Onde estamos?

Não sei o que aconteceu comigo, mas de repente lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Uma sensação de vulnerabilidade me envolveu, como se meu corpo finalmente estivesse processando toda a tensão e o medo acumulados. Gustav, atento, desviou o olhar rapidamente para mim e franziu a testa.

— Por que estás chorando? Aconteceu algo? — sua voz veio firme, mas carregada de preocupação.

A resposta escapou antes mesmo que eu pudesse pensar.

— Medo... — murmurei, sentindo minha voz falhar. — Tudo isso... essa perseguição... eu não sei mais o que vai acontecer...

Ele manteve os olhos em mim por um breve segundo, como se analisasse cada detalhe do meu rosto. Então, soltou um suspiro e disse, com uma leveza inesperada:

— Fique tranquila. A cavalaria está chegando.

Eu pisquei, confusa. "A cavalaria"? O que diabos isso significava? Estávamos fugindo para salvar nossas vidas e ele falava como se estivéssemos em um filme épico. Mas não questionei. Apenas continuei chorando—porque eu realmente não sabia mais o que fazer.

Após horas de perseguição, o cenário ao nosso redor começou a mudar. Além da rodovia infinita e da mata que parecia se estender até o fim do mundo, algo construído por mãos humanas surgiu no horizonte. Uma ponte. Grande, imponente, atravessando um rio extenso e cortando a paisagem ao meio.

Aquela ponte dividia dois estados e os conectava até hoje.

Quando nos aproximamos, percebi que era muito maior do que parecia à distância. O rádio do carro, que até então apenas emitia um chiado fraco, começou a soltar palavras soltas ao vento. Consegui captar uma frase curta, cortada pelo som do motor e pelo chiado:

— Não olhe para trás.

Meu estômago se apertou. O que isso significava? Não olhe para trás por quê? Foi então que outra frase chegou, ainda mais abafada.

— Acelera.

Gustav não hesitou. Assim que ouviu a instrução, pressionou o pé no acelerador. O carro ganhou velocidade, e eu automaticamente conferi se meu cinto estava bem preso. Algo dentro de mim dizia que precisaríamos dele mais do que nunca.

Então, um som diferente ecoou pelo ar—um estampido abafado, mais suave do que um tiro comum. Uma luz vermelha brilhante cruzou os céus e foi seguida por uma fumaça intensa da mesma cor.

Meu coração disparou.

— Que dia é hoje? — murmurei, tentando raciocinar. — Não estamos nem perto do carnaval para soltarem fogos...

Gustav não respondeu. Seus olhos estavam cravados na estrada, sua expressão tão rígida que parecia esculpida em pedra. Eu engoli seco e continuei olhando pela janela.

Foi então que, ao cruzarmos a ponte, três jipes do exército surgiram do nada. Bem equipados, rápidos, posicionando-se entre nós e o carro preto. O alívio foi imediato, mas ainda incompleto.

Uma voz grave ecoou pelo alto-falante de um dos veículos.

— Encostem e saiam do carro!

Mas o carro preto não obedeceu.

Meu coração acelerou. Por instinto, olhei para trás—e foi então que vi apenas uma coisa:

Uma explosão.

O fogo se ergueu em um clarão intenso, iluminando a estrada por um breve momento antes de desaparecer. Um fim definitivo. Meu problema foi resolvido ali... eu esperava.

Um dos veículos militares seguiu para nossa frente, outro se manteve às nossas costas, garantindo nossa proteção. O terceiro, simplesmente sumiu. Eu não sabia para onde tinha ido, mas naquele momento, pouco me importava.

O peso dos acontecimentos começou a cair sobre mim de uma vez só.

Uma corrida pela minha vida em meio à floresta. Um restaurante onde conheci alguém que, de alguma forma, se tornou meu improvável protetor. E agora, tiros, perseguição e uma explosão. Tudo em um único dia. Eu queria dormir. Queria descansar sem medo de estar correndo perigo. Mas será que eu conseguiria?

Fechei os olhos. O cansaço veio de forma esmagadora, e antes mesmo que pudesse processar mais qualquer coisa, o sono me venceu.

Pena que até nos meus sonhos eu corria perigo.

No mundo dos meus pesadelos, eu estava perdida em meio a uma plantação de milho. A vegetação se erguia ao meu redor como paredes sufocantes, bloqueando qualquer possibilidade de fuga. No meio daquela escuridão, um homem enorme carregava uma corrente, arrastando-a pelo chão enquanto me perseguia. Cada som, cada movimento era assustador.

E então, despertei.

Acordei com um grito. O peito subia e descia em um ritmo acelerado, meus olhos piscavam para ajustar à claridade da manhã. Por um segundo, achei que tinha assustado Gustav. Mas ele nem se mexeu. Continuava mexendo no cadeado de um portão branco. Ele não deve ter ouvido.

