O voo não foi tão demorado quanto pensei, talvez o fato de dormir durante todo o voo tenha contribuído para essa percepção. Sophie foi buscar nossa bagagem, ela disse que seu filho viria nos buscar, mas já fazia alguns minutos que ela tinha ido. Meu coração estava acelerado, minhas mãos soavam frio.
Eu apertei as mãos com força até que os nós dos dedos ficassem brancos e minhas unhas deixassem marcas nas palmas das minhas mãos, é nessa hora que percebo que preciso sair daqui, ficar parada aqui durante tanto tempo está me fazendo ficar desesperada, resolvo ir atrás de Sophie, eu não a conhecia, talvez ela só tenha me deixado ali.
Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos, se minha mãe disse que eu poderia confiar nela é porque certamente eu poderia. Será?
Se bem que minha mãe mentiu pra mim durante toda a minha vida, eu não sabia mais em quem poderia acreditar.
Caminho em direção ao baggage Carrossel, olho ao longo da esteira onde diversas malas aparecem e desaparecem, de tamanhos e cores diferentes, esperando que seu respectivo dono apareça e lhe tire dali. Balanço a cabeça novamente, como se isso fosse tirar de dentro da minha mente todos esses pensamentos estranhos sobre coisas que jamais tinha pensado antes, depois de sair da minha própria armadilha mental começo a procurar Sophie, mas não a vejo em lugar nenhum.
Fico olhando as malas até que vejo a de Sophie, pego a mala no exato momento que alguém tenta puxar, há uma troca de força mas a outra pessoa era mas forte me fazendo esbarrar nela ainda segurando a mala.
Olho para cima e me encontro presa à dois olhos de um tom preto incrivelmente lindo, com cabelos pretos indo para todas as direções e uma barba por fazer que o deixava ainda mas lindo, ele era um pouco mais alto minha cabeça batia no seu peito e ele parecia mas velho uns dois anos talvez.
Como posso estar pensando nesse tipo de coisa quando acabei de perder meus pais? Algo dentro de mim me faz pensar que continuo com todos os hormônios femininos dentro de mim, mas eu não queria pensar assim, eu não queria pensar em nada desse tipo, eu não queria ser pega nesse tipo de rede, mas com toda certeza meus hormônios não pensavam daquele jeito, balanço a cabeça novamente, percebendo que aquele cara olhava pra mim, esperando que eu falasse alguma coisa.
_Me desculpe acho que você se enganou, essa mala é minha!
Bom não era minha , mas era de Sophie e ela não estava ali, e esse cara não precisava de todos os detalhes.
_Me desculpe não vi que você também estava pegando a mala.
Ele falou em uma voz tão profunda e grossa que era quase impossível ele falar sempre assim.
_Não, sem problemas.
Ele abriu o sorriso mais lindo que já vi na minha vida e foi impossível não retribuir. Pela primeira vez desde que os meus pais morreram eu estava sorrindo para um completo estranho e eu não sabia como me sentia a respeito.
_Está a passeio?
_Como?
Sua voz me tirou dos meus pensamentos, com toda certeza aquele cara deveria estar me achando uma completa estranha, eu estava me achando uma completa estranha.
Lilian Clarck o que está havendo com você?
Sua voz me arrancou novamente dos meus pensamentos, mas dessa vez consegui entender a sua perguntar.
_Você está de férias aqui em Domingos?
_Não, para falar a verdade estou aqui porque os meus pais morreram e...
Quê?! Eu não sei o que me levou a ser tão franca e direta com esse cara.
Apertei novamente as minhas mãos, sentindo uma dor fina com o contato das minhas unhas. Por que eu disse isso para um estranho?
_Sinto muito, sei o quanto é doloroso perder alguém que amamos.
Ele sorriu e com a ponta do seu dedão acariciou a palma da minha mão que estava em baixo da dele, ainda segurando a mala. Olho para nossas mãos juntas e uma sensação se estabeleceu no meu estômago, e por mais estranho que pudesse ser, aquilo parecia tão certo.
_Obrigada. Eu preciso ir...
Ele ainda me olhava e não largou a mala por um tempo que parecia interminável. Quando eu pensei que ele não me deixaria ir, ele abriu aquele sorriso que fez aquela sensação no estômago ficar mais forte, seus olhos me examinavam como se eu fosse um objeto raro, um quebra-cabeça que ele precisava montar. Abri um pequeno sorriso, pensando que talvez esse quebra-cabeça não esteja mais completo, impossibilitando sua remontagem.
Então ele soltou a mala, me deixando livre pra ir embora. Eu não sei o que foi, mas algo nos manteve no mesmo lugar por alguns segundos, alguns longos segundos.
Foi quando passou pela minha mente o pensamento de que eu não poderia ficar ali para sempre, então me virei para ir embora, mas antes que me afastasse ele segurou o meu braço, falando novamente:
_Me desculpe, esqueci de me apresentar. Me chamo Dylan, nos vemos por aí?
