Estou sentada na cadeira à espera de dona Carla chegar . Com certeza eu ia receber uma bronca daquelas , pelo fato de que eu não estou arrependida . Sara está na cadeira ao meu lado , também esperando sua mãe chegar. Ela segura um saco de gelo no pulso . Felipe está encostado na parede , perto de Jaqueline e Caio . Não me importo nem um pouco com a raiva que ele deve estar sentindo de mim . Também estou com raiva dele , ele não se importou em me dizer o porque de não ter me respondido ontem . Eu queria ele perto de mim e pelo visto ele não me quer por perto .
A diretora fala algumas coisas com desaprovação , hoje já é minha segunda vez aqui . A culpa não é só minha , Jaqueline pode provar isso . Mas , agora , devo ganhar uma bela suspensão . Mas tem uma coisa que preciso perguntar urgentemente pro Caio . Porque ele não fez nada ?
— Com licença .
Minha mãe passa pela porta . Mais uma vez vejo seu olhar de preocupação .
— Senhora Fernandes , sente-se por favor .
Ela senta em uma cadeira perto de mim .
— Você tá bem filha ?
Ela me pergunta baixo .
— Bem .
Respondo no mesmo tom .
Não demora pra mãe da Sara passar pela porta . Minha sogra , como eu queria chamar ela , até ontem .
— Bom dia .
Depois dos cumprimentos , ela me olha torto .
— Senhora , sua filha machucou a colega …
— Ela tem problemas para controlar a raiva , tem surtos . Mas , fazia anos que ela não machucava ninguém . Ela sabe controlar .
Minha mãe me defende .
— Desculpe , mas sua filha não pode ficar solta por aí . Alguém pode se machucar e podemos ver que ela não consegue controlar .
A mãe de Sara está sendo realmente cruel , ao falar assim .
— Não fale de minha filha , como se ela fosse um animal .
Mamãe altera a voz .
— Dona Carla , por favor se acalme . O mesmo serve para você dona Luiza .
Dona Luiza e mamãe não falam mais nada , então a diretora começa .
— Suas filhas agiram mal , como ouvi dos colegas deles Sara tentou dar o primeiro tapa . E foi por isso que Chloe a segurou , mas ela não soltou e desferiu um soco no rosto da colega . As duas vão ganhar suspensão , mas eu peço que conversem com suas filhas .
Ela faz uma pausa e se despede de Sara e dona Luiza , fez sinal para que nós duas não saísse . Felipe , Jaqueline e Caio também saem . A diretora já tinha conversado com ele .
— Dona Carla , procure um psicólogo para sua filha . Eu me lembro do primeiro surto que ela teve e sei que ela estava controlando bem , mas fiquei sabendo de alguns acontecimentos que ocorreram no fim de semana que podem ter desencadeado novamente esse problema .
— Eu irei fazer isso , sei que é o melhor pra ela . Até já tínhamos falado sobre .
Mamãe se levanta e eu a sigo , dona Luiza já está do lado de fora com Sara e Felipe .
Jaqueline também está com eles , e vem até mim .
Ela me abraça forte , eu sussurro um desculpa em seu ouvido . Ela me olha sem entender . Passo por ela e vou atrás da minha mãe . Esbarro em Felipe no caminho sem querer , mas continuo a andar sem olhar pra trás .
3 semanas depois …
Minha barriga cresceu um pouco , quase não dá pra notar . Nessas três semanas que se passaram , comecei a ir no psicólogo . Tirei os pontos , ficou apenas uma pequena cicatriz . Como fiquei uma semana suspensa , comecei a meditar seguindo as instruções que vi em um vídeo . Me ajudou bastante , até eu perder a paciência e não fazer mais . Eu e Jaqueline conversamos bastante e posso dizer que nossa amizade está cem por cento denovo . Já o Felipe , não me mandou mais mensagem . A Jaqueline me disse que eles conversaram , ele disse que não podia mais ser meu amigo . Não disse o porque . A Sara já se recuperou e continua com o Caio . E acabei decidindo esquecer eles . Mas , o Felipe , a saudade aperta quando penso nele . Mas o que eu posso fazer ? Nada .
