.
— Para, Mark!
Vou para as escadas e Anelise tenta me impedir de continuar subindo. O choro vai se intensificando.
Entro no quarto. Ela é pequena e frágil. Ao me aproximar mais, eu a pego nos braços.
— Mark…
A bebê segura meu dedo e para de chorar. Eu observo todo o contorno de sua pequena face e aquele sorrisinho banguela, arranca um sorriso do meu rosto.
— Ela é linda. Como alguém pôde fazer tamanha atrocidade de abandoná-la? — Cheiro sua cabeça.
— Ayla.
— O que?
— O nome dela, Ayla. Como a encontrei à noite, banhada pela luz da lua, resolvi escolher esse nome. — Ela faz carinho na cabeça de Ayla.
— Lindo nome.
Ela dorme rápido em meus braços.
— Vamos conversar melhor na sala, Anelise. — A coloco de volta no berço.
Descemos a escada e me sento no sofá. Anelise trás dois copos de refrigerante, um para ela e um para mim. Ficamos uns minutos em silêncio. Estava querendo processar toda aquela informação, o futuro que ela estaria desperdiçando para cuidar de uma criança que não é dela.
— Irmã. Você sabe que eu te amo e só quero o melhor para você.
— Sei, por isso acredito que irá respeitar minha decisão. — Ela olha para mim, com um olhar triste.
Eu sei que ela está desapontada comigo. A bebê é linda, mas essa decisão é algo que não se pode fazer sem pensar.
— Olha, — Eu deixo meu refrigerante na mesa da frente, pego o dela e faço a mesma coisa. Seguro suas mãos e olho fixamente em seus olhos verdes como esmeralda, iguais ao meu. — Eu te entendo. Mas, e seu futuro? Você não quer ser uma atriz famosa? Como vai fazer isso com uma criança? Você estuda, só tem 19 anos…
— Mark, eu pensei em tudo. Não vou dizer que foi uma decisão fácil, porque não foi planejado para ser agora. Eu tenho minhas preocupações. — Ela aperta minhas mãos. — Mas quando a vi naquele estado, abandonada à sorte… — Ela cobriu a boca para segurar o choro. — Senti que ela era minha. Minha filha, meu futuro e meu destino.
Seus olhos cheios d'água, me fazem querer chorar. Eu consigo entender como ela se sente. A ligação de irmãos gêmeos é algo forte em nós. Eu a abraço apertado e ficamos assim até ela se acalmar.
— Você não avisou que adotou Ayla para o pai e a mãe, não é?! — Pergunto já sabendo que seria um não.
— Não. — Afirma.
— Tudo bem, desculpa ter sido tão duro. — Eu aliso seu rosto e enxugo suas lágrimas. — Eu odeio te ver chorando. Quero você sorrindo, anda.
Ela começa lentamente a sorrir e para mim é suficiente. Ela podia não ser responsável para conseguir manter a limpeza da casa, mas sei que seria uma ótima mãe.
— Apesar que a mãe pode infartar…
— Me ajuda, maninho! — Implora, e me abraça.
— Sempre ajudo, nessas suas loucuras. E essa foi a pior.
— Filhos! Sobre o que vocês estão conversando? — Questiona, meu pai.
Foi uma longa conversa que se estendeu por alguns dias. Minha mãe quase desmaia. Felizmente no final deu certo e foi uma dura batalha, de fato. O pai e a mãe não estavam prontos para descobrir que sua filha seria mãe tão cedo, mas eles a entenderam. Eles assumiram e disseram que haviam se encantado com Ayla e que eles queriam adotá-la, por isso estavam zangados. Prometeram ajudar na criação e na educação para que Anelise não fique com muita carga para si e claro que quando eu puder também ajudarei.
Serei o pai que ela não tem.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Genya
🥰🥰🥰lindo 🥰🥰🥰 parece meus filhos se ajudando
2022-06-03
0
Eternamente♥️Akemi _ Adeus🖤
Aí que lindo e profundo 😢
2022-05-18
1
Eternamente♥️Akemi _ Adeus🖤
Parece eu com o meu irmão kkk
2022-05-18
1