Aquele dia finalmente havia chegado ao fim, eu dormi em uma cabana pequena com uma "cama" de palha no chão. A partir de amanhã eu iria ajudar na plantação pela manhã e à tarde treinaria com Dant para me tornar um guerreiro mágico, o que, segundo as pessoas do vilarejo "não é tão simples quanto parece".
No outro dia acordei antes do sol se pôr, e fui ao rio para tomar banho e lavar minhas roupas. o dia estava ensolarado, as nuvens brancas como algodão, e o sol brilhando forte, o clima estava quente, mas eu podia olhar diretamente para o sol sem me queimar, algo que acontecia desde ontem, porém ainda não entendia esse fato.
Depois, acendi uma fogueira e coloquei minhas roupas próximas a ela apenas distantes o suficiente para não pegarem fogo. Antes que as roupas secassem totalmente, ouvi uns barulhos à direita e fui averiguar, quando olhei, me deparei com a mesma garota de orelhas de gato que havia encontrado ontem, só que nua, ela estava lavando um monte de roupas e secando e outras em uma fogueira. Quando me dei conta, estava olhando fixamente para ela, na hora virei a cabeça para o lado e a garota olhou para mim.
- Bom dia! - ela estava bem alegre, não parecia nem um pouco envergonhada ou com raiva, talvez tinha esquecido do fato de que estava desnuda, na verdade, ambos estávamos, ignorando este fato, respondi, me esforçando ao máximo para não gaguejar, mas minha voz não me obedeceu:
- Bom... dia
Saí rapidamente dalí, extremamente envergonhado, e ela me observou, confusa. Cheguei à área onde as minhas roupas estavam secando e as vesti, estavam quentes, certamente pelo fato de que eu havia demorado mais do que esperava lá.
Depois fui até a plantação, era uma horta não muito grande, peguei uma fruta grande, tirei tudo de dentro e guardei para usar de adubo, enchi de água, fiz alguns furos, e pronto! Eu tinha feito um regador orgânico, igual havia visto em um life hack na minha cidade-natal.
Fui regar as plantas quando Dant apareceu e gritou:
- O que você tá fazendo com isso na mão?! Isso não é de comer não, garoto!
- Eu não ia comer! Vou usar para outra coisa. Mas o que aconteceria se eu a comesse? - Falei ao jovem de cabelos negros que agora era o meu professor
- Nem queira saber. - respondeu ele
Eu obviamente fiquei curioso, mas resolvi não insistir, devia ter um motivo pra ele não ter me falado sobre isso. Expliquei-o sobre o regador, e então o mesmo foi e fez o seu próprio, enquanto eu regava as plantas. Aos poucos, as pessoas foram chegando e começaram a plantar novas sementes, sem entender o que estávamos fazendo, mas também sem perguntar, ouvi um chamado e olhei em direção ao som, vendo primeiro longos cabelos loiros e após isso lindos olhos azuis, que reconheci como sendo da garota com orelhas de gato, que corria em minha direção e parava bem em minha frente, perguntando-me com olhos brilhosos:
- Você está bem? você correu quando me viu antes, então fiquei preocupada.
- Não... precisa se preocupar... - Respondi corado, me lembrando do que havia acontecido de madrugada.
Ela olhou atentamente para o meu rosto, falando:
- Você está vermelho, será que é febre? Posso verificar?
Ela tocou em minha testa e desviei a atenção, tentando evitar contato visual e ainda mais contato físico, saí dalí e voltei a regar as plantas, quando Dant veio ao meu lado.
- Oque aconteceu entre você e a Mai antes de você vir pra cá? - Questionou ele. pensando em descobrir quem era essa tal de mai, perguntei
- Diz a garota com orelhas de gato?
Os olhos de todos se viraram pra mim, será que dizer isso era considerado ofensivo nesse país?
- Evite chamar ela assim, chame-a pelo nome agora que sabe qual é - Dant falou, o que confirmou a minha teoria, fiquei calado e esperei os olhares se desfixarem de mim, o que só aconteceu à tarde.
Depois de quase uma manhã toda trabalhando, chegou a hora de fazer uma pausa para comer. A "sacerdotisa" trouxe uma grande panela e as pessoas formaram uma fila, cada um com uma tigela de barro na mão, Dant ficou para trás e me entregou uma tigela idêntica à que todos seguravam, e me disse, rapidamente:
- Não perca, se perder não vai poder almoçar. - Ele correu para a fila logo depois.