Esthefany entra pelo quarto , sem aviso prévio .
— Bom diaa …
Ela me abraça . Coisa que se tornou constante nessas semanas .
— Bom dia irmãzinha .
— Como acordou hoje ?
Ela se refere a raiva .
— Bem . Mas não se preocupe , com tanta atenção que estou recebendo não dá pra pensar em coisas ruins .
Sorrio e ela me acompanha .
— Pena que aquele seu amigo , não quer ser mais seu amigo .
Meu sorriso some quando percebo que ela está falando sobre Felipe .
— É , mas … ele teve seus motivos .
— Quais ?
— Não sei .
— Você deveria descobrir , já que não sabe .
Esthefany sai quando papai passa no corredor . Talvez ela esteja certa . Me levanto e vou tomar banho . Saio e desço para a cozinha . Mas antes mando uma mensagem pra Jaqueline .‘Manda mensagem pro Felipe e diz que você quer conversar com ele antes da escola , se ele não quiser diz que é urgente .’ Por sorte ela me responde rápido . ‘Por que ?’ ‘Minha irmã me fez acorda pra vida’ ‘Até que enfim , achei que nunca ia acontecer. Vou mandar aqui .’‘Pronto , mas não me respondeu’‘Me diz quando responder , marca na praça se ele quiser ir’
— Bom dia filha , como passou a noite ? Como está o meu neto .
— Bem . O bom é que os enjoos passaram e as tonturas também .
Mamãe sorri . Posso dizer que estou revigorada ultimamente , mamãe não me olha com preocupação mais . Subo de novo para o quarto segurando uma xícara de café com leite e um pedaço enorme de bolo . ‘Ele vai estar lá às sete’‘Obrigada’‘Porque você mesma não mandou mensagem’ ‘Porque sei que ele não ia responder’
Um tempo depois …
Visto uma calça de moletom preta com alguns desenhos , que eu amo , e uma blusa também preta sem estampa . Deixo meu cabelo solto e coloco um tênis , que por sinal também é preto . Podia ir mais arrumada , mais não é isso que vai valer . Hoje , como não vou na escola porque tenho sessão , não levo mochila . Pego só meu celular . Era pra mim levar Esthefany na escola , mas ela já está bem grandinha e pode ir sozinha .
Caminho rápido , para não chegar atrasada e Felipe desistir e ir embora . Meu coração acelera quando estou chegando mais perto da bendita praça . Respiro fundo quando estou perto o suficiente pra ver Felipe sentado em um banco . Penso em desistir , ele não deve querer conversar comigo . Fecho os olhos e puxo uma grande quantidade de ar . Caminho até o banco e me sento sem ele perceber . Como isso pode ser tão difícil ?
Por algum motivo ele sorri divertidamente pra tela a sua frente .
— Oi .
Digo alto para que ele me perceba . Ele me olha e seu sorriso desaparece .
— Porque você tá aqui ?
Ele diz de uma forma ríspida . Isso dói bem fundo no meu coração .
— E porque eu não deveria estar ?
Ele me olha sem entender , então falo de uma forma mais clara .
— Porque você me abandonou ? Eu sei que não devia ter feito aquilo com sua irmã , mas …
— Eu não te abandonei , você preferiu não me escutar aquele dia . Você … você me deu medo .
— Eu … eu não queria . Só precisava de ajuda .
Ele continua sério .
— Agora você tem e não precisa mais de mim .
Ele se levanta pra sair e eu o acompanho .
— Como assim , eu tenho .
Digo parando na frente dele .
— Não se faça de boba . Eu sei que você continua com o Caio .
Eu arregalo os olhos .
— Quem te disse isso ?
— Ele .
— Mas … mas ele , eu não tenho nada com ele . Porque ele te disse isso ?
