Novos "amigos"

Após voltar da escola, eu e a minha irmã almoçamos juntas. Nossa mãe estava em casa, era seu horário de almoço, porém logo teria que voltar ao trabalho. Aproveitamos aquele almoço juntas, contamos nossas novidades. Eu contei sobre o Leandro e me arrependi quase que de imediato, pois as duas ficaram me perturbando dizendo que ia dar em casamento, discordei até o fim, afinal ainda amo o Bruno.

Depois de almoçar, a minha mãe voltou ao trabalho e a minha irmã ficou jogando vídeo game. Eu estava com muito sono por ter acordado tão cedo e fui me deitar. Alguns minutos depois de pegar no sono, recebo uma ligação de vídeo no celular e, infelizmente, tinha o deixado com som. Ele vibrou e tocou super alto. Minha vontade foi de jogá-lo na parede mas vi que a ligação era da Amanda. Atendi disfarçando meu cansaço.

"Oii, amiga!!" - a Amanda fala ansiosa acenando com a mão para mim.

"Oii, que saudade!"

"Amiga! Nós temos muito o quê conversar, mas primeiro, eu tenho uma surpresinha pra você!" -fala ela, arqueando uma de suas sobrancelhas.

"O que, o que?!" -respondo quase morrendo de curiosidade.

"Tcharam!" -ela abre espaço na câmera do celular revelando alguém...

"B-Bruno...?" -gaguejo sem entender nada.

"Oi, Nath!" -ele sorri para mim -"Eu senti muita saudade, mesmo que nem tenha passado uma semana sequer direito."

"Vou deixar vocês" -ela sorri com malícia -"Licença." -diz já saindo.

"Nath... eu pedi pra Amanda deixar eu falar com você por um motivo bem específico."

Nós ficamos um tempo em silêncio, não me atrevi a dizer nada.

"Você foi embora sem nem me dizer nada, né?" -ele diz fazendo cara de emburrado.

"Desculpa... Eu estava... insegura..."

"Ah, escuta..."

Ele ajeita a câmera para que eu pudesse vê-lo melhor.

"Vamos esquecer aquela história, beleza? Não vou te obrigar a gostar de mim." -ele fala num tom mais triste e baixo.

"Você nem precisa me obrigar... eu te amo..." -pensei por um estante -"Não acho que dizer a verdade é a melhor opção no momento."

Evito uma resposta para o que ele havia dito antes:

"Ainda podemos ser amigos?"

"Claro." -ele diz sem olhar no celular -"Mas isso não significa que eu desisti..." -diz quase sendo impossível de ouvir. Finjo que não o escutei.

Sorrio para ele.

"Bruno, eu tenho que ir agora. Tenho muito dever de casa. Mande um beijo para a Amanda por mim, ok?" -minto para fugir dele.

"Tá b.." -desligo sem esperá-lo se despedir.

Reflito sobre tudo o que ele disse, sorrio sem nem perceber. Foi tão bom ouvi-lo novamente, vê-lo mais uma vez. Cubro meu rosto com meu travesseiro e me jogo na cama, ainda sorrindo feito tonta.

O dia se passou rápido, perdi a noção do tempo dormindo. A noite, jantamos todos juntos: meus pais, minha irmã e eu.

No dia seguinte, acordamos no mesmo esquema do dia anterior. Minha irmã sempre positiva e animada, e eu, morrendo de sono.

Visto uma blusa azul escura pouco larga e uma calça jeans azul clara. Calço os mesmos tênis de ontem.

Depois de nos arrumarmos, saímos para ir à escola. No meio do caminho, o Leandro chama por mim: "Nath! Nath! Me espera!". Olho por cima do ombro e o vejo vir em nossa direção. Minha irmã se vira para ele. Leandro não demora a chegar até nós duas, ele anda quase correndo.

"Posso ir com vocês?" -ele me pergunta com um sorrisinho comovente no rosto.

"Quem é você?" -ela o olha de cima a baixo sutilmente.

"Ah, devo me apresentar a você." -ele estende a mão e aperta a da minha irmã -"Meu nome é Leandro. Você deve ser irmã da Nath, não é? São muito parecidas!" -ele ri. O rosto da Beca se ilumina ao ouvir o nome dele.

"Hum, Leandro, hein..." -ela me olha com malícia -"Eu sou irmã dela, sim. Meu nome é Rebeca."

"Prazer em te conhecer!" -ele dá seu sorriso gentil.

"Digo o mesmo..." -ela o olha com desconfiança e logo sorri maliciosa de novo -"Tente fazer essa menina esquecer o Bruno." -fala ela para me provocar.

"Pode parar por aí, vamos logo. Já vamos nos atrasar." -continuo a caminhada que havia sido interrompida.

Eles se entreolham e me acompanham. Ficaram cada um de um lado meu.

Já na entrada da escola a Rebeca é levada para longe de mim pelas suas amigas, deixando assim, eu e o Leandro a sós. Nos olhamos por um curto instante.

De longe, reparo o amigo do Leandro acenando em nossa direção. Ele logo avista seu amigo. O garoto era mais baixo que o Leandro mas era mais alto que eu. Tinha cabelos pretos e olhos escuros, tinha aparência esportiva, dono de um belo corpo. Ele vem em nossa direção.