Eu fui o último a chegar na fila, de forma que tive que esperar um tempo para pegar a comida, quando chegou a minha vez, vi que era uma sopa com poucos legumes tanto em quantidade quanto em variedade. A senhora pegou uma concha e jogou em meu prato, e fez um sinal para que eu saísse, sentei em uma mesa sem ninguém e Mai veio até mim, seguida por Dant, e sentaram ao meu lado, como fazia com meus amigos no colégio. Eu fui o primeiro a falar, me direcionando à garota loira em minha frente:
- Me desculpe por mais cedo. Não era a minha intenção lhe ofender.
- Não me importo. - respondeu ela, calmamente.
- Mas os outros se importam. - Dant falou, alto e claro. - Nem todos tem a capacidade de viver levianamente como você, apesar que a única que deveria estar ofendida era você, certo? - Na hora entendi o que ele queria fazer, o plano dele era fazer com que todos esquecessem do que havia acontecido mais cedo, apenas por orgulho próprio, infelizmente esse assunto era delicado demais pra ser resolvido tão facilmente, ou não...
Todos se aquietaram e os que estavam olhando para mim, já não estavam mais, pelo visto o senso de orgulho daquele lugar era bem mais alto do que no Brasil, na verdade era diferente de todo a planeta, "de todo o planeta", isso me faz pensar em uma hipótese bem estranha...
- Obrigado por isso, já não estava mais aguentando tantos olhares em mim. - Disse à Dant
- Não foi nada - Disse ele, orgulhoso. Ele ficou quieto por um tempo e depois continuou - Se me permite... posso saber o que aconteceu entre você e a Mai de madrugada?
- É meio difícil de explicar... - ia dizendo quando fui interrompido.
- Eu estava limpando as roupas dos moradores como sempre faço, quando ele apareceu e ficou olhando pra mim, eu disse bom dia, ele respondeu e depois saiu correndo - Quem falou foi Mai, se Dant soubesse que para lavar as próprias roupas sem ter uma troca, você precisa estar despido, oque era provável, eu seria taxado como pervertido e todos voltariam a olhar feio pra mim.
eu estava suando, e me segurando ao máximo para não tremer, Os dois olharam para mim, quando Mai perguntou:
- Você está bem? Parece meio doente. - Ela tocou em minha testa e a retirou - Está quente, deve ser febre, pque não falou que não estava bem?
Não era o caso, mas todos pareciam acreditar nisso, alguns até me olhavam com admiração, pensando que fingi estar bem para ajudar na vila, oque talvez fosse uma atitude que teria no meu primeiro dia, foi estranho ver que os mesmos olhos que me olhavam com desprezo pouco tempo atrás, agora me viam com admiração.
- Não é... febre, só estou com calor, nada demais - disse, era verão, eu poderia dizer que morava em um país nortenho e que lá era muito frio, e por isso estava estranhando essas temperaturas, ninguém duvidaria, apesar de ser mentira, eu morava no Brasil, e lá era totalmente quente, apesar que aqui não ficava nem um pouco para trás.
- Não minta. Nem está tão quente assim hoje. - Mai retrucou, não sabia se era verdade, mas ela morava na vila há muito mais tempo que eu , não fazia sentido duvidar disso.
- Mesmo? eu morava em um lugar muito mais frio que aqui, lá nevava o ano inteiro. Então não estou acostumado com as temperaturas daqui. - Era obviamente uma mentira, mas não tinha outra opção.
- Entendo. Mas se estiver se sentindo mal, não hesite em me chamar. - Mai disse, encerrando o assunto.
Continuei almoçando, o gosto não era dos melhores, mas é melhor do que comer só frutas, talvez eu saísse pra caçar futuramente, não estou acostumado a ficar sem comer carne por longos períodos, também precisava procurar por arroz, e feijão também, tinha várias coisas que devia fazer, mas tudo começava naquele pequeno vilarejo que ainda não possuia nome.
A próxima coisa que iria fazer era ter as aulas com Dant, isso pode deixar bem esclarecido o que é "magia" neste lugar, e se eu estava realmente em outro país, ou em outro mundo.
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Atualizado até capítulo 33
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