Ao amanhecer, levanto da cama. Apesar da ansiedade causada pela mudança e da saudade que sentia de meus amigos, algo ainda me dizia que aquela cidade prometia sentimentos e experiências novas. Eram umas 8 horas, a luz que invadia meu quarto através da janela era suave. Meus pensamentos pairavam sobre recordações de bons tempos, aqueles em que Amanda estava ao meu lado. Suspiro.
Vou até a cozinha para tomar café e meus pais já estavam acordados.
"Bom dia, Nath." -disseram os dois.
"Bom dia, pai. Bom dia, mãe."
"Senta aqui com a gente, meu amor" -disse meu pai dando tapinhas no assento da cadeira que estava ao seu lado -"Pode escolher se quer café, chá ou leite."
"Ok, pai. Obrigada." -vou até o armário da cozinha e pego uma xícara.
Aproximo-me da cadeira ao lado do meu pai e ele a puxa para que eu sentasse.
Sobre a mesa tinha pão, um pote com manteiga, um frasco de vidro com geleia de morango, a chaleira, a garrafa de café, uma caixinha de leite, um pacote de bolacha de água e sal e duas facas, uma já estava meio melada de geleia.
Decido me servir de chá e pão com geleia de morango. Tomo rapidamente o café da manhã.
"Pai, mãe, agora que terminei meu café, posso sair pra dar uma volta?"
"Você ainda não conhece o bairro, vai se perder. Melhor não." -responde meu pai.
Insisto para eles deixarem. Relutantes, acabam aceitando com a condição de que eu levaria meu celular e ligaria caso me perdesse.
Desço as escadas quase que correndo, ansiosa para conhecer um pouco mais sobre meu bairro. Percorro algumas ruas, sem ir longe demais para não correr o risco de me perder. Observei a maneira como as pessoas se vestiam, como gesticulavam ao falar e, ainda mais, no sotaque ao falar.
Quando já voltava para o apartamento, vi um garoto que parecia ter minha idade passeando com um cachorro. Tinha o cabelo loiro, era bem alto e seus olhos eram azuis. De longe não pude ver muito bem, contudo parecia bonito.
"Ei, menina!" -aquele garoto me chama. Paro e o olho.
"Eu?"
"Sim. Tu és a nova moradora desse apartamento, certo?" -ele pergunta com aquele sotaque português.
"Sim, como você sabe?" -olho-o nos olhos.
"Sou teu vizinho." -ele sorri -"Só queria te conhecer."
"Ah, ok..." -cruzo meus braços e observo seu cachorro impaciente.
"Qual teu nome?" -ele segura firme a coleira -"Xiu, Tobbi!"-o cachorro era de grande porte, o que explicava sua dificuldade de se manter no lugar com os puxões dados pelo Tobbi.
"É Nathalia, e o seu?"
"Meu nome é Leandro, prazer. Eu moro no apartamento 13. Se quiseres conversar podes ir lá. Tenho que ir agora senão o Tobbi me leva arrastado." -nós rimos.
O cachorro o leva quase correndo pelas ruas.
"Espera..." -paro para pensar -"Não pode ter cachorro no apartamento..."
Dou de ombros e volto ao meu apartamento. Minha irmã estava jogando no celular, minha mãe lavava louça e meu pai estava lendo jornal no sofá.
"Voltei."
"E aí? Gostou de Portugal, filha?" -meu pai me olhava esperando uma resposta.
Aceno que sim com a cabeça.
"Que bom." -ele se levanta e me dá um beijo na testa -"Amanhã você vai ter aulas numa escola aqui perto."
"Ah, tá bom, pai."
Não me animava muito com a escola, sem a minha amiga as coisas seriam muito diferentes.
Minha mãe prepara o jantar enquanto eu e a minha irmã jogamos vídeo game e meu pai lia seu jornal. Provavelmente ele começaria a trabalhar amanhã também.
Depois do almoço, meus pais e minha irmã saíram para conhecer Portugal. Até me chamaram porém dispensei, queria ir ao apartamento daquele garoto de hoje mais cedo. Desço alguns andares, procurando pelo apartamento 13 e, quando finalmente encontro, fico olhando para a porta sem saber o que fazer.
"Será que ele vai pensar que eu tô interessada nele?" -pensava indecisa -"Mas ele é o primeiro que eu conheci aqui nesse país." -preparo minha mão direita para bater na porta.
Bato levemente e em poucos momentos a porta se abre.
"Mariana! Não é que tu viestes mesmo?"
Eu paro por um momento: -" 'Mariana'?"
"Sim, esse não é teu nome?" -balanço minha cabeça -"Não, não!" -ele fixa seus olhos em mim até lembrar -"É Nathalia, caramba!"
Ele quase morre de rir, tornando a situação um pouco menos desagradável para mais engraçada graças a sua risada cômica. Deixo que me escape um sorriso.
"Desculpa, minha memória tá ruim mesmo!"-ele bate de leve na testa -"Vem, podes entrar." -ele me dá espaço para passar pela porta.
Sou levada até o sofá. Aproveito a oportunidade e faço algumas perguntas sobre o bairro, a cidade e o país, e o garoto me respondia com aquele sotaque, sempre com um sorriso no rosto. Seus olhos brilhavam ao falar do lugar.
"Em que escola tu estudarás?" -ele me pergunta.
"Numa escola aqui perto" -tento encontrar na memória o nome da escola -"Não consigo me lembrar do nome..."
"A escola ficou com o nome do fundador" -ele coça a nuca -"Dr. Mário Sánchez de Arruda."
"Ah, eu jamais me lembraria!" -um sorriso se abre no rosto dele.
Nos olhamos por alguns segundos.
"Ok, bom..." -ele para por um instante -"Queres beber algo? Um chá? Ou então um suco? Ou só uma água..."
"Não, obrigada" -sorrio para ele -"Já estou de saída... Melhor eu voltar pro apartamento" -levanto do sofá.
"Tudo bem, então..." -ele se levanta e me acompanha até a porta -"Gostei de te conhecer, Nathalia que não é Mariana!" -nós rimos.
"Ah, antes de sair, eu queria perguntar. Aquele cachorro que você levou pra passear, é seu?"
"O Tobbi?" -aceno que sim com a cabeça -"Ele não é meu, não. É dos meus avós, eles moram aqui perto também, mas não no apartamento."
"Entendi" -aceno com a mão -"Tchau, até mais."
"Tchau, até."
Cruzo a porta e olho pelo ombro uma última vez, assim vejo o Leandro me olhar subindo o primeiro degrau. Aceno uma última vez, recebendo um sorriso dele, e continuo a subir a escadaria. Sentia-me feliz por ser recebida na cidade por alguém tão atencioso, seu sorriso podia tirar de um velho rabugento seus sentimentos mais amargos.
Chego ao apartamento e preparo uma xícara de café solúvel para mim. Não havia ninguém em casa, então sento-me sozinha à mesa e passo geleia de morango num pão de forma. Isso serviria como meu café da tarde. Depois do café vou até meu quarto, deito de barriga para cima na minha cama e ligo para o celular da Amanda para contar a ela tudo o que têm acontecido.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Mia Connolly
😉😉😉😉😉
2022-08-07
1
Paulo St
estou gostando da atmosfera jovem
2022-07-26
1
nimorango
ela vai gostar
2022-06-29
1