Ele sorriu e soltou meu braço, esperando minha resposta. Começo a me afastar sem responder, afinal ele era só um estranho, mas não consegui, e não poderia explicar o porquê.
Quando estava à alguns passos de distância olhei para ele novamente percebendo que ele ainda estava lá, sorrindo para mim. Então no meio do aeroporto gritei para que ele pudesse me ouvir.
_Me chamo Lílian. Nos vemos por aí Dylan.
Volto a andar e abro um sorriso, tomando a consciência de que algumas pessoas me olhavam como se eu fosse uma retardada e que aquele cara me fez sorrir, mesmo sem permissão da minha parte, ele me fez sorrir.
Encontro uma Sophie maluca de preocupação
_Querida, graças a Deus. Aonde você estava, Lílian?
_Fui procurá-la, mas não a encontrei, então vi sua mala e peguei..
_Ah querida, obrigado, eu não consegui encontrar minha mala, mas peguei todas as suas, já estava começando a ficar preocupada pensando que ela poderia ter sido extraviada, agora vamos pra casa OK?
Concordei com a cabeça enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento. E é quando eu percebo que Sophie continua sozinha.
_Seu filho já chegou?
_Sim querida, ele trouxe meu carro, ele não vai poder nos levar pra casa, ele tem reunião agora com os meninos do futebol.
_Seu filho joga futebol?
_Jogava querida, mas como ele saiu do colégio há dois anos, aceitou o cargo de técnico.
_Vamos?
_Vamos.
Chegamos no carro e Sophie colocou toda a bagagem no porta mala e finalmente seguimos para a casa dela, era uma cidade extremamente calma e com lindas flores nos jardim das casas. Havia uma paz diferente que exalava naquela cidade, algo tão diferente da correria que era São Paulo. Uma brisa suave balançava as flores, o que era estranho contando que estávamos no verão; o céu era azul, um azul bonito sem nuvens. Então lembrei da promessa que havia feito aos meus pais naquele cemitério.
Eu poderia deixar a pessoa certa entrar e cuidar de mim, mas como saberia quem era a pessoa certa? E eu poderia encontrar esse Deus, a quem eu nunca fui apresentada? Milagres poderiam ser reais?...
********************
As vezes não ter dado certo no passado não significava que no futuro o resultado seria o mesmo...
Meu pai estava sempre repetindo essa frase, quando algo dava errado, quando eu não conseguia uma boa nota, quando eu não consegui um par para o baile, quando eu havia brigado com minha melhor amiga, quando eu não conseguia o que eu queria vinha ele e me dizia essa frase, com uma voz de eu sei de tudo, como se fosse um professor de auto ajuda, aquilo sempre me irritou, mas eu faria o que pudesse pra ouvir essa frase dele mais uma vez.
Sophie parou o carro em uma garagem, era uma rua extremamente calma, com casas lindas e jardins incríveis.
Sua casa era branca com janelas azuis, era grande, tinha um lindo jardim, e era completamente desconhecida. Eu sabia que minha vida iria mudar, mas ali sentada naquele carro, olhando para aquela imensa casa desconhecida, eu tive noção do quanto ela havia mudado
Eu estava com medo de sair daquele carro, um lugar seguro. Ou não, já que perdi meus pais em um. Mas ainda assim, eu não sabia o que me esperava dentro daquela casa, eu não sabia o que as pessoas achavam de mim, e de como caí de paraquedas nas suas vidas
_Querida, não precisa pegar as malas, depois Jack virá buscá-las
A voz dela me arrancou dos meus pensamentos, evitando ir mais afundo nessa questão. Sophie já estava fora esperando que eu também saísse. Eu não sei o que me mantinha sentada no carro, mas antes que pudesse sair do carro vejo a porta sendo aberta e uma linda garotinha com cabelos loiros correndo e se jogando nos braços de Sophie.
_ Holly querida, como você está, sentiu saudades da mamãe?