O portão se destrancou e, lentamente, começou a deslizar para o lado. À medida que se abria, uma casa apareceu ao fundo. Linda. Aconchegante. Segura.

Onde estávamos?

Ele dirigiu até a garagem e estacionou o carro. Saímos, e ele se virou para mim com um olhar tranquilo.

— Espero que esteja segura em minha casa.

Abri um sorriso, mas minha mente disparou um pensamento urgente.

Espera… sua casa?

Respirei fundo e segui Gustav até a grande porta de madeira. A grama ao redor era verde e fresca, o ar tinha um cheiro suave de terra molhada. Paramos diante da entrada, e ele puxou o celular, digitando algo. Estava mandando mensagem para abrir a porta?

Eu não sabia, mas algo me dizia que, naquele instante, minha vida estava prestes a mudar. Mais uma vez.

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Comments

Ana Uchirra

Ana Uchirra

cara meus parabéns para o/a criador/criadora sério isso tá prft

2023-01-13

1

Katt

Katt

...

2023-01-11

0

Anonymous

Anonymous

gustav mo genti fina

2021-12-10

1

Ver todos
Capítulos
1 O encontro
2 Que barulho foi esse !!?
3 Uma corrida pela vida!
4 Onde estamos?
5 Rostinho delicados
6 Quem é ele?
7 O Começo de tudo!
8 Quem é essa outra garota?
9 Um pequeno presente, ou não.
10 A garota de metal
11 Seu nome é ....
12 Um dia de compra
13 Quem poderá nos salvar?
14 O engarrafamento
15 Uma aconchegante manhã.... ou quase!
16 As crianças
17 nó sobre nó
18 A pequena fuga
19 Um pequeno probleminha
20 O fim do coma...
21 O que é isso em minha casa?
22 O dia das bruxas
23 Dois de Novembro
24 O desenrolar da briga
25 Vamos as compras
26 Bati em algo
27 Que lugar é esse?
28 A bela cidade de pedra
29 Com o barulho do despertador
30 Despertador e a adormecida
31 Não é hora de visitas...
32 O Garoto medroso
33 O passado de Gustav
34 A fronteira
35 Por que essa decisão?
36 Hajime, a primogênita
37 A babá eletrônica
38 A grande árvore
39 A famosa véspera
40 Então é natal...
41 A grande ceia
42 O réveillon da grande familia
43 Gustav?
44 O que eu faço?
45 O que ele faz por aqui?
46 E a história se repete
47 A Bruxa e a escada...
48 Fazer ou Não fazer, eis a questão!
49 O que é aquilo no jardim?
50 A chamada...
51 A origem da foto...
52 A grande viagem
53 Finalmente o grande dia...
54 O Detector
55 A grande festa
56 O que fazem durante a viagem?
57 Uma escolha difícil
58 Finalmente voltamos
59 Me esqueci completamente
60 Os do Brasil
61 Porque a pegaram?
Capítulos

Atualizado até capítulo 61

1
O encontro
2
Que barulho foi esse !!?
3
Uma corrida pela vida!
4
Onde estamos?
5
Rostinho delicados
6
Quem é ele?
7
O Começo de tudo!
8
Quem é essa outra garota?
9
Um pequeno presente, ou não.
10
A garota de metal
11
Seu nome é ....
12
Um dia de compra
13
Quem poderá nos salvar?
14
O engarrafamento
15
Uma aconchegante manhã.... ou quase!
16
As crianças
17
nó sobre nó
18
A pequena fuga
19
Um pequeno probleminha
20
O fim do coma...
21
O que é isso em minha casa?
22
O dia das bruxas
23
Dois de Novembro
24
O desenrolar da briga
25
Vamos as compras
26
Bati em algo
27
Que lugar é esse?
28
A bela cidade de pedra
29
Com o barulho do despertador
30
Despertador e a adormecida
31
Não é hora de visitas...
32
O Garoto medroso
33
O passado de Gustav
34
A fronteira
35
Por que essa decisão?
36
Hajime, a primogênita
37
A babá eletrônica
38
A grande árvore
39
A famosa véspera
40
Então é natal...
41
A grande ceia
42
O réveillon da grande familia
43
Gustav?
44
O que eu faço?
45
O que ele faz por aqui?
46
E a história se repete
47
A Bruxa e a escada...
48
Fazer ou Não fazer, eis a questão!
49
O que é aquilo no jardim?
50
A chamada...
51
A origem da foto...
52
A grande viagem
53
Finalmente o grande dia...
54
O Detector
55
A grande festa
56
O que fazem durante a viagem?
57
Uma escolha difícil
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Me esqueci completamente
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