Meus pais e minha irmã voltaram da rua e depois da janta minha mãe ajudou a minha irmã e eu a arrumar os nossos materiais escolares para amanhã. Só depois então, o dia finalmente acabara.
Meu despertador toca às 6 horas da manhã. Minha irmã também é acordada quando ouve o som e se levanta sem cerimônia alguma, ela acordara cheia de entusiasmo. Seus olhos brilhavam, via-se isso de longe. Enquanto eu, parecia mais morta que zumbi. Olheiras horrorosas cercavam meus olhos.
Levanto e lavo meu rosto. Visto uma camiseta lilás bem larga, um short jeans cinza escuro de cintura alta e meu tênis preto com uma meia branca. Penteio meu cabelo enquanto me olhava no espelho.
Vou até a mesa e me sento ao lado da minha irmã.
"Bom dia, Beca..." -falo com uma voz rouca de sono.
"Bom dia, Nath!" -ela fala num tom super animado enquanto colocava achocolatado no leite de seu copo -"Poxa, mas que desânimo! Anda, é seu primeiro dia de aula. Você precisa ir com uma cara boa pra causar boa impressão!"
Esfrego meus olhos.
"Sim, sim. Tem razão." -coloco água para ferver na chaleira enquanto concordo com a Rebeca.
Ela apenas me observa quase colocar sal no meu chá.
"Nath!!" -ela grita quase me fazendo derrubar a xícara no chão.
"O que?! Tá maluca? Não grite assim, menina!"
"Desculpa, você ia pôr sal no chá... Só tentei ajudar..."
"Ai Beca, me perdoa. Obrigada por me avisar..." -faço carinho na cabeça dela sem bagunçar o lindo penteado solto que ela fizera.
Paro para reparar nos caichinhos que se formavam no cabelo castanho quase preto da minha irmã.
"Que lindo seu cabelo, Beca! Já vai causar logo no primeiro dia de aula?"
"Obrigada, Nath. Só quero causar boa impressão mesmo." -ela ajeita seu cabelo.
"Entendo."
Coloco açúcar no meu chá de camomila e me sento ao lado da minha irmã na mesa. Tomamos café sem enrolação. Já eram 06:35, o tempo voou.
Escovei meus dentes, coloquei minha mochila nas costas e fiquei na porta do apartamento esperando minha irmã sair para que eu trancasse a porta.
Caminhamos pela rua até chegar na escola que era no bairro, então o caminho não foi longo. Meus pais saíram para trabalhar antes mesmo de nós acordarmos.
Rebeca entra comigo na escola. Nem eu, nem ela conhecíamos o lugar, por isso andamos juntas pela escola antes de dar o horário de início das aulas.
"Que confuso..." -reclamou a minha irmã.
"Sim..." -olho para ela concordando.
A escola era bem grande. Nós estávamos no pátio, as salas de aula dos sextos anos ficavam no andar térreo junto ao pátio, os sétimos ficavam um andar acima junto a secretaria e a biblioteca, e os oitavos e nonos no último andar. Os alunos subiam os andares por uma rampa com uma virada a cada andar, enquanto os funcionários usavam a escada. Minha sala era a 8C, a da minha irmã era a 6E, então logo teríamos que nos separar.
O sinal da escola toca, todos os alunos vão para suas salas. Alguns ficavam enrolando no refeitório, outros juntavam seus grupinhos de amigos, alguns sarandeavam sozinhos assim como eu.
Sigo meu caminho até a minha sala, sem falar com ninguém. Tudo nessa escola é muito diferente do que eu estava acostumada na minha antiga escola. Caminho pelo corredor olhando porta por porta das salas, procurando pelo 8C. Minha sala era uma das últimas do corredor.
Quando entro, deparo-me com alguns dos meus colegas já sentados em seus lugares. Procuro com os olhos um bom lugar para me sentar e acabo vendo um garoto acenar para mim com a mão.
"Ei, Nath!" -eu o reconheço, era Leandro -"Senta aqui na minha frente!"
Todos os olhares estavam vindo em minha direção. Eu os ignoro com vergonha e vou até o Leandro, sentando-me em sua frente.
"Oii, bom dia!" -falo ao ajeitar minha mochila na cadeira.
"Bom dia." -ele permanece com seus olhos em mim -"Foi muita sorte cairmos na mesma sala."
Eu olho em seus olhos. -"Sim, tem razão!"
Tiro da mochila meu estojo e meu fichário e os deixo sobre a mesa. Viro novamente para o Leadro para conversarmos.
"Que aula vamos ter agora?" -pergunto sem querer saber, apenas para puxar assunto.
"Gramática..." -ele responde sem entusiasmo.
"Poxa, adoro gramática!" -comento vendo seus olhos se abrirem ainda mais para mim.
"Tu és doida, maluca!" -ele balança a cabeça como se estivesse decepcionado mas sorrindo. -"Pensei que tu fosses legal, mas vi que és chata."
"Nossa!" -eu rio -"Que exagero."
Ele me joga um olhar desconfiado que chega a me dar medo, então pula da cadeira e pega meu fichário num movimento rápido.
"Tu deve estar a mentir. Vamos ver se gostas mesmo, se faz mesmo lição de gramática." -ele folheia meu fichário até a parte de gramática. Seu rosto reflete surpresa. -"Uau, tu faz mesmo, e ainda tem uma letra linda."