_Claro mamãe, a Libby é muito chata. Ela não me deixou comer biscoitos de chocolate
Comecei a rir da linda garotinha, ela me lembrava dos vídeos que o meu pai costumava assistir comigo, os vídeos que ele havia feito durante toda a minha infância. Era assustador a semelhança entre mim e Holly, se falassem que aquela garota era minha irmã as pessoas certamente acreditariam. Eu acreditaria por causa da semelhança entre nós duas
_Querida, essa é a sua prima Lílian
Ela olhou pra mim acabando de notar que havia mais alguém ali. Ela me examinou por alguns segundos, talvez tomando consciência do quanto éramos parecidas. Ela abriu um lindo sorriso e estendeu a mão para que eu apertasse
Sophie seguiu para dentro de casa, foi aí que Holly me puxou, é claro que ela não tinha força suficiente para me obrigar a me abaixar, mas eu me inclinei e fiquei na mesma altura dela
_Seja bem vinda Lílian, espero que você seja boazinha comigo e me dê biscoitos de chocolate, porque assim não vou precisar cortar as suas bonecas
Depois ela saiu pulando e cantando a música da chapeuzinho. Ela ameaçou cortar minhas bonecas, é claro que naquela altura eu não tinha mais bonecas, ou melhor, as poucas que guardei estavam trancadas na minha casa, junto com todas as coisas que não tive coragem e força suficiente pra dar uma olhada
Mas eu não disse nada porque aquela garotinha loira me assustou
Entro na casa e vejo Sophie abraçando outras pessoas, ela percebeu que entrei e veio para o meu lado
_Querida essa é minha filha Libby. Ela tem a sua idade; esse é meu filho James, ele tem 18 anos; esse é meu marido Jack, ele é o chef dos bombeiros da cidade. A Holly você já conhece e falta apenas Dylan
Todos me cumprimentaram e me deram abraços me dizendo que eu era bem vinda. Eles eram estranhos, recebendo uma estranha como se aquela situação fosse normal, aquilo não era normal
Libby ficou responsável por me mostrar onde seria o meu quarto, que era do lado do dela. Era bem diferente do meu, não era azul, era algum tom pastel. Havia uma cama grande e confortável, uma escrivaninha em um canto com um quadro de aviso na parede logo acima
Um armário, bem menor do que eu tinha antes, mas serviria a final de contas, e Libby era tão fácil de gostar, que não me admirava o fato de estarmos conversando enquanto desfazemos as malas, se não contasse poderia parecer apenas aquela prima que chegou para as férias de verão, mas aquilo não eram férias, era a minha realidade l.
_Então tem outras pessoas na família?
_Bom, tem o tio Harry, ele é engraçado, tem a tia Grace que é a protetora e tem o tio Sam, que é o mais legal. E fora eles tem meu irmão Dylan que é o mais velho, ele está morando com um amigo. Ele é muito legal...
*****************
Não vimos a hora passar, já eram umas 16:00 horas quando finalmente terminamos de arrumar tudo. Libby estava muito feliz de ter alguém da idade dela em casa, e eu simplesmente queria minha casa de volta
Sei que naquele momento eu estava parecendo mal agradecida, mas era a verdade que não saía da minha mente, era a verdade que o meu coração queria de volta, era a verdade que jamais teria novamente
_Meninas, o jantar está quase pronto. O Dylan acabou de chegar
Sophie saiu do quarto com a mesma rapidez que entrou.
Era tão estranho pensar no fato que alguns dias atrás eu não tinha ninguém além dos meus pais e agora eu tenho tias, tios, primas etc., mas não tenho mais meus pais. Parecia alguma lei idiota do universo que não me permitia ter os dois.
_Vamos descer ou você quer tomar banho antes?
_Acho que vou tomar banho.
_OK, então você vai primeiro e eu vou depois. E nós descemos juntas
Nós compartilhamos o mesmo banheiro. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro deixando a água cair pelo o meu corpo. Vesti um vestido azul que ia até os joelhos, arrumei meus cabelos e deixei secar naturalmente.
Libby sai do banheiro e abre um sorriso extremamente animado e eu ainda não consegui entender por que tanta felicidade.
Isso era surreal, eu estava esperando acordar com o barulho irritante do meu despertador, onde eu descobriria que tudo não passava de um sonho estranho.
_Vamos ?
_Vamos.
Descemos juntas quando chegamos na sala ouvi alguém tocando violão, Holly estava deitada sobre o sofá olhando para alguém que estava de costas para a porta. Ela estava sorrindo e enquanto a pessoa começou a cantar, a mesma sensação do aeroporto se estabeleceu outra vez no meu estômago. Era uma voz tão linda que deixava qualquer pessoa em estado de choque, de paz interior, de repente percebi o quanto aquela voz me parecia familiar.
_Dylan, olha a nossa nova prima que vai me dar biscoitos de chocolate.
_Ah, então você ameaçou cortar as bonecas dela?
Ela começou a rir, mas não prestei atenção no que ela disse depois. Porque aquela voz era extremamente familiar, mas de onde? Como era possível, se naquela cidade meus conhecidos se limitavam a pouco menos de 7 pessoas?
Ele põe o violão no sofá e se levanta.
Quando ele me vê, vejo a minha confusão estampada no seu rosto. Porém, ele supera o choque muito mais rápido que eu, porque abre um sorriso e fala o meu nome, nada mais. Nada além do meu nome
_Lílian...
_Dylan...
_Vocês se conhecem?
Libby ficou sem resposta, o que não foi intencional, mas Dylan e eu estávamos perdidos no olhar um do outro.
Ele sorriu novamente, estendendo a mão para que eu a apertasse. Quando peguei a sua mão, senti algo estranho, um arrepio que correu pelo o meu corpo.
_Seja bem vinda à Domingos.
_Obrigado.
Libby não entendeu nada, a verdade é que eu também não, só tinha consciência que...
O Dylan do aeroporto era o mesmo Dylan da minha família!
Que droga...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 27
Comments
Tatiane Figueredo
por favor diz que o Dylan e adotado 😲
2021-03-31
1