Acabo me lembrando da conversa que tive com ele . Ele não me queria feliz , só pode ser por isso . Não disse com essas palavras , mas foi isso que entendi .
— Não sei . Você deveria sabe .
Ele da volta e continua a andar . Vou atrás dele .
— Porque você prefere acreditar nele ?
Pergunto já com lágrimas nos olhos .
— Porque não confio mais em você .
A primeira lágrima desce e depois a segunda , terceira , até virar uma correnteza forte . Porque não posso ser feliz por inteiro ? Porque o Caio fez isso ? Saio correndo dali , mas não vaou falar com Caio . Não agora , porque pode acontecer uma tragédia se eu o ver na minha frente .
Mais tarde …
— Como você está se sentindo agora , tendo ouvido do garoto que ele não confia mais em você .
— Eu … eu tô me sentindo um lixo . Mas eu não entendo porque ele falou isso , nunca menti pra ele . E o Caio dizer que a gente tá junto , porque ele fez isso ?
— Talvez porque ele queira que isso seja verdade . Te ver com outro pode fazer ele sofrer .
Rio alto .
— Não , concerteza não é isso . Ele … ele me odeia . Eu tentei matar ele . Mesmo nos dias que a gente ficou junto , ele não gostava de mim de verdade.
— E oque você sente por ele .
— No momento , raiva . Raiva por ele ter mentido pro Felipe . Mas , assim , não sinto nada por ele . Nada .
— E pelo Felipe .
Penso um pouco antes de responder .
— Eu … eu não sei exatamente o que eu sinto . Mas eu sinto alguma coisa , aqui dentro . Eu gosto do jeito que ele me olha , gosto do jeito do cabelo dele , sempre bagunçado . Gosto … gosto de tudo nele . Ele é perfeito .
Sorrio pro nada .
— Então porque você não fala isso pra ele ?
— Não tenho coragem , parece … parece que toda a minha coragem vai pro ralo . Some , desaparece .
— Ok , mas vamos voltar ao assunto que fez você chegar aqui quase entrando em surto . O que você pretende fazer agora .
— Eu vou fala com o Caio , assim que eu sair daqui .
— E você está tranquila em fazer isso ?
— Não muito , mas acho que posso controlar minha raiva .
Mais tarde …
Estou a bastante tempo no portão da escola , comi alguma coisa no caminho pra cá . Está quase na hora do fim da aula . Estou um pouco impaciente , talvez aqui não seja o melhor local . Ele vai estar com os amigos e talvez com a namoradinha dele . Escuto o sinal e saio de perto do portão , acho melhor esperar um pouco mais na frente . Também não quero que Esthefany me veja aqui . Me encosto em um muro alto , do que parecia uma casa abandonada . Não é muito longe da escola , é no caminho pra casa do Caio . Não demora muito pra ver ele vindo , acompanhado . Mas o amigo vai em outra direção .
Ele vem distraído e quando ele está quase passando por mim , falo alto .
— Caio .
Ele me olha e se mantém sério .
— O que você quer ?
— Eu é que pergunto , o que você quer ?
Me ponho em sua frente .
— Ir pra casa serve ?
Ele diz de uma forma debochada .
— Eu tô falando é oque você ganhou falando pro Felipe que estamos juntos ?
Ele se faz de desintentido .
— Eu não falei isso pra ele , você é louca .
— Por isso mesmo é melhor você me falar a verdade .
Ameaço .
— Eu tô falando a verdade . Isso não me serviria de nada , mas você deveria falar com a Sara sobre isso . Era ela que tava falando esses dias que não ia deixar você chegar perto do irmão dela .
— Devo acredita em você ?
— Deve .
— Tudo bem , mas se não for verdade vou atrás de você até o inferno se for preciso .
Dou as costas e caminho em direção a casa de Felipe . Não sei se acredito em Caio , mas é melhor tirar a prova . Pego o celular e mando uma mensagem para Esthefany , eu posso acabar demorando muito .
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Atualizado até capítulo 20
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