"E aí, cara?" -ele dá um tapinha nas costas do Leandro que o responde da mesma maneira -"Essa menina és tua namorada? Por que andas com ela?" -ele fala fitando o olhar em mim. Eu apenas permaneço em silêncio.

"Nem começa. Ela é meio estressadinha, não aceita brincadeira." -ele responde o amigo fazendo meia-lua com os olhos.

"Tem toda razão. Odeio brincadeira besta como essa." -constato cruzando os braços.

"Minha nossa. Qual seu nome hein, garota?"

"Nathalia." -respondo recebendo uma expressão de quem espera algo.

Fico reparando seu olhar em mim.

"Não vais perguntar?"

"Perguntar o quê, oras?"

"Meu nome, talvez?!" -ele responde parecendo sem paciência.

"Se me interessasse saber, teria perguntado."

Com minha resposta Leandro tampa a boca segurando o riso e seu amigo balança a cabeça decepcionado. Desde o começo, soube que os amigos dele não serviriam para mim.

"Nossa, Mateus" -ele apoia a mão no ombro daquele sujeito -"Que isso, cara. Pensei que você fosse o bonzão das meninas..."

"Essa menina foi estúpida comigo. Melhor ela ser só tua amiga mesmo, pois com toda essa hostilidade eu não aguentaria passar nem cinco minutos perto dela." -ele fala me olhando com o nariz erguido. Garoto mais insolente.

Sorrio a ignorar seu comentário.

"Te falei, Leandro. Eu não me daria bem com seus amigos."

"Um dia vocês se resolvem. Tu não costuma ser hostil, Nath. Quando conhecer ele melhor, vais ver que ele pode ser legal." -ele fala olhando diretamente nos meus olhos, me passando muita segurança e certeza da parte dele.

"Estou disposto a me dar bem com você, 'Nath'." -aquele garoto me olha de cima a baixo.

Sinto um incômodo com tal olhar, passo a agir com insegurança. "Tudo bem. Já vou pra sala..." -aceno para o Leandro e me afasto deles sem olhar para trás.

"Que menino mais estranho..."

Chego na sala e sento no meu lugar. Fixei meus olhos na porta, vendo quem entrava, quem saía. Dei sorte de o tal Mateus não ser da minha sala. Quando toca o sinal todos os alunos vão para suas salas e as aulas começam. No horário do intervalo, Leandro me chama para ir com ele, mas recuso, prefiro dormir na sala à ter de suportar o amigo estranho dele.

"Vamos, Nath..." -ele insiste mais uma vez.

"Vai você, eu quero ficar."

"Vai ser assim, então?" -ele pergunta num tom provocante, arqueando uma sobrancelha.

"Sim. Vai ser assim, sim." -respondo sem nem olhar nele.

Ele me puxa da cadeira pelos braços, nem tive tempo de pensar, quando me dou por mim Leandro estava me segurando em seus braços, indo em direção à porta.

"Leandro! Leandro!!" -grito com ele, tentando me libertar.

"Se reclamar vai ser pior. Não vou te deixar sozinha na sala de novo." -fala me ajeitando, dessa vez me segurando mais forte.

Não digo mais nada. Saindo da sala, vejo o Mateus falando com outros amigos.

"Leandro, me põe no chão, vai!"

Ele me ignora e continua a andar na direção do Mateus. Os olhares do Mateus e dos dois amigos dele se viram para nós, com isso eu sinto minhas bochechas corarem.

"Que isso, doido?" -o Mateus fala apontando para gente -"Quebrou as pernas dela?"- ele pergunta rindo com malícia, fazendo seus amigos rirem junto. Minhas bochechas queimam. O Leandro apenas ri balançando a cabeça.

"Olha aí, Leandro!!" -eu reclamo gritando -"Eu falei que queria ficar na sala!!"

"Deixa de ser chata, é só brincadeira. Quanto mais você ligar mais eles vão te perturbar." -ele me responde caminhando junto com seus amigos -"Aqui, esse é o Arthur" -ele fala apontando para o garoto moreno, de cabelo liso comprido, preso em rabo de cavalo, duma altura parecida com a do Mateus, só que mais magro -"E esse é o Gabriel." -ele aponta para o outro garoto, um ruivo, com olhos castanhos escuros, o mais baixo entre eles mas ainda assim mais alto que eu.

Ergo a mão, acenando para eles.

"Essa é a Nathalia, ela é teimosa e sem graça as vezes, então talvez seja melhor não encher o saco dela." -o Leandro me apresenta a eles. Não respondo nada, mesmo depois desse desaforo.

Durante o intervalo todo, fico no meu canto sem dizer nada, finalmente no chão, apenas ouvindo eles conversarem entre si.

O resto do tempo na escola passa rápido após o intervalo e o horário da saída logo chega. Encontro com a minha irmã e fazemos a caminhada de volta para casa, dessa vez com o intrometido do Leandro a nos acompanhar. A Rebeca e ele se deram muito bem, conversaram durante todo o percurso, me perguntando algo de vez em quando para me pôr na conversa.

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