Com as mãos carregadas, Sarah ficou momentaneamente indefesa pelo ataque. Virou a cabeça de lado quando o estranho tentou beijá-la, emitindo um grito de protesto enquanto tentava se desvencilhar. Ninguém parecia notar o que estava acontecendo e, por um terrível momento, Sarah pensou que não conseguiria sair dali.
Medo e raiva a colocaram em ação, e ela ergueu um dos joelhos, satisfeita em atingir o ponto mais sensível do homem com força total. No momento em que recuou, diversos cubos de gelo caíram dos copos em cima da cabeça das pessoas ao redor, incluindo a do homem atrevido.
— Desculpem — gritou Sarah, aliviada por ser tirada da confusão por uma grande mão que a envolveu pela cintura e levou-a para um canto menos congestionado do corredor.
Ela abaixou os braços doloridos e sorriu agradecida para seu salvador, agarrando os copos junto ao peito parcialmente exposto, longe do impecável terno preto e da camisa branca do homem. Com 1,70 metro de altura, Sarah não se considerava baixa, mas, mesmo de salto alto, tinha de erguer o pescoço para ver além do maxilar bonito e barbeado acima do colarinho imaculado.
— Obrigada — disse ela ofegante, ainda abalada pela recente luta; por causa da fumaça, teve de piscar para poder focá-lo apropriadamente.
Conseguiu, um segundo antes de ele virar-se
e partir, e, chocada, registrou a expressão de desprezo nas feições do homem. Foi um balde de água fria, tirando-lhe o sorriso do rosto e fazendo Sarah sentir-se embaraçada.
Por alguns minutos depois que ele desapareceu, ela ficou parada no lugar, tentando se convencer de que não lera corretamente a expressão do homem, mas o desdém revelado nos olhos azuis permaneceu vivo em sua memória.
As faces de Sarah queimavam como se tivesse levado um tapa. Ele não esperara nem o bastante para reconhecer o agradecimento dela. Talvez tivesse se arrependido de tê-la salvado. Ou talvez concluísse que ela provocara o homem até fazê-lo perder o controle. Provavelmente achara que o fato de Sarah piscar e estar ofegante fazia parte de algum jogo sexual.
Mas essa não sou realmente eu!, ela queria correr atrás dele e gritar.
Então, repreendeu-se. Que importância tinha o que qualquer pessoa daquela festa desprezível pensasse sobre sua aparência do momento? Afinal, nunca mais as veria.
Sarah agarrou os copos escorregadios com renovada determinação e foi em direção aos fundos da casa. Certo, talvez tivesse exagerado um pouco com sua meia preta, seus saltos altos e finos e seu vestido curto e justo, mas sabia que não podia confiar em sua aparência comum e suas maneiras antiquadas para conseguir o que necessitava naquela noite. Já havia tentado a aproximação refinada e não obtivera sucesso. Não podia esperar mais tempo.
Aquela noite era literalmente sua última chance de pagar o enorme débito de gratidão ao avô. Se tivesse sucesso, a humilhação temporária valeria a pena, e se não tivesse... bem, pelo menos saberia que tinha tentado.
Com isso em mente, reuniu coragem para encarar o homem imenso e musculoso que tentou impedi-la de entrar no pequeno hall que levava à ala familiar da casa.
— A festa é lá — murmurou ele, plantando uma bota preta na parede diante dela, barrando-lhe o caminho com a perna, e apontando com uma garrafa de cerveja sobre o ombro de Sarah.
— Estou na festa privada — argumentou ela. — Saí para buscar mais drinques, lembra?
— Oh, sim, era você — murmurou ele, abaixando a perna num movimento brusco. — Por que demorou tanto?
Ela imaginou-se derramando a cerveja sobre a cabeça dele e deu-lhe um sorriso estonteante.
— Havia uma longa fila para a toalete.
— Hã? — Os olhos dele se iluminaram com um sorriso perverso. — Oh, entendo. Trouxe o bastante para mim?
Oh, Deus, ele havia entendido errado!, percebeu Sarah, o sorriso desaparecendo.
— Desculpe, talvez na próxima viagem — disse ela afobada, indo para a porta sólida de metal no fim do corredor.
Não havia alto-falantes instalados lá, e o som
da festa mal penetrava as paredes grossas e portas pesadas da sala de “proteção” mobiliada com opulência.
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Atualizado até capítulo 58
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