Fico envergonhada com o que foi dito. Coloco o cabelo atrás da orelha e pego de volta meu fichário. "Obrigada, doido..."
"De nada." -ele me olha em silêncio por um tempo -"Eu notei outra coisa quando mexi no seu fichário."
"O.. o que?" -meu coração acelera em preocupação.
"Quem é Bruno?" -ele fala num tom grave de voz, arqueando uma sobrancelha para mim. -"Seu paquera?"
"E se for?!"-respondo um pouco nervosa.
Seu rosto volta ao normal e ele começa a rir.
"Ah, se for, eu não tenho nada a ver. Só quis perguntar mesmo, sua estressada."
Olho em volta e percebo que a sala já estava cheia. O professor entrava pela porta, dizendo "bom dia" aos alunos.
Endireito minha posição na carteira, sem dizer nada ao Leandro. Ele com certeza havia sido muito indelicado ao fazer aquela pergunta, nem meu amigo era direito para querer saber tanto sobre mim.
O professor começa a fazer a chamada. Ele então chamou um nome que me surpreendeu: "Bruno". Não era o Bruno que eu amava era um desconhecido, mas isso explicava o porquê de o Leandro ter feito aquela pergunta. Minhas bochechas queimam de tão vermelhas, nunca senti tanta vergonha.
O meu nome por fim foi chamado e assim a chamada se encerrou. Em conflito por causa do que aconteceu minutos atrás, viro para o Leandro que ao perceber que o estou olhando, me olha de volta. Abro minha boca para dizer algo mas não consigo e acabo corando.
"Está tudo bem, Nathalia? Quer dizer algo?" -ele me pergunta ao notar meu comportamento estranho.
"É que... aquele nome que você viu no meu fichário não... não é esse Bruno" -aponto secretamente para o Bruno que se sentava do outro lado da sala.
"Ah, Nathalia! Relaxa, eu não sou fofoqueiro. Já tinha até esquecido disso!" -ele tenta me consolar.
"Não mas.. eu juro que o Bruno do meu fichário é outro." -tento explicar para ele, mas ele apenas sorri e balança a cabeça. -"Eu tô falando sério!"
"Tudo bem, então tu o conheceste no Brasil? Esse outro Bruno aí?" -ele me pergunta num tom de desconfiança, mas estampando um sorriso em seu rosto.
"Para de me olhar desse jeito. Eu tô falando sério! Conheci ele no Brasil sim, acredite."
"Acredito. Claro que acredito." -ele continua usando aquele tom de desconfiança em suas palavras.
"Ah, acredite no que quiser. Eu já disse a verdade."
Não dizemos mais nada. Depois de gramática, tivemos aula de matemática e ciências, e chegou a tão esperada hora do intervalo. Quando o sinal toca, os alunos quase atropelam uns aos outros para sair da sala. O Leandro se junta aos seus amigos e sai com eles, me deixando sozinha na sala. Cruzo meus braços sobre a mesa e deito o rosto neles. Acabo pegando no sono.
Um tempo se passa e apenas acordo quando ouço o barulho dos alunos no corredor. Solto um bocejo e estico meus braços. Observo os alunos entrando na sala, voltando para seus lugares. Alguns ficavam na porta, conversando com quem ainda estava no corredor. Vejo um garoto loiro e já imaginei que era o Leandro, desvio o olhar antes que ele me visse olhar para sua direção.
Observo-o pelo canto dos olhos e o vejo todo brincalhão com seus amigos, com um sorriso bobo no rosto. Ele bate nas costas de um amigo na brincadeira e ele o devolve com uma palmada nas costas também. Menino só tem brincadeira besta mesmo, não tem jeito. Leandro vem na minha direção, para se sentar, já que seu lugar é bem atrás do meu, mas ele para na minha frente.
"Ei, Nathalia. Tu não desceste para o refeitório, não?" -eu o ouço falar sem olhar para ele.
"Não. Preferi ficar aqui. Por quê?"
"Por nada. Só queria te apresentar pros meus amigos, mas tu não foste."
Eu o olho nos olhos. -"Hum."
"Desculpa, eu tava tão animado com o intervalo que me esqueci de você."
"Tudo bem, eu não ficaria bem com você e seus amigos..."
"Nossa!" -ele ri -"Por que? Nós somos tão legais..."
"É, talvez. Amanhã você nos apresenta. Tá bom?" -respondo já de saco cheio. Com certeza esses amigos dele não serão legais comigo.
"Agora sim. Ok."
A professora de artes entra na sala e as aulas continuam.
Mais tarde, quando finalmente chegou o horário da saída, despeço-me do Leandro ainda na sala e desço num passo rápido a rampa. Vejo minha irmã de longe, com algumas amigas. Parece que se enturmou rápido. Nos encontramos e ela se despede das amigas com "tchau, até amanhã!".
Fora da escola nós fazemos o caminho de volta para casa e enquanto caminhávamos a Rebeca me contou como foi o dia dela.
No apartamento, antes de entrar eu vejo de longe o Leandro caminhando, sozinho. Provavelmente ele também volta a pé para o apartamento. Eu e a Rebeca apenas entramos, preferi não esperá-lo. Estávamos com fome.
Meu primeiro dia na escola com certeza não foi dos melhores, mas também não foi tão ruim.
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Atualizado até capítulo 31
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