Capítulo 6
Depois daquele dia em que os dois trocaram socos e Naruto disse que ajudaria Sasuke, eles passaram a se encontrarem com uma maior frequência.
Sempre que possível Naruto levava Sasuke até seu apartamento, onde os dois repetiam aquele sexo um tanto violento, apesar do loiro ter cuidado em não ultrapassar o limite. Ele nunca machucava Sasuke seriamente por mais que o outro pedisse.
Além disse, as vezes nos intervalos das aulas, Naruto ia até ele só para conversarem ou fazerem um lanche juntos, mesmo com Sasuke reclamando disso.
O moreno podia não admitir, mas ele estava gostando daquela espécie de amizade entre ele e Naruto. Quando estava com o mais novo, esquecia um pouco dos seus problemas com Fugaku. O homem andava cada vez mais mal-humorado e sempre que podia descontava em Sasuke, repetindo todas aquelas coisas horríveis que costumava dizer ao garoto desde que ele era criança.
Apesar disso, Sasuke andava evitando se cortar. Naruto ficava muito irritado e nervoso quando notava algum corte recente nos braços ou em suas coxas. Uma vez até se recusara a transar com Sasuke, dizendo que ele tinha mais é que procurar um psiquiatra.
Depois disso, passou quase dez dias sem se automutilar. Nunca tinha ficado tanto tempo assim.
Mas então o dia do aniversário de morte da sua mãe chegou.
Como sempre, Fugaku iria visitar junto com os filhos o mausoléu onde Mikoto estava enterrada, assim como uma vasta geração de Uchiha.
Era sempre um dia muito difícil. Especialmente para Sasuke.
Quando saíram do cemitério, Itachi se despediu deles, já que voltaria para o próprio apartamento e Sasuke seguiu junto com Fugaku no carro do mais velho. Ele até estranhou o silêncio do seu pai. Normalmente o mais velho fazia questão de jogar em sua cara como o odiava por ter sobrevivido ao acidente ao invés de Mikoto. Mas dessa vez ele tinha preferido ignorar a presença de Sasuke.
Quando o motorista chegou na mansão, Sasuke saiu rapidamente do carro. Se ficasse longe da vista do seu pai pelo resto do dia, talvez o homem o deixasse em paz.
Mas claro que Fugaku não iria facilitar as coisas para ele e assim que entraram na mansão, o mais velho falou com Sasuke pela primeira vez naquele dia.
- Nem sei por que eu permito que você vá junto, é praticamente uma afronta a memória da sua mãe.
O caçula abaixou os olhos. De certo modo ele aceitava aquela culpa, fosse por todas as coisas que ouvia de Fugaku, ou porque achava que se não fosse pelo bolo de aniversário que pedira, aquele carro nunca teria batido neles e causado a morte de sua mãe
- O dia em que você nasceu, foi um dia amaldiçoado. – Fugaku continuou, fitando-o de lado.
Depois da morte de Mikoto, eles nunca mais comemoraram o aniversário de Sasuke. Fugaku proibira, alegando o quanto seria desrespeitoso por ser o mesmo dia em que Mikoto morrera. Mesmo assim, no começo Itachi comprava escondido um bolo pequeno e sempre presenteava o irmão.
Mas com o tempo ele parou de comprar o bolo, já que Sasuke se recusava a comer, sempre deprimido naquele dia. Itachi passou a apenas entregar o presente e dessa vez tinha dado a Sasuke um relógio, aproveitando um momento de distração de Fugaku.
Ou foi o que Sasuke pensou.
- Você pensa que eu não vi Itachi te entregando aquele presente? O único defeito do seu irmão, é dar atenção a você. – Disse, mas ao ver que Sasuke sequer o responderia, apertou os lábios em irritação. – É tão inútil que nem sequer reage.
E com isso deixou o filho mais novo sozinho na sala ao sair para a biblioteca.
Depois disso, Sasuke passou o resto do dia trancado no quarto. Até tinha ignorado as ligações de Naruto.
Ficou deitado na cama, tentando não pensar nas coisas que ouvi ou na saudade que sentia da mãe. Nem mesmo desceu para almoçar, mas no final do dia seu estômago protestava tanto, que decidiu ir até a cozinha para fazer um lanche rápido.
A cozinheira acabou preparando uma refeição bem farta. Aquela senhora já estava na família Uchiha antes mesmo de Mikoto morrer e sabia como aquele dia era difícil para o rapaz. Não era segredo para nenhum empregado a forma como o senhor Uchiha tratava o filho caçula.
Sasuke não chegou a comer nem um terço do que ela preparou, mesmo com a cozinheira insistindo e dizendo que ele precisava se alimentar melhor. O rapaz apenas respondeu mecanicamente que estava bem ao terminar de comer.
Mas ao sair da cozinha, teve o azar de se deparar com seu pai saindo da biblioteca. Notou o copo de whisky quase vazio na mão dele e os olhos vermelhos, indicando que Fugaku já devia ter bebido bastante.
Fugaku era sempre controlado quando se tratava de álcool, mas naquela data em especial bebia em excesso.
Ele olhou para Sasuke com desagrado antes de falar:
- Venha até aqui, quero mostrar algo a você. – Ao terminar de falar, entrou na biblioteca novamente e Sasuke o seguiu, mesmo sabendo que boa coisa não era.
Seu pai quando bebia daquele jeito ficava ainda mais desagradável.
Sasuke viu ele pegar um porta retrato que havia em uma das mesinhas. O mais novo já conhecia aquela foto. Era uma de sua mãe, segurando um bebezinho de cabelos negros. A foto do dia que Itachi nasceu.
- Veja... – Fugaku mostrou o porta retrato ao seu aproximar de Sasuke. – Está vendo como ela estava feliz?
