O fato de Dylan ser meu primo não saiu da minha cabeça nos primeiros dias. Na verdade ainda não tinha saído da minha cabeça, e eu não sabia dizer o porquê, o que me deixou frustrada. Isso não era certo, significava que eu não poderia sentir o que senti quando o vi pela primeira vez, jamais. Isso era, com toda certeza, errado.
Os dias iam se passando e eu comecei a gostar daquela cidade, da calma que ela tinha, da família de Sophie, apesar de não ter muita intimidade ou confiança suficiente para chama-los de tios, estávamos nesse caminho, mas lá no fundo a dor continuava me perseguindo. À noite, quando todos estavam dormindo, eu chorava baixinho para que ninguém fosse capaz de me escutar, estava funcionando esse tempo todo.
Pelo menos era o que eu pensava até essa noite quando senti sede e desci pra tomar um copo d’água. A casa estava num completo silêncio, quando entrei na cozinha tomei um susto por encontrar alguém sentado na ilha.
Aquela sensação estranha e ainda um pouco desconhecida se estabeleceu no meu estômago, quando percebi que era Dylan sentado ali, com um pedaço de bolo de chocolate à sua frente. Era estranho ele estar ali, geralmente ele dormia na sua casa, essa também era sua casa, mas não onde ele morava mais.
Fui até a geladeira o mais natural possível, tentando esquecer que estava apenas de roupa de dormir. Coloquei a água em um copo e fechei a geladeira, me encostando na bancada, Dylan olhou pra mim e abriu um pequeno sorriso.
_Você está bem?
Sua pergunta me surpreendeu, eu não sei de onde veio. Olhei pra fora da janela antes de responder, lá fora estava tão silencioso quanto dentro de casa.
_Eu não sei, eu não tenho como agradecer o que todos têm feito por mim, mais lá no fundo eu só queria minha casa de volta, meus pais de volta, minha vida de volta... Eu sei que isso pode parecer meio ingrato da minha parte, mas...
Ele balançou a cabeça.
_Eu sei, consigo entender, você não é ingrata Lilian, você não está acostumada com essa casa, essas pessoas e com essa cidade. É compreensível, não se preocupe.
Eu sorri para ele, ele retribuiu. Coloquei o copo na pia e passei por ele, antes que saísse da cozinha, ele falou.
_E Lilian...
Olhei pra ele novamente quando ele continuou.
_Eu sei o quanto tudo isso é uma droga, mas você não está sozinha, ok?
Ele estava sério agora e aquela sensação se aprofundou.
_Ok.
Voltei para cama e pelo o resto da noite dormi.
******************
2 semanas depois
Acordo com o som do despertador e levo um tempo pra lembrar que hoje é o primeiro dia de aula. Sophie conseguiu falar com sua amiga que é a diretora para que me colocasse na mesma turma da Libby.
Levanto da cama e bato na porta do banheiro, mas Libby não esta lá dentro, tomo um banho rápido.
Passo as mãos no meu cabelo, antes do acidente ele ia abaixo da cintura, mas precisei cortá-lo e agora ele bate acima dos ombros, mechas loiras e onduladas. Visto uma calça jeans, com uma regata azul e uma jaqueta de couro. Abro a porta no mesmo instante que Libby entra no meu quarto com sua alegria usual.
_Bom dia, Lílian. Como está se sentindo?
_Bem e você?
_Ótima graças a Deus!
Ela respondeu sorrindo, sorri em resposta. Eles eram do tipo que iam à igreja todos os domingos e em todas as oportunidades que tivessem, isso era tão diferente, já que minha mãe nunca deixou claro qual era sua posição em relação a Deus, nada de orações antes de dormir ou comer, e isso era tão desconhecido pra mim quanto todo o resto. Depois de tomarmos um delicioso café, Jack nos deixou em frente à escola. Poderíamos ter vindo com James, mas ele tem que pegar a Erin por isso saiu tão cedo. Erin era namorada de James, eu ainda não tive a oportunidade de conhecê-la.
Fomos para os armários onde deixaríamos nossas coisas. O meu era o 27 o da Libby era o 31. Quando abri meu armário vi um smartphone branco. E fiquei me perguntando o quê aquele smartphone estava fazendo alí?
Deveria ser do antigo dono do armário, essa era a única explicação possível. Resolvi deixá-lo no armário até alguém aparecer procurando por um smartphone branco. Ponho meus livros no armário e sigo para a aula com uma Libby extremamente feliz ao meu lado.
_Espero que goste das pessoas daqui, todos são pessoas incríveis.
Estamos a caminho da nossa sala quando somos interrompidas por um garoto que parou em frente a Libby, impedindo que ela continuasse andando. Mas ela deveria conhecê-la porquê simplesmente se joga em seus braços. Ele é alto, loiro, e com olhos claros, refletindo o azul do céu. Ele põe ela no chão e olha em minha direção.
_Davie essa é Lílian, minha prima. Lílian esse Davie meu melhor amigo.
Ele abre um sorriso e estende a mão na minha direção
_Davie Collins, como vai?
_Lílian Clarke, vou bem.