- Eu já conheço essa foto, otou-sama. – Sasuke respondeu e Fugaku riu com escárnio.
- Não foi isso que eu perguntei, Sasuke. Quero que veja como sua mãe estava feliz no dia em que seu irmão nasceu. - Sasuke assentiu, concordando. – Não temos nenhuma foto do dia em que você nasceu. Foi um parto difícil... Sua mãe perdeu muito sangue. Eu deveria ter percebido naquele momento que você seria a nossa desgraça.
Sasuke voltou a se afastar, sem entender o que seu pai pretendia com isso.
- Eu nunca quis que a mamãe morresse. – Murmurou, mas ao ouvir aquilo Fugaku se irritou ainda mais.
- Você quis... Quis que sua mãe morresse desde o momento em que nasceu! – Fugaku o acusou, sem sentido algum e Sasuke acabou deixando escapar:
- Você está louco.
Ele soube que tinha cometido um erro enorme, quando o copo foi arremessado com força em sua direção, não o acertando por muito pouco. E nem teve tempo de reagir quando Fugaku avançou contra ele, puxando seu cabelo com força e mantendo o rosto próximo ao seu.
- O que você disse, seu moleque? – Perguntou, o tom era baixo, mas tão cortante, que Sasuke tremeu ligeiramente. Ele nunca sabia lidar com os rompantes de fúria de Fugaku. Seus cabelos foram puxados com mais força e ele apertou os lábios para não gemer de dor.
Mesmo assim, agora que já tinha começado não iria parar.
- Eu era um bebê... Uma criança... E era eu quem passava o tempo todo com ela, enquanto o senhor só queria saber do trabalho e das suas amantes! – Sasuke disse, enfurecido e sentido o cheiro de whisky exalando do seu pai.
- Como você se atreve a-
- Não tenho culpa se você não passou o tempo que queria com ela. – Continuou, sentindo os olhos arderem pelas lágrimas não derramadas. Fugaku soltou seus cabelos como se tivesse nojo dele.
- Cale a sua boca. – Ele ordenou, com a voz tão pesada, que Sasuke se arrepiou de um jeito desagradável, mas já não conseguia mais parar de dizer tudo que estava preso em sua garganta há tanto tempo.
- Não foi minha culpa se o senhor achou de dedicar mais tempo as suas vadias do que-
O tapa em seu rosto veio de forma tão violenta que Sasuke acabou caindo no chão, próximo a mesinha onde ficava o porta retrato. Levou a mão até a face marcada com a palma pesada do seu pai e sentiu algo úmido ali. O anel grosso que Fugaku usava tinha feito um corte em sua bochecha.
Sasuke o olhou tão chocado, que nem mesmo se levantou do chão. Fugaku nunca tinha levantado a mão para ele, nem mesmo nos momentos de maior descontrole.
- Eu lembro dela chorando. – Sasuke murmurou, com a voz quebrada. Sabia que não devia continuar dizendo aquelas coisas, mas só queria que Fugaku sentisse ao menos um décimo da dor que sentia. – Depois que descobriu mais um caso seu.
- Cale-se!
- Ela sempre cheirava a álcool, porque bebia pra não se sentir abandonada pelo marido.
- Cale-se, Sasuke!
- Naquele dia, quando me pegou no colégio, ela chorava enquanto dizia que iríamos comprar um bolo para o meu aniversário.
- Cale-se! – Dessa vez Fugaku tinha se aproximado dele, mas Sasuke não parou, mal sabendo de onde vinha toda aquela coragem de desobedecer seu pai.
- Eu lembro dela pegando a garrafa na bolsa enquanto dirigia. – Fugaku voltou a puxar os cabelos dele com força, erguendo-o do chão com violência. – Aposto que o senhor teve que pagar alguém para que não fosse divulgado que ela estava alcoolizada naquele acidente.
- Sasuke... – Fugaku rangeu os dentes, se controlando, mas o rapaz apenas riu com certo deboche.
- Acho que ela bebia pra esquecer o marido horrível que tinha. O senhor sempre foi um péssimo homem pra mamãe.
- Seu maldito, filho da puta! – Fugaku gritou, descontrolado ao ouvir aquilo e surpreendendo Sasuke, apertou o pescoço dele, sufocando-o. – Eu mandei você se calar!
O Uchiha mais novo levou as mãos até os pulsos dele, tentando inutilmente afrouxar o aperto em sua garganta. Tentou lutar por ar, mas as mãos pesadas de Fugaku contra sua traqueia o deixava sem forças. Já estava se sentindo tonto e com a vista meia turva, fosse pelas lágrimas embaçando-a ou pela falta de oxigênio em seus pulmões.
Quando estava começando a ver pontinhos escuros, Fugaku o soltou bruscamente e ele voltou a cair no chão, abrindo a boca em uma lufada de ar forte e tossindo.
As lágrimas começaram a cair logo em seguida, sem querer acreditar que seu próprio pai tentou sufocá-lo.
- Saia da minha frente antes que eu faça uma besteira! – O mais velho disse, se afastando de Sasuke, parecendo horrorizado com os próprios atos.
Sasuke engasgou em um choro contido e tentou se erguer. Ele nem olhou para Fugaku ao deixar a biblioteca e subiu as escadas ainda chorando.
Se trancou no quarto e rapidamente se livrou da camisa que usava. Em seguida, foi até a gaveta em busca da navalha e ao encontrá-la se sentou no chão.
Mal conseguia pensar em algo quando fez o primeiro corte, seguido de mais um e mais outro.
Ele continuou, vendo o sangue escapar profusamente e manchar sua pele branquinha.
E quando finalmente parou, já cheio de cortes em ambos os braços, sorriu. A dor de se cortar levando tudo embora junto com o sangue.
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Atualizado até capítulo 26
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