Ele segura minhas mãos por poucos segundos
_Nos vemos depois Libys. Até logo Lílian, bem vinda à Domingos.
_Obrigada.
E continuamos o nosso caminho para a primeira aula.
*******************
Depois que a aula terminou resolvemos ir à uma sorveteria. Fizemos nossos pedidos e sentamos perto da enorme janela de vidro que dava vista para toda a rua do lado de fora. Depois de alguns minutos escuto a voz mas irritante que já ouvi na minha vida.
_Ora se não é minha querida cunhadinha.
Vejo a raiva passar pelo rosto de Libby, e ela faz uma imitação quase perfeita da voz daquela garota.
_Olha se não é a irritante que já namorou o meu irmão.
_Ah querida, eu sei que você me ama e sente minha falta.
_Eu não vou tirar a sua ilusão, mas acredite Olívia, eu seria capaz de te jogar na frente do primeiro ônibus que passar só para te provar o meu "amor", e que Deus me perdoe por isso.
Ela falou revirando os olhos e colocando as mãos no coração como se realmente estivesse pedindo perdão à Deus .
_O seu irmão vai perceber o grande erro que cometeu e vai voltar pra mim. Você vai ter que me aturar queridinha.
Ela foi embora antes mesmo que Libby fosse capaz de dar uma resposta à altura.
_Quem é essa?
A pergunta escapou dos meus lábios antes que fosse capaz de me censurar.
_Ela é a rainha de todas as irritantes...-Olho sem entender nada, ela sorri é continua falando- Ela é a ex-namorada do Dylan, ele terminou com ela a uns 2 anos. Mas ela não desiste, eles namoravam por um longo tempo até que ele percebeu o quanto ela era uma vaca e então ele deu o fora nela.
Depois de algum tempo Libby me olha e empurra seu sorvete para o lado.
_Vamos embora? Perdi a vontade.
Olhei para os nossos sorvetes quase intocados em cima da mesa e percebi que também tinha perdido a vontade de comer.
_OK, vamos embora...
James acabou nos dando uma carona para casa. Estávamos no carro a caminho de casa quando comecei a lembrar de quando era meu pai dirigindo, era ele me levando para sorveteria, era ele que sempre me buscava na biblioteca.
Sempre ele, senti como se o carro estivesse diminuindo ao meu redor, me fazendo ficar sem ar nenhum, minha respiração ficou pesada, e um buraco negro me puxava com uma força sobrenatural, o carro parou na garagem, Libby e James sairam do carro sem se dar conta do que estava acontecendo. Eu não sabia o que estava acontecendo.
Saí do carro e respirei fundo, me apoiei para não cair no chão, respirei fundo algumas vezes. E aquela sensação foi diminuindo até sumir completamente, os nós dos meus dedos estavam brancos, eu não sei o que era aquilo nem quanto tempo durou, mas foi agonizante. Respirei fundo novamente antes de caminhar para dentro, passando direto para o meu quarto, me jogando na cama e ficando lá pelo resto do dia...
Durante o jantar tudo correu como de costume. A família de Sophie era tão barulhenta, estava sempre falando sobre algo ou alguém, tão diferente de como eram as coisas em casa. Era apenas nós três, é claro que havia aqueles dias que os amigos dos meus pais vinham para jantar, eles eram a nossa família, eles se foram também.
Eu não sei o que restará da minha vida, eu não sei o que restou de mim, alguns poucos cacos no chão? talvez fosse a resposta certa.
Depois do jantar, todos se reuniram para assistir a um filme, eu não prestei muita atenção no nome, mas diferente de todos, eu não queria assistir à nenhum filme.
Então dei boa noite a todos e subi para o meu quarto. Ouvi a voz de Dylan sussurrando uma canção, ouvi as notas suaves do violão que saiam da porta entreaberta do seu quarto. Dylan não morava mais aqui, mas geralmente estava sempre lá, no almoço, durante o jantar e depois, ele só ia embora lá pelas 21:00 da noite, e voltava na hora do café da manhã. Encostei na parede para ouvir a música que ele estava cantando, a letra era linda, e algumas lágrimas inundaram meus olhos. Sua voz era calma e cheia de algo que eu não era capaz de identificar. Era algo diferente, novo e forte.
Eu não sei quanto tempo fiquei ali escutando ele cantar baixinho. Talvez tivessem se passado horas ou não, mas eu não queria que ele me visse assim, então antes que ele terminasse de tocar, andei devagar até o meu quarto, pisando lentamente para ele não me ouvir e para que eu pudesse ouvi-lo mais um pouco. Quando fechei a porta do meu quarto qualquer sussurro que vinha lá de fora foi silenciado, tudo estava calmo aqui dentro, eu não podia ouvir nenhum som que vinha lá de baixo o que me deixou feliz, mas também não conseguia ouvir Dylan cantando baixinho, o que não me deixou tão feliz assim.
Vesti meu pijama, escovei os dentes e me deitei na cama, puxando as cobertas sobre mim, me sentindo exausta. Foi um dia longo e estranho.
E dias como esse costumavam ser exaustivos ...
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Tatiane Figueredo
caranba Lilian ,acho que ela teve um ataque de panico no carro.
2021-03-31
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